vou falar de operações, to de saco cheio de USP
Homem morre baleado durante operação da polícia na Maré
Vítima voltava para casa após levar a esposa no ponto de ônibus. Três pessoas já foram detidas na ação
POR MARCELLO VICTOR
Rio - Um homem identificado como Altair Bento de Oliveira, 46 anos, foi baleado e morreu na porta de casa, na Rua Ari Leão, número 51, na manhã desta terça-feira, durante operação realizada por policiais civis no conjunto de favelas da Maré, na Zona Norte. A Operação Trovão, realizada nas comunidades Parque União e Nova Holanda, tem como objetivo cumprir quatro mandados de prisão e seis de busca e apreensão contra uma quadrilha acusada de praticar sequestros relâmpagos, roubos de veículos e a residência na Ilha do Governador e adjacências. Três pessoas já foram detidas na ação.
De acordo com o delegado Deoclécio Francisco de Assis, nove integrantes do bando já estão presos e quatro desses criminosos tem mais de cinco mandados de prisão cada. Ainda segundo o delegado, os integrantes da quadrilha são moradores dessas comunidades. Cerca de 150 agentes participam da incursão.
Vítima é atingida quando voltava para casa
Segundo o irmão de Altair, Aloísio Oliveira, ele voltava para casa após levar a esposa no ponto de ônibus. "Meu irmão se preocupava muito com a segurança. Ele sempre mantinha o portão da rua fechado, mas morreu na porta de casa", lamentou. Ainda de acordo com Aloísio, foi possível ouvir barulho de helicóptero, seguido de fogos de artifício e um tiro.
O aposentado Auton Mateus, 56, morador da região, disse que agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) estavam em uma padaria na Rua Maurício de Nassau. De acordo com ele, um tiro foi disparado e um homem correu até a Rua Ari Leão, seguido pelos policiais.
O clima ficou tenso na comunidade e moradores protestaram contra a morte de Altair, que estava desempregado e trabalhava na reforma de um comércio localizado ao lado de sua residência.
De acordo com o delegado Assis, o tiro que vitimou Altair foi disparado por uma pistola efetuado na mesma altura da vítima. Segundo a perícia, o projétil penetrou pelo braço e se alojou nas costas. O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios (DH), que já realizou a perícia no local, descartando a hipótese do tiro ter sido disparado pelo helicóptero da Polícia Civil. Ainda de acordo com o delegado, não houve troca de tiros entre policiais, que atuavam por terra, e bandidos no momento em que o morador foi atingido.
A ação é coordenada pelas 37ª DP (Ilha do Governador) e 21ª DP (Bonsucesso) e conta com apoio de agentes da Core e de outras delegacias especializadas e distritais.
'Limpeza' na Maré para instalação de centro da PM
Depois de pacificar temidas comunidades, as polícias cariocas agora têm pela frente outra grande missão: combater os crimes cometidos pela quadrilha que domina as favelas do Complexo da Maré. Livrar a área do domínio do tráfico é o primeiro passo para a implantação do Centro de Operações Especiais da Polícia Militar, a nova casa dos ‘caveiras’, na vizinha favela de Ramos. Com um arsenal estimado de mais de 200 fuzis e treinamento inspirado em organizações militares, o bando comandado pelo traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P., de 30 anos, domina a área.
Além de cooptar integrantes de outras quadrilhas para reforçar seu ‘exército’, a polícia tem informações de que Menor P. teria câmeras instaladas em pontos estratégicos da favela. Em seu ‘big brother’ do crime, o traficante monitoraria a movimentação de moradores, da polícia e possíveis invasões de adversários.
Além da venda de drogas, o tráfico controla serviços na comunidade. Comerciantes, mototáxis, vendedores de gás e até as centrais clandestinas de Internet e TV a cabo são obrigados a pagar taxas para não ter seu negócio fechado. Desobedecer as ordens é algo impensável diante do poderio bélico dos bandidos. Em folha de contabilidade apreendida pela 21ª DP (Bonsucesso), há anotações de 17 fuzis AR-15, dois Rugger e cinco submetralhadoras MP5 cedidas a um grupo da contenção.
Os roubos são constantes. A proximidade com a Linha Vermelha faz com que os bandidos utilizem a via expressa como rota de fuga após os roubos de veículos que praticam nos arredores da Maré. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que, entre janeiro e julho, 279 veículos foram roubados, em média, 46 veículos por mês na região.
No mesmo período, 50 pessoas foram assassinadas. A Vila dos Pinheiros é considerada pela polícia como reduto de adulteração de carros roubados, onde os veículos são pintados de cor diferente e têm placas clonadas. Mês passado, agentes da delegacia recuperaram cinco carros em apenas uma rua do Timbau.
Há um ano, a 21ª DP iniciou inquérito sobre a quadrilha, quando prendeu chefões, como Silvio de Souza da Silva, o Silvestre, subchefe da Baixa do Sapateiro. Seis criminosos se dividem no controle das favelas. Todos subordinados ao Menor P.
Roupas pretas e treinamento
Menor P. assumiu o controle da Maré após um líder da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP), Nei da Conceição Cruz, o Facão, ser preso. Foragido desde 2007 e com dois mandados de prisão pendentes, Menor P. é um dos traficantes mais procurados.
Ex-paraquedista, o criminoso impôs a doutrina e a disciplina de guerrilheiros à sua ‘tropa do mal’. Os bandidos são obrigados a encarar rotina de treinamento físico e estratégias de combate em academia da favela, além de usar roupas pretas, como um uniforme de guerra. Recentemente, a polícia apreendeu fardas semelhantes às usadas por homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
Um dos ex-seguranças do chefão, João José de Araújo, o Angolano, tem vasto conhecimento em estratégias militares. Preso em junho pela 21ª DP, ele confirmou que serviu dos 13 aos 26 anos no exército africano. A polícia acredita que ele deve ter contribuído com o treinamento dos ‘soldados’ do tráfico.
Ataque às finanças
As investigações da delegacia apontaram que Menor P. usa o dinheiro arrecadado com a venda de drogas para pagar ‘salários’ e comissões a seus comparsas. A polícia tem atacado justamente as finanças do bando para combater o crime. Mês passado, os agentes deram um golpe na estrutura da quadrilha: apreenderam um carregamento de drogas e munição, além de dois fuzis, uma metralhadora e três granadas.
Prestes a ocupar a comunidade vizinha, Ramos, o Bope desencadeou, desde o dia 12, operação-limpeza para reprimir o tráfico da Maré, sem data para acabar. Nesse período, 10 criminosos foram presos, quatro mortos, quatro pistolas apreendidas, três granadas, 99 máquinas caça-níqueis, 13 quilos de maconha e cocaína, além de 2.700 pedras de crack, ecstasy e haxixe.
Também foram recuperados pela polícia cinco carros, cinco motos e um caminhão roubados. Em reação, criminosos tentam impedir a ação da polícia e montaram barricadas em vários acessos. O Bope fechou uma espécie de galeria construída no meio de uma rua, capaz de ‘engolir’ um pneu de caveirão.
Moradores e entidades criticam abordagem do Bope
As operações do Bope criaram polêmica na semana passada. Moradores e representantes de Organizações Não-Governamentais (ONGs) se queixaram das abordagens dos policiais. “Abriram a porta da casa da minha vizinha e reviraram tudo. Ela estava com os dois filhos pequenos e ficou apavorada”, reclamou um mecânico, de 32 anos. Em dois dias, sete pessoas foram baleadas.
O coordenador do Observatório de Favelas, Jailson de Souza, propôs a suspensão da operação, até que a Secretaria de Segurança esclareça os objetivos da ação. “Várias comunidades reclamam. É direito do cidadão saber o que acontece. A secretaria tem que explicar”.