Os Depoimentos.
Não há melhor descrição dos horrores da guerra que uma descrição de uma testemunha ocular. O soldado alemão, Paul Hub escreveu para sua namorada:
Tenho visto um bocado da miséria da guerra... Maria, este tipo de guerra é tão, indizívelmente, miserável. Se apenas você visse uma linha de padioleiros com suas cargas, saberia o que eu quero dizer. Ainda não tive chance de atirar. Estamos tendo de lidar com um inimigo invisível... Cada dia traz novos horrores... Cada dia a luta fica mais feroz e ainda não há nenhum fim à vista. Nosso sangue está fluindo em torrentes... É assim que as coisas são. Tudo ao meu redor, a mais medonha devastação. Soldados mortos e feridos, animais mortos e moribundos, corpos de cavalos, casas incendiadas, campos destruídos, carros, roupas, armamentos - tudo está espalhado a minha volta, uma bagunça real. Eu não pensava que a guerra seria como isto. Não podemos dormir por cauda do barulho.
A viúva polonesa, Helena Jablonska escreveu em seu diários:
Vastos números de feridos estão sendo trazidos. Muitos deles morrem de grave perda de sangue, mas o índice de mortes não seria nem metade não fosse pelo cólera. Ele está se espalhando tão rápido que os casos superam os de feridos e mortos em batalha. Tudo está infectado: carroças, macas, quartos, alas, ruas, propriedades, lama, tudo. Soldados caem em batalha, onde é impossível remover os corpos e desinfetá-los. Eles nem se importam.
O médico austríaco Josef Tomann escreve em seu diário:
A fome está aumentando. Fíguras pálidas, abatidas, vagueiam como cadáveres, pelas ruas, suas roupas esfarrapadas pendendo de corpos esqueléticos, suas faces petrificadas, um retrato de completo desespero... Um número aterrorizante de pessoas está sofrendo de desnutrição; os famintos chegam às dezenas, soldados enregelados são trazidos dos postos avançados, todos eles como cadáveres ambulantes. Eles jazem, silenciosos, em seus frios leitos de hospital, sem fazer reclamações e bebem água lamacenta, que chamam de chá. No dia seguinte são levados para o necrotério. A visão destas lamentáveis figuras, cujas esposas e filhos, provavelmente, estão passando fome em casa, constrange o coração. Isto é a guerra.
O oficial alemão Ernst Nopper escreve em seu diário:
Há cadáveres por toda parte que se olhe. As aldeias estão completamente destruídas. Os campos estão cobertos com tantas covas que parece como se toupeiras estivessem trabalhando. Há buracos de granadas em toda parte.
O oficial sérvio Milorad Markovic escreve em seu diário:
Eu lembro de coisas espalhadas por todo canto: cavalos e homens, tropeçando e caindo no abismo; ataques albaneses; hostes de mulheres e crianças. Um médico que não tratou do ferimento de um oficial; soldados que nem se importavam em puxar um camarada ou oficial ferido. Pertences abandonados; fome; vadeando através de um rio, agarrados às caudas dos cavalos; velhos, mulheres e crianças, escalando rochedos; pessoas moribundas nas estradas; um crânio humano esmagado na estrada; um cadáver, só pele e ossos, roubado, despido, mutilado; soldados, policiais, civis, mulheres, cativos. Soldados como fantasmas, magros, pálidos, exauridos, olhos fundos, cabelos e barbas compridos, roupas em farrapos, quase nus, descalços. Fantasmas de pessoas implorando por pão, caminhando apoiados em varas, os pés cobertos de feridas, estarrecedor. Caos; mulheres com roupas de soldados; as mães desesperadas daqueles exaustos demais para continuar. Um soldado esfomeado, que comeu pão demais e caiu morto. Soldados vendendo tudo e qualquer coisa por pão; sua arma, roupas, sapatos, botas, casacos, bolsas dos cavalos, selas, cavalos.
O soldado russo Vasily Mishnin escreve para sua esposa grávida:
Fomos no depósito pegar nossos fuzis. Bom Deus, o que era aquilo? Eles estavam cobertos de sangue, grumos coagulados e escuros dele, pendendo das armas... Era assustador mesmo sentar ou deitar aqui - o fuzil está tremendo nas minhas mãos. Minha mão atinge alguma coisa escura: ocorre que há cadáveres aqui que não foram ainda retirados. Meu cabelo fica em pé. Eu tenho de sentar. Não há sentido em contemplar ao longe - está escuro como breu. Tudo que posso sentir é medo. Estou tão assustado com as granadas que gostaria que o chão se abrisse e me engolisse... De repente, um ruído agudo perfura o ar, sinto um solavanco no coração, alguma coisa passa assobiando explode perto. Santo Deus, estou tão apavorado - e eu escuto isto zunindo nos meus ouvidos. Eu deixei meu posto e subi no meu abrigo. Ele está abarrotado, todo mundo está tremendo e perguntando, de novo e de novo: "O que está acontecendo? O que está acontecendo?" Uma explosão se segue a outra, e outra. Dois rapazes estão correndo, gritando pelas enfermeiras. Eles estão cobertos de sangue. Ele escorre pelas suas faces e mãos, e alguma coisa mais está escorrendo por debaixo de suas bandagens. Logo, eles estão mortos, feitos em pedaços. Há gritos, urros, a terra está tremendo pelo fogo de artilharia e nosso abrigo está balançando de um lado para outro, como um barco... Provavelmente, nunca mais vamos nos ver - tudo que é preciso é um instante, e eu deixo de existir - e talvez ninguém possa juntar os pedaços espalhados do meu corpo para enterrar... Um zepelin atacou Ostrow de noite, e lançou umas poucas bombas, muitos mortos. Uma mulher e suas duas crianças foram feitos em pedaços que voaram com o vento.
O cabo australiano George Mitchell escreveu em seu diário:
E, novamente, eu escutei o doentio ruído do impacto de uma bala. Eu olhei para ele, em horror. A bala tinha, medonhamente, esmagado seu rosto e saído pela garganta, deixando-o mudo. Mas seus olhos eram assustadores de se olhar. Agora, ele se contorcia em agonia. Não havia nada que eu pudesse fazer por ele, exceto rezar para que morresse depressa. Levou cerca de vinte minutos para isto acontecer, e nesta altura, ele cruzou as pernas, de dor e ficou rígido. Eu vi a cor de cera de vela se espalhar pelo seu rosto e a respiração parar.
O 2º tenente turco Mehmed Fasih escreveu em seu diário:
Embora continuasse a catar piolhos, ainda tinha mais - simplesmente, não posso me livrar deles e estou coçando todo. Meu corpo está coberto com manchas vermelhas e púrpuras... Quando, por fim, alcancei nossas trincheiras, encontrei uma grande poça de sangue. Ele estava coagulado e enegrecido. Pedaços de cérebro, osso e carne estão misturados nele.
O médico alemão Ludwig Deppe escreveu em seu diário:
Por trás de nós deixamos campos destruídos, depósitos saqueados, e, para o futuro imediato, a fome. Não somos mais agentes da cultura; nosso rastro está marcado pela morte, saque e aldeias evacuadas.
O capitão francês Paul Truffrau escreveu em seu diário:
Alcançamos a trincheira, aberta ao se ligar os buracos de granadas e ela fede à pântano e cadáveres decompostos. Água estagnada... o fedor de cadáveres por toda parte.
O oficial russo Dmitry Oskin escreveu em seu diário:
A batalha tornou-se tão feroz que nossos soldados começaram a usar pás para rachar os crânios dos austríacos. Este combate corpo-a-corpo durou, pelo menos, duas horas. Apenas o cair da noite parou a carnificina.
O oficial americano John Clark escreveu para sua namorada:
Eu estava, apenas, começando a ver o que a guerra realmente é... Fora do fogo inimigo, era uma terrível tensão sobre nossos homens, pois estávamos atirando noite e dia - num par de ocasiões, por dez horas, sem qualquer interrupção. Nós gastamos nosso tempo livre enterrando os mortos da infantaria que estavam espalhados em toda parte à nossa volta. Era um trabalho medonho, pois os corpos estavam jazendo no campo de batalha durante dois, três ou mais dias. Na crista, logo antes de nós, estavam tanques leves que tinham sido destroçados pelo fogo de artilharia alemão. Eles eram os mais medonhos de todos, pois os corpos estorricados de suas guarnições ainda jaziam dentro ou espalhados em volta deles.
O oficial austríaco anônimo escreveu suas últimas palavras em seu diário:
Os feridos gemem e gritam por suas mães. Você tem de tapar os ouvidos para isso... É o bastante para deixar você insano. Mortos, feridos, perdas massivas. Isto é o fim. Massacre sem precedentes, um banho de sangue horroroso. Há sangue por toda parte e os mortos e pedaços de corpos jazem espalhados por todo canto.
Segundo, apenas, aos horrores do campo de batalha, estão os daqueles que suportaram o cativeiro. O soldado russo Alexei Zykov escreveu em seu diário:
A fome não dá um momento de paz e você está sempre sonhando com pão: bom pão russo! Há consternação em minha alma quando vejo pessoas se atirando atrás de um pedaço de pão e uma colher de sopa. Nós temos de trabalhar muito duro também, sob os gritos e espancamentos dos guardas, a zombaria do público alemão. Nós trabalhamos do nascer do sol até o escurecer, suor se misturando com sangue; nós amaldiçoamos os golpes das coronhas dos fuzis; eu me pego imaginando sobre acabar com tudo isto, tais são os tormentos da minha vida no cativeiro! ... Então, existem aqueles de nós que comem cascas de batatas: eles as tiram do poço, lavam e fervem, comem e contam como são deliciosas. Alguns consideram a maior de todas as felicidades surrupiar comida do fosso onde os alemães jogam suas sobras.
Guerra e Estado.
A verdade do clássico enunciado de Randolph Bourne, "A guerra é a saúde do estado", pode ser vista por todos os trechos dos diários e cartas em Intimate Voices. Para fazer uma guerra funcionar - para fazer homens matarem outros homens que nunca os agrediram e que nem conhecem - o estado precisa fazer duas coisas: convencer homens a amar o estado e a odiar os membros de outros estados. A primeira está sempre envolta em patriotismo, e leva a aceitação do intervencionismo. A segunda está sempre oculta no nacionalismo, e leva ao ódio aos estrangeiros dentro do país de alguém. A escolar alemã Piete Kuhr escreveu em seu diário:
Na escola eles não falam de nada, agora, exceto a guerra. As garotas estão contentes que a Alemanha esteja entrando em campo contra sua velha inimiga, a França. Nós temos de aprender novas canções sobre a glória da guerra. O entusiasmo em nossa vila está crescendo a cada hora... As pessoas vagam pelas ruas, em grupos, gritando "Abaixo a Sérvia! Vida longa à Alemanha!" Turbas de pessoas estão nas ruas, rindo, desejando boa-sorte uns aos outros, e juntando-se para cantar o hino nacional... Santo Deus, só coloque um fim na guerra! Eu não a vejo mais como gloriosa, apesar dos "feriados escolares" e das vitórias... Na escola, todo mundo é tão favorável à guerra... Eles gritam tanto que o mestre-escola vê que escola patriótica ele tem... Todo mundo fala de escassez. A maioria das pessoas está comprando estoques tão maciços que seus porões estão explodindo. Vovó recusa-se a fazer isto. Ela diz que não quer privar a Pátria de qualquer coisa. Não somos especuladores. A Pátria não nos deixará passar fome... Para eles [o tio e a mãe] "a nação alemã" ainda é tudo. Caia com uma saudação à Pátria, e você morrerá como um heróis aos olhos deles.
O oficial alemão Ernst Nopper escreveu em seu diário:
No posto de fronteira nós entoamos o "Deutschland, Deutschland Über Alles"
O estudante francês Yves Congar escreveu em seu diário:
Eu só consigo pensar na guerra. Eu gostaria de ser soldado e lutar... Muito bem, se eles querem nos esfomear, vão ver quando, na próxima guerra, a próxima geração for até a Alemanha e esfomeá-los. Eles estão voltando o povo francês contra eles e estou feliz com isto. E nunca os odiei tanto... Os alemães, bestas, ladrões, assassinos e incendiários, é isso o que eles são, ateiam fogo em tudo... O comportamento dos boches na França é escandaloso. O saque que estão levando de volta para a Alemanha é inacreditável: eles tem o bastante para remodelar cada uma de suas vilas! Mas, um dia, vai ser a nossa vez: nós iremos lá e vamos roubar, queimar e saquear! É bom eles ficarem de olho aberto! Por quase toda a Alemanha eles estão quase tão infelizes como nós. Há fome em todas as grandes cidades: Berlim, Dresden e Bavária: espero que eles todos morram!
O soldado russo Alexei Zykov escreveu em seu diário:
Eles se vangloriam de que os governantes deles lhes enviam pão e pacotes de casa. Mas nós, russos, não ganhamos nada: nossa punição por lutarmos mal. Ou, talvez, a Mãe Rússia tenha esquecido de nós.
Klara, mãe de Rudolf Hess, escreveu para seu filho:
Naturalmente, eu sei que um armistício significaria seu retorno a salvo, meus filhos, mas o futuro de vocês e da Pátria seria construído sobre fundações frágeis... Seria covardia nossa, preocupar-nos com vocês. Ao invés, devemos estar orgulhosos que por meio de nossos filhos, estejamos lutando para a salvação da Pátria.
A viúva polonesa Helena Jablonska escreveu em seu diário:
Os judeus estão apavorados. Os russos os estão agarrando e dando-lhes o gosto do chicote. Eles estão sendo forçados a limpar as ruas e remover o esterco... O pogrom judaico está a caminho desde ontem à noite. Os cossacos aguardam até que os judeus saiam para a sinagoga, para sua preces, antes de cair sobre eles com os chicotes. Eles são surdos a quaisquer apelos, independente de idade... Dói em mim ouvir os alemães xingarem a Galícia. Hoje, ouvi dois tenentes se perguntando: "Por quê, diabos, devem os filhos da Alemanha derramarem seu sangue para defender este país de suínos? Nós, os poloneses, somos odiados por todo mundo, nesta misturada austríaca e estamos condenados a servir de presa para todos eles.
O africano Kande Kamara escreveu em seu diário:
Nós, soldados negros africanos, sentimos muito pesar pela guerra dos homens brancos. Nunca houve qualquer soldado no campo que soubesse por quê nós estávamos lutando. Não havia tempo algum para pensar nisto. Eu, realmente, não me importava sobre quem estava certo - se eram os franceses ou os alemães - eu fui para lutar pelo exército francês e isto era tudo o que eu sabia. A razão para a guerra nunca foi revelada para qualquer soldado. Eles não nos contaram como entraram na guerra. Nós, apenas, lutávamos até ficarmos exaustos e morrer. Dia e noite, nós lutávamos, e morríamos nós, o inimigo e todo mundo mais.
O cabo australiano George Mitchel escreveu em seu diário:
Um ferido turco contou-nos que considera os australianos como bestas encarnadas.
O praça britânico Robert Cude escreveu em seu diário:
Anseio por estar com o batalhão, para que eu possa fazer o melhor para atormentar uma família alemã. Eu odeio estes porcos... É uma visão maravilhosa que não vou esquecer. Uma guerra assim, num dia tão maravilhoso para mim parece muito correta e apropriada! ... Homens estão correndo para a morte certa, brincando, sorrindo e praguejando, ainda assim, maravilhosamente tranqüilos, em certo sentido, pois sente-se que é preciso matar, com tanta freqüencia quanto se possa.
O oficial austríaco anônimo escreveu em seu diário:
Desde ontem minha mente está atormentada pelo pensamento de muitos heróis austríacos que deram suas vidas defendendo a honra da Áustria e os Habsburgos, enquanto eu entretinha meus pensamentos de traição, tudo pelo amor de uma indigna mulher [italiana]. Estou revoltado comigo mesmo. Habsburgos, eu vivo por vocês e eu morrerei por vocês!... Aquele que dá sua vida pela Pátria e a honra dos Habsburgos deverá ser honrado e lembrado por toda a eternidade.
O oficial russo Dmitry Oskin escreveu em seu diários sobre seu apoio à forma suprema de intervencionismo estatal. Primeiro, ele registra parte de um discurso que ouviu ser pronunciado por Lenin, em apoio ao comunismo:
O ponto principal é que a terra deve ser tomada, imediatamente, dos seus donos e dada aos camponeses, sem indenização. Toda a posse da terra deve ser eliminada.
Então, ele acrescenta seus próprios comentários:
Nós, os soldados-camponeses, exigimos que a terra seja, imediatamente, decretada como propriedade comum. Ou seja, sendo tomada, imediatamente, dos seus donos e dada aos comitês agrários locais.
Religião na guerra.
Se há um momento quando homens ficam religiosos, com certeza, é no meio de uma guerra. O fenômeno da "religião de trincheira" é compreensível. O que é interessante, no entanto, são as idéias religiosas de alguns combatentes, quando vão para a guerra. Homens, de ambos os lados, acham que Deus está do lado deles. O 2º tenente turco, Mehmed Fasih, escreveu em seu diário:
Da retaguarda vêm, "Alá! Alá" - o grito de reunião de nossos soldados... Um de seus camaradas nos disse como Nuri contou a ele, quando chegaram, juntos à Frente: "Eu imploro que Deus permita que me torne um mártir!" Oh, Nuri! Sua prece foi atendida. Nós sepultamos Nuri. Foi a vontade de Deus de que fosse eu a ler o verso de abertura do Alcorão sobre ele.
O africano Kande Kamara escreveu em seu diário:
Vindo das origens de onde vim, de orientação muçulmana, a única coisa que você pensava era Alá, vida e morte... Fosse o que fosse que nós pensássemos era dedicado a Deus Todo Poderoso, apenas.
Esta atitude não era restrita aos muçulmanos. O oficial austríaco anônimo escreveu em seu diário:
Deus Amado, venha em nosso auxílio, pois lutamos em nome da Justiça, do Império e da Fé. Deus Amado, guie o vôo da águia dupla para que estas maravilhosas terras, que já pertenceram à Áustria, uma vez mais caiam sob a sombra de suas poderosas asas... Casos de cólera. Eis tudo o que precisávamos. Deus não está mais do nosso lado?... A Itália pagará por isto, pois o Senhor senta em julgamento no alto e grande é sua ira.
O estudante francês Yves Congar escreveu em seu diário:
Mas nós temos fé na França, e em Deus, e nos confortamos com o pensamento de que na Alemanha, eles estão quase tão infelizes quanto nós.
Klara, a mãe de Rudolf Hess escreveu ao seu filho:
Graças à Deus, São Miguel, [o santo padroeiro da Alemanha] finalmente tenha fibra para resistir firme até que nossos direitos à água e à terra tenham sido assegurados.
Mulheres em tempo de guerra.
Uma das grandes tragédias da guerra é o seu efeito desmoralizador sobre as mulheres, seja através da subjugação ou prostituição. O médico austríaco, Josef Tomann escreveu em seu diário:
E ainda há esse pessoal barrigudo do comissariado, que fedem a gordura e andam de braços dados com as mais notáveis damas de Przemysl, a maioria das quais (e isto não é exagero) se transformou em prostitutas da mais baixa ordem. Os hospitais tem recrutado meninas adolescentes como enfermeiras, em alguns lugares, mais de 50 delas! ... Elas são, com muito poucas exceções, completamente inúteis. Seu principal trabalho é satisfazer a luxúria dos cavalheiros oficiais e, vergonhosamente, de certo número de médicos, também... Novos oficiais estão chegando, quase diariamente, com casos de sífilis, gonorréia e cancro mole. Alguns tem todas as três de uma vez! As pobres meninas e mulheres sentem-se tão lisonjeadas quando recebem galanteios de um destes porcos pestilentos, com seus uniformes impecáveis, de botas e botões resplandecentes... Qualquer coisa que não possa ser transportada ou utilizada para pagar pelos serviços de uma prostituta, era queimada, para que os alemães não as pegassem quando viessem.
O oficial britânico, Richard Meinertzhagen escreveu em seu diário:
Todos os negros estão saqueando loucamente, sejam eles askaris ou carregadores. É difícil impedir os negros de currarem mulheres, porque eles as vêem como propriedade, igual à vacas ou cabanas.
O africano Kande Kamara escreveu em seu diário:
A única forma de ir até a vila era escapulindo do acampamento. Haviam algumas mulheres brancas que tinham colchões e camas, e convidavam você para seus quartos. De fato, elas tentavam manter você lá. Elas davam roupas, dinheiro e tudo mais. Quando o inspetor chegava, ele nunca via você, porque você estava escondido debaixo da cama daquela maravilhosa dama. Foi assim que alguns soldados ficaram para trás. Nenhum deles voltou para a África.
O canadense Winnie McClare escreveu numa carta para seu pai:
Uma dolorosa quantidade de camaradas que vão à Londres voltam em mau estado, e são enviados para os hospitais de doenças venéreas. Há um hospital desses próximo daqui, com seiscentos homens internados. É uma vergonha que estes camaradas não possam se manter longe deles.
Desilusão e Lamento.
Ocasionalmente, nós lemos em Intimate Voices, sobre a desilusão e lamento dos soldados e civis. A estupidez da guerra é, algumas vezes, reconhecida. O oficial alemão, Ernst Nopper escreveu em seu diário:
E todo este tempo, o clima estava tão maravilhoso que atirar parecia um absurdo.
O soldado russo Vasily Mishnin escreveu para sua esposa grávida:
Estamos sofrendo para quê, o que eu ganho matando alguém, mesmo um alemão?... É um cenário bem pacífico, quando tudo está calmo e ninguém está atirando. Este é o nosso inimigo? Eles parecem gente boa, normal, todos eles querem viver e, mesmo assim, aqui estamos nós, juntos, para tirarmos as vidas uns dos outros.
O oficial britânico Richard Meinertzhagen escreveu em seu diário:
Parece tão estranho eu estar fazendo uma refeição, hoje, com pessoas que eu estava tentando matar, ontem. Parece tão errado e me faz perguntar se tudo isto foi, realmente, uma guerra ou se tudo o que fizemos foi um equívoco pavoroso.
O oficial alemão, Ernst Nopper escreveu em seu diário:
Eu não mais compartilho do entusiasmo da maioria das pessoas pela guerra. Eu penso sobre os soldados moribundos, não apenas alemães, mas também franceses, ingleses, russos, italianos, sérvios e não sei mais quem.
A escolar alemã, Piete Kuhr escreveu em seu diário:
Eu não quero mais que nenhum soldado morra. Milhões estão mortos - e para quê? Para qual benefício? Nós devemos garantir que nunca mais haja outra guerra no futuro. Nunca mais devemos cair na insensatez causada pela geração mais velha.
E, finalmente, o pesar do soldado russo, Alexei Zykov, que escreveu em seu diário, durante a Páscoa de 1916:
Por quê levei uma tal vida desregrada? Por quê não estimei minha família e amigos? Não sei. Eu amava a aventura e agora, estou pagando por isto. Eu me sinto muito triste. Preciso mesmo morrer assim, infrutiferamente, com nada digno de arrependimento?
O argumento de que a guerra moderna mudou tanto, tudo isto, que tais descrições da Grande Guerra nunca acontecerão - a guerra moderna, realmente, não é tão ruim, (a menos que você seja morto) - nunca é apresentado pelo soldado que sofre danos psicológicos ou desordens psiquiátricas, pelo resto de sua vida, os esquecidos civis, feridos ou desfigurados no conflito, ou por estes mutilados ou explodidos pelas minas terrestres, anos mais tarde.
Tais são os horrores da guerra.