RÚSSIA

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
gaia
Avançado
Avançado
Mensagens: 404
Registrado em: Qui Abr 07, 2011 10:14 am
Agradeceram: 15 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1396 Mensagem por gaia » Sex Ago 19, 2011 8:02 am

Esta ouvir na CNBC , os comentários do CEO do Hermitage Capital , e contar a sua estória na Rússia , em que os seus escritórios foram invadidos e o seu advogado foi torturado e morto , e disse que o governo é criminoso ,e não invistam na Rússia .

http://en.wikipedia.org/wiki/Bill_Browder




Avatar do usuário
FOXTROT
Sênior
Sênior
Mensagens: 7803
Registrado em: Ter Set 16, 2008 1:53 pm
Localização: Caçapava do Sul/RS.
Agradeceu: 278 vezes
Agradeceram: 113 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1397 Mensagem por FOXTROT » Sex Ago 19, 2011 9:57 am

terra.com.br

Ex-repúblicas soviéticas se blindam contra comunismo após 20 anos
19 de agosto de 2011

No dia 1º de agosto de 1991, o famoso monumento a Karl Marx, que se eleva sobre o centro da cidade de Moscou, apareceu com os seguintes dizeres pintados em tinta vermelha: "Proletários do mundo, perdoem-me!"

Era uma irônica alusão ao chamado aos trabalhadores contido no "Manifesto do Partido Comunista", publicado em 1848 na Alemanha por Marx e Friedrich Engels.

A ideia de comunismo concebida originalmente pelos intelectuais europeus encontrou abrigo espiritual na Rússia - que se tornou "a pátria do proletariado mundial".

Os comunistas que viviam na "casa da revolução mundial" se orgulhavam de seu papel na história e no cenário geopolítico. Vinte anos após o colapso do maior país comunista do mundo, o Partido Comunista permanece um dos mais influentes do país.

Em números de parlamentares, só fica atrás do partido Rússia Unida, dos últimos ocupantes do Kremlin, Dmitri Medvedev e Vladimir Putin. Mas a maioria dos analistas está de acordo com a opinião de que o partido não tem futuro político na Rússia.

Os filiados do PC de hoje pertencem a um setor determinado, mas em envelhecimento, da população. Se tudo continuar como está, os simpatizantes da sigla tendem a desaparecer.

A maioria dos simpatizantes da oposição na Rússia é nacionalista ou a favor de ideias ocidentais. Existe, sim, muita nostalgia na Rússia pela antiga União Soviética, mas não da igualdade indiscriminada, das filas e da doutrinação política: os cidadãos sentem falta do tempo em que a União Soviética era uma nação poderosa, respeitada e temida em todo o globo.

Muitos especialistas crêem que os comunistas poderiam ter retomado o poder nos anos 1990, quando a Rússia se encontrava em meio à turbulência política, se tivessem um líder carismático líder. Entretanto, a firme liderança de Genady Ziuganov assegurou o estabelecimento do capitalismo e de um sistema de democratização na Rússia.

Os eventos históricos que se desenrolaram na "casa da revolução" determinaram o destino do comunismo no resto do mundo.

Europa e Ásia Central
Nos países que conformavam as ex-repúblicas sob a batuta de Moscou, o que há de comum é a tentativa de evitar a influência da ideologia comunista.

A única ex-república soviética a manter o comunista é a Moldávia. Seu ex-presidente entre 2001 e 2009, Vladimir Voronin, foi o primeiro chefe de Estado comunista democraticamente eleito após a dissolução do bloco soviético.

Mas mesmo seus seguidores não são comunistas linha-dura no sentido tradicional: não desejam o retorno à vida soviética. Parte dos ativos do país foi privatizada e a melhor definição da estrutura sócio-econômica do país é capitalismo com um toque pós-soviético.

O país que mais preservou os valores e o estilo de vida soviéticos é Belarus, a "linha de montagem" do antigo bloco comunista. A liberalização econômica e a ruptura dos antigos laços econômicos atingiram duramente o país, que não possuía recursos naturais.

Durante a 2ª Guerra Mundial, o país amargou a ocupação nazista, insuflando uma desconfiança em relação à influência ocidental na psique nacional.

Mesmo assim, o comunismo tem desvanecido e o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko - que chegou ao poder impulsionado por esse sentimento antiocidental - nunca invocou as ideias de Marx e Lênin. A ideologia predominante é a do paternalismo estatal com liderança carismática e ditatorial.

Nos países da Ásia Central, que combinam capitalismo, autoritarismo secular e o uso oportunista de certos elementos islâmicos, os governos mantêm laços mais próximos com Moscou que com os países ocidentais - mas isso é porque a Rússia não os incomoda com questionamentos a respeito de direitos humanos.

Na Ucrânia, nos países do Cáucaso e nos Bálticos, o comunismo já não é digno de menção. As disputas políticas continuam nesses países, mas por forças inteiramente distintas.

No Leste Europeu, onde comunismo foi implantado força, a ocupação e a humilhação nacional, a maioria das populações nunca apoiou a ideologia.

A União Soviética provia os recursos para os seus "satélites" e permitia, neles, um grau de liberdade mais que em seu próprio solo. Mesmo assim, as tentativas de se livrar do jugo de Moscou só foram suprimidas com a intervenção do Exército Vermelho na ex-Alemanha Oriental, a Hungria e a ex-Tchecoslováquia.

Há partidos pós-comunismo em todos os países do antigo Pacto de Varsóvia, que advogam uma plataforma de esquerda moderada e europeia. Esses partidos têm tido espaço na Polônia, Hungria, Romênia, Eslováquia e Bulgária, mas não há possibilidade de voltar ao sistema político socialista de outrora.

China e Ásia
Se a revolução russa já não tinha grande relação com os ideais da ideologia marxista, a chinesa certamente não tinha. A China nunca teve um proletariado capaz de receber desempenhar a função histórica que lhe cabia segundo Marx.

Mao Tse Tung chegou ao poder em 1949 vindo da classe camponesa. Considerava-se líder de um "vilarejo global" em uma luta contra a "cidade global" e nunca escondeu sua rejeição à civilização urbana.

O seguidor de Mao no Camboja, Pol Pot, levou os ensinamentos de seu mestre à ação lógica, dizimando a população urbana do país. Mao combinava a ideologia marxista com um nacionalismo chinês e um despotismo asiático, exemplificados pela coletivização e a obediência. O indivíduo era um coágulo no sistema e todo interesse material era substituído por um profundo sentimento de conformidade.

No Vietnã, o vizinho mais próximo da China, o caminho do comunismo foi semelhante. A Mongólia foi o único país a estabelecer o socialismo ao estilo soviético antes da 2ª Guerra Mundial. Depois da queda da União Soviética, o país rejeitou o modelo e embarcou em um caminho de reformas de mercado e democracia multipartidária.

Hoje, a Coreia do Norte é o único bastião do comunismo stalinista. O país vive imerso em um sistema onde o mercado é inexistente e a ideia de coletividade é tão forte que os indivíduos são proibidos de cobrir as janelas com cortinas.

A doutrina oficial norte-coreana não se baseia nos princípios marxistas-leninistas, mas no espírito de autoconfiança. Na prática, isso se traduziu no desejo de Kim Il Sung e seu sucessor, Kim Jong Il, de se manter seu domínio sem se submeter a ninguém.

África e América Latina
Na África, a realidade social não poderia ser mais diferente dos cenários elaborados por Marx e Engles, que se debruçaram sobre os problemas das sociedades industriais.

Em parte, a aproximação dos países africanos com a URSS foi motivada pela rejeição ao imperialismo histórico das potências europeias.

Aos líderes anticolonialistas africanos também apetecia a ideia de modernizar seus países através de ditaduras. Eles sabiam pouco sobre as ideias de Marx e Lênin, mas entenderam que bastava dizer a palavra mágica - "socialismo" - para estar na lista dos receptores de armas e recursos da União Soviética.

Isto gerou todo tipo de confusão. Quando a Etiópia e a Somália entraram em guerra, por exemplo, ambos os países se consideravam socialistas. Levou tempo até Moscou decidir quem apoiar: a Etiópia.

Na América Latina, de forma semelhante ao que ocorreu na África, o apoio da URSS foi usado na Guerra Fria contra outra potência vista como imperialista - os Estados Unidos.

Mas muitas revoluções latino-americanas não foram diretamente inspiradas pelo marxismo. A Cubana começou como uma insurreição contra a autoridade vigente.

Fidel Castro era popular em Moscou tanto quanto Yuri Gagarin, o primeiro homem no espaço. O líder cubano da "ilha da liberdade" mostrava que o comunismo poderia ser jovem, cheio de vida e democrático.

Ao longo dos anos, Cuba perdeu a vitalidade e passou a ser um país governado por uma geração de octogenários. É possível que se torne o país a martelar o último prego no caixão do comunismo global.




"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
FoxHound
Sênior
Sênior
Mensagens: 2012
Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
Agradeceu: 38 vezes
Agradeceram: 16 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1398 Mensagem por FoxHound » Sex Ago 19, 2011 12:27 pm

Esta ouvir na CNBC , os comentários do CEO do Hermitage Capital , e contar a sua estória na Rússia , em que os seus escritórios foram invadidos e o seu advogado foi torturado e morto , e disse que o governo é criminoso ,e não invistam na Rússia .
Digo que investidores Chineses estão se lixando pelos investimentos ocidentais na Russia, tanto que a China é hoje o maior parceiro comercial da Russia para eles seria muito bom que o ocidente deixe de investir lá assim Pequin ganhai mais influência perante a politica do Kremlin sem se preocupar com a concorrência do ocidente na disputa os comentarios do CEO do Hermitage Capital soa como musica para os chineses.
Só um detalhe importante durante o governo Putin a Russia pagou quase toda dívida externa que devia para o Ocidente e a estabilizou, pouco por volta de 2006 devido a disputa de gás com Ucrania até guerra dos cinco dias contra a Georgia e seguinte a crise economica mundial o as potências ocidentais não quiseram mais emprestar dinheiro a Russia como forma de punição ao País , o que a aconteceu a Russia foi pedir dinheiro emprestado a China, da sua divida externa total a Russia que deve em torno de $480,2 bilhoes de dolares desses $336,14 bilhões é a divida que a Russia deve a China o restante dos $144,06 é a divida que a Russia deve aos Paises do ocidente sendo que dessa divida é maior com a Alemanha e depois a França, então a Russia tem 70% da divida externa dela na mão dos Chineses.




Avatar do usuário
FOXTROT
Sênior
Sênior
Mensagens: 7803
Registrado em: Ter Set 16, 2008 1:53 pm
Localização: Caçapava do Sul/RS.
Agradeceu: 278 vezes
Agradeceram: 113 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1399 Mensagem por FOXTROT » Sex Ago 19, 2011 12:33 pm

No próximo inverno a Rússia quita sua divida com os ocidentais, quanto mais frio melhor para os russos :mrgreen:.

Saudações




"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
FoxHound
Sênior
Sênior
Mensagens: 2012
Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
Agradeceu: 38 vezes
Agradeceram: 16 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1400 Mensagem por FoxHound » Sex Ago 19, 2011 2:20 pm

Parte dos russos concorda com eventual volta da URSS, 20 anos após sua queda.

Sergei Veretelny foi ferido a bala há 20 anos, quando deu um passo à frente desarmado para deter uma coluna de veículos blindados no centro de Moscou, uma das poucas vítimas da última tentativa fracassada de preservar a União Soviética.

Foi um momento em que os russos, em grande parte submissos e atemorizados após 74 anos de governo soviético, se reuniram nas ruas para apoiar o futuro presidente, Boris Yeltsin, exigindo mudança democrática.

O escritor Vasily Aksyonov registrou o entusiasmo de muitos na época, quando ele chamou o impasse de 60 horas como “provavelmente as noites mais gloriosas na história da civilização russa”.

Mas o homem que governa a Rússia, o primeiro-ministro Vladimir V. Putin, chamou a queda da União Soviética de “a maior catástrofe geopolítica do século”.

Pesquisas recentes, à medida que o aniversário se aproxima neste sábado, mostram que a visão das pessoas está mais próxima da de Putin do que de Aksyonov. Poucas pessoas disseram considerar os eventos de 1991 como uma vitória da democracia.

“Naquela época na Rússia, atrás da cortina de ferro, nós só ouvíamos falar de democracia”, disse Veretelny, 54 anos, que na época ganhava seu pão como motorista. “Nós realmente acreditávamos na palavra mágica e bela, a democracia. Mas muitas coisas não saíram exatamente como esperávamos. Nós começamos a nos perguntar pelo que derramamos nosso sangue.”

Na década que se seguiu, mudanças sociais e econômicas caóticas e tentativas fracassadas de reforma deram má fama à democracia. Muitas pessoas apreciaram a estabilidade que Putin trouxe, mesmo ao custo de parte das liberdades democráticas.

Veretelny é apenas uma voz entre 140 milhões de russos e apesar de sua desilusão ser amplamente compartilhada, muitas pessoas parecem aceitar os limites impostos por Putin à disputa política, sociedade civil e imprensa. Uma eleição marcada para o ano que vem dificilmente mudará o país de curso.

Veretelny falou uma semana antes do aniversário na casa de Lyubov Komar, a mãe de um jovem veterano da guerra russa no Afeganistão, Dmitry Komar, que foi um dos três homens mortos durante a noite final.

Veretelny se feriu quando tentava recuperar o corpo de Komar, que ele disse ter ficado preso em um blindado enquanto se movia para frente e para trás, na tentativa de deslocar um trólebus que bloqueava seu caminho.

“Eu vi o sujeito pendurado no veículo blindado”, ele disse. “Eu estendi as mãos para ajudar, e fui baleado no ombro. Eu achei que alguém viria para retirar o corpo, mas ele ficou se movendo para frente e para trás, até que o corpo caiu no asfalto.”

Os blindados e tanques recuaram pouco depois, marcando o fim de um golpe que tentava conter a maré de mudança. Em 25 de dezembro, o então presidente Mikhail Gorbachev renunciou, colocando um fim formal à União Soviética.

Desde então, Veretelny trabalhou como eletricista, policial e agora como pequeno empresário às margens da economia russa. Até recentemente, sua esposa, Svetlana, tinha um emprego muito bem remunerado como gerente de uma empresa, e ela disse que o casal vivia confortavelmente.

Komar, que trabalha como assistente de uma academia de ginástica, ainda constrói sua vida em torno da memória de seu filho, e repete a posição de Veretelny, dizendo: “Se meu filho pudesse ter visto para onde o país caminharia, ele não estaria nas barricadas”.

Sentada em seu apartamento, cercada por fotos que traçam o crescimento dele de menino a soldado, ela disse que desistiu do processo político.

“Eu não saio para votar há 10 anos”, ela disse. “Eles estarão bem sem mim. Eles escolhem quem querem, então por que votar?”

Como muitos russos, ela passou a desprezar Yeltsin pelo que considerava sua liderança fraca e agora faz parte da grande maioria de russos que apoia Putin. Mas o que ela realmente gostaria, ela disse, é fazer o relógio voltar para trás.

“Eu me sentia mais à vontade na União Soviética”, ela disse. “Você sempre tinha pão. Você sempre tinha trabalho. Sim, é possível viajar para o exterior agora, mas é preciso dinheiro para isso e você precisa se endividar. Mas se você não tem dinheiro, você não consegue fazer nada.”

Uma recente pesquisa realizada pelo Levada Center, uma respeitada agência de pesquisas de opinião, apontou que 20% dos russos compartilham do desejo dela de um retorno da União Soviética, um número que tem oscilado entre 16% e 27% ao longo dos últimos oito anos.

Entre eles, sem causar surpresa, estava Gorbachev, que tentou reformar e preservar a União Soviética, mas foi impedido pelo golpe e depois por Yeltsin e pelo desdobrar dos eventos.

“Alguns costumam repetir que o colapso da União Soviética era inevitável”, ele disse em uma coletiva de imprensa na quarta-feira. “Mas eu continuo dizendo que a União Soviética podia ter sido preservada.”

Falando aos jornalistas, ele disse: “Vocês criticam Gorbachev: fraco, molenga, mais ou menos nestes termos. Mas e se o molenga não estivesse naquele cargo na época, quem sabe o que poderia ter acontecido conosco”.

Segundo a agência de pesquisa, aqueles que gostariam de um retorno ao passado soviético eram em grande parte membros de vestígios do Partido Comunista, pessoas idosas e pessoas que moravam em cidades pequenas e vilarejos.

A pesquisa foi realizada pessoalmente com 1.600 pessoas durante cinco dias em julho e apresenta margem de erro de 3,4 pontos percentuais.

Outras respostas sugerem que os russos querem democracia, mas democracia de um tipo particular, com um governo central poderoso, algo mais próximo do que o país tem hoje do que alguns, como Veretelny, imaginavam. Mais da metade dos entrevistados, 53%, disse dar mais valor à “ordem” do que aos direitos humanos.

“Nós tínhamos tanta esperança, tanta fé, tanta inspiração no futuro”, disse a esposa de Veretelny, Svetlana. “Havia uma sensação de liberdade e esperança. Nós estávamos felizes demais vendo as mudanças à frente.”

Mas agora, segundo a agência de pesquisa, apenas 10% dos entrevistados veem aqueles dias como uma vitória da democracia. Ela disse que o número de pessoas que considera os eventos uma tragédia cresceu para 39%, de 25% no último aniversário, há 10 anos.

“É o que é”, disse Veretelny, que passou da esperança para a passividade. “Nós apenas temos que entender que é com isto que ficamos.”
http://codinomeinformante.blogspot.com/




FoxHound
Sênior
Sênior
Mensagens: 2012
Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
Agradeceu: 38 vezes
Agradeceram: 16 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1401 Mensagem por FoxHound » Sex Ago 19, 2011 2:22 pm

Para Gorbachev, Putin leva Rússia "ao passado", mas "democracia prevalecerá"
Em entrevista ao “Spiegel”, Mikhail Gorbachev, 80, discute os últimos dias da União Soviética, seu fracasso em resolver os problemas com o Partido Comunista e o banho de sangue que se seguiu, que ele diz que o persegue até hoje. Ele também acusa Vladimir Putin de levar o país “para o passado”.

Pergunta: Mikhail Sergeyevich, o senhor completou 80 anos nesta primavera. Como o senhor se sente?
Gorbachev: Ah, que pergunta. Vocês têm que me perguntar isso? Passei por três operações nos últimos cinco anos. Foi bastante duro, porque foram todas grandes: primeiro, a carótida, depois, a próstata e, neste ano, minha coluna.

Pergunta: Em Munique.
Gorbachev: Sim. Foi um procedimento arriscado. Sou grato aos alemães.

Pergunta: Mas o senhor parece bem. Nós o vimos antes da operação.
Gorbachev: Eles dizem que você precisa de três a quatro meses para voltar ao normal após uma operação como essa. O senhor se lembra do livro “The Fourth Vertebra” (“A Quarta Vértebra”, em tradução livre), do autor finlandês Martti Larni? É um livro ótimo. No meu caso, foi a quinta (vértebra). Voltei a andar, mas no início é difícil.

Pergunta: Ainda assim, o senhor já voltou para a política e também às manchetes. Por que o senhor não para e finalmente relaxa?
Gorbachev: A política é meu segundo amor, depois de Raisa.

Pergunta: Sua mulher falecida.
Gorbachev: Nunca vou desistir da política. Tentei desistir três vezes, mas nunca consegui. A política me mobiliza. Não vou durar, se desistir dela. Contudo, nunca pensei que chegaria aos 80. Eu tinha perto da sua idade quando me tornei secretário-geral.

Pergunta: Aos 54.
Gorbachev: Eu já era o mais jovem secretário na liderança do partido em Stavropol. E aqui em Moscou eu era o mais jovem membro do Politburo quando (o ex-secretário-geral Konstantin) Chernenko morreu.

Pergunta: De fato, esperava-se que o senhor se tornaria diretor do partido um ano antes.
Gorbachev: Chernenko estava doente. Ainda assim, eles o elegeram em 1984, e houve rixas e confrontos no Politburo. Eles distribuíram os cargos conforme julgaram adequado, apesar de (Yuri) Andropov...

Pergunta: ...o então secretário-geral e diretor da KGB por muitos anos...
Gorbachev: ...ter escrito, em uma carta ao Plenário do Comitê Central, que ele apoiava Gorbachev.

Pergunta: Talvez o senhor pudesse nos contar os detalhes da reunião decisiva do Politburo após a morte de Chernenko, em março de 1985. Ironicamente, foi o Ministro de Relações Exteriores (Andrei) Gromyko que o nomeou como novo líder do partido. Por que ele fez isso? Ele tinha antipatia e inveja do senhor. Havia outros candidatos?
Gorbachev: Porque Gromyko era uma pessoa muito inteligente e séria. Por que tinha inveja de mim? Não sei. Mas ele reconheceu os sinais dos tempos. Quando Chernenko adoecia, muitas vezes eu era chamado para administrar os trabalhos do Secretariado e do Politburo e me saía bem, e isso não passava despercebido. Assim sendo, posso dizer que Chernenko até me ajudou. Eu ganhei uma experiência importante no processo. Parafraseando um enunciado de Voltaire sobre Deus, eu diria: se Chernenko não existisse, alguém teria que tê-lo inventado.

Pergunta: Também havia importantes rivais que não queriam Gorbachev.
Gorbachev: Sim, alguns. Por outro lado, um grupo de líderes regionais do partido me procurou, enquanto Chernenko ainda vivia, e disse que a velha guarda estava tentando se manter no trono e que, caso o fizessem, iam tirá-los. Eu disse a eles: vamos parar com esse tipo de conversa. Quando Chernenko morreu e a questão da sucessão tinha que ser resolvida, reuni-me com Gromyko 30 minutos antes da reunião crítica do Politburo. Disse a ele: a situação é séria, e as pessoas estão pedindo mudanças. Não pode ser forçada, e pode ser arriscada, até perigosa. Vamos atacar isso juntos. Gromyko respondeu que concordava plenamente comigo. Só nos falamos por cinco minutos. Naquela noite, voltei para minha datcha pouco antes do amanhecer –e fui caminhar com Raisa.

Pergunta: O senhor nunca discutia assuntos importantes com sua esposa dentro de casa?
Gorbachev: Você tinha que sair de casa. Tampouco discutíamos coisas importantes abertamente na datcha. Quando esvaziei nosso apartamento em Moscou após deixar o cargo de presidente, encontraram todo tipo de grampos nas paredes. Ou seja, eles tinham me espionado o tempo todo.

Pergunta: Qual conselho a sua mulher lhe deu naquela noite?
Gorbachev: Eu disse a ela: o novo secretário-geral será eleito hoje, e é possível que eles me nomeiem. Expliquei a ela que não ia recusar, porque as pessoas interpretariam como covardia política.

Pergunta: Senhor Gorbachev, permita-nos um experimento.
Gorbachev: Não participo mais de experimentos.

Pergunta: Este é completamente inofensivo: três ou quatro razões são sempre citadas para explicar por que a sua Perestroica, a renovação da União Soviética, falhou.
Gorbachev: O senhor acaba de dizer “falhou”?

Pergunta: Sim, mas não queremos discutir os termos. Poderíamos usar uma palavra diferente. Vamos lhe dar as razões e pedir um breve comentário. Primeiro: o senhor tratou os sintomas do sistema comunista, mas não foi ao cerne do problema, ou seja, que a economia planejada e o monopólio do partido no poder ficaram intocados por tempo demais. Este não foi o caso?
Gorbachev: Vamos falar de uma coisa de cada vez. Eu faria a Perestroica exatamente da mesma forma hoje. “Não podemos continuar vivendo desta forma”, esse era nosso lema. “Quero mudanças”, dizia a canção de Viktor Zoi, pioneiro do rock russo.

Pergunta: Mas o senhor não tinha um conceito para essas mudanças.
Gorbachev: Se eu tivesse um plano, rapidamente teria ido parar em Magadan.

Pergunta: A capital do gulag stalinista, a 6.000 km de Moscou.
Gorbachev: Vocês dois conheciam bem a União Soviética. Vocês não se lembram do tipo de país que era? Só era preciso uma minúscula piada política para terminar em Magadan. E eu deveria ter um plano de uma equipe de apoio? Primeiro tínhamos que tirar as pessoas do estado de torpor. O partido não precisava de uma Perestroica. Cada um deles estava realizado. O líder do partido distrital era o rei em seu distrito, e o líder regional era um czar, e o secretário-geral era praticamente um Deus. Por isso que precisávamos da glasnost (abertura) primeiro. Era o caminho para a liberdade. Depois, conduzimos as primeiras eleições livres na Rússia em 1.000 anos.

Boris Yeltsin
Pergunta: Contra a vontade do partido. O senhor não era tão crítico deles na época.
Gorbachev: O Partido Comunista Soviético era uma máquina enorme. Em alguma altura, começou a travar as rodas. Ele foi o iniciador da Perestroica, mas depois se tornou seu maior obstáculo. Compreendi que nada ia funcionar sem reformas políticas profundas. Após sofrer uma derrota nas primeiras eleições democráticas, o establishment uniu suas forças e me atacou abertamente em uma reunião da liderança do partido. Foi aí que anunciei minha renúncia e deixei a câmara do plenário.

Pergunta: Mas isso só foi em abril de 1991, oito meses antes do fim da União Soviética. Além disso, o senhor voltou, o senhor se permitiu ser persuadido novamente, em vez de usar o momento para enviar o partido antigo embora.
Gorbachev: Sim, voltei após três horas. Cerca de 90 camaradas tinham feito uma lista para um novo partido Gorbachev, que teria criado uma cisão. Entrei para o Partido Comunista aos 19 anos, quando ainda estava na escola. Meu pai tinha estado na frente de batalha e meu avô era um velho comunista – e eu deveria explodir aquilo tudo? Hoje sei que deveria ter explodido. Mas o homem sentado à sua frente não é um estadista, e sim uma pessoa totalmente normal. Alguém com uma consciência, e essa consciência o tortura constantemente.

Pergunta: A próxima acusação é que o senhor não teve suficiente conhecimento da natureza humana para o cargo. Muitos camaradas cujo avanço o senhor facilitou o traíram mais tarde. Isso também certamente é difícil de negar.
Gorbachev: Vocês de novo! Sim, eu tornei (Vladimir) Kryuchkov diretor da KGB e ele depois fez um golpe contra mim. Mas onde eu ia encontrar um chefe de inteligência? Kryuchkov tinha trabalhado para Andropov por 20 anos, e eu conhecia Andropov. É claro que peguei ele ali, mas não o conhecia muito bem.

Pergunta: (Boris) Yeltsin, que, como presidente da Rússia, mais tarde o expulsou do cargo, era alguém que o senhor conhecia bem.
Gorbachev: Está bem, falemos de Yeltsin. De fato o conhecia. Mesmo quando era líder distrital em Sverdlovsk...

Pergunta: ... que hoje é Yekaterinburg...
Gorbachev: Ele era muito confiante. Quando quisemos trazê-lo para o partido nacional, muitos nos aconselharam contra. Depois, eles o elegeram líder do partido em Moscou. Eu apoiei a medida. Ele é enérgico, e eu precisei de um longo tempo para reconhecer meu erro. Ele era extremamente seduzido pelo poder, presunçoso e sedento por glória, uma pessoa dominante. Ele sempre achava que estava sendo subestimado e se sentia constantemente insultado. Deveria ter sido afastado, recebido o cargo de embaixador em uma república de bananas, onde poderia ter fumado seu cachimbo em paz.

Pergunta: A terceira questão: o senhor é criticado por ter subestimado criminalmente a questão nacional...
Gorbachev: Isso não é verdade. Eu vivia em um país no qual as pessoas falavam 225 línguas e dialetos e onde existiam todas as religiões. Eu cresci no Cáucaso e conhecia bem os problemas.

Pergunta: O senhor realmente não sabia que o exército suprimiu violentamente o movimento de independência em Tbilisi e Vilnius?
Gorbachev: Sim, eu sei, essa acusação me foi feita milhões de vezes. Mas realmente estava acontecendo pelas minhas costas. É claro que isso levanta a questão: que tipo de secretário-geral não sabe nada sobre essas coisas? Essa é a acusação muito mais séria. Tome Vilnius por exemplo. No dia 12 de janeiro de 1991, após os conflitos entre defensores e opositores da independência aumentarem, o conselho federal se reuniu. Eles enviaram uma delegação para Vilnius para encontrar uma solução política. Contudo, na noite anterior a sua chegada, houve confrontos e pessoas foram mortas. Está claro hoje que eram forças da KGB que queriam impedir uma solução política. A situação era similar em Tbilisi.

Pergunta: O seu estilo vacilou entre rigidez e indecisão.
Gorbachev: Dizia-se que a rigidez chinesa era inaceitável e deixar de atirar era sinal de fraqueza. Os dois são absurdos. Você tem que buscar o diálogo até o fim.

Pergunta: Por que o senhor não usou a abordagem chinesa em sua Perestroica: liderança comunista dura mais reformas econômicas capitalistas?
Gorbachev: Cada país é diferente. A China é um bom exemplo, mas as reformas têm que avançar de formas diferentes.

Pergunta: Existe uma teoria que ouvimos muito, mas não conseguimos compreender, ou seja, que a URSS ainda poderia ter se salvado mesmo após o golpe.
Gorbachev: Poderia. O problema foi que chegamos tarde demais para reformá-la. Alguns queriam a federação, mas a maioria das repúblicas queria um Estado unido com elementos de uma confederação. Então eu propus um referendo. Quando votamos a proposta, Yeltsin bateu na mesa com raiva. Ele era contra, é claro. Ele anunciou abertamente que não ia mais trabalhar com Gorbachev e que eles tinham que se separar de mim. Aí veio o referendo, e as pessoas me apoiaram.

Pergunta: Setenta e seis por cento.
Gorbachev: Isso significa que a união foi destruída contra a vontade das pessoas e de forma deliberada - com a participação da liderança russa por um lado e dos putschists, pelo outro.

Cansado e no limite
Pergunta: O senhor sempre buscou diálogo, provavelmente por tempo demais. Quando os presidentes da Rússia, da Ucrânia e da antiga Bielo-Rússia, atual Belarus se reuniram perto de Brest em dezembro de 1991 e desferiram um golpe contra a URSS pelas suas costas, o vice-diretor da chancelaria presidencial o aconselhou a enviar dois ou três helicópteros com uma unidade especial e colocar os três homens sob prisão domiciliar. Essa teria sido uma opção? O senhor tinha os resultados do referendo do seu lado.
Gorbachev: Não foi assim. Yeltsin tinha discutido a viagem para a atual Belarus comigo e disse que também queria convidar o presidente ucraniano, (Leonid) Kravchuk. Ele disse que seria difícil convencer os ucranianos a participarem do novo acordo de união depois do referendo em Kiev sobre a independência. Eu argumentei que isso não os impediria de assinar o acordo. Afinal, todas as outras repúblicas já tinham declarado sua independência, como sinal de maior soberania. Então, Yeltsin perguntou: mas o que acontece se os e ucranianos se recusarem a assinar o novo acordo? Eu respondi que eles com certeza assinariam, mas que era uma decisão para o parlamento ucraniano e que Moscou não se oporia a independência da Ucrânia. Depois, eu o lembrei que quando voltasse, deveria haver uma reunião para a qual eu já havia convidado os presidentes da Ucrânia, Belarus e Cazaquistão. Yeltsin e seus partidários de fato estavam agindo como conspiradores secretos contra a constituição. Quando isso ficou claro, eu disse imediatamente que três pessoas apenas não poderiam dissolver a união.

Pergunta: O senhor está dizendo que o senhor não poderia ter usado força contra os três presidentes?
Gorbachev: Isso poderia ter levado a uma guerra civil, o que era para ser evitado a todo custo. O país estava em estado de choque. A imprensa estava em silêncio e ninguém saía para as ruas para defender a união. O povo estava confuso. Eles não compreendiam que tipo de “comunidade de Estados independentes” Yeltsin e seus aliados tinham proposto. Parecia inofensivo, como alguma coisa que daria maior liberdade para as repúblicas da união. Foi só mais tarde que eles compreenderam que este grande país tinha implodido. Mesmo hoje, a maioria das pessoas diz que se arrependem do fato da URSS ter desmoronado. Porém, apenas 9% dizem que gostaria que voltasse.

Pergunta: Hoje em dia, a maior parte das pessoas, inclusive nos EUA e na Alemanha, alega que teria defendido a preservação da União Soviética.
Gorbachev: Porque elas não sabiam se as partes iam virar um caos após a dissolução. O que tinha ocorrido antes disso? O presidente Bush segurou os ucranianos, apesar de outros em Washington já estarem esfregando as mãos, até mesmo trabalhando secretamente pela nossa queda. Quando eu fui para a reunião de cúpula do G-, em julho de 1991, e pedi empréstimos para lidar com a difícil situação econômica, os americanos e japoneses se opuseram, enquanto (o chanceler alemão) Helmut Kohl não disse nada. Somente (o então presidente da França, François) Mitterand, e a comissão europeia me apoiaram.

Pergunta: Kohl se opôs? Não é isso o que ele diz hoje.
Gorbachev: O que eu disse foi que ele ficou em silêncio. (O ministro de relações exteriores alemão Hans-Dietrich) Genscher foi a favor. Nós esperávamos US$ 30 bilhões, mas foi em vão. Nossos parceiros não tiveram visão.

Pergunta: Aí veio o golpe. Mas os americanos já o haviam advertido antes - dois meses antes, de fato. Eles tinham até dado os nomes, inclusive do chefe da KGB Kryuchkov. Verdade?
Gorbachev: Bush ligou. Ele se referiu a informações do prefeito de Moscou, Gavriil Popov.

Pergunta: O senhor não acreditou nele?
Gorbachev: Os conservadores tinham anunciado várias vezes que queriam se livrar de Gorbachev, e eles já haviam tentado em vários comitês, mas sem sucesso. Então, criamos um programa contra crises, patrocinado por todas as repúblicas. Um novo tratado de união foi assinado no dia 20 de agosto e um congresso extraordinário ia reformar o partido. Os opositores da Perestroica tinham sofrido uma derrota, então organizaram o golpe.

Pergunta: E o senhor decidiu sair de férias para a Crimeia em uma hora dessas?
Gorbachev: Achei que seriam idiotas de assumir tal risco precisamente naquele momento, que também os varreria do mapa. Mas infelizmente, eles eram verdadeiros idiotas e destruíram tudo. E nós nos provamos semi-idiotas, inclusive eu. Eu estava exausto após todos aqueles anos. Eu estava cansado e no meu limite. Mas eu não deveria ter ido embora. Foi um erro.

Pergunta: O que seria melhor hoje se a URSS ainda existisse?
Gorbachev: Isso não está claro para vocês? Tudo teria crescido junto durante as décadas: cultura, educação, língua, economia, tudo. Eles estavam construindo carros nas repúblicas bálticas e aviões na Ucrânia. Até hoje não conseguimos nos virar sozinhos. E uma população de 300 milhões também era um bônus.

Pergunta: Existem outras coisas que o senhor fez que ainda o atormentam até hoje?
Gorbachev: Meu objetivo era evitar um banho de sangue. Mas infelizmente, no final das contas, houve certo banho de sangue. Também me atormenta o fato de não ter resolvido o problema com o Partido Comunista na época. E de ter subestimado o fato de que as outras repúblicas nacionais queriam decidir questões relativas às suas próprias vidas sozinhas, sem ninguém do governo central se envolvendo. Agora, elas têm essa possibilidade.

Pergunta: Pulemos no tempo para a Rússia de hoje. Quando Putin assumiu, no ano 2000, o senhor o apoiou. O senhor já o conhecia?
Gorbachev: Ele me ajudou quando eu concorri nas eleições presidenciais de 1996.

Pergunta: Na época, o senhor dizia que ele era inteligente e agora diz que, sob sua liderança, a Rússia passou a se parecer um país africano, onde os ditadores governam por 20 a 30 anos. O que o senhor subitamente acha tão reprovável nele?
Gorbachev: Cuidado, vocês é que estão usando a palavra “ditador”. Eu apoiei Putin durante sua presidência, e ainda o defendo de muitas formas hoje.

Pergunta: O senhor pediu a ele que não concorresse à presidência novamente.
Gorbachev: O que me preocupa é o que o partido Rússia Unida, de Putin, e o governo estão fazendo. Eles querem preservar o status quo. Não há avanço. Pelo contrário, eles estão nos puxando para o passado, enquanto o país está precisando urgentemente de modernização. Algumas vezes, o partido da Rússia Unida me lembra o antigo Partido Comunista Soviético.

Pergunta: Putin e o presidente Dmitry Medvedev querem decidir entre eles quem será o próximo presidente em 2012.
Gorbachev: Putin quer ficar no poder, mas não para resolver nossos problemas mais urgentes: educação, saúde, pobreza. O povo não está sendo ouvido e os partidos são marionetes do regime. Os governadores não são mais diretamente eleitos. Eliminaram as eleições diretas. Hoje, tudo funciona pelas listas do partido. Mas novos partidos não têm permissão de funcionar, porque atrapalham.

Pergunta: Como o partido social democrático que o senhor tentou fundar várias vezes.
Gorbachev: E ainda assim precisamos de novas forças para trazer progresso ao país. E precisamos de partidos que unam os interesses políticos e econômicos, que possam alcançar uma parceria social e garantir um desenvolvimento democrático.

A democracia ainda prevalecerá
Pergunta: Medvedev, aparentemente liberal, algumas vezes é comparado ao senhor. O senhor acha a comparação justificável?
Gorbachev: As comparações são enganosas. Medvedev é um homem educado e está ganhando experiência. Mas ele precisa de forças nas quais se sustentar.

Pergunta: Como vai terminar o processo que o senhor iniciou em 1985 na Rússia? O país vai se tornar uma democracia, os nacionalistas vão assumir o poder ou os comunistas voltarão?
Gorbachev: Será difícil, até doloroso, mas a democracia vai prevalecer na Rússia. Não haverá ditadura, apesar de possíveis lapsos de autoritarismo. Isso porque nós andamos apenas metade do caminho, ao menos em minha opinião.

Pergunta: Mikhail Sergeyevich, vamos olhar para o período após a sua renúncia. O senhor concorreu à presidência novamente em 1996, mais conseguiu apenas 0,5% dos votos. Somente alguém que não avaliou realisticamente o ambiente no país estaria disposto a passar por uma candidatura desta forma.
Gorbachev: Por quê? Como você sabe quantos votos eu realmente tive? Um dos aliados de Yeltsin disse publicamente que, de acordo com as suas informações, eu tive 25% dos votos. Com efeito, eu tive 15%. Na manhã após as eleições, um dos meus delegados me ligou de Orenburg e disse que eu estava pouco abaixo de 7%. Naquela noite já estava com 0,65%. O que foi que Stálin disse? O mais importante é aquele que conta os votos.

Pergunta: Nos últimos anos, o senhor passou muito tempo na estrada como uma espécie de vendedor ambulante, efetivamente vendendo seu passado e fazendo muito dinheiro com isso. O senhor dá palestras, aparece em propagandas de bens de luxo da Louis Vuitton e abre bancos e lojas de móveis. Esse é um comportamento adequado para um homem que mudou o mapa político do século 20?
Gorbachev: Espere um pouco. Vamos examinar o que as pessoas consideram moralmente correto, inclusive vocês alemães. Sim, eu dou palestras e escrevo artigos. Vocês preferem alguém que rouba em segredo ou alguém que abertamente procura a Louis Vuitton? Na Rússia, há pessoas que fazem seu dinheiro de forma criminosa, mas eu ganho tudo o que tenho licitamente. De que outra forma minha fundação deve funcionar? O governo não nos dá nenhum centavo.

Pergunta: O senhor patrocina o resto com seus livros?
Gorbachev: Acabo de terminar meu 13º livro, um livro de memórias completamente privadas. E em breve será publicada uma coleção de 25 volumes das obras. Logo vocês estarão me chamando de “especulador”.

Pergunta: Metade de Moscou o critica pelo evento de gala feito no Royal Albert Hall em Londres, no final de março, para celebrar o seu 80º aniversário.
Gorbachev: Deixe-me esclarecer: primeiro, nós celebramos aqui em Moscou no dia 2 de março, com um grupo de pessoas próximas a mim. Não era um grupo pequeno, cerca de 200 pessoas.

Pergunta: Mas ninguém do Kremlin.
Gorbachev: O presidente e o primeiro-ministro da Rússia enviaram suas congratulações. E eu fui condecorado com a mais alta das medalhas, a ordem de St. Andrew. O evento beneficente ocorreu em Londres um mês depois. Foi uma iniciativa organizada pelos meus amigos e Irina.

Pergunta: A sua filha, que é vice-presidente da sua fundação.
Gorbachev: Um prêmio Gorbachev foi inaugurado na oportunidade.

Pergunta: Por que tantos russos o odeiam?
Gorbachev: Não tenho essa impressão. Pelo contrário: eu me senti apoiado durante todos esses anos difíceis.

Pergunta: Mikhail Sergeyevich, agradecemos por esta entrevista.
http://codinomeinformante.blogspot.com/




Avatar do usuário
FOXTROT
Sênior
Sênior
Mensagens: 7803
Registrado em: Ter Set 16, 2008 1:53 pm
Localização: Caçapava do Sul/RS.
Agradeceu: 278 vezes
Agradeceram: 113 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1402 Mensagem por FOXTROT » Sex Ago 19, 2011 3:58 pm

http://www.revistaforum.com.br/conteudo ... icia=9370/

Rússia recupera sua hegemonia (e os problemas que vem com ela)
Vladimir Putin disse ao colega ucraniano Nicolái Azárov que a Ucrânia poderia receber até 9 bilhões de dólares anuais se entrasse na União Alfandegária. Mas a Ucrânia também negocia a criação de uma zona de livre comércio com a UE.
Por Norberto Emmerich [08.07.2011 11h00]



No dia 1º de julho foram suspensos os controles alfandegários entre Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão, um forte sinal que aponta para a criação de um espaço econômico comum que tem como data-limite de início o dia 1º de janeiro de 2012.

Especificamente, os tradicionalmente baixos direitos de importação que a Bielorrússia e o Cazaquistão pagam pela compra de insumos econômicos necessários agora estarão equiparados com os altos impostos que a Rússia coloca sobre os bens que importa. Isto aumenta significativamente o custo da importação da Bielorrússia e do Cazaquistão e aumenta a dependência de ambos os países em relação ao país que não será afetado pelos aumentos das tarifas: Rússia. Ainda que o propósito declarado da medida seja promover o comércio bilateral, o Cazaquistão e a Bielorrússia são afastados do mercado mundial e próximos à esfera de influência russa.

A Bielorrússia baseia sua economia na indústria pesada e nas manufaturas e tradicionalmente alinhou seus impostos a um nível próximo dos de Moscou para proteger sua indústria nacional. O Cazaquistão, pelo contrário, depende das rendas do petróleo e tem uma escassa infraestrutura industrial, tem baixa carga tributária. Em conseqüência, a unificação dos direitos alfandegários e o aumento do custo das importações será mais sentido no Cazaquistão do que na Bielorrússia.

É claro que o acordo que leva à união alfandegária é desvantajoso para ambos os países, mas assim se expressa o poder que a Rússia vai adquirindo na sua periferia próxima. A crise mundial de 2008-2009 golpeou muito fortemente a Bielorrússia e o Cazaquistão, e a estabilidade econômica e financeira de que necessitam somente pode ser oferecida pelo ascendente vizinho russo. Tal é a assimetria de poder existente que a esperança de obter melhores acordos energéticos não foi contemplada pela Rússia, ainda que essa exigência seja parte das dificuldades com a qual a União fará sua inauguração. Os últimos acontecimentos na Bielorrússia mudaram definitivamente o caráter das relações entre ambos os países. Já não se trata de uma aliança, nem de uma fraternidade entre os povos. A Rússia dita as condições aproveitando a dura situação econômica da Bielorrússia e Minsk está sendo pressionado a vender os recursos fundamentais, deixando Lukashenko sem opções. Lutando para não ser pego pela União Europeia, a necessidade o entregou de mão beijada à União Russa.

A Rússia espera que o Quirguistão, Tajiquistão e a Ucrânia se juntem em seguida à união alfandegária. Esta intenção mostra que os interesses estratégicos de Moscou não são somente financeiros. O Quirguistão e o Tajiquistão estão perto de se converterem nos próximos membros da União. Contudo, têm escassa importância econômica, não serão contribuintes nem oferecem um lucrativo mercado de destino para as exportações russas, mas por ambos circulam rotas de tráfico de drogas ilícitas procedentes da Ásia Central. No marco da união alfandegária, Moscou contaria com um aval institucional que lhe daria autoridade suficiente para impor estritos controles de regulação dos fluxos fronteiriços nesses países porosos. A Ucrânia sim tem uma estrutura econômica viável e sua posição estratégica a coloca como o fiel da balança entre a Rússia e a União Europeia, posição da qual tem exata consciência. Por isso a Rússia deseja que a Ucrânia se some à união alfandegária.

Vladimir Putin disse ao colega ucraniano Nicolái Azárov que a Ucrânia poderia receber até 9 bilhões de dólares anuais se entrasse na União Alfandegária. Mas a Ucrânia também negocia a criação de uma zona de livre comércio com a União Europeia. Em geral, se pode dizer que as perspectivas de uma eventual integração da Ucrânia à União Europeia parecem remotas, especialmente porque 2011 promete ser um ano especialmente difícil para a economia ucraniana.

O déficit do fundo de pensões ucraniano alcançará os 65 bilhões de hyvnias ucranianas (cerca de 270 bilhões de rublos), o que levou a uma reforma nas pensões, elevando a idade da aposentadoria das mulheres de 55 a 60 anos. Por outro lado, as baixas tarifas dos serviços comunitários levaram ao colapso desses serviços e se fez necessário aumentar significativamente as tarifas. Os preços da eletricidade domiciliar subiram em 139% (cerca de 100% em janeiro e subirão 29% adicionais em agosto de 2011).

Em 2011, começa um duro período de vencimentos dos créditos contraídos pela Ucrânia, que pediu a Moscou uma prorrogação de um ano ao crédito de 2 bilhões de dólares concedido pelo banco russo VTB. Nesta difícil situação a Ucrânia se encontra em um momento complicado para orientar a sua economia, para a Comunidade Europeia ou em direção ao Espaço Econômico Único.

Em 2010, a Rússia e a Ucrânia deixaram para trás a política de enfrentamentos e restabeleceram o diálogo. Em consequência disso se duplicou o intercâmbio comercial entre os dois países e em 2010 o comércio bilateral alcançou a cifra de 50 bilhões de dólares.

Inclusive a demora na criação da empresa mista entre o consórcio de gás russo Gazprom e o ucraniano Naftogaz deu um grande passo para firmar um compromisso entre ambas as empresas, garantindo o trânsito sem interrupções de gás russo à Europa.

Todos estes países têm ao mesmo tempo interesse e necessidade de se juntar à União, mas cada país também faz seu próprio jogo, balanceando debilidades como se fossem fortalezas, por mais que no horizonte de tempo permaneça a assimetria de poder russo.

A Rússia não crê que o Cazaquistão possa frear o fluxo do contrabando de mercadorias e de drogas através de suas fronteiras com a China e com o Quirguistão. Recentemente foi destituído o presidente do Comitê Alfandegário da República do Cazaquistão e se procedeu à prisão dos membros de um grupo criminosos que controlava os pontos fronteiriços de “Jorgos” e “Kalzhat”, na fronteira com a China. Depois do incidente, o Cazaquistão reforçou o controle alfandegário na fronteira com o Quirguistão. A Rússia entende que o contrabando ameaça o mercado interior da União Alfandegária.

De sua parte, Alexandr Lukashenko, presidente da Bielorrússia, declarou que espera que a União ajude a solucionar algumas controvérsias, sobretudo as relativas a um acesso equitativo aos oleodutos e gasodutos e iguais tarifas do transporte de hidrocarbonetos, tanto da Rússia como do Cazaquistão.

Alguns representantes oficiais da Bielorrússia alegam ser mais rentável refinar o petróleo do Cazaquistão na Bielorrússia. O valor das importações dos derivados de petróleo cazaques alcançou no ano passado os 313 milhões de dólares, 5,4 vezes mais que no ano anterior.

No Cazaquistão, se iniciou um agudo debate sobre a integração dos três países membros da estreante União Alfandegária. Os otimistas consideram que o Espaço Econômico Comum criará um mercado de 170 milhões de pessoas, o que será benéfico para as empresas nacionais.

Calcula-se que a União Alfandegária permitirá aos três países membros aumentar o PIB em mais de 15% até o ano de 2015. A Rússia se beneficiará com 400 bilhões de dólares, enquanto a Bielorrússia e o Cazaquistão obterão mais de 16 bilhões.

A União Alfandegária estabelece a livre circulação de serviços e mão de obra, um avanço frente à atual situação na qual os cidadãos cazaques que viajam à Rússia e os russos que vão ao Cazaquistão estão obrigados a se registrar mesmo se sua estadia for curta.

Os pessimistas do Cazaquistão são a gente normal que imediatamente percebeu que os preços subiam. É que quando se nivelam os preços de importação, tendem a nivelar-se todos os preços, incluindo os combustíveis e óleos.

O Cazaquistão tem uma ampla economia de “auto-empregados”, cerca de 2,5 milhões de pessoas em um país de apenas 16 milhões de habitantes. Para muitos deles a criação da União Alfandegária significa o aumento dos impostos das mercadorias que ingressam, o entorpecimento do procedimento alfandegário e simplesmente a perda do trabalho.

Se no Cazaquistão o debate é sobre um projeto econômico, a Rússia tem motivos geopolíticos e deve responder ao desafio que a China lhe coloca. Moscou tenta fortalecer sua posição na Ásia Central através de dois mecanismos: a Organização do Tratado de Segurança Coletiva, sua ferramenta político-militar; e a União Alfandegária, sua ferramenta econômica. Portanto a União é também uma ferramenta para frear a atividade econômica chinesa na Ásia Central. Para tal, explorar os sentimentos anti-chinês da população cazaque é um fator que não se pode desprezar.

Enquanto a Rússia faz cálculos geopolíticos, a Bielorrússia e o Cazaquistão se debatem entre a vida e a morte. A Bielorrússia já recebeu 800 milhões de dólares da primeira parcela do crédito anti-crise do fundo de estabilização da Comunidade Econômica da Eurásia. Nos próximos três anos, Minsk receberá três bilhões de dólares, em sua grande maioria, dos orçamentos da Rússia e do Cazaquistão. Em troca, Moscou e Astaná esperam que o presidente bielorrusso Alexandr Lukashenko realize reformas econômicas reais e não cosméticas. Contudo, não há como saber de que forma reagirão se o crédito outorgado não conseguir evitar o déficit e a crise na Bielorrússia parar o funcionamento do Espaço Comunitário.

Se a assimetria de poder coloca a Rússia num lugar privilegiado, não podemos esquecer o poder dos Estados frágeis. A entrada na União Alfandegária das frágeis economias do Quirguistão e Tajiquistão é tão desejável quanto perigosa, já que na balança instável da geopolítica e da economia ambos os países são mais aquilo que esperam receber do que aquilo que podem dar.




"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
Avatar do usuário
FOXTROT
Sênior
Sênior
Mensagens: 7803
Registrado em: Ter Set 16, 2008 1:53 pm
Localização: Caçapava do Sul/RS.
Agradeceu: 278 vezes
Agradeceram: 113 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1403 Mensagem por FOXTROT » Dom Ago 21, 2011 1:00 pm

terra.com.br

Azerbaijão é o "vizinho desenvolvido e moderno" no Cáucaso
21 de agosto de 2011 •



Direto de Baku
A não ser que você tenha amplo conhecimento de geografia, trabalhe no setor de petróleo e gás ou se interesse por estudos soviéticos, as chances são de que pouco ou nada tenha ouvido falar sobre o Azerbaijão.

O pequeno país no sudeste do Cáucaso se estende das planícies do Irã ao sul às margens do Mar Cáspio, a leste. O norte é recortado pelo fim da cordilheira do Cáucaso. Os azeris são um povo de origem túrquica que falam um idioma muito similar ao turco, mas etnicamente se miscigenaram com povos do norte do Cáucaso e do Irã.

Um povo extremamente agrário e originalmente zoroastrista, os azeris foram dominados por sucessivas invasões túrquicas e iranianas, que acabaram por converter mais de 99% da população à vertente xiita do islamismo. Mesmo assim, o país abriga minorias cristãs, judaicas, animistas, zoroastristas, hare krishna, hinduístas, sunitas, wahabitas e baha'is.

Em 1918, o Azerbaijão tornou-se o primeiro país islâmico a tornar-se uma república secular e democrática, a experiência, no entanto, durou pouco tempo e o país tornou-se parte da União Soviética (URSS) em 1920. Sob o comando de Moscou, diversos russos foram realocados para o país e a população sofreu forte pressão para abandonar as práticas religiosas em nome da pátria comum. A grande diversidade e mudança de regimes e costumes, transformaram os azeris em um dos povos mais hospitaleiros do planeta.

As práticas de secularização da URSS foram tão profundas que poucas mesquitas sobreviveram no país e poucos são os azeris que efetivamente aderem aos costumes islâmicos. Nos últimos anos, uma versão moderna e urbana do Islã tem se tornado popular entre alguns jovens da elite local.

O grande avanço azeri se deu com a descoberta de petróleo e gás no início do século XX, que garante a prosperidade do país até hoje e tornou a república no país mais próspero do Cáucaso. Antigos prédios e mausoléus de mais de mil anos, do período das invasões turcas, iranianas e mongóis, se misturam a belas mansões da época dos barões do petróleo, resquícios da arquitetura de bloco do período socialista e mais recentemente a construção de prédios ultramodernos em estilo dubaiesco.

No campo político, o país dominou por 70 anos e tentou colonizar de forma desastrosa o enclave armênio de Nagorno-Karabakh, o qual perdeu em uma guerra sangrenta para a vizinha Armênia na década de 90. Ambos os países continuam em virtual estado de guerra.

A família Aliyev, cujo patriarca Heydar Aliyev era membro do politburo soviético assumiu o controle do Azerbaijão em sucessivas eleições de pouca transparência e através de uma série de manobras legais dominaram todos os campos econômicos da nação. Com a morte de Heydar Aliyev, seu filho, Ilham, assumiu o poder e governa o país de forma autocrática sem permitir dissidências. Apesar da truculência política, os azeris possuem o melhor padrão de vida dos países do Cáucaso.




"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
FoxHound
Sênior
Sênior
Mensagens: 2012
Registrado em: Ter Jul 24, 2007 1:14 pm
Agradeceu: 38 vezes
Agradeceram: 16 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1404 Mensagem por FoxHound » Sáb Ago 27, 2011 9:57 pm

O passado da Rússia não é indicativo do futuro do país

Publicidade

JOHN THORNHILL *
DO "FINANCIAL TIMES"

Os russos às vezes dizem que é impossível prever qualquer coisa em seu país --até mesmo o passado. Os heróis de uma era são magicamente apagados da era seguinte. Os avanços ousados de um líder são tachados de esquemas insensatos pelos líderes seguintes. Como escreveu Boris Pasternak certa vez, muitas vezes é difícil distinguir vitórias de derrotas.

Esse caleidoscópio histórico em constante mutação é válido para o putsch fracassado do Partido Comunista de linha dura, em agosto de 1991, que levou rapidamente ao desmoronamento da União Soviética, alguns meses mais tarde. Nos últimos 20 anos, aqueles acontecimentos devastadores --que levaram à desintegração de um império, uma economia, uma ideologia e um regime político-- vêm suscitando controvérsia incessante. Vêm sendo interpretados e reinterpretados interminavelmente na Rússia, sendo vistos como motivo de comemoração, desespero, revolta, desilusão ou vergonha.

Para alguns russos, mais notadamente para Boris Ieltsin, o primeiro líder russo pós-comunista, a implosão da União Soviética foi uma libertação, tanto para os povos da Rússia quanto para os outros 14 países que emergiriam dos escombros do império soviético. O colapso de 74 anos de governo do Partido Comunista abriu o caminho para a emergência de uma sociedade, uma economia e um sistema político mais livres --e também ajudou a entrincheirar Ieltsin no poder.

Mas o sucessor deste, Vladimir Putin, mais moldado por uma visão de mundo típica da KGB, chegou a uma conclusão diferente depois de analisar aqueles acontecimentos e o caos que se seguiu a eles. Para Putin, a implosão do poder soviético foi "a maior catástrofe geoestratégica do século 20", deixando a Rússia como a humilhada e empobrecida parte restante de uma superpotência que, no passado, rivalizara com os Estados Unidos. Não surpreende que sua Presidência tenha sido tão marcada pela preocupação de restabelecer o poder do Kremlin e reafirmar a esfera de influência da Rússia no exterior.

O presidente atual da Rússia, Dmitri Medvedev, 45 anos, parece fazer uma avaliação mais nuançada de 1991. Em entrevista que concedeu ao "Financial Times" em junho, ele rejeitou o parecer de Putin, dizendo que a guerra civil pós-revolucionária de 1917-23 e a Segunda Guerra Mundial, que, juntas, mataram dezenas de milhões de pessoas, foram desastres muito piores para a Rússia.

Medvedev descreveu sua geração como sendo "a mais feliz" da nação, porque conheceu na pele as carências de bens dos tempos soviéticos, mas é suficientemente jovem para ter podido beneficiar-se das oportunidades da era pós-comunista. "Ficou muito feliz por ter vivido nessas duas épocas", disse ele. "Acredito que tudo o que aconteceu representa progresso indiscutível para o país e o povo."

No Ocidente desenvolveu-se uma narrativa muito mais simples sobre o colapso soviético. Para a maioria das pessoas, o desaparecimento do "império do mal" foi visto como uma bênção incondicional, reduzindo o perigo de o mundo acabar em uma conflagração nuclear e oferecendo a atração de um dividendo da paz.

No entanto, a queda do principal rival ideológico dos Estados Unidos provocou abalos posteriores. Incentivou o triunfalismo do tipo "fim da história", segundo o qual os mercados livres e a democracia liberal eram os pontos culminantes da evolução política e econômica do homem. Esse húbris ideológico contribuiu para o fundamentalismo de mercado que levou à derrocada financeira de 2008.

Os historiadores ocidentais também começaram a reinterpretar 1991. Uma das análises mais interessantes vem sendo a de Stephen Kotkin, que, em "Armageddon Averted" (Armageddon evitado), argumentou que o colapso soviético não terminou em 1991, mas prosseguiu ao longo da década, atrapalhando e desacreditando as reformas.

Algumas das instituições do Estado soviético morto continuaram a dar sinais de vida durante anos, frustrando as tentativas ocasionais de Ieltsin de criar algo que se assemelhasse a uma economia de livre mercado ou uma democracia. O imenso complexo industrial militar soviético, construído com indiferença perversa a qualquer espécie de lógica industrial, também revelou-se um ônus enorme à economia.

Kotkin argumenta que, em vista desta escala de desorganização política, econômica e social, é altamente espantoso que o caos da Rússia nos anos 1990 --por mais que o país tenha parecido tumultuado na época-- não tenha sido infinitamente pior. O Armageddon foi evitado de fato. Mas não são apenas as consequências de 1991 que vêm suscitando controvérsia; suas causas também continuam a ser largamente discutidas. Um aspecto do colapso soviético que provoca perplexidade é por que ele não foi mais amplamente previsto de antemão, dado que, visto em retrospectiva, ele parecia tão inevitável.

Como estudante de pós-graduação em política soviética, me recordo de ter assistido a uma conferência em Londres, em 1986, que teve a presença de muitos kremlinólogos destacados. Um participante perguntou se a União Soviética cairia ainda durante nossas vidas. Ainda me recordo das gargalhadas incrédulas: o Partido Comunista era coeso demais, o domínio da KGB era forte demais, os povos soviéticos eram demasiado passivos. Como escreveu em 1995 o veterano diplomata americano George Kennan: "Acho difícil pensar em qualquer acontecimento mais estranho, espantoso e, à primeira vista, mais inexplicável, que a repentina e total desintegração e o desaparecimento do cenário internacional ... da grande potência conhecida sucessivamente como o Império Russo e depois como a União Soviética."

Nosso fracasso constante em prever os fatos na Rússia deveria nos ensinar mais humildade quando se trata de imaginar o futuro do país. É perigosíssimo supor que o futuro da Rússia será meramente uma extrapolação de seu presente.

No início dos anos 1990 era comum ouvir russos lamentarem que seu país precisaria de 40 anos no deserto para conseguir despir-se de sua mentalidade de escravo soviético. Estamos apenas na metade desse caminho. Quem sabe como o país vai evoluir?

Não é apenas o passado que é imprevisível.

*John Thornhill é ex-diretor da sucursal do "Financial Times" em Moscou.

Tradução de Clara Allain
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/9660 ... pais.shtml




Avatar do usuário
Pasquale Catozzo
Sênior
Sênior
Mensagens: 1163
Registrado em: Ter Jan 03, 2006 3:27 pm
Localização: Basileia
Agradeceram: 1 vez

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1405 Mensagem por Pasquale Catozzo » Seg Ago 29, 2011 1:30 pm

Russia needs democracy just like Libya does - Senator McCain
Russia Today Moscow ^ | 2011-08-25 | Russia Today/ Novosti Staff

US Senator and former presidential candidate John McCain has lashed out at Russia, saying it could be the next country to experience a Libya-style uprising.

But Senator McCain has a very far-fetched outlook, believes RT's Washington correspondent Gayane Chichikyan.

McCain is sure that the Arab Spring will rage on and will make it to countries like China and Russia, which according to him “need democracy” just as Libya does.

At some point he even said that Libya has already achieved democracy, which is far from reality according to the situation on the ground.




"Gutta cavat lapidem"
Carlos Mathias

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1406 Mensagem por Carlos Mathias » Seg Ago 29, 2011 2:38 pm

Mais um maluco dançando. :roll: :lol:




Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 55684
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceu: 2889 vezes
Agradeceram: 2550 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1407 Mensagem por P44 » Seg Ago 29, 2011 2:42 pm

O McCain não toma os comprimidos para o Alzheimeir, dá nisto...




*Turn on the news and eat their lies*
Avatar do usuário
Bolovo
Sênior
Sênior
Mensagens: 28560
Registrado em: Ter Jul 12, 2005 11:31 pm
Agradeceu: 547 vezes
Agradeceram: 442 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1408 Mensagem por Bolovo » Seg Ago 29, 2011 4:55 pm

Acho mais fácil ter uma revolução nos EUA do que na China e na Rússia.




"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
Avatar do usuário
suntsé
Sênior
Sênior
Mensagens: 3167
Registrado em: Sáb Mar 27, 2004 9:58 pm
Agradeceu: 232 vezes
Agradeceram: 154 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1409 Mensagem por suntsé » Seg Ago 29, 2011 7:20 pm

Os EUA estão onde estão por causa elementos como esse que fazem diplomacia com o figado e não com a cabeça.




Avatar do usuário
Boss
Sênior
Sênior
Mensagens: 4136
Registrado em: Ter Ago 10, 2010 11:26 pm
Agradeceu: 103 vezes
Agradeceram: 356 vezes

Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?

#1410 Mensagem por Boss » Seg Ago 29, 2011 7:27 pm

Revolução igual a da Líbia jamais, mas alguma república bancar a Chechênia não é uma impossibilidade.




REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Responder