Agora só falta pedir apoio aos EUA
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Gaddafi afirma que revolta na Líbia é liderada pela Al Qaeda
ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, afirmou nesta quinta-feira, em discurso transmitido pela emissora de TV estatal, que a revolta popular na Líbia pelo fim de seu regime de quase 42 anos não é liderada pelo povo, e sim pela rede terrorista Al Qaeda cujo líder, Osama bin Laden, está enganando os jovens que saem às ruas para "destruir" e "sabotar".
"Bin Laden [...] é o inimigo que está manipulando o povo", afirmou Gaddafi por telefone. "Não sejam persuadidos por Bin Laden."
Como no discurso realizado na última terça-feira, o ditador líbio pediu para que os "irmãos e mães" peçam para seus irmãos e filhos que voltem para casa, porque "a normalidade deve voltar ao país".
Segundo ele, os manifestantes agem sob o efeito de drogas e álcool.
Gaddafi afirmou que a Líbia não é como o Egito e a Tunísia onde, após dias, os protestos conseguiram derrubar seus ditadores. "Aqui o poder está em suas mãos, é um sistema diferente", afirmou. "Se você quiser mudar o governo, a escolha é sua."
O ditador defendeu novamente que os manifestantes devem ser punidos e levadas a julgamento. "Isso é inaceitável, é inacreditável."
No discurso, Gaddafi pediu para que a população líbia vá às ruas do país e tomem as armas dos manifestantes, que agora controlam uma grande parte do país. "A Constituição é muito clara: tomem as armas deles."
"Eu só tenho autoridade moral", afirmou. Gaddafi tradicionalmente tenta se apresentar como líder de uma revolução que é liderada pelo povo, ao invés de um tradicional mandatário.
O novo discurso do ditador líbio ocorre no mesmo dia em que unidades do Exército e mercenários leais a ele revidaram contra manifestantes antirregime, atacando uma mesquita onde muitos haviam procurado refúgio e um pequeno aeroporto regional.
Os ataques objetivam acabar com a rebelião, que já chegou perto ao bastião de Gaddafi na capital, Trípoli. Os opositores já conseguiram tomar o controle de quase toda a metade leste do território líbio e algumas cidades do oeste, mas a repressão cobra suas vítimas: ao menos 640 pessoas morreram na Líbia desde 14 de fevereiro, segundo a Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH).
O número representa mais que o dobro do balanço oficial do governo líbio de 300 mortos. A FIDH menciona 275 mortos em Trípoli e 230 na cidade de Benghazi, epicentro dos protestos.
No último golpe contra o ditador, um de seus primeiros que é também um de seus mais próximos auxiliares, Ahmed Gaddafi al Dam, anunciou ter ido para o Egito em protesto contra a sangrenta repressão do regime contra a revolta, denunciando o que ele chamou de "graves violações aos direitos humanos e a leis humanas e internacional".
Na cidade de Zawiyah, 50 quilômetros a oeste de Trípoli, uma unidade do Exército atacou uma mesquita onde manifestantes vinham acampando dentro e do lado de foram por diversos dias, pedindo a renúncia de Gaddafi. Os soldados abriram fogo com armas automáticas e atingiram o minarete do prédio com mísseis antiaéreos.
Segundo uma testemunha, houve mortes, mas era impossível dizer o número exato. Ele disse que, um dia antes, um enviado de Gaddafi havia ido à cidade e alertado os manifestantes: "Ou vocês saem ou irão ver um massacre". Zawiyah é uma importante cidade localizada nas proximidades de refinarias de petróleo.
"O que está acontecendo é horrível, aqueles que nos atacaram não eram mercenários, são filhos do nosso país", disse a testemunha, completando que, após o ataque, milhares dirigiram-se à principal praça da cidade gritando "saia, saia", em referência à Gaddafi.
"As pessoas vieram para enviar uma mensagem clara: não estamos com medo da morte ou de suas balas. Esse regime irá se arrepender disso. A história não irá perdoá-los."
Durante seu discurso, Gaddafi afirmou que os relatos sobre Zawiyah são uma farsa. "Homens sãos não entram em tal farsa", disse o ditador. "Vocês em Zawiyah esconderam Bin Laden", afirmou. "Eles [os homens de Bin Laden] lhes deram drogas."
MISRATA
O outro ataque ocorreu em um pequeno aeroporto próximo à Misrata, a terceira maior cidade líbia, onde opositores assumiram o controle na quarta-feira. Nesta quinta, mercenários atacaram moradores que estavam protegendo o aeroporto, abrindo fogo com granadas e morteiros, segundo uma pessoa que assistiu ao ataque.
"Eles deixaram pilhas de restos humanos e um pântano de sangue", afirmou. "Os hospitais estão lotados com os mortos e feridos", completou, sem dar número exato de vítimas.
Antes do ataque terminar, antes do meio-dia, outro morador de Misrata afirmou que a rádio local --agora nas mãos da oposição-- pediu à população que marchasse até o aeroporto em apoio aos manifestantes.
As duas testemunhas afirmaram que os rebeldes continuam controlando a cidade, localizada 200 quilômetros a leste de Trípoli. Eles --assim como outras testemunhas na Líbia-- falaram sob condição de anonimato por temor de represálias.
A repressão de Gaddafi, até agora, tem ajudado o ditador a manter o controle em Trípoli, uma cidade que tem um terço dos 6 milhões de habitantes da Líbia. mas a revolta dos manifestantes, apoiados por unidades militares que desertaram e se juntaram a eles, tem dividido o país e ameaçado jogá-lo em uma guerra civil.
O primo do ditador, Gaddafi al Dam, é uma das deserções dos mais altos níveis que o regime enfrentou até agora, após muitos embaixadores, o ministro da Justiça e o do Interior terem ido para o lado dos manifestantes.
O primo pertencia ao círculo íntimo de Gaddafi, sendo oficialmente sua ligação com o Egito, mas também servia como enviado do líder líbio a outros países e frequentemente aparecia do seu lado.
Em um comunicado divulgado no Cairo nesta quinta-feira, Gaddafi al Dam disse que deixou a Líbia "em protesto e para mostrar discordância" com a repressão.
EUA SOBEM O TOM
Nesta quarta-feira, em um breve discurso em Washington, o presidente dos EUA, Barack Obama, voltou a condenar os atos "ultrajantes" de violência do regime do ditador Muammar Gaddafi contra os civis e disse que seu país estuda várias medidas contra a Líbia --desde sanções unilaterais até ações conjuntas com outras nações.
O presidente americano condenou fortemente o "banho de sangue inaceitável" que ocorre no país após os repetidos ataques militares contra a própria população e disse que o mundo precisa "falar com uma só voz".
Obama destacou ainda que os protestos na Líbia e na região são gerados pelo próprio povo e que não têm influência alguma de Washington ou de qualquer outro país e destacou uma frase de um líbio como emblemática para caracterizar os motivos das revoltas: "só queremos viver como seres humanos".
Entre as medidas concretas que o governo americano já tomou em reação à crise estão o alerta às suas embaixadas e consulados para dar total assistência aos americanos que tentam deixar a Líbia; o envio do sub-secretário do Departamento de Estado, Bill Burns, a diversos países da região e da Europa para debater as revoltas; e a presença de Hillary Clinton em Genebra na segunda-feira (28) para debater uma "ação multilateral" junto a outros países que integram o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.