Como o representante do BC e defensor das metas de inflação responderia em um passado próximo "O sistema de metas de inflação se provou mundialmente eficiente. Todos os países que o adotaram conseguiram reduzir e controlar a inflação. Quando o governo adotar políticas responsáveis do governo federal poderemos criar uma ambiente propício para a redução dos juros. Além do mais as taxas de juros mais altas não afetam a economia no longo prazo e nem comprometem a capacidade produtiva". E sobre o câmbio "a entrada de capitais e valorização do câmbio é um efeito de curto prazo. No longo não influi na estrutura produtiva e não tem efeitos reais na economia por que as taxas vão convergir para a produtividade".LeandroGCard escreveu:Se não fosse apenas pelos efeitos deletérios nos investimentos, o próprio tamanho absoluto da dívida pública brasileira torna a política de combate à inflação apenas pelo lado dos juros um suicídio, pois a conta de juros vai acabar fazendo a dívida estourar sozinha, mesmo se o governo conseguir reduzir os demais gastos públicos.
Se não quisermos entrar de novo em crises sucessivas em um futuro não muito distante alguma estratégia nova terá que ser imaginada pelo pessoal do Ministério da Fazenda e pelo BC. A saída de Meireles foi uma boa indicação neste sentido (na minha opinião ele já foi tarde e não deixará saudades)
Leandro G. Card
Voltando ao presente e ao problema brasileiro. No Brasil é um caso raro em que o BC adota as metas de inflação e é descolado da economia real. Nos países em que se adota as metas de inflação (Austrália e Inglaterra, por exemplo) e os que não adotam (EUA, por exemplo) a preocupação dos bancos centrais é manter inflação baixa, emprego e crescimento. Existe a interação desses três elementos determina as decisões do BC, influenciado pelos diretores que tem forte relação com a economia real e representam trabalhadores e empresários. Assim, mesmo que sejam considerados independentes, estão vinculados ao resto da economia e não diretamente ao governo.
No Brasil a diretoria é ligada ao setor financeiro e se preocupa só com a inflação e a receita sempre está nos juros. Existem sinais de que haverá mudanças, mas o governo Lula e Dilma tem um acordo branco de mexer no banco central e nem políticas adotas. Que se tentou em idos de 2005 e voltou a tona pós a crise de 2007/2008 quando se viu no mundo inteiro que o regime de metas de inflação tem falhas e pode aprofundar e provocar crises. As mudanças não precisam ser radicais. Se mudar alguns diretores a política do BC muda. Se mudar a composição e representatividade dos diretores muda mais ainda.
Outro problema é que a inflação usada como meta pode estar distorcida, pois inclui alimentos e outros bens que tem variação cíclica em relação ao preço. Uma das propostas que se discute é um novo índice que considere um núcleo com os principais bens e serviços que sejam menos propensos a variações cíclicas. Como também a meta considerar o prazo de um ano quando o ideal seria mais tempo para analisar o comportamento ao longo de um período e fugir de distorções pontuais.
Sobre o câmbio valorizado o Brasil pede no cenário internacional a legitimação das suas ações para controle e taxação da entrada de capitais especulativos. Outro sinal de mudança. O Banco central não visa alterar a taxa de câmbio comprando reservas. Serve apenas para suavizar as variações cambiais. Quem realmente agiu para tentar frear a entrada de capitais especulativos foi o governo federal com o aumento do IOF.
Sobre a dívida pública mais importante, muito mais importante que reduzir o déficit é o custo, prazo de maturação e a sustentabilidade no longo prazo em relação ao PIB. Ou seja, mesmo que o endividamento cresça é aceitável, desde que reduza em proporção do PIB e aumente o prazo de maturação. As taxas de juros tem influência sobre o endividamento e todas as demais taxas de juros para os civis serem mais altas. Entretanto, não se pode afirmar que a dívida pública causa os juros altos. É um mistério o motivo das taxas de juros altas no Brasil e ainda mais mistério como o país convive com essas taxas de juros. A maior demanda agregada gerada pelo governo pode gerar inflação, pode ou não. A coisa não é matemática. Ainda os juros altos podem reduzir a capacidade produtiva e incentivar a inflação. É complicado.