Guerra escreveu:Brasileiro você tem muito que aprender. Não foi essa geração que inventou a maconha.
Os adultos de hoje são os jovens de ontem que descobriram que ele era só mais um no rebanho da juventude. E que esse rebanho estava sempre a frente de tudo que já apareceu de ruim na sociedade (as drogas é só um desses males).
Antes de decidir meu salário (e a educação dos seus filhos, saúde, segurança etc etc) o cara ter que esquecer os gestos, as palavras, os habitos, vicios que teve que aprender e aceitar (mesmo contra sua vontade) para não ser rejeitado no grupo dos caras legais. O cara vai descobrir que ele não pode mais brincar de piloto nas ruas com o carro do papai, porque perdeu a vantagem que a lei dá aos menores. O cara vai descobrir que um cara com cabelo rastafari e roupas da cor da bandeira da Jamaica não vai ser aceito no emprego com a mesma facilidade que foi aceito na turma do fundão da sala. Até ele decidir meu salário muita agua vai rolar nesse ponte.
E isso tem um nome meu caro. E não é evolução. Isso se chama maturidade.
Guerra, nem parece que foi semana passada que passei horas trocando idéias com ex-moradores da moradia estudantil aqui da USP. Gente que viu de perto o pior da ditadura nos anos 70. Hoje se emocionam em ver que o risco corrido agitando os outros estudantes, ocupando blocos de alojamentos propositalmente inacabados, publicando suas manifestações anonimamente, que tudo valeu a pena. Que apesar das várias tentativas (demolições, violência, queimas de material cultural..) as moradias e os centros acadêmicos estão de pé e a universidade pública ainda é um espaço de vanguarda de pensamento. É bonito ver os jovens de ontem conscientes de que o que fizeram foi importante e que não foram apenas um bando de moleques sem causa. Havia causa, havia luta e houve vitórias.
Amanhã teremos aqui a marcha da liberdade de expressão. Não é um bando de emos retardados filhinhos de papai que vão lá pra dizer que também é gente grande, mas gente que busca saber, que lê bastante, que tem contato com pessoas do mundo todo que vem pra cá.
Eu respeito muito a experiência que tem o meu pai, mas eu tenho certeza de que ele não viu o que eu vi em relação à maconha, a vida que eu tenho está me dando esta oportunidade de conhecer o 'problema' bem perto, ter contato diário com gente que usa, eu sei o que eles passam, o que eles fazem, por que fazem, o que acontece com eles, não é algo que eu li em algum lugar ou que me falaram, conheço isso e até hoje, acredite ou não, nesses 4 anos jamais vi qualquer briga física, não vi gente cheirando, injetando, fumando crack ou vendendo seus pertences para comprar maconha, coisas típicas de quem passa pela hipotética 'porta de entrada'. Professores, empresários, ex-alunos... Não foram poucas pessoas, mas acho que foi o suficiente para chegar a algumas conclusões. E uma quantidade imensa de gente que já experimentou e simplesmente não gostou, exatamente o como a cerveja, por exemplo.
O que a gente questiona não é apenas para poder ter direito de fumar um sem ser incomodado. Porque daqui alguns anos a minha opinião sobre o que o mundo deveria ser pode simplesmente ser aquilo que seja mais seguro para a minha carreira e meu salário. Aos mais velhos não é interessante inovar, mudar, fazer revoluções por aí porque isso pode ameaçar seus projetos pessoais, coisa que tem menos importância quando se é mais jovem. Nós vamos sempre cospir pra cima, mas a verdade é que estamos todos montados numa montanha de direitos e liberdades conquistadas por gente mais jovem lá de trás, desde a revolução francesa. Hoje você não precisa prestar contas a ninguém sobre sua sexualidade, sobre seu divórcio, sobre suas opiniões pessoais ou religiosas, se vai adotar uma criança ou não, sobre com quem dorme ou se é juiz mas tem uma banda de punk no fim de semana. Isso não foi dado de graça por padres ou políticos, mas destilado de muito preconceito sofrido e sobretudo uma boa dose de desprezo e desafio a normas estúpidas embora aceitas em suas respectivas épocas.
abraços]