O militar brasileiro

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Guerra
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O militar brasileiro

#1 Mensagem por Guerra » Seg Abr 18, 2011 9:25 pm

Abri esse tópico para tentar explicar como pensava e como pensa o soldado brasileiro. Já que o assunto apareceu em outros tópicos.
Aqui vai minha pequena contribuição. Espero conseguir um debate saudavel. Desculpem os erros. Escrevi correndo entre uma tarefa e outra.
Para entender o soldado brasileiro é preciso analisar a história militar brasileira.
Começa com achegada da corte portuguesa ao Brasil, porque antes não existia exército aqui nessas bandas. O que existia eram grupos (sem coesão) desarmados, sem instrução e desestruturados.
O atrito entre brasileiros e portugueses era constante. Então aparece a guarda nacional (1830). Ao contrário que se prega (preciso dizer quem?), o exército não se identificava com esse grupo. E os atritos continuaram, e a força continuava sem identidade.
Em 1850, com a criação da escola real começa o atrito entre os militares profissionais (não aristocráticos) e os militares formados na tropa. Os veteranos de batalha (tarimbeiros) contra os acadêmicos. Benjamin Constant e Deodoro eram exemplos desses dois tipos de militares. O que unia os dois grupos era a nossa já velha amiga marginalização da farda. Que naquele tempo já era bandeira da politicada.
Quando o currículo científico passou a dominar, nasceu a idéia da “superioridade militar”. É nesse ambiente que aparece o positivista (ordem e progresso) Benjamin Constant, que foi contratado pela escola.
Nascia o soldado-cidadão. Enquanto os republicanos espalhavam o caos na monarquia, o soldado cidadão, criado pelos positivistas, estava sendo doutrinado para a responsabilidade de manter a “ordem e o progresso”.
1889, fim da monarquia, disputa pelo poder entre militares. Eram as cobras criadas pelos positivistas começando a dar o bote e a hierarquia a disciplina indo pro esgoto. Junto com isso os problemas da federação. Estados formando exércitos particulares, e o exército cada dia mais defasado.
O exército na figura de Hemes da Fonseca inicia nova transformação. Começa a aparecer o soldado-profissional. O EB manda oficias a Prússia para servir naquele exército. Quando voltam os “novos turcos” iniciam uma luta para transformar o exército numa força profissional apolítica.
Outro movimento que aconteceu praticamente junto foi a missão francesa. O ministro da guerra, o civil Pandiá Calogeras acreditava que a educação militar que considerava um golpe a maior das traições contra a pátria tiraria o militar do cenário político.
A missão francesa transformou o militar num profissional da guerra, mas foi graças aos estudos dos problemas nacionais que os militares pela primeira vez chamaram a responsabilidade da defesa nacional para si. O militar concluiu que o exército só evoluiria se o país evoluísse. Dessa forma ao contrário do que se esperavam os militares passaram a pensar que o afastamento da política representava o colapso total da força.
Em 1930 os militares tomam o poder pela primeira vez através de golpe planejado. Era o começo da doutrina Goes Monteiro, e o surgimento do soldado corporação. O estado novo pregava um estado forte. E junto é claro surgiria um exército forte.
Goes Monteiro acreditava que a anarquia social (plantada pelos republicanos) estava influenciando a caserna. Que não poderia existir um exército disciplinado sem uma sociedade disciplinada. Dessa forma, a preocupação não era mais a “política no exército” e sim a “política do exército”.
Em 1935 o exército tomou aquele susto. As coisas não estavam tão sob controle como se achava. É quando surge o ódio contra os comunistas dentro da força.
Foi nessa época que o sarrafo para o oficialato do EB ficava muito alto. E o sgt começava a ser colocado num plano inferior na força. Era o exército moldando seus profissionais de acordo com os objetivos políticos da força. Ou seja, o militar é formado pela doutrina Goes Monteiro. Esse era o soldado corporação.
Em 1946 Castelo Branco tem um papel importante na mudança da doutrina francesa para a americana. Fim da era Vargas, mas o EB deixa de ser uma organização para ser uma instituição. E começa a surgir o profissional da segurança interna.
Em 48 tem inicio os cursos da ESG que passa direcionar toda doutrina do exército brasileiro. E a teoria da guerra interna toma conta da força. É o fim da crise de identidade do militar.
São esses militares formados em 35 que tomam o poder em 64. Nesse período, Médici reforça a doutrina de segurança interna e cria um monstro, ou como se costuma dizer: um golpe dentro do golpe. Essa doutrina cria um estado paralelo dentro da força que domina ate 1979, quando Figueiredo inicia uma transição.
Em 1985, apesar da constituição cidadã, o papel do militar não mudou muito. A idéia de tirar a elaboração da defesa das mãos dos militares e o fim da doutrina da defesa interna só aparece em 1996 com o PDN. É bom lembrar que nessa mesma época movimentos radicais no Brasil ganhavam força. E o mais interessante é que foi no governo (em 1999) que mais empregou o exército em operações internas desde a década de 60 que o ministério da defesa foi criado. Os ministros da defesa de lá pra ca acho que nem preciso dizer que foram uma droga.


Depois de 85, o EB formou 3 doutrinas de emprego da força (as 3 são o resumo dessa história toda). Tudo amparado pela constituição brasileira. Mas a força resistiu as mudanças da sociedade o quanto pode.
O militar brasileiro que iniciou sua carreira depois de 85 começou a pedir mudanças. Foi durante o arrocho do governo FHC que alguns começaram a apelar para justiça para resolver problemas simples do dia a dia da caserna. O regulamento da força era da década de 30 (inicio da doutrina Goes Monteiro). Para se ter uma idéia, o praça não podia ir para casa. Ir para casa depois do expediente era uma concessão.
Na minha opinião, o marco da mudança foi quando um grupo de militares que se sentiram prejudicados num aumento diferenciado dado pelo governo FHC ( o aumento foi praticamente só para os oficiais) foram para justiça. A justiça não só deu ganho de causa para esses militares como reverteu a situação de alguns que forma transferidos como retaliação, e anulou punições. Depois disso não teve problema que o militar não ia resolver na justiça. A força teve que se adequar, e os regulamentos sofreram as mudanças necessárias para se adequar a constituição brasileira.
Hoje, um coronel não comanda uma unidade se não cumprir os regulamentos e a lei. Porque ele não pune um recruta sem dar a ele seu direto constitucional de defesa. Um sgt não tira um serviço se não cumprir os regulamentos e a lei. Por isso, na minha opinião o militar brasileiro atual é um soldado que cumpre a lei. Quem faz isso esta comprometido com a força, quem não faz não tem futuro.




A HONESTIDADE É UM PRESENTE MUITO CARO, NÃO ESPERE ISSO DE PESSOAS BARATAS!
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Carlos Lima
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Re: O militar brasileiro

#2 Mensagem por Carlos Lima » Ter Abr 19, 2011 2:28 pm

[009] [100]

[]s
CB_Lima




CB_Lima = Carlos Lima :)
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Re: O militar brasileiro

#3 Mensagem por crubens » Ter Abr 19, 2011 3:21 pm

Bela análise Guerra. [009]




"Tudo que é necessário para que o mal triunfe, é que os homens de bem nada façam". Edmund Burke

'O que me preocupa não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons.' Martin Luther King

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Re: O militar brasileiro

#4 Mensagem por Hader » Ter Abr 19, 2011 4:10 pm

Muito bom tópico Guerra!

[]'s




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Re: O militar brasileiro

#5 Mensagem por FCarvalho » Ter Abr 19, 2011 7:26 pm

Uma rápida análise do texto do Guerra nos faz ver que as FA's do Brasil nem sempre andaram de mãos dadas com as mudanças advindas da assim chamada sociedade civil. E que por vezes, não poucas, foram utilizadas como porrete paras as demandas politico-sociais dos vários movimentos existentes ao longo da história nacional.

Não me admira o fato de antes da chegada da coroa portuguesa ao Brasil, em 1808, nós não termos uma força militar organizada e institucional. Guararapes foi um marco na história militar brasileira, mas apesar disso, seus efeitos nas instituições castrenses nacionais demoraram bastante a se fazer sentir, mormente, pós revolução de 1930.

Talvez o maior problema do militar brasileiro tenha sido, por muito tempo, a sua não identificação com seu próprio papel de militar e, por consequência, sua não identificação com a sociedade civil e suas demandas.

A ausência de um "rosto" para o profissional das armas brasileiro, fez das FA's durante várias gerações, principalmente para os praças, uma alternativa opcional a falta de instrução e de possibilidades de vida digna no mundo civil; sendo assim, o meio militar mais do que uma vocação, foi, e de certa forma ainda o é, para muitos, o último instrumento a ser ativado na ausência de politicas publicas que sustentem uma sociedade leniente e compassiva com a pobreza econômica e a miséria intelectual de seu povo.

Meramente ilustrativo dessa realidade espúria, são os tiros de guerra e outros subterfurjos pseudo-sociais que regulam o engajamento de varios jovens e que de forma nenhuma trazem algum beneficio profissional para o EB.

Note-se uma nova tentativa do implante da autoridade civil sobre as FA's de forma institucionalizada e figurada por meio do MD, vem conclamar os militares a idenficar o seu papel através da regulação de suas ações junto a comunidade politico-partidária, através da divisão e orientação das responsabilidades politicas, no que se refere ao pensar estratégico do país, bem como da definição das ações que determinem papel a desempenhar por cada um dos entes desta nova relação, através das convenções da lei e da produção de um mote alusivo a questão da defesa nacional.

Se este passo adiante na definição do papel das FA's irá ajudar a perpetrar uma identidade para as mesmas, e identificar a sociedade civil com a mesma, fica a critério do tempo...

abs




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Re: O militar brasileiro

#6 Mensagem por Paisano » Ter Abr 19, 2011 7:39 pm

crubens escreveu:Bela análise Guerra. [009]
X2 [009]




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Re: O militar brasileiro

#7 Mensagem por douglas » Qua Jun 08, 2011 7:50 pm

Já Pode começar uma tese.




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Re: O militar brasileiro

#8 Mensagem por Brasileiro » Qua Jun 08, 2011 8:19 pm

E eu acho que esse estudo poderia ser ampliado, incluindo a questão das polícias militares brasileiras, que antigamente já tiveram função bélica e me parece que algumas possuiam até canhões.

Digo isso já tendo em mente esta quetão tão atual, que é a dos bombeiros.




abraços]




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Re: O militar brasileiro

#9 Mensagem por Túlio » Qua Jun 08, 2011 10:59 pm

Eu acho que para mudar mesmo quem precisa alterar sua idéia de FFAA são os politiqueiros: ELES é as que vêem como sua SWAT particular (quando você está em perigo chama a polícia; quando a polícia está em perigo chama a SWAT), daí o eterno descaso para com questões de Defesa. Para quê se importar com caças supersofisticados se bastam uns caras fardados de FAL e uns Leos caindo de podres para conter a escumalha? O Brasil ainda vai ser aleijado de um pedação por causa disso...




“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”

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Re: O militar brasileiro

#10 Mensagem por Frederico Vitor » Qua Jun 08, 2011 11:10 pm

Túlio escreveu:Eu acho que para mudar mesmo quem precisa alterar sua idéia de FFAA são os politiqueiros: ELES é as que vêem como sua SWAT particular (quando você está em perigo chama a polícia; quando a polícia está em perigo chama a SWAT), daí o eterno descaso para com questões de Defesa. Para quê se importar com caças supersofisticados se bastam uns caras fardados de FAL e uns Leos caindo de podres para conter a escumalha? O Brasil ainda vai ser aleijado de um pedação por causa disso...
.
Também penso da mesma forma. Mas também, se olharmos o nível de nossa classe política, com Tiririca, Romário e mais uma centena de semi-analfabetos, não dá para esperar muito. O único que vejo levantar voz em prol das FFAA no Congresso é o dep. Jair Bolsonaro (PP-RJ). Infelizmente, o nobre parlamentar está com a moral baixa (Com a mídia brasileira cheia de gays) em vista das polêmicas em que se envolveu com os homossexuais.

No Brasil, lamentavelmente, tudo é no improviso. É até histórico. Mas temo, um dia, o país pagar caro por conta da inexistência de políticas sérias para com a área da Defesa. É algo até freudiano: "Temo aquilo que mais desejo".




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Re: O militar brasileiro

#11 Mensagem por rodrigo » Qui Jun 09, 2011 11:55 am

O único que vejo levantar voz em prol das FFAA no Congresso é o dep. Jair Bolsonaro (PP-RJ). Infelizmente, o nobre parlamentar está com a moral baixa (Com a mídia brasileira cheia de gays) em vista das polêmicas em que se envolveu com os homossexuais.
Só poderemos julgar isso nas próximas eleições. As reinvidicações dele foram atendidas por esse governo fraco e covarde, fruto de extorsão do Garotinho.




"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

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Re: O militar brasileiro

#12 Mensagem por AlexSC » Qua Jun 29, 2011 1:56 pm

Nem li, puta texto grande.




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