Os sonhos são simples. Ver a bandeira do Brasil no espaço. Ver “Made in Brasil”, escrito com “s” mesmo, estampado em componentes brasileiros no espaço. Ver experimentos nacionais a bordo da ISS. Começou em 1997. A Agência Espacial Brasileira (AEB) assinou o contrato com a NASA para a participação do Brasil na ISS. Tornou-se assim a “Embaixadora do Brasil” perante o grupo mais importante de países exportadores de tecnologia espacial. No princípio da cooperação, eram seis partes brasileiras. A primeira a ser entregue seria o “Express Pallet”, uma plataforma para experimentos a ser instalada no exterior da ISS. A EMBRAER foi a empresa escolhida pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável pelo gerenciamento técnico do projeto para a construção das partes verde-e-amarelas.
Obviamente, a AEB era a única responsável legal, perante o consórcio internacional, por todas as decisões administrativas e orçamentos do projeto, como ainda é, até hoje.
Muita animação e motivação nos dois primeiros anos. Afinal, era uma clara oportunidade para a projeção das empresas brasileiras no cenário internacional. Além disso, havia a certificação de qualidade de exportação de alta tecnologia. Para a ciência, também seria uma ótima oportunidade para a execução de experimentos em microgravidade, a bordo da ISS. Nota de advertência: certamente existia a necessidade de cientistas que tivessem coragem de “fazer ciência”, usando o novo laboratório! Por exemplo, do que valeriam os laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz, se nenhum cientista se aventurasse a “ser cientista” e os utilizassem?
Na época, orçamento de U$120 milhões, muitas pessoas trabalhando no projeto, seleção do primeiro astronauta, ordem e progresso “de vento em popa”. Pela programação inicial de montagem da ISS, a primeira parte “made in Brasil” deveria estar pronta para vôo em 2001. Atrasamos. A data de entrega passou para 2003. Em 2002 a AEB informou à NASA que estava desistindo de construir as seis partes originais. A AEB falhou. O Brasil falhou. Nós falhamos. Dúvidas quanto à seriedade do país surgiram nos olhos preocupados dos representantes dos outros 15 países (Rússia, Japão, Canadá, França, Alemanha, Itália, Suíça, Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Bélgica, Noruega, Holanda, Espanha e os Estados Unidos) participantes durante as reuniões técnicas semanais. Coçavam a cabeça, enquanto procuravam soluções para os compromissos internacionais do projeto, perante a ausência das partes brasileiras.
Situação complicada e perigosa para o futuro de qualquer intenção do país em possuir empresas exportadoras na área espacial. O nome da nossa indústria descia a mesma ladeira.
A AEB reagiu ao cenário. Afinal, sendo ela a representante do país na cooperação, uma falha do país teria também a conseqüência imediata na imagem de competência da instituição. Negociou com a NASA. Ficamos no projeto, mas com uma contribuição bem menor: 32 placas adaptadoras. O orçamento também diminuiu e tornou-se um número na planilha: planejado US$10 milhões. O INPE, tirou o projeto do seu organograma. O prédio de dois andares, destinado a abrigar o setor técnico da participação do Brasil na ISS, virou “espaço”. Se fosse a própria ISS, o programa no Brasil, , teria entrado no “Survival Mode”, o modo operacional de sobrevivência da espaçonave. Se estivesse no deserto, o projeto seria como um animal moribundo. Ao seu redor, abutres circulavam a espera de compartilhar a carniça da morte. Aguardavam inertes, observando tudo com olhares críticos.
Mas o milagre aconteceu. O projeto sobreviveu. Restaram apenas, uma pessoa responsável na AEB, três pessoas no INPE (embora sem função definida no organograma), um astronauta pronto para vôo na NASA, e um orçamento, no papel, de US$8 milhões, constantemente “disputado” para outros projetos. Em termos práticos de fabricação de partes nacionais, nada. Seria necessário um procedimento técnico-administrativa para a licitação, qualificação das empresas e transferência de tecnologia para a construção das partes pela indústria nacional. Porém, dificuldades administrativas impediam o processo, aumentavam o atraso de anos do país na sua responsabilidade na cooperação e diminuíam ainda mais a credibilidade internacional sobre a nossa capacidade de realmente construir qualquer componente nacional.
O anjo veio na forma de SENAI-SP e FIESP. Reconheceram o problema, avaliaram a competência, entraram na briga para defender o nome do país.... Sem custo para os cofres públicos! Prepararam instalações e pessoal para fabricar os protótipos das partes brasileiras. Esses protótipos iriam permitir a transmissão direta da tecnologia de produção para as indústrias.
Ainda assim, o país pecou pela lentidão de aprovação e tramitação de documentos do programa. O SENAI-SP não pode começar efetivamente os protótipos sem a documentação técnica necessária. A participação do país foi reduzida ainda mais pela NASA. Agora fabricamos apenas 15 placas adaptadoras. Não há nenhuma confiança de que o país conseguirá cumprir com a sua parte. Devido às mudanças no cronograma de construção da ISS perante às restrições dos vôos do ônibus espacial, existe a necessidade atual de uma ação administrativa urgente para iniciar a construção dos componentes. A espera é agonizante para a NASA. Questionamentos.
A cada dia que passa, pressionada pelo cronograma, aumenta geometricamente a possibilidade da NASA ser obrigada a contratar outras empresas para a construção das placas, atualmente sob nossa responsabilidade. Em outras palavras, “dispensar” a AEB (o nosso país) do programa. Conseqüências para o nome do Brasil? É só imaginar.
Na AEB, uma equipe formada por apenas três pessoas: Dr. Raimundo Mussi, Dra. Martha Humman e Dra Loiva Calderon, luta para manter o programa vivo. Aqui na NASA, uso da diplomacia brasileira para contornar os atrasos. No INPE, proposta de substituir novamente as partes de responsabilidade do Brasil na cooperação, de placas adaptadoras para componentes de satélite da Agência americana NOAA (National Oceanic&Atmospheric Administration). A NASA não aceita a mudança.
** Estação Espacial Internacional (ISS) - único laboratório espacial, construído por um consórcio de 16 países (Rússia, Japão, Canadá, França, Alemanha, Itália, Suíça, Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Bélgica, Noruega, Holanda, Espanha, Brasil e os Estados Unidos), tem um comprimento total de 108 metros, seu volume interno equivale a 2 aviões “Jumbos” e sua massa total é de 400 toneladas, a espaçonave dá uma volta na Terra a cada 90 minutos (28.000 km/h), permanecendo numa altitude média de 400 km.
Por Marcos Pontes: http://360graus.terra.com.br/expedicoes ... ion=coluna
Brasil na Estação Espacial Internacional (ISS)
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Re: Brasil na Estação Espacial Internacional (ISS)
Só para lembrar:
Este texto é de 2006. O Brasil já foi expulso (esta é a palavra) do programa da ISS.
Leandro G. Card
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Re: Brasil na Estação Espacial Internacional (ISS)
É verdade.LeandroGCard escreveu:Só para lembrar:
Este texto é de 2006. O Brasil já foi expulso (esta é a palavra) do programa da ISS.
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Re: Brasil na Estação Espacial Internacional (ISS)
Brasil está fora do projeto da Estação Espacial (ISS)
Conselheiro da Nasa afirma que País deixou ‘gosto ruim’
por atrasos e envio de astronauta
Herton Escobar,
BOSTON
O Brasil está fora do projeto de construção da Estação Espacial Internacional (ISS). Após quase dez anos de participação, mas sem nunca ter contribuído com um único parafuso para o programa, o País perdeu definitivamente a chance de assinar seu nome na lista de fabricantes da base orbital. Segundo o especialista John Logsdon, diretor do Instituto de Políticas Espaciais da Universidade George Washington e membro do Comitê de Conselho da Nasa, “já é tarde demais para o Brasil fazer qualquer coisa, a não ser tornar-se um usuário da estação”.
“Apesar de ser improvável que a Nasa vá tomar qualquer atitude formal para cancelar seu contrato com a Agência Espacial Brasileira, o Brasil não aparece mais em seus documentos como um contribuinte da ISS”, disse Logsdon, em entrevista ao Estado. “Na prática, portanto, o Brasil não faz mais parte da parceria da estação.”
Após uma série de atrasos e complicações causadas pelo acidente com o ônibus espacial Columbia, em 2003, a meta do consórcio internacional da ISS, formado por 16 países (agora 15), é concluir a montagem da estação até 2010. O Brasil entrou para o projeto em outubro de 1997, incumbido da produção de seis peças, no valor de US$ 120 milhões - um acordo que se mostrou muito além da capacidade orçamentária da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Em troca da produção das peças, o País ganharia direitos de utilização da base para o envio de experimentos científicos e de um astronauta brasileiro por tempo predeterminado. O contrato foi revisto e reduzido significativamente ao longo dos anos. Nada jamais foi construído.
Procurada pela reportagem, a AEB não negou as declarações de Logsdon. Em vez disso, anunciou planos para uma parceria ainda mais ampla com a Nasa. “A Agência Espacial Brasileira e o Itamaraty estão iniciando negociações com a Nasa e o Departamento de Estado Norte-Americano para uma nova etapa no relacionamento de cooperação entre Brasil e Estados Unidos, que teve, em certo momento, um abalo por conta do problema da participação americana em Alcântara (veto do Congresso Nacional ao possível acordo de utilização americana da base)”, informou a agência, por meio de sua Assessoria de Comunicação.
“O interesse da AEB não é de participação apenas no projeto da ISS, mas de uma cooperação bem maior, abrangente. Que poderá até incluir a ISS, mas deverá ter um escopo maior. Brasil e EUA têm se aproximado mais ultimamente e os termos de um novo acordo podem ser mais amplos”, conclui a nota.
Na avaliação de Logsdon, porém, a incapacidade do Brasil de cumprir seus compromissos na estação deixou “um gosto ruim” na boca da Nasa, que pode dificultar futuras parcerias. A decisão de fazer o vôo do astronauta Marcos Pontes com a Rússia, em vez de com os EUA, também teria deixado uma má impressão, segundo ele (leia detalhes na entrevista abaixo).
PARTICIPAÇÃO PÍFIA
O Brasil foi desde o início um parceiro minoritário dentro da ISS. Mesmo as peças originalmente encomendadas ao País não eram cruciais para a estação, como plataformas para transporte e colocação de experimentos no exterior da base.
Agora, pressionada por seus próprios atrasos e limitações orçamentárias, a Nasa está numa corrida contra o tempo. A versão final da estação, de fato, deverá ser bastante reduzida em relação ao projeto original.
“Se é algo que ainda está nos planos da estação, os EUA vão construir”, disse Logsdon. A conclusão da ISS até 2010 - ano em que os ônibus espaciais deverão ser aposentados - é o primeiro passo dentro de um plano maior de exploração do sistema solar, que inclui a construção de uma base lunar até 2020.
Com relação ao Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, os EUA não têm mais interesse na base. Os países assinaram um acordo em 2000 que previa o uso do centro pelos americanos para o lançamento de foguetes espaciais. O contrato nunca foi ratificado pelo Congresso brasileiro. “Isso era quando se achava que haveria vários lançamentos de satélites por semana e outras fantasias do tipo”, afirmou Logsdon.
DÓLARES NO ESPAÇO
US$ 120 milhões - seriam investidos pelo Brasil na Estação Espacial Internacional, segundo o primeiro acordo firmado com a Nasa, em 1997
US$ 8 milhões - seriam gastos pelo País após uma renegociação com a Nasa em 2003, já que o primeiro acordo não foi cumprido
US$ 10 milhões - foi o custo do envio do astronauta Marcos Pontes para a ISS no ano passado, pagos para a Rússia - ainda que a viagem tivesse sido contemplada no acordo entre o governo brasileiro e a Nasa
Entrevista
'Participação brasileira foi um fracasso'
John Logsdon: diretor do Instituto de Políticas Espaciais da Universidade George Washington
Especialista diz que País mostrou entusiasmo, mas não conseguiu cumprir compromissos e resolveu fazer vôo de Marcos Pontes
BOSTON
Já é tarde demais para o Brasil ter papel relevante na Estação Espacial Internacional (ISS). Pode ser usuário, mas só se tiver “bons projetos” para propor. É assim que John Logsdon, membro do Comitê de Conselho da Nasa, avalia as perspectivas do País de eventual envolvimento com os trabalhos da ISS. Não há razão para desistir de cooperação futura, porém. “O Brasil está com o olho roxo, mas não foi nocauteado.” Abaixo, trechos da entrevista concedida ao Estado.
O Brasil entrou para o projeto de construção da ISS há dez anos e nunca construiu uma única peça. Seria justo classificar a participação do País como um fracasso?
Acho que sim. O País mostrou entusiasmo, mas não cumpriu nenhum dos compromissos que assumiu. Depois deu meia volta e decidiu fazer o vôo do astronauta (Marcos Pontes) com a Rússia.
A avaliação do Brasil era de que Pontes não teria mais chances de voar com a Nasa por causa dos atrasos causados com a tragédia da Columbia.
O vôo de um astronauta brasileiro estava diretamente ligado ao cumprimento dos compromissos na ISS. Certamente, o não-cumprimento dessas obrigações e a redução dos vôos após o acidente com a Columbia tornaram pouco provável que (Pontes) conseguisse voar. Mas, ainda assim, foi uma certa surpresa para os Estados Unidos saber que o Brasil tinha recursos para pagar à Rússia por um vôo, mas não para financiar as contribuições que prometera para a ISS.
A opção pelo vôo pago com a Rússia foi bastante criticada no Brasil, inclusive dentro da comunidade científica. Alguns chegaram a comparar Pontes a um turista espacial. O senhor concorda com isso?
Sim. Ele esteve na estação apenas por alguns dias, fez apenas algumas coisas... (pausa) Pensando bem, talvez isso seja injusto. Até o lançamento da ISS, a maioria dos astronautas passava cerca de uma semana no espaço, então sua experiência não foi tão diferente do que ocorria nos anos 80 e 90. Mas, basicamente, ele esteve na estação como um visitante.
O que o Brasil pode fazer para recuperar seu prestígio na ISS?
Acho que já é tarde demais para fazer qualquer coisa, a não ser se tornar um usuário da estação por meio de experimentos. A ISS será um laboratório aberto a todos os usuários, e, se os cientistas brasileiros tiverem bons projetos para propor, o País poderá participar dessa maneira. Mas certamente é tarde demais para propor qualquer tipo de equipamento, mesmo peças modestas, como o palete expresso (que fazia parte do contrato original do Brasil).
Para um país como o Brasil, com recursos limitados e graves problemas sociais, quais devem ser as prioridades de um programa espacial?
O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE, programa brasileiro) é bastante claro em suas prioridades, que são observação da Terra, telecomunicações e capacidade de lançamento. Não há nenhuma menção a vôos tripulados ou de participação em projetos de exploração espacial. Acho que a ênfase nesses benefícios para a sociedade brasileira é inteiramente apropriada, e é nessa direção que a maior parte dos recursos deve ser alocada.
E quanto a outras missões espaciais, além da ISS?
A discussão sobre participar em explorações além da órbita da Terra deve ser secundária, mas não zero. Nesse momento, a Nasa está discutindo projetos de exploração com 12 outras agências espaciais (Alemanha, França, Inglaterra, Rússia, China, Canadá, Índia, Ucrânia, Austrália, Coréia, Itália e Japão), e os únicos dois países que não participam são Brasil e Israel. Me parece que seria do interesse do Brasil, ao menos, participar das discussões. Afinal de contas, se a previsão de o País se tornar uma potência industrial nas próximas décadas estiver correta, acho que o Brasil vai querer ter um programa espacial completo.
E o Brasil seria bem-vindo nessas discussões, mesmo depois do que aconteceu na ISS?
Acho que sim. O Brasil está com um olho roxo, mas não foi nocauteado. Os Estados Unidos reconhecem a importância estratégica do Brasil no hemisfério e não vão tomar atitudes que possam empurrar o País na direção da China, Rússia ou outros potenciais adversários futuros.
Quem é:
John Logsdon
Em 2003, participou do comitê de investigação do acidente com o ônibus espacial Columbia
Na área acadêmica, é professor e historiador de políticas espaciais
Como membro do Comitê de Conselho da Nasa, atua ao lado de especialistas que apóiam a administração da agência espacial americana
http://www.pampalivre.info/brasil_expul ... cional.htm
Conselheiro da Nasa afirma que País deixou ‘gosto ruim’
por atrasos e envio de astronauta
Herton Escobar,
BOSTON
O Brasil está fora do projeto de construção da Estação Espacial Internacional (ISS). Após quase dez anos de participação, mas sem nunca ter contribuído com um único parafuso para o programa, o País perdeu definitivamente a chance de assinar seu nome na lista de fabricantes da base orbital. Segundo o especialista John Logsdon, diretor do Instituto de Políticas Espaciais da Universidade George Washington e membro do Comitê de Conselho da Nasa, “já é tarde demais para o Brasil fazer qualquer coisa, a não ser tornar-se um usuário da estação”.
“Apesar de ser improvável que a Nasa vá tomar qualquer atitude formal para cancelar seu contrato com a Agência Espacial Brasileira, o Brasil não aparece mais em seus documentos como um contribuinte da ISS”, disse Logsdon, em entrevista ao Estado. “Na prática, portanto, o Brasil não faz mais parte da parceria da estação.”
Após uma série de atrasos e complicações causadas pelo acidente com o ônibus espacial Columbia, em 2003, a meta do consórcio internacional da ISS, formado por 16 países (agora 15), é concluir a montagem da estação até 2010. O Brasil entrou para o projeto em outubro de 1997, incumbido da produção de seis peças, no valor de US$ 120 milhões - um acordo que se mostrou muito além da capacidade orçamentária da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Em troca da produção das peças, o País ganharia direitos de utilização da base para o envio de experimentos científicos e de um astronauta brasileiro por tempo predeterminado. O contrato foi revisto e reduzido significativamente ao longo dos anos. Nada jamais foi construído.
Procurada pela reportagem, a AEB não negou as declarações de Logsdon. Em vez disso, anunciou planos para uma parceria ainda mais ampla com a Nasa. “A Agência Espacial Brasileira e o Itamaraty estão iniciando negociações com a Nasa e o Departamento de Estado Norte-Americano para uma nova etapa no relacionamento de cooperação entre Brasil e Estados Unidos, que teve, em certo momento, um abalo por conta do problema da participação americana em Alcântara (veto do Congresso Nacional ao possível acordo de utilização americana da base)”, informou a agência, por meio de sua Assessoria de Comunicação.
“O interesse da AEB não é de participação apenas no projeto da ISS, mas de uma cooperação bem maior, abrangente. Que poderá até incluir a ISS, mas deverá ter um escopo maior. Brasil e EUA têm se aproximado mais ultimamente e os termos de um novo acordo podem ser mais amplos”, conclui a nota.
Na avaliação de Logsdon, porém, a incapacidade do Brasil de cumprir seus compromissos na estação deixou “um gosto ruim” na boca da Nasa, que pode dificultar futuras parcerias. A decisão de fazer o vôo do astronauta Marcos Pontes com a Rússia, em vez de com os EUA, também teria deixado uma má impressão, segundo ele (leia detalhes na entrevista abaixo).
PARTICIPAÇÃO PÍFIA
O Brasil foi desde o início um parceiro minoritário dentro da ISS. Mesmo as peças originalmente encomendadas ao País não eram cruciais para a estação, como plataformas para transporte e colocação de experimentos no exterior da base.
Agora, pressionada por seus próprios atrasos e limitações orçamentárias, a Nasa está numa corrida contra o tempo. A versão final da estação, de fato, deverá ser bastante reduzida em relação ao projeto original.
“Se é algo que ainda está nos planos da estação, os EUA vão construir”, disse Logsdon. A conclusão da ISS até 2010 - ano em que os ônibus espaciais deverão ser aposentados - é o primeiro passo dentro de um plano maior de exploração do sistema solar, que inclui a construção de uma base lunar até 2020.
Com relação ao Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, os EUA não têm mais interesse na base. Os países assinaram um acordo em 2000 que previa o uso do centro pelos americanos para o lançamento de foguetes espaciais. O contrato nunca foi ratificado pelo Congresso brasileiro. “Isso era quando se achava que haveria vários lançamentos de satélites por semana e outras fantasias do tipo”, afirmou Logsdon.
DÓLARES NO ESPAÇO
US$ 120 milhões - seriam investidos pelo Brasil na Estação Espacial Internacional, segundo o primeiro acordo firmado com a Nasa, em 1997
US$ 8 milhões - seriam gastos pelo País após uma renegociação com a Nasa em 2003, já que o primeiro acordo não foi cumprido
US$ 10 milhões - foi o custo do envio do astronauta Marcos Pontes para a ISS no ano passado, pagos para a Rússia - ainda que a viagem tivesse sido contemplada no acordo entre o governo brasileiro e a Nasa
Entrevista
'Participação brasileira foi um fracasso'
John Logsdon: diretor do Instituto de Políticas Espaciais da Universidade George Washington
Especialista diz que País mostrou entusiasmo, mas não conseguiu cumprir compromissos e resolveu fazer vôo de Marcos Pontes
BOSTON
Já é tarde demais para o Brasil ter papel relevante na Estação Espacial Internacional (ISS). Pode ser usuário, mas só se tiver “bons projetos” para propor. É assim que John Logsdon, membro do Comitê de Conselho da Nasa, avalia as perspectivas do País de eventual envolvimento com os trabalhos da ISS. Não há razão para desistir de cooperação futura, porém. “O Brasil está com o olho roxo, mas não foi nocauteado.” Abaixo, trechos da entrevista concedida ao Estado.
O Brasil entrou para o projeto de construção da ISS há dez anos e nunca construiu uma única peça. Seria justo classificar a participação do País como um fracasso?
Acho que sim. O País mostrou entusiasmo, mas não cumpriu nenhum dos compromissos que assumiu. Depois deu meia volta e decidiu fazer o vôo do astronauta (Marcos Pontes) com a Rússia.
A avaliação do Brasil era de que Pontes não teria mais chances de voar com a Nasa por causa dos atrasos causados com a tragédia da Columbia.
O vôo de um astronauta brasileiro estava diretamente ligado ao cumprimento dos compromissos na ISS. Certamente, o não-cumprimento dessas obrigações e a redução dos vôos após o acidente com a Columbia tornaram pouco provável que (Pontes) conseguisse voar. Mas, ainda assim, foi uma certa surpresa para os Estados Unidos saber que o Brasil tinha recursos para pagar à Rússia por um vôo, mas não para financiar as contribuições que prometera para a ISS.
A opção pelo vôo pago com a Rússia foi bastante criticada no Brasil, inclusive dentro da comunidade científica. Alguns chegaram a comparar Pontes a um turista espacial. O senhor concorda com isso?
Sim. Ele esteve na estação apenas por alguns dias, fez apenas algumas coisas... (pausa) Pensando bem, talvez isso seja injusto. Até o lançamento da ISS, a maioria dos astronautas passava cerca de uma semana no espaço, então sua experiência não foi tão diferente do que ocorria nos anos 80 e 90. Mas, basicamente, ele esteve na estação como um visitante.
O que o Brasil pode fazer para recuperar seu prestígio na ISS?
Acho que já é tarde demais para fazer qualquer coisa, a não ser se tornar um usuário da estação por meio de experimentos. A ISS será um laboratório aberto a todos os usuários, e, se os cientistas brasileiros tiverem bons projetos para propor, o País poderá participar dessa maneira. Mas certamente é tarde demais para propor qualquer tipo de equipamento, mesmo peças modestas, como o palete expresso (que fazia parte do contrato original do Brasil).
Para um país como o Brasil, com recursos limitados e graves problemas sociais, quais devem ser as prioridades de um programa espacial?
O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE, programa brasileiro) é bastante claro em suas prioridades, que são observação da Terra, telecomunicações e capacidade de lançamento. Não há nenhuma menção a vôos tripulados ou de participação em projetos de exploração espacial. Acho que a ênfase nesses benefícios para a sociedade brasileira é inteiramente apropriada, e é nessa direção que a maior parte dos recursos deve ser alocada.
E quanto a outras missões espaciais, além da ISS?
A discussão sobre participar em explorações além da órbita da Terra deve ser secundária, mas não zero. Nesse momento, a Nasa está discutindo projetos de exploração com 12 outras agências espaciais (Alemanha, França, Inglaterra, Rússia, China, Canadá, Índia, Ucrânia, Austrália, Coréia, Itália e Japão), e os únicos dois países que não participam são Brasil e Israel. Me parece que seria do interesse do Brasil, ao menos, participar das discussões. Afinal de contas, se a previsão de o País se tornar uma potência industrial nas próximas décadas estiver correta, acho que o Brasil vai querer ter um programa espacial completo.
E o Brasil seria bem-vindo nessas discussões, mesmo depois do que aconteceu na ISS?
Acho que sim. O Brasil está com um olho roxo, mas não foi nocauteado. Os Estados Unidos reconhecem a importância estratégica do Brasil no hemisfério e não vão tomar atitudes que possam empurrar o País na direção da China, Rússia ou outros potenciais adversários futuros.
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Em 2003, participou do comitê de investigação do acidente com o ônibus espacial Columbia
Na área acadêmica, é professor e historiador de políticas espaciais
Como membro do Comitê de Conselho da Nasa, atua ao lado de especialistas que apóiam a administração da agência espacial americana
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Re: Brasil na Estação Espacial Internacional (ISS)
Este tipo de declaração da AEB é que me faz ficar absolutamente descrente no futuro do programa espacial brasileiro.suntsé escreveu:Procurada pela reportagem, a AEB não negou as declarações de Logsdon. Em vez disso, anunciou planos para uma parceria ainda mais ampla com a Nasa. “A Agência Espacial Brasileira e o Itamaraty estão iniciando negociações com a Nasa e o Departamento de Estado Norte-Americano para uma nova etapa no relacionamento de cooperação entre Brasil e Estados Unidos, que teve, em certo momento, um abalo por conta do problema da participação americana em Alcântara (veto do Congresso Nacional ao possível acordo de utilização americana da base)”, informou a agência, por meio de sua Assessoria de Comunicação.
“O interesse da AEB não é de participação apenas no projeto da ISS, mas de uma cooperação bem maior, abrangente. Que poderá até incluir a ISS, mas deverá ter um escopo maior. Brasil e EUA têm se aproximado mais ultimamente e os termos de um novo acordo podem ser mais amplos”, conclui a nota.
É evidentemente uma declaração inspirada pela pior espécie de animal político, que fala qualquer abobrinha e promete as coisas mais mirabolantes porque simplesmente não tem nenhum compromisso em cumprir com aquilo que promete. Nem sequer planos para coisa alguma eles podem apresentar, a não ser o já lastimável VLS, cujo projeto era para a década de oitenta do século passado! E o governo ainda coloca em documentos oficiais que a tecnologia espacial é prioridade para o desenvolvimento nacional.
Piada triste!
Leandro G. Card