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por FOXTROT » Sáb Jan 29, 2011 6:30 pm
terra.com.br
Mubarak nomeia vice; multidão desafia toque de recolher
29 de janeiro de 2011
O presidente do Egito deu os primeiros sinais no sábado de que está se preparando para uma possível transferência do poder, ao nomear um vice-presidente pela primeira vez em 30 anos, após os protestos que abalaram o Estado.
A decisão de Hosni Mubarak de apontar Suleiman, seu chefe de Inteligência e confidente, como o seu braço direito é a primeira indicação de que o líder de 82 anos de idade planeja sua sucessão e pode sugerir que ele não deverá concorrer nas eleições marcadas para setembro.
Ainda não está claro, entretanto, se ele conseguirá permanecer no poder até lá. Muitos acreditam que o Exército seja a chave para sua permanência.
Até o início de cenas inéditas de rebeldia popular e caos nos últimos cinco dias em todo o país, autoridades sugeriam que Mubarak ou seu filho, Gamal, de 47 anos, iriam concorrer. Isso agora parece impossível.
Suleiman, de 74 anos, tem um papel central em assuntos-chave, incluindo o processo de paz palestino-israelense, uma questão vital para o relacionamento do Egito com seu principal doador, os Estados Unidos.
Alguns manifestantes, cujas ações forçaram Mubarak a enviar o Exército às ruas, não ficaram felizes com uma decisão que parece destinada a assegurar a manutenção do poder nas mãos de instituições militares e de segurança.
"Ele é como Mubarak, não há mudança," disse à Reuters um manifestante em frente ao Ministério do Interior, onde milhares de pessoas protestavam, momentos após a nomeação.
A nomeação de Ahmad Shafiq como primeiro-ministro —que como o próprio Mubarak é um ex-comandante da Força Aérea— também indica a intenção de responder às reivindicações do público com mudanças limitadas em termos de pessoal. A decisão de Mubarak, na sexta-feira, de demitir ministros, não conseguiu impressionar os manifestantes.
O presidente do Parlamento teria dito não haver planos para atender aos pedidos de eleições antecipadas.
Para alguns, no entanto, nomear Suleiman representa um alívio depois de milhões entrarem em pânico com a desintegração da segurança no Egito, com manifestantes rasgando fotos de Mubarak e incendiando prédios do governo.
"Estou muito feliz. Sinto que essa é uma mudança e as pessoas serão felizes. Eles queriam alguma coisa, eles querem sentir que podem fazer a diferença," disse Effat Abdul-Hamid, um guarda de segurança privada.
"Este é um passo na direção certa, mas eu tenho medo que seja tarde demais," disse Hassan Nafaa, da Universidade do Cairo, acrescentando que muito depende da performance de Suleiman, como um alto representante das Forças Armadas, em suavizar a partida de Mubarak.
"O público não será convencido por Omar Suleiman neste momento, a menos que Omar Suleiman fale com as pessoas e mostre haver um novo sistema, que Mubarak transferiu o poder a ele, que os militares estão controlando a situação e que há um programa para uma transição democrática ", disse Nafaa.
EXÉRCITO
Nas ruas do Cairo, soldados contiveram manifestantes que atacaram um prédio do governo central. Mas em outras partes da cidade, as tropas não tomaram nenhuma atitude contra as pessoas que ficaram nas ruas mesmo após o toque de recolher determinado para as 16h locais (12h de Brasília).
Um grupo de 50 pessoas se aproximou de um cordão militar com a faixa "O Exército e Povo juntos." Soldados permitiram a passagem do grupo. "Há um toque de recolher," disse um tenente. "Mas o Exército não vai atirar em ninguém."
Os manifestantes, muitos deles jovens estudantes pobres das cidades, estão enfurecidos com os índices de pobreza, corrupção e desemprego, bem como a falta de democracia na nação árabe mais populosa.
A agitação, que segue a derrubada do ditador tunisiano Zine al-Abidine Ben Ali há duas semanas em uma revolta popular, repercutiu em todo o Oriente Médio, onde outros governantes autocráticos podem enfrentar desafios semelhantes.
No sábado, milhares de pessoas se reuniram na praça central do Cairo, com bandeiras egípcias, entoando: "O povo exige que o presidente seja levado a julgamento." A cena contrastava com as imagens da sexta-feira, quando a polícia disparou gás lacrimogêneo e balas de borracha, enquanto manifestantes atiravam pedras. Os edifícios governamentais, incluindo a sede do partido no poder, foram incendiados pelos manifestantes.
Em Alexandria, a polícia usou gás lacrimogêneo e balas reais contra os manifestantes no início do sábado. Os protestos continuaram na cidade portuária, após o toque de recolher, disseram testemunhas.
De acordo com uma contagem da Reuters, ao menos 74 pessoas foram mortas durante a semana. Fontes médicas disseram que ao menos 1.030 pessoas ficaram feridas no Cairo.
Confrontos ocorreram também em Suez, perto do terminal leste do canal que liga a Europa e a Ásia.
Mubarak está no poder desde o assassinato de Sadat em 1981 por soldados islâmicos. Ele prometeu atender as queixas dos egípcios em um discurso televisionado na sexta-feira.
Até agora, o movimento de protesto parece não ter um líder claro ou organização. O ativista Mohamed ElBaradei, Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho com a agência nuclear da ONU, retornou ao Egito da Europa para se juntar aos manifestantes. Mas muitos egípcios sentem que ele não passou tempo suficiente no país.
A Irmandade Muçulmana, um grupo de oposição islâmico, também está em segundo plano.
"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.