helio escreveu:FCarvalho
Como vc citou antecedentes historicos, talvez vc tenha conhecimento também dos planos estratégicos elaborados pelas FA dos anos 80, 90 e 2000. É do conhecimento de todos os historiadores que apesar de serem editados os planos estratégicos, muito pouco se concretizou. A razão disto não se justifica somente em verbas, a causa principal está na falta de importancia que o governo federal dá às FA. A promessa de efetização de um planejamento é muito fragil, sempre sujeito a contingencias decorrentes a inumeros fatores que entram no caminho.
Helio, até hoje me lembro dos planos FT85, 90 e 2000. Confesso que à época até me empolguei, posto que ainda jovem e nem tanto experiente, vislumbrava possibilidades concretas dos mesmos sairem do papel. Até porque o GF ainda não dava claros sinais do que haveria de vir. O limite conhecido era o de sempre: verba. Depois outros lhe foram acrescentados, como é de conhecimento de todos nós aqui.
Parece-me que todos aqueles planos, se do EB ou demais forças, não importa, foram mais por água abaixo nem tanto pelo desconhecimento e pela conjuntura politica, mas pela própria falta de cultura organizacional e de planejamento estratégico da classe politica, que nunca soube, ou conseguiu até hoje, pensar o país para além do que lhe convém o mandato eleitoral.
Prova disso, é a própria PND, que creio ser desde a primeira vista que o li, um documento sem qualquer referencial de credulidade ou possibilidade de desenvolvimento legal e institucional. Enfim, considero-o até hoje na verdade, uma simples carta para inglês ver, sem nenhum desdobramento ou consequência mais sério.
Infelizmente a END caminha no mesmo sentido. Ademais, devemos lembrar que este documento ainda é fruto de um tentativa de convencer a sociedade civil e o próprio Estado brasileiro a empenhar-se com mais responsabilidade com sua própria segurança nacional. Aliá, diga-se de passagem termo este abolido e abominado dentro do campo político. Veja a dificuldade que temos para encetar um debate de qualidade e sem preconceitos, quando há sérias restrições quanto ao uso de termos e palavras, que facilmente são confundidas com pessoalidades e questões históricas pouco ou mal resolvidas para uns tantos; os mesmos que hoje, feliz ou infelizmente estão a frente do processo de maturação da defesa nacional.
Acredito na END/PND enquanto possibilidade, não enquanto realidade. Por um simples motivo: não há/nunca houve compromisso/interesse político real. Para bom entendedor, como tu e creio ser eu, meia palavra basta.
Consequentemente, como o cobertor sempre é e será curto, o EB por exemplo tem que cortar a propria carne.
Por exemplo o END que vc citou. Neste forum sempre declarei abertamente que o END não sairá do papel. O máximo que pode acontecer é que cumpramos alguns preceitos da END nada mais.
Me é surpreendente ler posts de foristas com bom nivel cultural, justificando seus argumentos , só porque está previsto no END. É como os 10 mandamentos, todos sabem e concordam, mas quase ninguem cumprem.
A fatalidade do projeto da END é que "esqueceram" de dizer que iria pagar a conta ao final. Desde a publicação e o inicio dos debates aqui, uma das primeiras coisas aventadas foi questionar-se o processo de financiamento da END. Pois bem, parecia óbvio que a PND seria o documento ideal para oferecer esta resposta. Mas como vimos, ela não passa de uma carta de boas intenções. Mesmo porque, para os politicos, a amarração de verbas significaria responsabilização, e claro, como de costume, ninguém quis ou quer "assumir a paternidade e nem fazer o exame de DNA" da criança. Restou ao MD, já na pessoa do Min. Nelson Jobim, tentar via lei complementar abrir uma brecha para a definição do financiamento da defesa nacional. Enquanto isto não for feito, nada sairá do papel. Espera-se que talvez a Pres. Dilma tenha a ombridade de assumir esta querela; mas será que o PT ou a base aliada topariam, com duas eleições nos próximo triênio?
Aliás, sempre me pergunto: com os politicos se preocupando com tantas eleições, bianuais na prática, fazer planos de reequipamento com duração de 10,15, 20 ou 30 anos não seria meio ufanista? Será que um pouco de realidade e praticidade aos planos de reequipamento das ffaa's não seria o melhor remédio para se tentar tirar algo da cartola e implementar as mudanças necessárias, já que nenhum presidente vai assinar qualquer coisa que ele ou seu partido não possa tirar proveito enquanto durar seu mandato?
Como a END é apenas um plano, e nós não temos na parte civil do Estado brasileiro a cultura de respeitar ou seguir planos, ela acaba sendo esvazianda na própria lida diária do mundo politico que só entende e respeita os prazos do calendário eleitoral. Neste sentido cabe pertinente perguntar: quem é que está errado de verdade? a sociedade que cobra lisura, organização e planejamento no emprego do erário publico ou os politicos que procuram equilibrar-se frente às demandas da sociedade por meio da demagogia de seus discursos? Será que a END está realmente fadada ao ilusionismo de seus objetivos, por força das idiossicrasias planaltinas? Será que sempre teremos que nos nivelar por baixo em matéria de defesa, em função da irreponsabilidade ou simples ignorância de uns poucos? Se estamos dizendo sim para estas questões, então é porque a garantia de nossa paz e soberania realmente tornaram-se artigos de segunda categoria, que não merecem nossa atenção... ou artigos de luxo, que o nosso vil metal não tem competência para adquirir.
Quanto ao numero de blindados, discordo com vc que seja unsuficiente. Temos que considerar o EB como um todo, armas como Infantaria,Artilharia,Cavalaria, etc... Se a verba tem que ser distribuida a todas as armas e OM do EB, é natural priorizar o mais carente e mais importante. Se não for possivel contemplar todos , adquira-se o possivel.
Pois sim, concordo. Mas o número atual como bem disseste é pertinente a uma organização que se preparou décadas seguidas para enfrentar um inimigo que nunca veio, e que dificilmente virá nas próximas decádas. Entendo que hoje nossas preocupações estejam voltadas para o norte do Atlântico. E é para lá que deveriam estar orientadas nossas capacidades, ou alguém haja que poderemos fazer com a cavalaria a mesma coisas que se pretende com a infantaria: virar tudo om's leves/mec para serem mandadas de cima a baixo do país em aviões de carga feito lego? Creio eu que não. Cavalaria sempre foi arma de choque. Neste sentido, no nosso caso, ela tem de estar onde se espera que seja necessária, nem que em unidades menores, mas tem que estar. Nós não somos os USA, ou Russia, em menor escala, que dispõe de capacidade aérea para ficarem movendo suas undes bldas para onde bem entenderem. Posto isso, fico pasmo, por exemplo, de ver a região NE sem um único RCB, no minimo, já que se questiona tanto a utilidade de uma Bgda Blda por lá.
A Dotação dos Regimentos de blindados do EB ainda é baseada do Exercito dos EUA da 2ª Guerra Mundial. Uma das poucas mudanças na composição de um esquadrão de blindados do EB foi de reduzir de 5 CC para 4 CC cada pelotão de um esquadrão. A Argentina por exemplo adota um pelotão de 3 CC com carros, e funciona a contento. Eu e o Bacchi estivemos visitando um regimento de carros de combate em Magdalena na Argentina no ano passado, e reparamos que o problema deles é o oposto do Brasil: eles tem 1 esquadrão completo sem uso, pois falta contingenteno Exercito. Como é sabido,o exercito argentino é hoje composto somente por voluntários, e pelo baixo salário e futuro pouco prospero, há poucos interessados.
Para você ver como são as coisas. Enquanto nós conversamos aqui com quantos e quais CC's o EB deveria ser equipado, o próprio EB compra veculos usados para manter uma estrutura que não evoluiu e ainda se pauta em uma organização quase septuagenária. Por isso que volta e meio venho a falar aqui, que mais do que mudar equipamentos e armas, o que precisa ser mudado primeiro no EB são sua mentalidade e doutrina. Porque para nós, creio, não adianta nada termos um carro de combate meia boca por causa do orçamento, e querer treinar com ele como quem usa doutrina de primeiro mundo, quando uma coisa não combina com a outra. Para o EB mudar a doutrina e o pensamento, tem que mudar junto seus equipamentos. Se não mudar, vamos continuar combatendo do mesmo jeito que treinamos. E treinamento é feito a base de doutrina. Infelizmente parece que no caso da cav blda brasileira nem uma coisa e nem outra ainda não chegaram ao séc. XXI.
Um abraço
Hélio
Há sim. Uma curiosidade. Os RCC do EB possuem, ou deveriam possuir, organizamente, 43 CC's sendo 41 nos Pel e os outros dois para o Cmte e sub da OM.
Já os RCB parece-me que seriam 26 CC's.
Ao que me consta, um Reg Cab Bldo francês/americano disporia entorno de 52 ou 54 carros, isso ao tempo das guerras do Iraque I e II. Neste sentido, apenas como ilustração, qual seria na verdade o número ideal de CC's nos RCC/RCB do exército a fim de que os mesmo venham a possuir uma organização mais moderna tendo-se como base os parâmetros referenciais da OTAN, por exemplo.