WalterGaudério escreveu:Senhores, apenas um ponto de vista( o meu) sobre a questão das escoltas.
Apesar de saber que a MB não tem planos para navios de porte menor do que os de 6000t, sou partidário de que deveríamos investir na construção de uma classe de navios, corvetas maiores que a Barroso(o projeto Barroso NÃO TEM MAIS potencial de crescimento) de cerca de 3000-3500t, mas que possuíssem potencial de crescimento. Neste caso a idéia central era dispensar a ajuda estranjeira em larga escala, no máximo contratando consultoria externa, no que coubesse, sempre capacitando mais e mais nossa mão-de-obra. Nós primeiro construiríamos, uns 2 navios de 3000-3500t aprox. e depois cerc,a de 4 maiores, já com 4000-4500t(pelo menos), e aí, o passo seguinte seria a construção de um novo projeto já com as 6000t. Até chegar lá, no entanto, teríamos que encomendar umas 12 FREMM italianas ou franceses, para substituir os meios de escolta existentes.
Insisto nessa postura de fazer aqui, não por algum orgulho besta, do tipo "nós fazemos NESESSARIAMENTE SEM AJUDA DE NINGUÉM",mas PRINCIPALMENTE pela questão dos custos. Afinal uma FREMM parece se aproximar ( a unidade) dos 700 milhões de Euros cada. Uma unidade de porte semelhante construída no Brasil talvez pudesse ser cotada em cerca de 500/600 mi..., bem é isso que eu penso, gostaria de ouvir críticas.
Caro Walter,
Concordo totalmente com sua idéia, mas por motivos diferentes do simples custo. Afinal, no caso das FREMM o que vejo é que estaríamos comprando basicamente O PROJETO, e a maioria dos navios seriam de qualquer forma construídos aqui, com custos menores que os praticados na Europa. Apenas para viabilizar a compra do projeto é que alguns navios (a menor quantidade possível) seriam encomendados diretamente, mesmo que com construção local.
Mais importante que o custo, a importância de desenvolvermos os nossos próprios projetos estaria na possibilidade de desenvolvermos nossas próprias doutrinas de emprego dos meios flutuantes deste tipo, ao invés de adaptá-las ao que é possível quando se utiliza projetos estrangeiros. No caso das FREMM por exemplo, elas foram projetadas por nações interessadas principalmente em lutas contra inimigos menos capazes que as suas próprias nações de origem, com a função básica de proteger interesses destas nações em áreas distantes do mundo, enfrentando as forças de países sub-desenvolvidos e emergentes (e geralmente em coalizão com forças mais poderosas, como as dos EUA). Isto fica patente na escolha do tipo e quantidade de armamentos utilizados nestes barcos. Já Brasil tem como principal preocupação a nossa própria defesa contra forças estrangeiras que tenham potencial de ameaçar nossas riquezas marinhas ou nossas rotas de comunicação. Neste caso os inimigos tenderiam a ser potências importantes, e para enfrentar suas forças os navios de MB teriam que possuir capacidades bélicas muito maiores que o previsto no projeto original destes navios, exigindo adaptações cujo resultado não é garantido de antemão. Um exemplo claro é o já comentado interesse da MB em equipar seus navios de primeira linha com mísseis maiores que os atuais (Klub, Brahmos, etc...), que provavelmente não encontrariam espaço nas FREMM a menos que o projeto destas sofresse modificações profundas. O mesmo vale para a defesa antiaérea de tubo, para o canhão principal, etc... .
Já com o desenvolvimento de projetos locais os navios poderiam incorporar quaisquer características desejadas pela MB que fossem decorrentes da avaliação das ameaças potenciais atuais e futuras, e ser assim mais adequados a quaisquer funções que nossa marinha pretender que executem. Isto sem dúvida embute o risco inerente ao desenvolvimento de quaisquer projetos novos, mas a construção em classes sucessivas relativamente pouco numerosas como você imagina é exatamente a forma de minimizar estes riscos.
Além disso, com a pretensão da MB em operar até 30 escoltas teríamos que, se considerarmos uma vida-útil de cada navio na faixa de 40 anos (período na minha opinião até maior do que o recomendável), estar constantemente construindo novos navios e lançando-os à taxa de um novo a cada 1,33 anos apenas para manter constante o número de embarcações. Vamos então construir séries enormes de navios (12, 15 ou mais) e ficar comprando projetos novos a cada 20 anos, como estamos fazendo hoje? Ou pior ainda, vamos construir 30 navios iguais, sendo que os últimos já sairão dos estaleiros defasados 40 anos com relação à tecnologia corrente? Não me parece que isto seja um procedimento adequado para uma marinha que quer se tornar realmente moderna.
Infelizmente, dada a descontinuidade do projeto e construção locais nos últimos 30 anos (sem contar a Barroso, que foi um caso à parte e cujo conceito já está ultrapassado) hoje não temos mesmo opção senão adquirir alguns navios de um projeto já existente e testado para substituir os da nossa frota que estão chegando ao limite de sua vida útil. Mas iniciar em paralelo um programa como o que você mencionou me parece até mais importante para o futuro da MB do que a aquisição de navios modernos agora, que menhoraria o nível geral de nossa frota mas não quebraria os ciclos que a MB tem seguido ao longo de toda a sua história, de passar por curtas fases de atualização de meios seguida por longos períodos de obsolescência lenta mas inexorável.
Um grande abraço,
Leandro G. Card