Salazar
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- cabeça de martelo
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Re: Salazar
Epá Socialista? O que fiz para merecer tal ofensa pessoal?!
Jotinha, mas que belo emprego...se eu soubesse...
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- tflash
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Re: Salazar
Ó Soul, ninguém está a dizer que a educação era melhor. Estava a dizer que a pouca oferta que havia era melhor e mais importante, orientada para o mercado de trabalho.
No 25 de Abril, começou-se do zero e só se voltou a implementar o ensino técnico no fim dos anos 90. Tirando a componente ideológica que se podia pôr de parte, a conclusão de um grau de ensino dava um diploma que habilitava alguém a trabalhar.
No pós 25 de Abril, fruto de muitas ideologia criou-se muito mais oferta, sem dúvida mas com uma qualidade muito baixa. Pior era o desfasamento do ensino com a economia local. Faz sentido ter um curso de jornalismo numa zona rural a formar 30 pessoas por ano?
No 25 de Abril, começou-se do zero e só se voltou a implementar o ensino técnico no fim dos anos 90. Tirando a componente ideológica que se podia pôr de parte, a conclusão de um grau de ensino dava um diploma que habilitava alguém a trabalhar.
No pós 25 de Abril, fruto de muitas ideologia criou-se muito mais oferta, sem dúvida mas com uma qualidade muito baixa. Pior era o desfasamento do ensino com a economia local. Faz sentido ter um curso de jornalismo numa zona rural a formar 30 pessoas por ano?
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- soultrain
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Re: Salazar
O nosso sistema de ensino tem problemas, lacunas e ineficiências, infelizmente. Mas TODOS têm acesso e apoio em caso de necessidade.tflash escreveu:Ó Soul, ninguém está a dizer que a educação era melhor. Estava a dizer que a pouca oferta que havia era melhor e mais importante, orientada para o mercado de trabalho.
No 25 de Abril, começou-se do zero e só se voltou a implementar o ensino técnico no fim dos anos 90. Tirando a componente ideológica que se podia pôr de parte, a conclusão de um grau de ensino dava um diploma que habilitava alguém a trabalhar.
No pós 25 de Abril, fruto de muitas ideologia criou-se muito mais oferta, sem dúvida mas com uma qualidade muito baixa. Pior era o desfasamento do ensino com a economia local. Faz sentido ter um curso de jornalismo numa zona rural a formar 30 pessoas por ano?
Comparar um ensino técnico para muito poucos, com um sistema de ensino UNIVERSAL, é saudosismo.
Desculpa, mas tenho mesmo de ser duro, é inadmissível essa comparação.
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
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- soultrain
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Re: Salazar
Aliás,
Os saudosistas, em breve vão poder voltara aos velhos tempos do ensino na mão de privados.
www.parque-escolar.pt/
Seja quem for que governe, o caminho está traçado, é só ver a quem esta "empresa" deve dinheiro e muito.
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Os saudosistas, em breve vão poder voltara aos velhos tempos do ensino na mão de privados.
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- FoxTroop
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Re: Salazar
Nem existe comparação, caro Soul. O meu avô paterno para ter alguma educação teve de entrar para o seminário, saltando do "barco" logo antes de ser ordenado. Como ele, muitos e muitos outros tiveram de fazer essa "tropelia" para poderem ter mais um pouco de educação, porque senão, enxada na mão e fominha de matar pulga, como ele costumava dizer. Concordo contigo mas não deixo de dar alguma razão ao tflash, sobre a ineficácia do actual modelo de ensino. Para mais sou casado com uma professora e o feedback que tenho da coisa é medonho.
- soultrain
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Re: Salazar
Pois é Tflash!
Caso não tenham reparado, a "cantoria" era o hino da mocidade portuguesa.
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- tflash
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Re: Salazar
Eu reparei nisso. Apesar de nessa altura nem projecto ser.
Eu não defendo aqui o regime em si mas pelo que investiguei, o sistema de ensino caminhava para um sistema universal mas segmentado. O impulsionador disso ainda é vivo e conhecido. O célebre Hermano Saraiva.
O que eu critico foi terem chegado a essas escolas e acabado com os cursos profissionais. A construção de escolas novas no pós 25 de Abril foi muito importante e louvável. Mesmo aquelas pré-fabricadas com paredes em contraplacado. Escusavam era de ter estragado a oferta das outras com reinvenções que só serviram para gastar dinheiro.
O resultado é o que se vê e eu sou um exemplo. Na minha área, no fim do 12 ano, só tinha teoria e conhecimento geral. Não investisse eu dinheiro meu que não sabia fazer nada.
Mas entretanto voltaram a aparecer os cursos profissionais. Se fosse algo errado, não se tinha voltado a implementar.
Eu não defendo aqui o regime em si mas pelo que investiguei, o sistema de ensino caminhava para um sistema universal mas segmentado. O impulsionador disso ainda é vivo e conhecido. O célebre Hermano Saraiva.
O que eu critico foi terem chegado a essas escolas e acabado com os cursos profissionais. A construção de escolas novas no pós 25 de Abril foi muito importante e louvável. Mesmo aquelas pré-fabricadas com paredes em contraplacado. Escusavam era de ter estragado a oferta das outras com reinvenções que só serviram para gastar dinheiro.
O resultado é o que se vê e eu sou um exemplo. Na minha área, no fim do 12 ano, só tinha teoria e conhecimento geral. Não investisse eu dinheiro meu que não sabia fazer nada.
Mas entretanto voltaram a aparecer os cursos profissionais. Se fosse algo errado, não se tinha voltado a implementar.
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- cabeça de martelo
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Re: Salazar
O meu pai foi a mesma história, mas infelizmente para ele (felizmente para mim), os meus avós deixaram os Açores e vieram para o continente. O resultado final foi os colegas dele de seminário hoje terem bons trabalhos porque são todos técnicos especializados e ele só ter a 4º classe. O que o safou foi ter dois palmos de testa e ter chegado a chefe na empresa onde trabalhava.FoxTroop escreveu:Nem existe comparação, caro Soul. O meu avô paterno para ter alguma educação teve de entrar para o seminário, saltando do "barco" logo antes de ser ordenado. Como ele, muitos e muitos outros tiveram de fazer essa "tropelia" para poderem ter mais um pouco de educação, porque senão, enxada na mão e fominha de matar pulga, como ele costumava dizer. Concordo contigo mas não deixo de dar alguma razão ao tflash, sobre a ineficácia do actual modelo de ensino. Para mais sou casado com uma professora e o feedback que tenho da coisa é medonho.
Felizmente as coisas mudaram muito, se eu tive que ir para Lisboa, hoje em dia os miúdos já podem tirar cursos desta natureza cá no concelho onde moro.
- soultrain
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Re: Salazar
Vocês reparem, a causa do quase desaparecimento do ensino profissional/técnico, não foi como pensam uma questão ideológica de governo, mas de mercado provocado por ideologias familiares burguesas.
Lembrem-se que cá ser "Eng ou Dr" era o sonho da família, ninguém queria que o filho tira-se um curso técnico ou mesmo Eng. técnico, os antigos baixareis. Estes eram e são vistos com desdém infelizmente. Cada vez havia menos alunos nos cursos técnicos, já que para acesso à Universidade para tirar uma Engenharia, era mais difícil, por diversos motivos. Era para onde iam os piores alunos por exemplo. Então essas escolas foram definhando.
tenho uma história engraçada sobre isso, eu ingressei em Eng. Mecânica no IST e a minha prima da mesma idade ingressou em Medicina, quando fiz uma visita à minha bisavó já com 94 anos, estava orgulhoso e impaciente para lhe contar a novidade, ao que ela me respondeu:
-Mas filho, vais para mecânico? Porque não foste para medicina como a tua prima? Devias estudar mais.
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Lembrem-se que cá ser "Eng ou Dr" era o sonho da família, ninguém queria que o filho tira-se um curso técnico ou mesmo Eng. técnico, os antigos baixareis. Estes eram e são vistos com desdém infelizmente. Cada vez havia menos alunos nos cursos técnicos, já que para acesso à Universidade para tirar uma Engenharia, era mais difícil, por diversos motivos. Era para onde iam os piores alunos por exemplo. Então essas escolas foram definhando.
tenho uma história engraçada sobre isso, eu ingressei em Eng. Mecânica no IST e a minha prima da mesma idade ingressou em Medicina, quando fiz uma visita à minha bisavó já com 94 anos, estava orgulhoso e impaciente para lhe contar a novidade, ao que ela me respondeu:
-Mas filho, vais para mecânico? Porque não foste para medicina como a tua prima? Devias estudar mais.
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Re: Salazar
Ficou um bocado snob, porque eu não acabei o post A minha bisavó, que Deus tem, tinha razão, não acabei o curso
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Re: Salazar
cabeça de martelo escreveu:Ela está demasiado ocupada a ouvir metal.
Ontem pus os videos da nariguda aí de cima e ela virava-se para mim estilo (mas o que é isto?!). Pus um video dos manos Cavallera e aí ela gostou...é o meu orgulho!
Isso absolutamente NÃO É uma simples pita: é um presente dos céus!!!
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
Re: Salazar
Salazar foi o maior estadista da história de Portugal .
Agora que está falido vou deixar uma estória do seu tempo .
MEMÓRIAS DE UM PORTUGAL RESPEITADO
Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.
O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão.
Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.
Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.
Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".
Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.
Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.
Estoril, 18 de Abril de 2010
Luís Soares de Oliveira
Agora que está falido vou deixar uma estória do seu tempo .
MEMÓRIAS DE UM PORTUGAL RESPEITADO
Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.
O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão.
Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.
Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.
Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".
Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.
Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.
Estoril, 18 de Abril de 2010
Luís Soares de Oliveira
Re: Salazar
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Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.
O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão.
Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.
Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.
Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".
Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.
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O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão.
Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.
Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.
Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".
Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.
Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.
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Re: Salazar
É inegável que no que toca a gestão financeira, Salazar foi um dos melhores políticos que tivemos. Eu acredito que por detrás disso esteve o envolvimento americano no massacre que iniciou a guerra colonial e a consequente pressão americana para abandonarmos as colónias.
Foi de facto a melhor atitude de Portugal, face à posição que era defendida e sim, continua a ser uma boa lição para o futuro, quer seja a nível nacional e mesmo pessoal.
Se não queremos ingerências, que não devamos nada a ninguém.
A Portugal hoje, fazia falta um Salazar nas finanças. Como não o tivemos, vamos ter um Hitler.
Também é justo vermos que nesse tempo, o povo português era pobre e honrado como se costumava dizer. Era possível retirar grandes tranches do orçamento de estado porque não havia uma política de desenvolvimento. O povo rural nunca tinha conhecido nada disso por isso qualquer estrada ou ponte era uma bênção dos céus.
A nível urbano não era nada assim. Eu costumo ler o jornal de Sintra, um jornal regional muito antigo. Volta não volta eles voltam a republicar artigos dos anos 40, 50 e 60. Eu fiquei admiradissimo com o nível de criticas que eram feitas no jornal à falta o deficiências dos transportes e à falta de obras camarárias. Eu pensei que isso fosse censurado mas pelos vistos não o era se fosse escrito de uma certa maneira. Mas o sitio que era talvez justifique a maior liberdade. Era a morada de muita gente do regime que de certeza concordaria com as criticas.
Foi de facto a melhor atitude de Portugal, face à posição que era defendida e sim, continua a ser uma boa lição para o futuro, quer seja a nível nacional e mesmo pessoal.
Se não queremos ingerências, que não devamos nada a ninguém.
A Portugal hoje, fazia falta um Salazar nas finanças. Como não o tivemos, vamos ter um Hitler.
Também é justo vermos que nesse tempo, o povo português era pobre e honrado como se costumava dizer. Era possível retirar grandes tranches do orçamento de estado porque não havia uma política de desenvolvimento. O povo rural nunca tinha conhecido nada disso por isso qualquer estrada ou ponte era uma bênção dos céus.
A nível urbano não era nada assim. Eu costumo ler o jornal de Sintra, um jornal regional muito antigo. Volta não volta eles voltam a republicar artigos dos anos 40, 50 e 60. Eu fiquei admiradissimo com o nível de criticas que eram feitas no jornal à falta o deficiências dos transportes e à falta de obras camarárias. Eu pensei que isso fosse censurado mas pelos vistos não o era se fosse escrito de uma certa maneira. Mas o sitio que era talvez justifique a maior liberdade. Era a morada de muita gente do regime que de certeza concordaria com as criticas.
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