FoxTroop escreveu:Com o devido respeito, caro Prick, mas que grande viagem, mas que grande viagem mesmo....
É a grande viagem que todos os pensadores sérios falam, leia a respeito, não só atual, mas história da humanidade. Os EUA são episódio passageiro de hegemonia mundial, se formos ver os grandes impérios da humanidade. Quanto ao resto é a realidade dos números e das notícias, os F-22 estão parados e os EUA não tem condições de produzir mais e nem de mantê-los, estão saindo correndo do Iraque e do Afeganistão porque não tem mais recursos. Enfim, a despeito de nossas ideologias, as pessoas tem que ler e se informar o que ocorre hoje no mundo, e para onde o futuro está indo.
Segundo Wallerstein, “o êxito dos EUA como potência hegemônica no período do pós- guerra criou as condições para o colapso hegemônico do país”. Esse processo é demonstrado por uma série de fatos: a Guerra do Vietnã, as revoltas de 1968, a queda do Muro de Berlim em 1989 e os atentados de 11 de setembro de 2001. Isso culminou na situação em que os EUA se encontravam na administração George W. Bush: uma superpotência contestada, que sofre pela carência de poder de fato, um líder mundial que poucos seguem e respeitam e um país que caminha no caos global que não pode controlar (a crise financeira de 2008 poderá no futuro reforçar a idéia?).
E a Guerra do Vietnã? Segundo o ex-secretário de Defesa dos EUA foi a reação do povo vietnamita contra o domínio estrangeiro e estabelecer o seu próprio Estado. Os vietnamitas combateram os franceses, russos, os japoneses e os americanos e no final os vietnamitas venceram. Para Wallerstein, do ponto de vista geopolítico, contudo, a guerra representou a rejeição ao status quo de Ialta por populações então rotuladas como Terceiro Mundo. O Vietnã tornou-se um símbolo interessante, porque Washington foi suficientemente pouco inteligente para investir todo o seu poderio militar naquela luta e, mesmo assim, os EUA saíram sem a vitória pretendida. É verdade que os EUA não utilizaram armas nucleares, mas a sua utilização
teria destruído os acordos de Ialta e poderia ter produzido um holocausto nuclear, resultado que
os EUA simplesmente não poderiam arriscar.
No entanto, o Vietnã não foi uma derrota simbólica militar ou uma “maldição para o prestígio americano”. A guerra desferiu um golpe contra a capacidade de os EUA continuarem a ser a potência econômica dominante no mundo (exagero de Wallerstein?). O conflito foi dispendioso e praticamente esgotou as reservas de ouro dos EUA.
Do mesmo modo, os EUA acumularam essas despesas exatamente quando a competição européia e japonesa tornou-se capaz de fazer frente à amplitude econômica dos EUA. Esse cenário tornou dificultoso o domínio americano na economia mundial. Na década de 1960 os membros dessa tríade (Japão, Europa e EUA – com uma folga para o lado americano) têm sido próximos em termos econômicos, cada um a desempenhar-se melhor durante certos períodos, mas sem que se distancie demasiado dos outros.
Quando os movimentos revoltosos de 1968 irromperam em vários países, o exemplo dos vietnamitas9 tornou-se um importante componente retórico. Mas a geração de 68 não condenava apenas o estilo americano de viver e liderar. Também condenava aconivência soviética com os EUA, condenava Ialta e usou ou adaptou a linguagem da Revolução Cultural chinesa, que dividia o mundo em dois campos: as duas superpotências e o resto do mundo. A denúncia daconivência soviética levou à denúncia das forças nacionais aliadas à URSS, o que na maioria dos casos significava os partidos comunistas tradicionais. Mas os revoltosos de 1968 também atacaram outros componentes da “Velha Esquerda” -- os movimentos de libertação nacional no Terceiro Mundo, os movimentos social-democratas na Europa e os democratas do New Deal nos EUA, acusando-os também decumplicidade com aquilo que os revolucionários chamavam de "imperialismo americano". O ataque àconi vência soviética com Washington, mais o ataque contra a “Velha Esquerda”, enfraqueceu ainda mais a legitimidade dos ajustes de Ialta sobre os quais os EUA haviam influenciado aquela ordem mundial. Ele também minava a posição do liberalismo como o único pensamento de escala mundial. As conseqüências políticas direta das revoltas mundiais de 68 são incalculáveis, mas as repercussões geopolíticas e intelectuais foram significativas. O liberalismo de centro declinou de sua posição privilegiada que desde as revoluções européias de 1848 lhe permitira abarcar uma gama do espectro político europeu. “Tais ideologias retornaram e mais uma vez representaram um verdadeiro leque de opções”. De acordo com Wallerstein, “os conservadores tornar-se-iam novamente conservadores, e os radicais, radicais”. Os liberais de centro foram reduzidos em suas representações. A posição ideológica oficial dos EUA -- antifascista, anticomunista, anticolonialista -- parecia frágil e a defesa de seus interesses inconveniente para muitos países.
Existe quase um unanimidade sobre o inicio da decadência dos EUA, todos convergem para a Guerra do Vietnã, não apenas do ponto de vista econômico, mas ideológico, é o fim do liberalismo e do sonho americano. O que A. Gramsci define como a perda do poder hegemônico, ou seja, o início do processo da perda da hegemonia, que teve seu marco final a chamada Guerra ao Terror. Os EUA hoje são ainda o maior economia, a maior potência bélica, estão deixando de ser o centro do sistema financeiro, e não tem mais o poder hegemônico.
Agora, todos os estudo apontam também na mesma direção, não estamos mais falando em perda da hegemonia, mas perda da preponderância economia e perda da capacidade de ser o centro financeiro do mundo. Isso está se dando de modo mais acelerado do que o previsto, a economia dos EUA perdeu completamente sua vitalidade e sofre com problema de produtividade, eficiência e perda de competitividade desde os anos 1970.
Antes era o perigo nipônico, na década de 1980, na verdade, vários países começaram a desafiar a economia dos EUA na área da eficiência, se tornando muito mais competitivos. A economia dos EUA que já havia representado mais de 50% do PIB mundial, hoje mal se aguenta na casa dos 20%. Esses são os números frios, não adianta brigar com eles.
Em seu livro Giovanni Arrigni, Adam Smith em Pequin, faz uma longa análise dos problemas e o declínio do Império Americano, na última análise, ele fala que as potências em decadência se apegam ao seu último bastião, o uso indiscriminado do poder militar, e como isso apenas acentua sua decadência.
Do mesmo modo que os EUA eram a potência mais prudente no périodo antes da Primeira Guerra, a China hoje usa e abusa da mesma prudência, eu diria é a prudência concedida pela visão do paraíso logo adiante.
Assim, vemos os EUA tentando voltar ao seu papel de hegemonia usando o que a Arrighi chama de "o golpe da proteção", ou a tentativa de bancar a polícia do mundo. Como se o mundo tivesse os mesmos interesses dos EUA. Hoje o Brasil tem mais interesse que a economia chinesa continue crescendo rápido, que qualquer coisa que ocorra na economia dos EUA.
O que vemos aqui, é mais um capítulo da tentativa de os EUA se arvorarem o direito de bancarem a polícia do mundo, ou conseguirem a legitimidade e a dominância que não conseguem mais através da economia e da ideologia, através da força militar.
Arrigui vai mais longe, compara a ascenção dos EUA frente ao Império Britânico, e diz que os EUA não precisaram confrontar militarmente a Inglaterra, que de muito bom grado os Britânicos perceberam que tinha muito mais a ganhar sendo um apêndice dos EUA, que tentar peitar eles, como a Crise do Canal de Suez deixou bem claro.
O mesmo ocorre agora, se a classe dominante nos EUA reconhecerem que não podem mais ser o centro do mundo, que uma série de nações vão dividir esse poder, tendo a China como a mais importante, e a palavra aqui é BRIC´S. A transição será feita da melhor maneira. Se porém, os EUA se mostrarem radicais, o mundo correrá mais risco que toda a Guerra-Fria. Porque teremos uma possibilidade de guerra global sem que exista muito claramente, uma definição de quem serão os amigos e seus inimigos.
A escolha chinesa até agora é clara. Arrighi descreve ela como "ascenção pacífica". Quer dizer, a China não está tentando uma corrida armamentista, nem voltando seu aparato bélico para a projeção de poder.
Por isso, a tão controversa compra e reforma do NAe Variagy. E sem dúvida um passo pequeno na direção da projeção de poder para a força militar chinesa. Mas longe de demonstrar uma atitude de confrontação, essa NAe tem o papel de contentar os falções internos da China.
Os EUA não vão conseguir recuperar o que perderam através das armas, a tal operação de "choque e terror" que deveria ter sido demonstrada no Iraque, o tal poder avassalador da tecnologia bélica dos EUA, foi um fiasco final da crise hegemônica, e espero que as pessoas dominantes nos EUA tenham entendido isso, caso contrário, o fim poderá ser muito mais desastroso.
[]´s