knigh7 escreveu:Leandro,
Vc está equivocado em alguns pontos:
1- Segundo o Jobim, os suecos falaram para conversar com os fornecedores quando ele solicitou a transf. de tecnologia de toda a aeronave. Ele disse isso na sessão da CRE em abril do ano passado. Aliás, a SAAB reagiu no dia seguinte lancando uma nota a imprensa no qual ela dizia que era capaz de solicitar a transf. da tecnologia requerida pela fAB.
2-Vc está se baseando na solicitacão de ToT também com o que está na página do Rafale (
http://www.rafale.com.br) onde a'te está escrito transf. irrestrita de tecnologia.A FAB solicitou 10 tecnologias (na verdade são 12), mas vamos ficar com o divulgado. Na página do Rafale consta que eles estào oferecendo cerca de 20.
3-Portanto esse teu julgamento de que a solicitacão de transf. de tecnolgia pela FAB é irrealista está sendo feita sobre bases equivocadas.
4-Estou há 5 anos em Fóruns de Defesa. Não é o seu caso, mas já vi forista, no caso, engenheiro do DCTA, há alguns anos atrás (no BM), dando "surra" argumentativa em forista metido a "sabe tudo de defesa", que aliás é bastante comum em fóruns. De certa forma, é interessante ter um pouco mais de cautela.
5-Legislacão norte-americana impede transf. de tecnologia? Não é bem assim, como por exemplo na década de 80, os EUA transferiram para a Embraer a tecnologia para a producão de FLAPs
Amigo Knight,
Nem vou entrar em uma discussão sobre cada ponto, mas eu de fato sou engenheiro e trabalho na área de transferência de tecnologia, e sei muito bem como elas são disponibilizadas para as empresas, é minha obrigação profissional saber isso. E pelas informações que tenho (e não tenho nenhuma fonte interna na FAB, no governo ou nas empresas concorrentes do FX, de fato me baseio apenas nas informações que posso encontrar na mídia em geral e na Internet) as transferências de tecnologia solicitadas e ou oferecidas na sua grande maioria não dependem da compra de avião algum, estão disponíveis no mercado para quem quiser comprar, a preços de tabela. Isto inclui programação CNC (a empresa em que eu trabalhava vendia nada menos que 3 diferentes linhas de produtos neste segmento), materiais compostos e seus procedimentos de conformação, e muitas outras coisas que vi na lista de tecnologias oferecidas especificamente pela Dassault. Não me lembro de cabeça todos os ítens nem acho que vale à pena o trabalho de procurar, mas os únicos ítens que me recordo serem específicos do caça em questão eram as partes da programação que fossem necessárias para a integração de armamento, informações não especificadas sobre técnicas de redução de RCS e alguma coisa dos elementos de radar. E havia algo também relativo a caixões de asa em materiais compostos, mas aí para aviões de transporte e não caças (para uso no KC-390, mas é algo que a Embraer pode e vai desenvolver sozinha se não fecharmos o F-X com ninguém da lista). Todo o restante podia ser perfeitamente adquirido de forma independente. Se você quiser aprofundar esta discussão de forma mais técnica liste as tais 12 tecnologias pedidas que mencionou (se isso for permitido) e podemos checar a natureza de cada uma delas. Acho até que isso seria muito interessante para os demais participantes do fórum.
Com relação aos suecos da SAAB, é claro que eles se prontificariam a conversar com seus fornecedores e solicitar que nos repassassem as tecnologias que quiséssemos, mas também é óbvio que não poderiam se comprometer por eles. Pergunte ao pessoal da marinha o que aconteceu exatamente em uma situação assim no caso da transferência de tecnologia de torpedos. No final caberia a nós negociar com cada um e verificar o que nos repassariam e por quanto. Só que isso também não dependeria da compra de avião algum, podemos ir a cada um dos fornecedores da SAAB quando quisermos e comprar tudo o que eles puderem nos vender independentemente de adquirirmos o Gripen ou não, é só uma questão de grana. É bem possível que se adquiríssemos o Gripen alguns deles nos oferecessem algum desconto, mas nada impediria que a diferença estivesse embutida no preço dos aviões. Seria tudo apenas uma questão comercial, ou você acha mesmo que por comprarmos três dúzia de aviões alguma tecnologia que de outra forma nos seria restrita passaria a ser liberada sem restrições?
Com relação aos americanos nem preciso comentar, é notório que eles restringem o acesso a qualquer tecnologia que considerem sensível quando querem, mesmo desrespeitando contratos. Eu senti isso na pele, na minha antiga empresa vendíamos um sistema de medição à laser e de repente fomos avisados que um componente fundamental (réguas calibradas de fibra de carbono) não podiam mas ser fornecidas porque o DoD qualificara a fibra de carbono em si como componente sensível. Por sorte encontramos outro fornecedor na Europa (Alemanha), mas um dos nossos cliente QUE JÁ HAVIA PAGO ficou três meses sem poder utilizar o equipamento, e nós tivemos que arcar com o prejuízo porque não houve reembolso do valor do ítem. E era um sistema para aplicação civil, imagine com sistemas de aplicação dual ou militar! E nem venha me falar sobre tecnologia de flaps, eu estagiei na Embraer logo após ela começar a fornecer os Flaps do MD-11 e conversei com o pessoal da área sobre o assunto, o que eles forneceram foi apenas o desenho do produto que queriam (óbvio, o avião era de projeto deles, a Embraer não foi contratada para ajudar no projeto mas apenas para fornecer as peças), toda a tecnologia de manufatura já era dominada pela Embraer, que pelo que eu me lembre precisou apenas comprar uma autoclave maior porque a peça não cabia na que já tinham. E no caso de partes estruturais do F-5 (não me recordo quais peças) a Northrop repassou os desenhos e indicou o fornecedor do material e das máquinas para trabalhá-lo, e a Embraer foi lá e comprou o que era preciso. Isso não é repassse de tecnologia, é simples subcontratação de fabricação.
Se você observar verá que quase não há posts meus neste tópico do F-X, pois da forma como o programa está montado o assunto não me interessa muito. Mas sou engenheiro com alguma experiência, e já participei de mais do que uma negociação internacional para aquisição de tecnologia, inclusive com americanos (empresas Geomagic, SDRC, Solidworks, Deneb Robotics e algumas outras com as quais acabamos não fechando negócios) e russos (empresa Quantor), além de franceses (Kreon e Dassault Systèmes), alemães (AutoForm) e israelenses (Smarteam). Passei por todas as dificuldades de língua, cultura e burocracia para fechar vários acordos, e depois da transferência das tecnologias destas empesas para clientes no Brasil, então acredito que tenha algum conhecimento de causa por mínimo que seja e por isso me reservo o direito de dar minhas opiniões sobre como este tipo de coisa funciona. Sobre os russos, o que posso dizer é que não tem muita experiêcia neste tipo de negociação, além de terem seus motivos para e desconfiar dos brasileiros (tive problemas com isso), portanto acho muito provável que isso tenha servido como argumento para encerrar uma negociação que já não se fazia de boa vontade.
É claro que você pode ter informações "de dentro" que acrescentem detalhes que desconheço, e se puder partilhá-las aqui quem sabe podemos até chegar a conclusões diferentes das que cheguei. Ou se não puder, então me perdoe por ter chegado a conclusões que não são corretas, mas com as informações que tenho não posso fazer nada melhor. Este é um dos problemas de não se divulgarem informações, isto dá mesmo margem a interpretações erradas, mas aí a culpa não é minha, faço o melhor que posso com o que tenho.
Então, se tiver algo a acrescentar podemos scontinuar esta discussão. Se não, mantenho as opiniões que já expressei.
Um grande abraço,
Leandro G. Card