knigh7 escreveu:Concordo com vc Leandro, mas acrescento que no Brasil há um certo déficit de interesse do empresariado em P&D, mesmo, não causado por apenas por esse fatores que você citou.
O brasileiro em geral é flexível, mas não é disciplinado, é bem prático, não tem nada de teórico. Caracteristicas como essas atuam contra uma cultura de P&D.
O que o Estado tem de fazer é deixar de atrapalhar (porque o Estado atrapalha bastante). Mas não acho ele que deva ficar dando muletas para o sujeito ou organizacão andar. Isso acomoda bem como favorece um ambiente para a atuacão de não aptos.
É claro que a quase totalidade dos países que produzem muita P&D o Estado tem grande responsabilidade por isso. Mas não creio que se o Estado Brasileiro disponibilizar um aumento de forma muito expressiva o Brasil se torne um grande player nessa àrea por causa da cultura daqui.
Eu acho que a gente tem de fazer mais aquilo que se tem vocacão. E não ficar malhando em ferro frio.
O Brasil é a receita de Portugal com continente africano misturado no liquidificador. Não estou depreciando.
Talvez você como engenheiro discorde. Mas eu tenho uma forte conviccão sobre esse ponto.
Abracos
Amigo Knigh7,
Meu trabalho do dia-à-dia é justamente disseminar novas tecnologias na indústria, faço isso há uns 20 anos, e já implantei soluções (ou prestei serviços com elas) para as mais diversas empresas brasileiras ou instaladas no Brasil, que vão da Brinquedos Bandeirante à Embraer e às grandes montadoras de automóveis, passando por fábricas de componentes, de sistemas eletrônicos, de material de laboratório, utilidades domésticas e quase tudo o mais o que se possa imaginar.
Nestes anos todos o que notei foi que a grande maioria das empresas realmente tenta desenvolver um novo produto se percebe que pode entrar em algum novo mercado onde terá como disputar em pé de igualdade com os concorrentes nacionais e internacionais. Acompanhei muitos esforços para criar novas máquinas, equipamentos e bens de consumo inovadores, quando as condições econômicas eram adequadas à competitividade da empresa nacional, e vi muito empresário gastar bastante dinheiro por conta própria nestas tentativas. Geralmente o maior empecilho não está na falta de vontade, mas sim na de experiência sobre como funciona esta história de P&D focada no mercado e não na teoria.
Mas para que estas iniciativas sejam tomadas é preciso que o empresário possa fazer as contas e perceber que tem alguma possibilidade de apresentar seus produtos no mercado com o mínimo de condições em termos de preço (qualidade em geral não é mais problema, exceto em mercados muito específicos). E isto não é possível quando nosso câmbio está muito defasado, os impostos são maiores do que jamais foram, os custos básicos (de energia, transporte, etc...) são muito mais altos que a média mundial e a burocracia toma toda a energia da administração. Por isso critico tanto as ações do governo brasileiro, ele não precisaria investir mais do que investe em Universidades e centros de pesquisa, e nem mesmo adianta muito fornecer financiamento à pesquisa. O que as empresas precisam é de um país sério que não penalize o investimento produtivo em favor do financeiro, e que simplifique a vida das empresas para que elas possam se concentrar na sua atividade, e não em atender fiscais e advogados que batem na porta quase todo dia.
Se o governo simplesmente trabalhasse direito as empresas faria o resto sozinhas. Levaria tempo, pois teriam muito o que aprender, mas se as condições forem favoráveis a iniciativa elas mesmas tomam, eu já vi isso acontecer muitas vezes ao longo destes anos todos, quando as condições permitiram.
Um grande abraço,
Leandro G. Card