"Curiosidades da FAB"
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- Juliano Lisboa
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"Curiosidades da FAB"
Olá, vamos centralizar aqui as histórias, fatos curiosos e fotografias dos relatos.
Acho legal sair um pouco da nuvem FX.
Abraços
Juliano
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Re: "Curiosidades da FAB"
MIRAGE F-103 "LA BÊTE...E SEU POST MORTEM": HISTÓRIA NÃO CONTADA
(Estória 49-3)
A recente desativação do F-103 MIRAGE, após mais de trinta anos de serviço e 65.000 horas voadas, trouxe às páginas de diversos Órgãos da mídia especializada, relatos de sua vivência, percalços das suas “maladies de jeunesse”(8) , desnudou nosso despreparo para operar tão avançada máquina e que nos compeliu (visualizando sua complexidade) a implantar e colocar de uma só vez em operação toda uma infraestrutura e meios capazes de tornar o MIRAGE um elemento verdadeiramente de combate SISTÊMICO: um interceptador (e não, simplesmente, mais um avião na frota da FAB...), compondo toda a parafernália (por trás das cortinas) que o apóia e permite que a máquina voadora venha a ser a cabeça de lança de um SISTEMA completo, complexo e mortal...
Repassando por toda essa matéria impressa que, supostamente (como retrataremos), conta a saga desse período, tendo como fulcro a aeronave MIRAGE, percebo que (como sempre tem ocorrido) há um período de tempo ponderável (1967 a 1972) não abrangido pelos historiadores e pesquisadores em seus relatos.
Surpreende-me, sobremaneira... E nos estimula a “preencher o espaço vago, "noblesse oblige”... para com os homens e para com a causa.
O MIRAGE, na realidade, foi apenas o vetor selecionado como plataforma combatente de um SISTEMA INTEGRADO: sua saga é meritória e já foi relatada detalhadamente até por nós, primeiro piloto brasileiro a voá-lo na Cidade de Dijon (França) e, por outros felizardos, a posteriori...
Entretanto (e essa é a nossa meta) a História que envolve o avião não pode, nem deve ser contada, a partir do sucesso dos "DIJON BOYS" no “Deux-Deux” de Dijon(9) , já que em 1968 o SISTEMA INTEGRADO havia ganhado forma, proveniente dos sonhos de um aviador, acadêmico, "estratego", estudioso, perseverante e visionário Chefe (Ministro Márcio de Souza e Mello). O grande Chefe partia da premissa que “a FORÇA AÉREA BRASILEIRA” somente ascenderia ao pódio da imortalidade e ganharia inquestionabilidade (conquistadas pelos nossos fundadores em 1941), quando fosse capaz de assegurar plenamente o “policiamento e o domínio dos céus da Pátria através da Defesa Aérea” e, ainda, adquirisse a “capacidade de intervenção aeroestratégica” através dos meios aéreos do COMAE (Comando Aéreo Estratégico). O “resto” – dizia ele – era prestação de serviços...
A Defesa Aérea ficou consubstanciada com a ativação do COMDA (Comando de Defesa Aérea) e a missão aeroestratégica do COMAE (Comando Estratégico), não ativado por restrição governamental, já que “uma estrutura puramente ofensiva como o COMAE intranquilizaria os países vizinhos” (palavras do Presidente da República, à época). Os seus encargos foram, então, (Núcleo do COMAE) inseridos no Regulamento do COMCOS (Comando Costeiro) e, como esperado, jamais implementado e eternamente esquecido.
Foi com este pano de fundo que surgiu o Memorando R-001/GM3 de 5 Jan 1968, dando partida ao Sistema de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (SISDACTA) e tão bem relatado em recente matéria da lavra do Ten. Brig. Marcio N.A Moreira na Revista Aeronáutica.
As idéias lúcidas, de grandiosidade, de afirmação de Aviador, de amor à Aviação do Min. Márcio foram imediatamente abraçadas por seus auxiliares, entre eles, o emérito Piloto de Caça (o bravo, em todo os sentidos) Cel. Av. CASSIANO PEREIRA, (normalmente omitido quando se descreve a saga de Anápolis), o Ten. Brig. (então Maj. Av.) Márcio N.A Moreira, o Maj. Brig. (então Maj. Av.) Ruy Messias de Mendonça e este escriba provecto... entre outros.
À essa época, o Gabinete do Ministro continha algumas figuras exemplares de Pilotos de Caça (inclusive o Veterano de Guerra PAULO COSTA) e o Estado-Maior da Aeronáutica era também povoado por bons Caçadores, assim como o Corpo de Instrutores da Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica - ECEMAR (provenientes da Turma 1945).
Seguramente, o melhor intérprete das idéias do Min. Márcio foi o Chefe da GM-4(10) , Cel. Av. CASSIANO PEREIRA; este sim, foi o pai (se não a parteira) do “bebê”: o caça de interceptação. CASSIANO, com o aval ministerial, criou a CEPAI (Comissão de Estudos para o Avião de Interceptação) e a compôs sob a nossa Chefia e a ela incorporou um time de raça tipo MOREIRA, FROTA, BARROS, OSIRES, DELVAUX. A essa Comissão coube avaliar um interceptador para compor o SISTEMA DA/CTA, idealizado pelo Min. Márcio, com base em Estudo de Estado-Maior (EEM) elaborado pelos então Cel. Av. BINS (Binzão), Moreira Lima (atual Diretor do Instituto Histórico e Cultural da Aeronáutica - INCAER), Paulo Delvaux (Piloto de Caça da T-45 e Engenheiro Eletrônico), Chaves de Miranda (Piloto de Caça da T-45) e JANVROT (Piloto de Caça da T-45 e Engenheiro Eletrônico). A CEPAI avaliou o "MIRAGE' III, "LIGHTNING" MK 55, "DRAKEN", F-104 e os treinadores "MACCHI" 326-G e "BAC" 167. Estávamos em Março de 1969.
Analisados os resultados, a aeronave "MIRAGE" III-E foi sugerida como a preferida pela FAB e o relatório final foi entregue ao Min. Márcio que (com a presença do Pres. da CEPAI) apresentou-o ao Presidente da República Gen. Costa e Silva. Alegando razões de ordem político-conjuntural, o Pres. Costa e Silva inclinou-se pela solução da aeronave inglesa "LIGHTNING" e propôs que a análise fosse refeita. Tecnicamente, o "LIGHTNING" era inviável para operar na infraestrutura de pistas/pátios da FAB, mercê de seu excessivo peso (44.000lb) e pequena área de contato com o solo (52 polegadas quadradas). O relatório foi refeito e pronto para ser apresentado ao Pres. Costa e Silva. Para melhor avaliar os efeitos da decisão presidencial, um Grupo de Trabalho composto pelos Maj. Av. M.N.Moreira, Lélio Viana Lobo, Sérgio Ferolla, viajou para a Grã Bretanha e visitou as Bases de BINBROOK e WARTON para familiarizar-se com os impactos e necessidades operacionais e logísticas do "Lightning".
O Pres. Costa e Silva, logo após adoeceu e faleceu, vindo a ser substituído pelo Pres. Médici. Desta feita, procurado pelo insistente Min. Márcio, liberou a aquisição de 16 aeronaves "MIRAGE" III (12 do modelo "E" e 4 do modelo "D" de dois lugares) ao custo total do Programa de US$ 69 milhões (sendo cada aeronave cotada a US$ 1.150 mil cada, US$ 19 milhões de armamento/ missilistica/munição e o restante em equipamento de apoio, pista, hangar, Esquadrão de Supriemento e Manutenção (ESM) e ainda a TDI (Tabela de Distribuição Inicial) de peças de reposição.
Por contrato, as aeronaves seriam entregues a partir de 1972. Cumpria, pois, acelerar a execução de todos os Projetos vinculados. O mais delicado e limitante era a construção do “ninho das aves” : a sede e a pista da 1a Ala de Defesa Aérea (ALADA). Não se falava em Base Aérea.
O novo Programa trazia ainda em seu bojo, uma reestruturação das Unidades de Combate, (Diretriz de PLanejamento na 6701 – GM7) inovando com o surgimento de uma estrutura operacional no formato de uma "WING" inglesa (ALA), cujo funcionamento é fundamentalmente direcionado para a operacionalidade dos meios, sendo todas as funções no solo exercidas pelos seus próprios Pilotos. O grande advogado da novel estrutura era o Cel. Av. ANTONIO HENRIQUE, a quem coube o mérito de implantar essa inovação, tendo sido seu primeiro Comandante. Que, infelizmente, durou pouco. Na estrutura da ALA, não há lugar para ser ocupado nas funções administrativas nem de vôo, que não sejam os próprios pilotos da Unidade.
Era uma atitude voltada para a segurança da operação já que, à época, era comum Pilotos do efetivo das Bases participarem da escala de vôo das Unidades Aéreas que nela estavam sediadas. Por essa única razão, pessoalmente, não voamos o "MIRAGE" no Brasil, pois pertencíamos ao efetivo do Comando de Defesa Aérea (COMDA) (Chefe do Estado-Maior), com o Brig. PAULO COSTA no Comando e, apesar de termos sido o primeiro piloto brasileiro a voar o "MIRAGE em Dijon (1967), não o fizemos no Brasil por coerência com o conceito. ANTONIO HENRIQUE e MOREIRA (CISDACTA) sabem disso. Com essa medida (para alguns excessivamente acadêmica), certamente ficamos imunes e coibimos os acidentes que advêem por falta (comum) de continuidade da presença dos Piloto da Base/COMDA na Unidade Aérea e no ambiente operacional do Esquadrão: a famosa falta de “intimidade com a máquina e seus entornos”...
Antes de tudo isso, o Min. Márcio havia se defrontado com uma “guerra” interna a respeito de ONDE posicionar a nova Unidade de Defesa Aérea. A tese do Estado-Maior da Aeronáutica era que a mesma devia prover a Defesa Aérea da Capital Federal e, portanto, devia estar posicionada no seu entorno. Tudo bem. Porém, onde sediá-la no entorno do D.F.?
Surgiram soluções do tipo Planaltina, Formosa cada uma com seus percalços. Com a carta do Distrito Federal sob seus olhos, e querendo escapar das diatribes(11) das correntes em atrito, chamou-me e passou-me uma “missão especial pessoal”: analisar a possibilidade de aumentar a pista do aeroclube de Anápolis para lá sediar a recém-concebida ALA de DEFESA AÉREA. A meta (?) era aproveitamento do que ali existia. A bordo do meu próprio fusquinha azul, tendo como co-piloto meu escudeiro fiel e confidente FLEURY (Ajudante de Ordens do Cmt. do 6o Comando Aéreo Reguinal - COMAR), fomos a ANÁPOLIS. Lá, com a ajuda dos cidadãos anapolinos MOUNIR e ABRAHÃO, descobrimos que era “missão impossível”: mexer naquela pista obrigaria a mexer no traçado da estrada de rodagem.
E retornamos a Brasília com a resposta negativa. Apesar disso, MOREIRA e LOBO ainda visitaram Anápolis para incorporar novos elementos ao estudo de locação da Unidade. E, aqui, é bem lembrado o fato que a “curva de ruído” a nível proibitivo passava exatamente sobre as instalações da Prefeitura da Cidade. E o Aeroclube foi esquecido...
Em uma explosão de irritação pela indecisão das autoridades envolvidas, o Min. Márcio, como sempre o fez (autoritariamente) optou pelo terreno atualmente ocupado pela Base. Quem pode melhor contar é o Min. Lobo, então Chefe do 6o Serviço Regional de Engenharia, (e futuro Ministro Aeronáutica) depois, encarregado da supervisão do Projeto da CCBASAN e que contou com o apoio do Ten. Brig. Marcos Herndl (então 1o Ten. Av / Eng. e seu subordinado).
Mas a pré-história do MIRAGE não pára aqui: o processo passava pela imperiosa necessidade (visão do Min. Márcio) da implantação de um SISTEMA INTEGRADO, capaz de exercer a vigilância dos céus, prover os meios de comunicação e controle, para garantir a operacionalidade do Sistema de armas: a aeronave. Era o nascimento do SISDACTA, Sistema Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo. A DEPV (Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo) já existia e não pensava dessa mesma forma: cada “macaco no seu galho”, era seu lema...
No mesmo diapasão, foi ativada a CISDACTA, (Comissão de Implantação do Sistema Dacta) com projetos vinculados e convergentes: CCBASAN (Comissão de Construção da Base Aérea de Anápolis e depois ALAN), projeto PESAN (Pessoal para Anápolis), projeto LOGAN (Logística de Anápolis), etc. Sobressai aqui a figura do emérito e antigo caçador PEIXOTÃO (Cel. Av. Jayme da Silveira Peixoto) que, para melhor exercer a missão do Presidente da CCBASAN, passou a residir em Anápolis. Nos bastidores, o Maj. Brig. Milhomem (SEFA) dava cambalhotas orçamentárias para “descolar” os recursos para apoiar empreendimento de tal monta.
E muito questionado pelos “anti-Caça”... a implantação do SISTEMA DACTA já foi descrita com detalhes pelo Ten. Brig. MARCIO MOREIRA, nada mais havendo a acrescentar; apenas recordar que o SISTEMA já estava em plena ebulição na sua implantação ANTES dos MIRAGE estarem cruzando nossos céus. E os “historiadores”(?) não dão a mínima importância para esse fato... inclusive – lá pelas tantas – virou SIVAM e não mais SISDACTA. Mas esta é outra “história não contada”...
Neste ínterim, ativa-se o NÚCLEO da ALA de DEFESA AÉREA (Nu ALADA), designou-se como seu Comandante o Maj. Av . PIRAGIBE FLEURY CURADO, tendo como subordinado o Cap. Av. CANDIOTA. Jovens bandeirantes e desbravadores, também continuadamente omitidos nas histórias dos primórdios de Anápolis. Omissão indesculpável, pois o cumprimento da missão impôs sacrifícios incomensuráveis. Trabalharam na sombra e no silêncio e abriram picadas no cerrado com o pisar destemido de suas botas.
Com um pequeno grupamento de soldados e subalternos, com a Banda da Base Aérea de Brasília (levada de ônibus), a presença do Cmt. do 6o Comando Aéreo Regional (COMAR) e todos os que “trabalhávamos em silêncio” , hasteamos o Pavilhão Nacional, pela primeira vez, ao lado da sede do Comando (casinha de madeira-hoje Histórico da Base), em um “pau de eucalipto” mandado cortar por Fleury, à guisa de mastro da bandeira. Era o nascimento da 1a ALA de DEFESA AÉREA, debaixo da poeira dos tratores das obras, mas com seus atores plenos da alegria por participar na consecução da tarefa pioneira, em caminho acelerado. Os aviões, para alguns historiadores (?) os pivôs da história, ainda estavam sendo produzidos nas usinas da "Dassault"(12) e nem foram partícipes desses eventos.
Meu reencontro com a “bête” MIRAGE, já em solo brasileiro, foi de admiração e carinho. Revê-la, levou-me ao passado: Dijon e seus “escargots”(13) , meus Instrutores Cap. Paillard e Chateau e minha corrida bisônica (após três tentativas)...
A DASSAULT entregou os 16 aviões (via aérea – desmontados dentro de C-130) na pista ainda não concluída e um piloto de recebimento francês (DASSAULT) voou-os em dois dias e os considerou entregues à FAB. A pista somente ficou pronta após a chegada dos "Dijon Boys"(14) e, como o intervalo entre o último vôo na França e o primeiro no Brasil ultrapassara o prazo de qualificação operacional sem voar, nos compeliu a dar vôos de duplo a todos os "Dijon Boys", já em Anápolis. Para isso, trouxemos ao Brasil o famoso e querido Cap. CHATEAU, que havia sido meu Instrutor (e dos "Dijon Boys") no "Deux-Deux"... Àquela época, CHATEAU possuía a invejável marca de 2.000 horas de duplo comando na nacele traseira da “bête”(15) ... E todos re-solaram a máquina em solo e céus pátrios...
Mais de trinta anos se passaram quando cruzei os céus do Sul da França a Mach 2.0(16) : aí nasceu a paixão pela máquina. Nada a estranhar...
Vivi toda a carreira, após esses acontecimentos, com a “carga” de ter sido o “MIRAGE uma invenção do Menezes”. Quem me dera deter tamanho poder. Porém, não o repudio... A total verdade é que a DEFESA AÉREA, ANÁPOLIS e o SISDACTA foram frutos da "cerebração"(17) de homens (entre os quais me incluo) que acreditavam em uma Força Aérea capaz de agir independentemente da batalha de superfície (nosso carma de combatentes) e exercitar as habilidades dos seus pilotos, ao extremo das capacidades de interação homem-máquina. O avião MIRAGE foi o último fruto dessa carinhosamente cultivada árvore e não, como normalmente vem sendo descrito, “a razão do todo”... Nossa devida homenagem aos “esquecidos e laboriosos” combatentes pela mesma tarefa...
Não tive coragem de ver o MIRAGE coberto com a mortalha, em 14 Dez 2005. Para mim, ele ainda vive, e fará sempre parte de meus sonhos de Piloto de Caça e sustentáculo da minha vaidade, pois jamais o dominei: simplesmente, respeitei-o e apaixonei-me por ele, representativo de um desafio para qualquer Piloto de Caça, pela “finesse”(18) que impunha aos seus mestres, e inclusive, por ser a materialização de uma causa: a DEFESA AÉREA e a independência da Força Aérea.
Na realidade, tive medo de chorar, naquele momento final...
Lauro NeyMenezes
Piloto de Caça - Turma de 1948
Fonte: http://www.abra-pc.com.br/
Notas:
(1) Esquadrilha de Adestramento = Algumas Bases Aéreas possuem aviões para uso em viagens administrativas. Essas viagens são utilizadas quase sempre para manter o "adestramento" em vôo dos oficiais que não servem nos esquadrões. Os aviões são mantidos e "gerenciados" por um orgão denominado "Esquadrilha de Adestramento".
(2) atrito = diz-se da perda no número de pilotos, ou de aeronaves, seja por acidente ou não.
(3) pica-fumos = oficiais recém-chegados, "novinhos". Talvez essa expressão se referisse aos jovens escravos que trabalhavam "pincando" o fumo de rolo para serem feitos os cigarros dos seus senhores.
(4) cobrinha = Formação em que os aviões ficam um atrás do outro e repetem as manobras do avião que está na frente (líder).
(5) Ataque no1 = dispositivo de formatura usado para atacar alvos no solo. voltar
(6) anacreonte = chingamento "técnico" do instrutor para com a ignorância do aluno. Mais usado em sua forma compacta "anacra".
(7) comandinho = antigo rádio de comunicações que utilizava ondas eletromagnéticas na faixa de alta-freqüencia (HF). A freqüencia mais comum para a transmissão dos aviões era a de 5.680 khz.
(8) "maladies de jeunesse"= males da juventude - normalmente um novo modelo de avião apresenta variados problemas no período de início de sua implantação em uma unidade. Esses problemas podem ser motivados por deficiências na maneira de empregá-lo, deficiência na instrução das tripulações, na instrução das equipes de manutenção, no ferramental, nos equipamentos de apoio ou mesmo por pequenas falhas de projeto ou de especificação.
(9) "Deux-Deux" = refere-se ao esquadrão 2o/2o, tradicional unidade da Força Aérea Francesa descendente da famosa Esquadrilha Normandie-Niemen que atualmente está localizado na Cidade de Dijon e é utilizado como unidade de adaptação (transformação) de pilotos.
(10) GM-4 = refere-se ao setor do Gabinete do Ministro que lida com assuntos relacionados com material aeronáutico ( GM-1 seria o setor de pessoal, o GM-2 o setor de informações e o GM-3 o setor de operações)
(11) diatribes = crítica inflamada; discurso violento; opinião exacerbada.
(12) "Dassault" = refere-se à Fábrica "Dassault Aviation" criada pelo engenheiro projetista Marcel Dassault.
(13) "escargots". = caramujo (caracol) utilizado como alimento bastante sofisticado .
(14) "Dijon-boys" = primeiros pilotos brasileiros de Mirage que fizeram o curso na Base Aérea de Dijon na França.
(15) "bête" = do francês bêsta, no caso o sentido é de "o bicho".
(16) mach = é a medida de velocidade do som no ar. Como as condições atmosféricas variam (pressão e umidade), a velocidade do som no ar é muito variável e diminui com a altitude. Contudo os efeitos aerodinâmicos nas estruturas dos aviões dependem da sua velocidade em relação à velocidade do som no ar que o circunda e não em relação ao solo que sobrevoa. O nome "Mach" é uma homenagem ao físico austríaco "Ernst Mach".
(17) cerebração = refere-se ao trabalho mental criativo ( verbalização do substantivo cérebro)
(18) "finesse" = finura, delicadeza, primor, perfeição
(19) “Adieu, mon bon frère: mission très bien accompli!"= Adeus, meu bom irmão: missão muito bem cumprida!
(Estória 49-3)
A recente desativação do F-103 MIRAGE, após mais de trinta anos de serviço e 65.000 horas voadas, trouxe às páginas de diversos Órgãos da mídia especializada, relatos de sua vivência, percalços das suas “maladies de jeunesse”(8) , desnudou nosso despreparo para operar tão avançada máquina e que nos compeliu (visualizando sua complexidade) a implantar e colocar de uma só vez em operação toda uma infraestrutura e meios capazes de tornar o MIRAGE um elemento verdadeiramente de combate SISTÊMICO: um interceptador (e não, simplesmente, mais um avião na frota da FAB...), compondo toda a parafernália (por trás das cortinas) que o apóia e permite que a máquina voadora venha a ser a cabeça de lança de um SISTEMA completo, complexo e mortal...
Repassando por toda essa matéria impressa que, supostamente (como retrataremos), conta a saga desse período, tendo como fulcro a aeronave MIRAGE, percebo que (como sempre tem ocorrido) há um período de tempo ponderável (1967 a 1972) não abrangido pelos historiadores e pesquisadores em seus relatos.
Surpreende-me, sobremaneira... E nos estimula a “preencher o espaço vago, "noblesse oblige”... para com os homens e para com a causa.
O MIRAGE, na realidade, foi apenas o vetor selecionado como plataforma combatente de um SISTEMA INTEGRADO: sua saga é meritória e já foi relatada detalhadamente até por nós, primeiro piloto brasileiro a voá-lo na Cidade de Dijon (França) e, por outros felizardos, a posteriori...
Entretanto (e essa é a nossa meta) a História que envolve o avião não pode, nem deve ser contada, a partir do sucesso dos "DIJON BOYS" no “Deux-Deux” de Dijon(9) , já que em 1968 o SISTEMA INTEGRADO havia ganhado forma, proveniente dos sonhos de um aviador, acadêmico, "estratego", estudioso, perseverante e visionário Chefe (Ministro Márcio de Souza e Mello). O grande Chefe partia da premissa que “a FORÇA AÉREA BRASILEIRA” somente ascenderia ao pódio da imortalidade e ganharia inquestionabilidade (conquistadas pelos nossos fundadores em 1941), quando fosse capaz de assegurar plenamente o “policiamento e o domínio dos céus da Pátria através da Defesa Aérea” e, ainda, adquirisse a “capacidade de intervenção aeroestratégica” através dos meios aéreos do COMAE (Comando Aéreo Estratégico). O “resto” – dizia ele – era prestação de serviços...
A Defesa Aérea ficou consubstanciada com a ativação do COMDA (Comando de Defesa Aérea) e a missão aeroestratégica do COMAE (Comando Estratégico), não ativado por restrição governamental, já que “uma estrutura puramente ofensiva como o COMAE intranquilizaria os países vizinhos” (palavras do Presidente da República, à época). Os seus encargos foram, então, (Núcleo do COMAE) inseridos no Regulamento do COMCOS (Comando Costeiro) e, como esperado, jamais implementado e eternamente esquecido.
Foi com este pano de fundo que surgiu o Memorando R-001/GM3 de 5 Jan 1968, dando partida ao Sistema de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (SISDACTA) e tão bem relatado em recente matéria da lavra do Ten. Brig. Marcio N.A Moreira na Revista Aeronáutica.
As idéias lúcidas, de grandiosidade, de afirmação de Aviador, de amor à Aviação do Min. Márcio foram imediatamente abraçadas por seus auxiliares, entre eles, o emérito Piloto de Caça (o bravo, em todo os sentidos) Cel. Av. CASSIANO PEREIRA, (normalmente omitido quando se descreve a saga de Anápolis), o Ten. Brig. (então Maj. Av.) Márcio N.A Moreira, o Maj. Brig. (então Maj. Av.) Ruy Messias de Mendonça e este escriba provecto... entre outros.
À essa época, o Gabinete do Ministro continha algumas figuras exemplares de Pilotos de Caça (inclusive o Veterano de Guerra PAULO COSTA) e o Estado-Maior da Aeronáutica era também povoado por bons Caçadores, assim como o Corpo de Instrutores da Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica - ECEMAR (provenientes da Turma 1945).
Seguramente, o melhor intérprete das idéias do Min. Márcio foi o Chefe da GM-4(10) , Cel. Av. CASSIANO PEREIRA; este sim, foi o pai (se não a parteira) do “bebê”: o caça de interceptação. CASSIANO, com o aval ministerial, criou a CEPAI (Comissão de Estudos para o Avião de Interceptação) e a compôs sob a nossa Chefia e a ela incorporou um time de raça tipo MOREIRA, FROTA, BARROS, OSIRES, DELVAUX. A essa Comissão coube avaliar um interceptador para compor o SISTEMA DA/CTA, idealizado pelo Min. Márcio, com base em Estudo de Estado-Maior (EEM) elaborado pelos então Cel. Av. BINS (Binzão), Moreira Lima (atual Diretor do Instituto Histórico e Cultural da Aeronáutica - INCAER), Paulo Delvaux (Piloto de Caça da T-45 e Engenheiro Eletrônico), Chaves de Miranda (Piloto de Caça da T-45) e JANVROT (Piloto de Caça da T-45 e Engenheiro Eletrônico). A CEPAI avaliou o "MIRAGE' III, "LIGHTNING" MK 55, "DRAKEN", F-104 e os treinadores "MACCHI" 326-G e "BAC" 167. Estávamos em Março de 1969.
Analisados os resultados, a aeronave "MIRAGE" III-E foi sugerida como a preferida pela FAB e o relatório final foi entregue ao Min. Márcio que (com a presença do Pres. da CEPAI) apresentou-o ao Presidente da República Gen. Costa e Silva. Alegando razões de ordem político-conjuntural, o Pres. Costa e Silva inclinou-se pela solução da aeronave inglesa "LIGHTNING" e propôs que a análise fosse refeita. Tecnicamente, o "LIGHTNING" era inviável para operar na infraestrutura de pistas/pátios da FAB, mercê de seu excessivo peso (44.000lb) e pequena área de contato com o solo (52 polegadas quadradas). O relatório foi refeito e pronto para ser apresentado ao Pres. Costa e Silva. Para melhor avaliar os efeitos da decisão presidencial, um Grupo de Trabalho composto pelos Maj. Av. M.N.Moreira, Lélio Viana Lobo, Sérgio Ferolla, viajou para a Grã Bretanha e visitou as Bases de BINBROOK e WARTON para familiarizar-se com os impactos e necessidades operacionais e logísticas do "Lightning".
O Pres. Costa e Silva, logo após adoeceu e faleceu, vindo a ser substituído pelo Pres. Médici. Desta feita, procurado pelo insistente Min. Márcio, liberou a aquisição de 16 aeronaves "MIRAGE" III (12 do modelo "E" e 4 do modelo "D" de dois lugares) ao custo total do Programa de US$ 69 milhões (sendo cada aeronave cotada a US$ 1.150 mil cada, US$ 19 milhões de armamento/ missilistica/munição e o restante em equipamento de apoio, pista, hangar, Esquadrão de Supriemento e Manutenção (ESM) e ainda a TDI (Tabela de Distribuição Inicial) de peças de reposição.
Por contrato, as aeronaves seriam entregues a partir de 1972. Cumpria, pois, acelerar a execução de todos os Projetos vinculados. O mais delicado e limitante era a construção do “ninho das aves” : a sede e a pista da 1a Ala de Defesa Aérea (ALADA). Não se falava em Base Aérea.
O novo Programa trazia ainda em seu bojo, uma reestruturação das Unidades de Combate, (Diretriz de PLanejamento na 6701 – GM7) inovando com o surgimento de uma estrutura operacional no formato de uma "WING" inglesa (ALA), cujo funcionamento é fundamentalmente direcionado para a operacionalidade dos meios, sendo todas as funções no solo exercidas pelos seus próprios Pilotos. O grande advogado da novel estrutura era o Cel. Av. ANTONIO HENRIQUE, a quem coube o mérito de implantar essa inovação, tendo sido seu primeiro Comandante. Que, infelizmente, durou pouco. Na estrutura da ALA, não há lugar para ser ocupado nas funções administrativas nem de vôo, que não sejam os próprios pilotos da Unidade.
Era uma atitude voltada para a segurança da operação já que, à época, era comum Pilotos do efetivo das Bases participarem da escala de vôo das Unidades Aéreas que nela estavam sediadas. Por essa única razão, pessoalmente, não voamos o "MIRAGE" no Brasil, pois pertencíamos ao efetivo do Comando de Defesa Aérea (COMDA) (Chefe do Estado-Maior), com o Brig. PAULO COSTA no Comando e, apesar de termos sido o primeiro piloto brasileiro a voar o "MIRAGE em Dijon (1967), não o fizemos no Brasil por coerência com o conceito. ANTONIO HENRIQUE e MOREIRA (CISDACTA) sabem disso. Com essa medida (para alguns excessivamente acadêmica), certamente ficamos imunes e coibimos os acidentes que advêem por falta (comum) de continuidade da presença dos Piloto da Base/COMDA na Unidade Aérea e no ambiente operacional do Esquadrão: a famosa falta de “intimidade com a máquina e seus entornos”...
Antes de tudo isso, o Min. Márcio havia se defrontado com uma “guerra” interna a respeito de ONDE posicionar a nova Unidade de Defesa Aérea. A tese do Estado-Maior da Aeronáutica era que a mesma devia prover a Defesa Aérea da Capital Federal e, portanto, devia estar posicionada no seu entorno. Tudo bem. Porém, onde sediá-la no entorno do D.F.?
Surgiram soluções do tipo Planaltina, Formosa cada uma com seus percalços. Com a carta do Distrito Federal sob seus olhos, e querendo escapar das diatribes(11) das correntes em atrito, chamou-me e passou-me uma “missão especial pessoal”: analisar a possibilidade de aumentar a pista do aeroclube de Anápolis para lá sediar a recém-concebida ALA de DEFESA AÉREA. A meta (?) era aproveitamento do que ali existia. A bordo do meu próprio fusquinha azul, tendo como co-piloto meu escudeiro fiel e confidente FLEURY (Ajudante de Ordens do Cmt. do 6o Comando Aéreo Reguinal - COMAR), fomos a ANÁPOLIS. Lá, com a ajuda dos cidadãos anapolinos MOUNIR e ABRAHÃO, descobrimos que era “missão impossível”: mexer naquela pista obrigaria a mexer no traçado da estrada de rodagem.
E retornamos a Brasília com a resposta negativa. Apesar disso, MOREIRA e LOBO ainda visitaram Anápolis para incorporar novos elementos ao estudo de locação da Unidade. E, aqui, é bem lembrado o fato que a “curva de ruído” a nível proibitivo passava exatamente sobre as instalações da Prefeitura da Cidade. E o Aeroclube foi esquecido...
Em uma explosão de irritação pela indecisão das autoridades envolvidas, o Min. Márcio, como sempre o fez (autoritariamente) optou pelo terreno atualmente ocupado pela Base. Quem pode melhor contar é o Min. Lobo, então Chefe do 6o Serviço Regional de Engenharia, (e futuro Ministro Aeronáutica) depois, encarregado da supervisão do Projeto da CCBASAN e que contou com o apoio do Ten. Brig. Marcos Herndl (então 1o Ten. Av / Eng. e seu subordinado).
Mas a pré-história do MIRAGE não pára aqui: o processo passava pela imperiosa necessidade (visão do Min. Márcio) da implantação de um SISTEMA INTEGRADO, capaz de exercer a vigilância dos céus, prover os meios de comunicação e controle, para garantir a operacionalidade do Sistema de armas: a aeronave. Era o nascimento do SISDACTA, Sistema Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo. A DEPV (Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo) já existia e não pensava dessa mesma forma: cada “macaco no seu galho”, era seu lema...
No mesmo diapasão, foi ativada a CISDACTA, (Comissão de Implantação do Sistema Dacta) com projetos vinculados e convergentes: CCBASAN (Comissão de Construção da Base Aérea de Anápolis e depois ALAN), projeto PESAN (Pessoal para Anápolis), projeto LOGAN (Logística de Anápolis), etc. Sobressai aqui a figura do emérito e antigo caçador PEIXOTÃO (Cel. Av. Jayme da Silveira Peixoto) que, para melhor exercer a missão do Presidente da CCBASAN, passou a residir em Anápolis. Nos bastidores, o Maj. Brig. Milhomem (SEFA) dava cambalhotas orçamentárias para “descolar” os recursos para apoiar empreendimento de tal monta.
E muito questionado pelos “anti-Caça”... a implantação do SISTEMA DACTA já foi descrita com detalhes pelo Ten. Brig. MARCIO MOREIRA, nada mais havendo a acrescentar; apenas recordar que o SISTEMA já estava em plena ebulição na sua implantação ANTES dos MIRAGE estarem cruzando nossos céus. E os “historiadores”(?) não dão a mínima importância para esse fato... inclusive – lá pelas tantas – virou SIVAM e não mais SISDACTA. Mas esta é outra “história não contada”...
Neste ínterim, ativa-se o NÚCLEO da ALA de DEFESA AÉREA (Nu ALADA), designou-se como seu Comandante o Maj. Av . PIRAGIBE FLEURY CURADO, tendo como subordinado o Cap. Av. CANDIOTA. Jovens bandeirantes e desbravadores, também continuadamente omitidos nas histórias dos primórdios de Anápolis. Omissão indesculpável, pois o cumprimento da missão impôs sacrifícios incomensuráveis. Trabalharam na sombra e no silêncio e abriram picadas no cerrado com o pisar destemido de suas botas.
Com um pequeno grupamento de soldados e subalternos, com a Banda da Base Aérea de Brasília (levada de ônibus), a presença do Cmt. do 6o Comando Aéreo Regional (COMAR) e todos os que “trabalhávamos em silêncio” , hasteamos o Pavilhão Nacional, pela primeira vez, ao lado da sede do Comando (casinha de madeira-hoje Histórico da Base), em um “pau de eucalipto” mandado cortar por Fleury, à guisa de mastro da bandeira. Era o nascimento da 1a ALA de DEFESA AÉREA, debaixo da poeira dos tratores das obras, mas com seus atores plenos da alegria por participar na consecução da tarefa pioneira, em caminho acelerado. Os aviões, para alguns historiadores (?) os pivôs da história, ainda estavam sendo produzidos nas usinas da "Dassault"(12) e nem foram partícipes desses eventos.
Meu reencontro com a “bête” MIRAGE, já em solo brasileiro, foi de admiração e carinho. Revê-la, levou-me ao passado: Dijon e seus “escargots”(13) , meus Instrutores Cap. Paillard e Chateau e minha corrida bisônica (após três tentativas)...
A DASSAULT entregou os 16 aviões (via aérea – desmontados dentro de C-130) na pista ainda não concluída e um piloto de recebimento francês (DASSAULT) voou-os em dois dias e os considerou entregues à FAB. A pista somente ficou pronta após a chegada dos "Dijon Boys"(14) e, como o intervalo entre o último vôo na França e o primeiro no Brasil ultrapassara o prazo de qualificação operacional sem voar, nos compeliu a dar vôos de duplo a todos os "Dijon Boys", já em Anápolis. Para isso, trouxemos ao Brasil o famoso e querido Cap. CHATEAU, que havia sido meu Instrutor (e dos "Dijon Boys") no "Deux-Deux"... Àquela época, CHATEAU possuía a invejável marca de 2.000 horas de duplo comando na nacele traseira da “bête”(15) ... E todos re-solaram a máquina em solo e céus pátrios...
Mais de trinta anos se passaram quando cruzei os céus do Sul da França a Mach 2.0(16) : aí nasceu a paixão pela máquina. Nada a estranhar...
Vivi toda a carreira, após esses acontecimentos, com a “carga” de ter sido o “MIRAGE uma invenção do Menezes”. Quem me dera deter tamanho poder. Porém, não o repudio... A total verdade é que a DEFESA AÉREA, ANÁPOLIS e o SISDACTA foram frutos da "cerebração"(17) de homens (entre os quais me incluo) que acreditavam em uma Força Aérea capaz de agir independentemente da batalha de superfície (nosso carma de combatentes) e exercitar as habilidades dos seus pilotos, ao extremo das capacidades de interação homem-máquina. O avião MIRAGE foi o último fruto dessa carinhosamente cultivada árvore e não, como normalmente vem sendo descrito, “a razão do todo”... Nossa devida homenagem aos “esquecidos e laboriosos” combatentes pela mesma tarefa...
Não tive coragem de ver o MIRAGE coberto com a mortalha, em 14 Dez 2005. Para mim, ele ainda vive, e fará sempre parte de meus sonhos de Piloto de Caça e sustentáculo da minha vaidade, pois jamais o dominei: simplesmente, respeitei-o e apaixonei-me por ele, representativo de um desafio para qualquer Piloto de Caça, pela “finesse”(18) que impunha aos seus mestres, e inclusive, por ser a materialização de uma causa: a DEFESA AÉREA e a independência da Força Aérea.
Na realidade, tive medo de chorar, naquele momento final...
Lauro NeyMenezes
Piloto de Caça - Turma de 1948
Fonte: http://www.abra-pc.com.br/
Notas:
(1) Esquadrilha de Adestramento = Algumas Bases Aéreas possuem aviões para uso em viagens administrativas. Essas viagens são utilizadas quase sempre para manter o "adestramento" em vôo dos oficiais que não servem nos esquadrões. Os aviões são mantidos e "gerenciados" por um orgão denominado "Esquadrilha de Adestramento".
(2) atrito = diz-se da perda no número de pilotos, ou de aeronaves, seja por acidente ou não.
(3) pica-fumos = oficiais recém-chegados, "novinhos". Talvez essa expressão se referisse aos jovens escravos que trabalhavam "pincando" o fumo de rolo para serem feitos os cigarros dos seus senhores.
(4) cobrinha = Formação em que os aviões ficam um atrás do outro e repetem as manobras do avião que está na frente (líder).
(5) Ataque no1 = dispositivo de formatura usado para atacar alvos no solo. voltar
(6) anacreonte = chingamento "técnico" do instrutor para com a ignorância do aluno. Mais usado em sua forma compacta "anacra".
(7) comandinho = antigo rádio de comunicações que utilizava ondas eletromagnéticas na faixa de alta-freqüencia (HF). A freqüencia mais comum para a transmissão dos aviões era a de 5.680 khz.
(8) "maladies de jeunesse"= males da juventude - normalmente um novo modelo de avião apresenta variados problemas no período de início de sua implantação em uma unidade. Esses problemas podem ser motivados por deficiências na maneira de empregá-lo, deficiência na instrução das tripulações, na instrução das equipes de manutenção, no ferramental, nos equipamentos de apoio ou mesmo por pequenas falhas de projeto ou de especificação.
(9) "Deux-Deux" = refere-se ao esquadrão 2o/2o, tradicional unidade da Força Aérea Francesa descendente da famosa Esquadrilha Normandie-Niemen que atualmente está localizado na Cidade de Dijon e é utilizado como unidade de adaptação (transformação) de pilotos.
(10) GM-4 = refere-se ao setor do Gabinete do Ministro que lida com assuntos relacionados com material aeronáutico ( GM-1 seria o setor de pessoal, o GM-2 o setor de informações e o GM-3 o setor de operações)
(11) diatribes = crítica inflamada; discurso violento; opinião exacerbada.
(12) "Dassault" = refere-se à Fábrica "Dassault Aviation" criada pelo engenheiro projetista Marcel Dassault.
(13) "escargots". = caramujo (caracol) utilizado como alimento bastante sofisticado .
(14) "Dijon-boys" = primeiros pilotos brasileiros de Mirage que fizeram o curso na Base Aérea de Dijon na França.
(15) "bête" = do francês bêsta, no caso o sentido é de "o bicho".
(16) mach = é a medida de velocidade do som no ar. Como as condições atmosféricas variam (pressão e umidade), a velocidade do som no ar é muito variável e diminui com a altitude. Contudo os efeitos aerodinâmicos nas estruturas dos aviões dependem da sua velocidade em relação à velocidade do som no ar que o circunda e não em relação ao solo que sobrevoa. O nome "Mach" é uma homenagem ao físico austríaco "Ernst Mach".
(17) cerebração = refere-se ao trabalho mental criativo ( verbalização do substantivo cérebro)
(18) "finesse" = finura, delicadeza, primor, perfeição
(19) “Adieu, mon bon frère: mission très bien accompli!"= Adeus, meu bom irmão: missão muito bem cumprida!
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Re: "Curiosidades da FAB"
Muito legal! Exército e Marinha possuem algo semelhante?Paisano escreveu:
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Re: "Curiosidades da FAB"
Tô só esperando a reação do Talha quando ele ver isso, o home vai aloprar!Paisano escreveu:
att, binfa
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Re: "Curiosidades da FAB"
Paisano escreveu:
A melhor coisa depois de uma madrugada rastejando na grama, sob o orvalho, era o café da manhã com o queijo branco e iogurte! E quando chegava a noite, todos querendo algo bom pra comer, aquela pizza da Fazenda com uma Coca sempre dava um animo pro dia seguinte!
O inferno é gelado e o diabo se chama catarina!!!
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Re: "Curiosidades da FAB"
Vocês não conhecem a FAYSCA!
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
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Re: "Curiosidades da FAB"
Tem umas em casa! São saborosas, bem encorpadas! São inclusive, o melhor presente que a FAB pode dar para comitivas estrangeiras!rodrigo escreveu:Vocês não conhecem a FAYSCA!
http://www.tireoide.org.br/tireoidite-de-hashimoto/
Cuidado com os sintomas.
Você é responsável pelo ambiente e a qualidade do fórum que participa. Faça sua parte.
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- faterra
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Re: "Curiosidades da FAB"
Eu também.binfa escreveu:Tô só esperando a reação do Talha quando ele ver isso, o home vai aloprar!Paisano escreveu:
Um abraço!
Fernando Augusto Terra
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Re: "Curiosidades da FAB"
Até a porra para a inseminação, tão decantada pelo Talha, vem dos EUA e Canadá!
Um abraço!
Fernando Augusto Terra
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Re: "Curiosidades da FAB"
Boa noite a todos,
Será que a cachaça produzida pela FAB é da boa?
Francamente, abraços.
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Re: "Curiosidades da FAB"
Ricardo Rosa escreveu:Boa noite a todos,
Será que a cachaça produzida pela FAB é da boa?
Francamente, abraços.
Sei lá, mas sugiro um SLOGAN:
QUÊ RED BULL QUE NADA, BEBA PINGA FAB, ESSA SIM, TE FAZ VOAR!!!
Ficaria mais legal ainda com um filmezito. Nesta parte do slogan aparece um F-5 armado e subindo velozmente. Depois vem a frase final:
APRECIE COM MODERAÇÃO...SENÃO...
Daí aparece um F-5 despencando lá de cima!
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: "Curiosidades da FAB"
Que FX-2 o kct! Temos coisas mais importantes para resolver....
A MUSA DOS SARGENTOS - Valéria Souza
Alessandra Mattos vai receber título em setembro
Ex-Rainha de Bateria da Estácio de Sá, Alessandra Mattos, será Musa do Clube dos Sargentos da Aeronáutica, em Cascadura. “Adoro homem de farda”, diz ela, que receberá o título em setembro.
http://one.meiahora.com/noticias/a-musa ... _3812.html
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Re: "Curiosidades da FAB"
Jesus toma conta!
Vamos ajoelhar para rezar gente!
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Um abraço!
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Re: "Curiosidades da FAB"
É por essa e outras que eu não joguei fora as minhas fardas de Naval. hehehebinfa escreveu:Que FX-2 o kct! Temos coisas mais importantes para resolver....
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