Naval
31 janeiro 2011
Cresce procura por marinheiros no País
INDÚSTRIA NAVAL Aquecimento do setor naval ampliou a demanda por marítimos. Hoje, quem conclui o curso já sai com vaga assegurada
Leonardo Spinelli
O mercado de trabalho para os marítimos no Brasil vive um cenário de pleno emprego, seja em nível básico, técnico ou superior. Quem afirma é a Transpetro, subsidiária da Petrobras da área logística, uma das principais empregadoras de aquaviários no País e que tem em seus planos contratar 1.700 marítimos até 2013 por meio de concursos públicos. De acordo com a companhia, todas as pessoas que se formam como marinheiros ou oficiais de navios mercantes saem com emprego garantido numa das inúmeras operadoras de cargas atuantes no mercado.
“O aquecimento do setor naval brasileiro é decorrente, sobretudo, do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef). Criado em 2004, o programa revitalizou a indústria naval com a encomenda a estaleiros nacionais de 49 navios que serão entregues até 2015. O cenário brasileiro é de aumento da exploração e produção de petróleo, com o desenvolvimento dos campos do pré-sal, o que demandará mais navios, sondas, plataformas e barcos de apoio”, diz a empresa em nota. Tudo isso sem falar da maior movimentação de cargas em contêineres ou grãos, decorrentes do crescimento da economia.
“A maior demanda por navios e o estímulo do pré-sal vem repercutindo na formação de mão de obra e a Marinha está se preparando para isso, ampliando a sua capacidade de formação”, diz o capitão de fragata Anderson de Castro, diretor da Escola de Aprendizes Marinheiros, instalada em Olinda. A escola, no entanto, não forma pessoal para Marinha mercante, e sim soldados da Marinha que têm interesse em seguir na carreira militar. Castro informa que o mercado civil não procura soldados marinheiros para suas embarcações.
O cenário, portanto, é benéfico para quem pretende entrar neste mercado de trabalho, que oferece carreiras com salários de até R$ 8.000 para pessoas com o 9º ano (antiga 8ª série) e este mesmo valor, em início de carreira, para quem tem nível médio.
Antes de ser marinheiro, o aluno faz um curso de três meses, oferecido pela Capitania dos Portos, e sai como moço de convés e ou de máquinas. As empresas do setor de navegação contratam este tipo de profissional por salários entre R$ 1.500 e R$ 2.500. Depois de um ano de tempo de embarque e cursos online de aperfeiçoamento, o profissional já está apto a ser reconhecido como marinheiro, que pode tirar rendimentos perto dos R$ 5.000. A partir daí, com mais estudos complementares de qualificação a carreira vai a contramestre (até R$ 6.000) e finalmente mestre de convés ou máquinas, com salários a partir de R$ 6.500.
Quem possui cursos paralelos, como de cozinheiro e garçom (taifeiros na linguagem marítima) pode ter um salário de entrada acima dos R$ 2.500, apesar de ter pouca possibilidade de crescer se continuarem nestas funções específicas. Na área de enfermagem a remuneração pode pular para R$ 4.500 iniciais.
Mesmo com remunerações atraentes, o candidato tem de ter na cabeça que o serviço em navios vai exigir uma conta alta em troca. “É uma vida de abnegação. O profissional pode passar meses fora de casa e quando volta muitas vezes nem reconhece o filho. Por isso, muita gente não aguenta e vai fazer outra coisa”, alerta o capitão de corveta Ailton Deodato, comandante responsável pelo Ensino Profissional Marítimo da Capitania dos Portos de Pernambuco. “Por outro lado, muita gente passa um período e consegue juntar uma poupança e sai para investir num negócio próprio.”
A mudança de vida, aliás, já começa logo após os três meses de curso de formação. De acordo com o comandante Deodato, uma pequena parte dos formados em Pernambuco conseguem emprego no Recife. A maioria tem de se mudar para Vitória do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santos e Itajaí, em Santa Catarina, principais demandadores de mão de obra para navios no Brasil. “Dos 70 profissionais que formamos anualmente em Pernambuco, nem 15 deles conseguem emprego no Recife. Acredito, ainda, que este cenário não deverá mudar no curto prazo”, diz o militar. Ou seja, para quem quer encarar os mares, o primeiro passo é dar adeus a sua terra.
Isso, no entanto, não significa fazer uma aposta no escuro. Os sindicatos dos aquaviários mantêm estruturas para abrigar marinheiros em alojamentos nesses locais, até o emprego garantido. De forma geral, a rotina de trabalho dos profissionais de mar começa cedo, às 6h30, hora da alvorada, quando acordam para tomar café e depois passar o dia na manutenção do convés e das máquinas, transporte de cargas e outras atividades. Num paralelo com o mercado em terra firme, seriam as funções de serviços gerais de um edifício condominial.
Marinha nega risco de apagão
A Marinha do Brasil é a única instituição que pode formar marinheiros e oficiais de Marinha mercante no País. Para 2011, a instituição planeja formar 500 oficiais e cerca de 3.000 profissionais em funções operacionais de navios e a previsão para 2012 é de 900 oficiais.
A instituição forma o pessoal em compasso com a demanda de mercado e não há risco de haver apagão de mão de obra no setor. Segundo a Transpetro, tanto as empresas do setor como sindicatos de marítimos e armadores nacionais, em conjunto com a Marinha, se uniram ao governo federal “para promover a ampliação e melhorias para os dois centros de formação existentes no País: Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga), no Rio de Janeiro, e o Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar (Ciaba), no Pará.”
As duas escolas são as responsáveis pela formação dos oficiais de convés ou de máquinas, na Marinha mercante, que vão comandar toda a tripulação do navio. Nesta carreira o profissional pode chegar a comandante de navio, em cargos como capitão de longo curso, que dependendo de suas qualificações pode receber salários acima de R$ 20 mil.
Esses cargos são destinados a pessoas com o nível médio completo. Os cursos têm duração de três anos, mais um de estágio e assim como nas funções de marinheiro, o profissional formado sai com emprego praticamente garantido. Nesse caso, os alunos recebem ajuda de custo e têm alimentação e moradia bancadas pelas escolas. A lógica de a Marinha ser a responsável pela formação da mão de obra civil é que os profissionais do mar são da reserva. Ou seja, em caso de guerra, eles são os primeiros convocados.
Aqueles que pretendem trabalhar em navios de passageiros também têm de fazer cursos específicos de não tripulante. Duas empresas no Recife são credenciadas pela Marinha para capacitar este pessoal, e cobram, na média R$ 800 pelo curso. São elas o grupo Gurevich e a Soamar.
http://www.defesanet.com.br/11_01/11013 ... eiros.html