Transcrevo aqui o que postei no Poder Aéreo:
Aguardo os comentários de quem entende do assunto.Amigos, bom dia.
Algumas considerações de leigo sobre assuntos comerciais, econômicos e financeiros e de propriedade intelectual. Segundo as práticas de mercado:
1.PRAZO DE CARÊNCIA:
- Visa permitir que algo produtivo seja financiado, e que o pagamento seja iniciado a partir do momento em que o investimento comece a dar retorno.
- Exemplo: construção de uma fábrica, quando se começa a amortização ao iniciarem as vendas dos produtos.
- A compra de aviões de combate nunca vai dar retorno financeiro. Não há motivo para contratar financiamento com carência. Não estamos em crise. O nosso orçamento não será tão maior daqui a oito anos. Lá, teremos que pagar a operação das aeronaves.
- No mercado, o financiamento com período de carência é muito mais caro, devido às incertezas do futuro e ao fato de não haver nenhuma amortização, apenas o aumento da dívida pelos juros.
2. DOWNPAYMENT (ADIANTAMENTO)
- No mercado, só é normal não haver pagamento inicial se for uma compra de prateleira, com os produtos já prontos para a entrega.
- Se é um produto que ainda tem que ser fabricado, é comum ser pedido o pagamento inicial, para que a fábrica contrate seus fornecedores. Nenhuma empresa séria trabalha “no vermelho”, a não ser que seja um projeto muito pequeno para seu faturamento, em casos muito especiais.
- Em um projeto que ainda tem que ser desenvolvido, não exigir pagamento inicial chega a soar como absurdo.
3. PAGAMENTOS, CONTRATO COMERCIAL, FINANCIAMENTO.
- Embraer e SAAB, assim como as outras empresas, não vão trabalhar no vermelho. Vão receber downpayment, pagamentos conforme as atividades realizadas, antes mesmo da entrega das aeronaves.
- O financiamento deverá bancar isso tudo. O desembolso sem amortização vai jogar o preço às alturas. Financiamento só autoriza desembolso após comprovação da atividade realizada.
- No mercado, as taxas de juros, o seguro para uma operação como esta, em prazos tão extensos como treze anos seriam absurdos. Deveriam exigir, obviamente, a possibilidade de reajustes para os casos de variações das condições macroeconômicas.
4. COPROPRIEDADE INTELECTUAL.
- A oferta de copropriedade não é nenhuma vantagem especial. A propriedade é de quem paga. Se nós vamos pagar o desenvolvimento (ou grande parte dele), é óbvio que deveremos ser proprietários de parte da solução.
- Interessante é que a SAAB diz que eles vão pagar o desenvolvimento (mesmo o que é feito no Brasil) e nos vão dar direitos de propriedade de presente. Há duvida de quem vai realmente pagar o desenvolvimento?
Onde estão escondidos esses custos?
5. RISCO
- Um projeto que está em desenvolvimento tem riscos de cumprimento quanto aos prazos e quanto aos custos.
- Considerando a capacidade da SAAB, o risco técnico é mínimo, embora persistam algumas incertezas quanto aos fornecedores estrangeiros.
- Adiciona-se agora mais um risco. O risco financeiro.
- Uma proposta como esta que foi anunciada, completamente contrária a todas as práticas do mercado, deve ser analisada com muito cuidado.
- Se a proposta para o projeto contemplasse alto pagamento inicial, grandes custos de desenvolvimento, taxas de juros e seguro elevadas (adequadas ao longo prazo e às incertezas do projeto), critérios de reajuste, eu consideraria que os riscos financeiros seriam baixos.
- Ao contrário, temos hoje uma oferta comercial e financeira totalmente desalinhada com as práticas de mercado.
- As vantagens ofertadas são incoerentes com a situação do projeto. Não há sequer expectativa de um grande comprador para o resultado da atividade.
- Embarcar em uma solução como a que foi apresentada ontem só é admissível para quem acredita em milagres, em Papai Noel, ou na “Lei de Gérson” e quer levar vantagem em tudo. Vamos aproveitar. Eles são “bobinhos”. Certamente essa opção resultaria em uma solução “malandro agulha”.
- Lá na frente, com 1/3 do caminho andado, as condições comerciais teriam que ser adequadas à realidade. Não importando o que foi previamente contratado, teríamos que pagar muito mais para fazer o projeto andar.
- Além de todos os riscos do Projeto Gripen NG, agora temos mais um enorme risco: O RISCO FINANCEIRO.
Fiquem à vontade para criticar ou responder aos meus comentários.
Deve haver muitos erros conceituais, pois, como disse no início, sou leigo no assunto (mas ainda tento usar raciocínio lógico).
Abraços,
Justin