Na época da escravidão, não existia trabalho remunerado e havia geração de renda. Renda concentrada nas mãos de quem detinha os meios de produção.vmonteiro escreveu:Permite-me colocar a tua frase no meu buzz de pérolas do dia?RobertoRS escreveu:...
Sem trabalho remunerado, não existe geração de renda.
EUA
Moderador: Conselho de Moderação
- Penguin
- Sênior
- Mensagens: 18983
- Registrado em: Seg Mai 19, 2003 10:07 pm
- Agradeceu: 5 vezes
- Agradeceram: 374 vezes
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
Carlo M. Cipolla
- EDSON
- Sênior
- Mensagens: 7303
- Registrado em: Sex Fev 16, 2007 4:12 pm
- Localização: CURITIBA/PR
- Agradeceu: 65 vezes
- Agradeceram: 335 vezes
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Imagina se a mãe vai a presidente onde a América vai parar.
24/11/2010 - 16h04
Filha de Sarah Palin fica em terceiro em concurso de dança na TV americana
PUBLICIDADE
DA EFE, EM WASHINGTON
Após se safar em várias eliminatórias do popular programa de TV "Dancing with the Stars" [Dançando com as estrelas, em tradução livre], Bristol Palin chegou à final da competição, mas perdeu o troféu na final na noite desta terça-feira.
Acompanhe a Folha no Twitter
Conheça a página da Folha no Facebook
Telespectador irritado atira na TV após filha de Sarah Palin continuar em "reality show"
A disputa pelo primeiro lugar atraiu 23,2 milhões de telespectadores para frente das telinhas, segundo estimativas de audiência divulgadas hoje.
Na final estavam o jovem ator da Disney Kyle Massey, de 19 anos, a atriz Jennifer Gray, experiente dançarina, aos 50 anos, e a filha da ex-governadora do Alasca Sarah Palin, Bristol Palin, de 19 anos.
Adam Larkey/AP/ABC
Foto divulgada pela rede ABC mostra Bristol Palin com seu parceiro, Mark Ballas, no programa de TV
Apesar de ter ficado com o terceiro lugar em pontuação, a presença de Bristol Palin foi um dos grandes chamarizes da temporada. Sarah Palin compareceu ao primeiro programa para dar apoio à filha, mas não pode assistir à final, já que está em plena campanha para promover seu novo livro.
24/11/2010 - 16h04
Filha de Sarah Palin fica em terceiro em concurso de dança na TV americana
PUBLICIDADE
DA EFE, EM WASHINGTON
Após se safar em várias eliminatórias do popular programa de TV "Dancing with the Stars" [Dançando com as estrelas, em tradução livre], Bristol Palin chegou à final da competição, mas perdeu o troféu na final na noite desta terça-feira.
Acompanhe a Folha no Twitter
Conheça a página da Folha no Facebook
Telespectador irritado atira na TV após filha de Sarah Palin continuar em "reality show"
A disputa pelo primeiro lugar atraiu 23,2 milhões de telespectadores para frente das telinhas, segundo estimativas de audiência divulgadas hoje.
Na final estavam o jovem ator da Disney Kyle Massey, de 19 anos, a atriz Jennifer Gray, experiente dançarina, aos 50 anos, e a filha da ex-governadora do Alasca Sarah Palin, Bristol Palin, de 19 anos.
Adam Larkey/AP/ABC
Foto divulgada pela rede ABC mostra Bristol Palin com seu parceiro, Mark Ballas, no programa de TV
Apesar de ter ficado com o terceiro lugar em pontuação, a presença de Bristol Palin foi um dos grandes chamarizes da temporada. Sarah Palin compareceu ao primeiro programa para dar apoio à filha, mas não pode assistir à final, já que está em plena campanha para promover seu novo livro.
-
- Intermediário
- Mensagens: 333
- Registrado em: Qui Ago 07, 2008 3:54 pm
- Localização: Rio de Janeiro - RJ
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Engraçado, isso me parece muito contemporaneo, não acha?Penguin escreveu:Na época da escravidão, não existia trabalho remunerado e havia geração de renda. Renda concentrada nas mãos de quem detinha os meios de produção.vmonteiro escreveu: Permite-me colocar a tua frase no meu buzz de pérolas do dia?
Senhores, sejamos razoáveis.
- Penguin
- Sênior
- Mensagens: 18983
- Registrado em: Seg Mai 19, 2003 10:07 pm
- Agradeceu: 5 vezes
- Agradeceram: 374 vezes
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
----------------------------------vmonteiro escreveu:Engraçado, isso me parece muito contemporaneo, não acha?Penguin escreveu: Na época da escravidão, não existia trabalho remunerado e havia geração de renda. Renda concentrada nas mãos de quem detinha os meios de produção.
Verdade...
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
Carlo M. Cipolla
- LeandroGCard
- Sênior
- Mensagens: 8754
- Registrado em: Qui Ago 03, 2006 9:50 am
- Localização: S.B. do Campo
- Agradeceu: 69 vezes
- Agradeceram: 812 vezes
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Não adianta discutir mais este tema Santiago.Penguin escreveu:Na época da escravidão, não existia trabalho remunerado e havia geração de renda. Renda concentrada nas mãos de quem detinha os meios de produção.vmonteiro escreveu: Permite-me colocar a tua frase no meu buzz de pérolas do dia?
Segundo o raciocínio deste povo o mundo sequer existia antes do capitalismo. Os sistemas de irrigação do crescente fértil, as pirâmides do Egito (que hoje se sabe não foram construídas com trabalho escravo), as catedrais medievais, a cidade de Canudos, a Wikipédia, tudo ou foi feito por ordem de capitalistas e pago em dinheiro ou então nunca existiu, é só um delírio esquerdista!
E como hoje tem gente que vende a Bíblia, isto prova que até Jesus Cristo pregou por dinheiro . Que argumento contrário se pode apresentar?!?
Leandro G. Card
Editado pela última vez por LeandroGCard em Qua Nov 24, 2010 9:08 pm, em um total de 4 vezes.
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
O problema com o Capitalismo é fator limitante de materias primas no planeta terra, quanto a isto não tem fuga em algun momento não havera mas o que explorar.
- Ilya Ehrenburg
- Sênior
- Mensagens: 2449
- Registrado em: Ter Set 08, 2009 5:47 pm
- Agradeceram: 1 vez
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
douglas escreveu:O problema com o Capitalismo é fator limitante de materias primas no planeta terra, quanto a isto não tem fuga em algun momento não havera mas o que explorar.
Bah!
Marte está logo ali.
Não se tem razão quando se diz que o tempo cura tudo: de repente, as velhas dores tornam-se lancinantes e só morrem com o homem.
Ilya Ehrenburg
Uma pena incansável e combatente, contra as hordas imperialistas, sanguinárias e assassinas!
Ilya Ehrenburg
Uma pena incansável e combatente, contra as hordas imperialistas, sanguinárias e assassinas!
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Permissão concedida, hehe...vmonteiro escreveu:Permite-me colocar a tua frase no meu buzz de pérolas do dia?RobertoRS escreveu:...
Sem trabalho remunerado, não existe geração de renda.
Se não houver campo aberto
lá em cima, quando me for
um galpão acolhedor
de santa fé bem coberto
um pingo pastando perto
só de pensar me comovo
eu juro pelo meu povo,
nem todo o céu me segura
retorno à velha planura
pra ser gaúcho de novo
lá em cima, quando me for
um galpão acolhedor
de santa fé bem coberto
um pingo pastando perto
só de pensar me comovo
eu juro pelo meu povo,
nem todo o céu me segura
retorno à velha planura
pra ser gaúcho de novo
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Preciso comentar o fato de que existia trabalho não-escravo remunerado e que, num regime escravocrata, o escravo equivale à um bem de capital?Penguin escreveu:Na época da escravidão, não existia trabalho remunerado e havia geração de renda. Renda concentrada nas mãos de quem detinha os meios de produção.vmonteiro escreveu: Permite-me colocar a tua frase no meu buzz de pérolas do dia?
Existem quatro tipos de remunerações: salários, juros, lucros e alugueis. Qualquer renda pode ser enquadrada numa dessas.
Se não houver campo aberto
lá em cima, quando me for
um galpão acolhedor
de santa fé bem coberto
um pingo pastando perto
só de pensar me comovo
eu juro pelo meu povo,
nem todo o céu me segura
retorno à velha planura
pra ser gaúcho de novo
lá em cima, quando me for
um galpão acolhedor
de santa fé bem coberto
um pingo pastando perto
só de pensar me comovo
eu juro pelo meu povo,
nem todo o céu me segura
retorno à velha planura
pra ser gaúcho de novo
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Adianta discutir, porém o sr. não parece entender que a Rervolução Industrial e o Capitalismo são produto não de uma nova estrutura sócio-econômica, como querem os marxistas, mas de tecnologias que permitiram a criação e existência de um novo arranjo sócio-econômico.LeandroGCard escreveu:Não adianta discutir mais este tema Santiago.
Segundo o raciocínio deste povo o mundo sequer existia antes do capitalismo. Os sistemas de irrigação do crescente fértil, as pirâmides do Egito (que hoje se sabe não foram construídas com trabalho escravo), as catedrais medievais, a cidade de Canudos, a Wikipédia, tudo ou foi feito por ordem de capitalistas e pago em dinheiro ou então nunca existiu, é só um delírio esquerdista!
E como hoje tem gente que vende a Bíblia, isto prova que até Jesus Cristo pregou por dinheiro . Que argumento contrário se pode apresentar?!?
Leandro G. Card
Mas os princípios por trás do Capitalismo moderno sempre existiram: o ideal de enriquecer, talvez até um certo utilitarismo, a empresa privada, a existência de remunerações.
Só que a Revolução Tecnológica por trás do moderno arranjo sócio-econômico é recente, inclui de comunicações à tecnologias energéticas.
Se não houver campo aberto
lá em cima, quando me for
um galpão acolhedor
de santa fé bem coberto
um pingo pastando perto
só de pensar me comovo
eu juro pelo meu povo,
nem todo o céu me segura
retorno à velha planura
pra ser gaúcho de novo
lá em cima, quando me for
um galpão acolhedor
de santa fé bem coberto
um pingo pastando perto
só de pensar me comovo
eu juro pelo meu povo,
nem todo o céu me segura
retorno à velha planura
pra ser gaúcho de novo
- marcelo l.
- Sênior
- Mensagens: 6097
- Registrado em: Qui Out 15, 2009 12:22 am
- Agradeceu: 138 vezes
- Agradeceram: 66 vezes
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Artigo coloca alguns pontos is da atual onda neocon e política externa, claro que cereja no bolo é a Paulin dizendo que os EUA deveriam apoiar os aliados norte-coreanos
http://www.economist.com/blogs/democrac ... art_treaty
Power and ideas
Nov 23rd 2010, 17:09 by D.L. | PHILADELPHIA
YESTERDAY I wrote that Republican opposition to ratification of the New START treaty with Russia could be traced to the influence of delusional neoconservative ideas about America’s strength—or rather, its invincibility. Instead of formulating policies suited to "a world governed by economic, budgetary, military, and diplomatic limits", neocons indulge in magical thinking, pretending that America is so exceptional that it need never "sit at a negotiating table, entertain a mutually beneficial compromise, or ratify a treaty with any nation that would dare to pursue interests contrary to our own in any region of the world." This is a fantasy dangerously detached from the reality of a world in which "the United States is very powerful but far from free to do whatever it wants without constraint."
Shortly after my post appeared, Stephen Walt wrote a post at Foreign Policy that made something close to the opposite argument. According to Mr Walt, Republicans are opposing ratification not because they believe America is more powerful than it is; they are opposing ratification because America is in fact more powerful than it should be. The US is, in Mr Walt's words, "too secure for its own good." Facing no serious external threat, being "as secure as any state could ever expect to be", America has grown reckless, permitting "politicians to use foreign policy as a partisan political football, and to indulge special interests and other ideological fixations." The problem isn't delusional ideas, in other words, but rather the practical consequences of the country's status as a hyperpower.
Mr Walt is surely right, up to a point. The international context—and above all America’s enormous military and economic might within that context—is a necessary condition for explaining Republican opposition to the New START treaty. But it is far from sufficient. To go further, we must take ideas more seriously than Mr Walt and his fellow realists typically do. We need to ask why neoconservative ideas about the proper exercise of American power have won out among Republicans over the far more sober and sensible ideas of realists like Richard Luger, Henry Kissinger, James Baker, Brent Scowcroft, and, yes, Stephen Walt.
Since the attacks of September 11th, neocons have found a receptive audience for their ideas within the Republican Party in Washington and among its populist base. That audience is receptive because the neocons are telling it what it wants to hear: America is both powerful and good—so powerful and good, in fact, that the ordinary rules of international relations need not and ought not apply to us. But neoconservatism doesn't just encourage the "perpetual utterance of self-applause" to which Alexis de Tocqueville said Americans are always prone. It also gives voice to intense anxiety about America's capacity to defend itself against a handful of stateless terrorists, which neocons judge, beyond all plausibility, to be an existential threat to the United States. Many Americans clearly share that anxiety while also finding comfort in the nationalist bravado that neoconservatism offers as an antidote.
Mr Walt laments the foolishness that would lead us to undermine relations with a major power (Russia) while vastly overreacting to the threat of Islamic extremism. I share his concern and dismay. But the source of America's foolishness isn't its strength—or, at least, not simply. The source is a constellation of ideas about American national identity that neoconservative intellectuals have masterfully marketed to a portion of the public which seems all-too-eager to swallow it whole. If we wish to see these ideas exercise less influence, it is our responsibility to provide a more persuasive and compelling alternative.
http://www.economist.com/blogs/democrac ... art_treaty
Power and ideas
Nov 23rd 2010, 17:09 by D.L. | PHILADELPHIA
YESTERDAY I wrote that Republican opposition to ratification of the New START treaty with Russia could be traced to the influence of delusional neoconservative ideas about America’s strength—or rather, its invincibility. Instead of formulating policies suited to "a world governed by economic, budgetary, military, and diplomatic limits", neocons indulge in magical thinking, pretending that America is so exceptional that it need never "sit at a negotiating table, entertain a mutually beneficial compromise, or ratify a treaty with any nation that would dare to pursue interests contrary to our own in any region of the world." This is a fantasy dangerously detached from the reality of a world in which "the United States is very powerful but far from free to do whatever it wants without constraint."
Shortly after my post appeared, Stephen Walt wrote a post at Foreign Policy that made something close to the opposite argument. According to Mr Walt, Republicans are opposing ratification not because they believe America is more powerful than it is; they are opposing ratification because America is in fact more powerful than it should be. The US is, in Mr Walt's words, "too secure for its own good." Facing no serious external threat, being "as secure as any state could ever expect to be", America has grown reckless, permitting "politicians to use foreign policy as a partisan political football, and to indulge special interests and other ideological fixations." The problem isn't delusional ideas, in other words, but rather the practical consequences of the country's status as a hyperpower.
Mr Walt is surely right, up to a point. The international context—and above all America’s enormous military and economic might within that context—is a necessary condition for explaining Republican opposition to the New START treaty. But it is far from sufficient. To go further, we must take ideas more seriously than Mr Walt and his fellow realists typically do. We need to ask why neoconservative ideas about the proper exercise of American power have won out among Republicans over the far more sober and sensible ideas of realists like Richard Luger, Henry Kissinger, James Baker, Brent Scowcroft, and, yes, Stephen Walt.
Since the attacks of September 11th, neocons have found a receptive audience for their ideas within the Republican Party in Washington and among its populist base. That audience is receptive because the neocons are telling it what it wants to hear: America is both powerful and good—so powerful and good, in fact, that the ordinary rules of international relations need not and ought not apply to us. But neoconservatism doesn't just encourage the "perpetual utterance of self-applause" to which Alexis de Tocqueville said Americans are always prone. It also gives voice to intense anxiety about America's capacity to defend itself against a handful of stateless terrorists, which neocons judge, beyond all plausibility, to be an existential threat to the United States. Many Americans clearly share that anxiety while also finding comfort in the nationalist bravado that neoconservatism offers as an antidote.
Mr Walt laments the foolishness that would lead us to undermine relations with a major power (Russia) while vastly overreacting to the threat of Islamic extremism. I share his concern and dismay. But the source of America's foolishness isn't its strength—or, at least, not simply. The source is a constellation of ideas about American national identity that neoconservative intellectuals have masterfully marketed to a portion of the public which seems all-too-eager to swallow it whole. If we wish to see these ideas exercise less influence, it is our responsibility to provide a more persuasive and compelling alternative.
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
- Penguin
- Sênior
- Mensagens: 18983
- Registrado em: Seg Mai 19, 2003 10:07 pm
- Agradeceu: 5 vezes
- Agradeceram: 374 vezes
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
25/11/2010 - 02h31
Com Dilma, EUA continuarão sem "policial" na América do Sul, diz Tariq Ali
PUBLICIDADE
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Atualizado às 13h10.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/8356 ... -ali.shtml
A América do Sul é hoje a região mais independente do poder americano e a vitória do PT na eleição presidencial brasileira indica que os EUA continuarão sem contar com um "policial" que possa agir por eles nesta parte do mundo, diz o escritor paquistanês Tariq Ali.
Um dos editores da revista britânica "New Left Review" e colaborador da "London Review of Books", Ali é conhecido pela militância contra as intervenções externas americanas e veio ao Rio para participar de conferência com sindicalistas e ativistas de favelas sobre imprensa alternativa.
Seu penúltimo livro, "O Duelo", sobre a relação EUA-Paquistão, acaba de ser publicado no Brasil pela editora Record. Outra obra, "O Poder das Barricadas", sobre sua experiência nos anos 60, está sendo lançada pela Boitempo. No exterior, ele recém-lançou "Obama Syndrome", em que destaca as continuidades entre o ocupante da Casa Branca e seu antecessor, George W. Bush. "Só mudou a música ambiente."
Nesta entrevista à Folha, o escritor também analisou a situação no Paquistão, a falta de solidariedade mundial às milhares de vítimas das enchentes deste ano em seu país de origem e a guerra americana no Afeganistão. Disse que os EUA, que prometeram se retirar do país centro-asiático até 2014, gostariam de deixar para trás bases permanentes, como no Iraque, mas que a China tem feito saber sua oposição à presença da Otan (aliança militar ocidental) em sua fronteira.
Apesar de aprovar a política externa do governo Lula, Ali é crítico da política econômica. Se disse "no mínimo decepcionado" por ver o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, "arquiteto de políticas neoliberais", na equipe da presidente eleita Dilma Rousseff.
Ele diz que, se houve ingenuidade de Brasil e Turquia quanto tentaram mediar o impasse nuclear iraniano, foi em relação às intenções do governo americano. "Os dois países conseguiram fazer com que os iranianos concordassem com um plano que os EUA haviam proposto antes, e aí Obama recuou."
Apesar das constantes "reclamações e irritação" em relação a Washington, Ali não acredita que a hegemonia americana esteja em risco, diz que a China não pretende desafiar esse poderio no futuro previsível e avalia que o fórum Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) "não é coisa séria". "Os EUA estão mais fortes agora do que nos anos 60 e 70", afirma. Abaixo, a íntegra da entrevista.
*
FOLHA - Os EUA se aproximam da Índia, cuja candidatura ao Conselho de Segurança da ONU apoiaram. A China, do seu lado, se aproxima do Paquistão. Isso afeta a guerra no Afeganistão?
TARIQ ALI - Os EUA sabem que têm que se retirar do Afeganistão. Gostariam de sair, mas manter bases militares lá. Isso não vai ser possível. Os chineses, nos bastidores, disseram aos militares paquistaneses que não querem bases permanentes da Otan na sua fronteira. Para resolver esse problema, os EUA precisam dos militares paquistaneses.
Simultaneamente, os EUA estão jogando a Índia contra a China. A Índia é o país mais importante para os EUA na Ásia. Sempre foi, mesmo quando a Índia tinha uma política externa de neutralidade. Mas hoje há uma elite indiana que se ajoelha diante dos EUA, o que para Washington é uma grande oportunidade. Claro que nunca poderão tratar a Índia como um pequeno país que controlam, mas precisam dela como anteparo ao crescimento econômico chinês, que ninguém sabe aonde vai levar.
Mas o apoio à candidatura ao Conselho de Segurança não é grande coisa. O conselho não é mais um organismo muito interessante, tampouco a ONU. Se os americanos não conseguem usar a ONU para implementar sua hegemonia, eles usam a Otan [aliança militar ocidental] ou vão sozinhos.
O sr. crê que os EUA se retirarão do Afeganistão até 2014, como prometido?
A ideia de que em 2014 eles terão criado condições para a retirada não faz sentido. Houve total fracasso em criar qualquer Estado no Afeganistão. Os americanos não confiam nem nas pessoas que estão treinando [para o Exército afegão]. Houve casos em que essas pessoas mudaram de lado.
O sr. defende que a solução para o Afeganistão teria que ser regional, com o envolvimento de todos os vizinhos --Rússia, Irã, Paquistão, Índia, China-- que têm influência sobre grupos no país. A disputa Índia-Paquistão pode dificultar isso?
Acho que a Índia será parte da solução. Os indianos vão fazer o que os americanos querem no Afeganistão. Eles têm muitas outras coisas para se preocupar, incluindo o grande problema da Caxemira ocupada, onde a população é tratada como um povo colonizado pelos indianos. Para resolver esse problema, a Índia precisará da ajuda do Paquistão e dos EUA, e está usando sua presença no Afeganistão como barganha.
Desde que o senhor escreveu "O Duelo", em 2008, a situação no Paquistão piorou, não?
Muito. O livro tem quatro argumentos principais: que o Paquistão esteve na rota de voo do poder americano desde os anos 50; que os americanos têm mostrado que preferem lidar com os militares a qualquer outra força no país; que os políticos que estão no poder no Paquistão, incluindo o viúvo de Benazir Bhutto [o presidente Asif Ali Zardari] são corruptos, criminosos, assassinos e todo o país sabe disso; que o governo e a elite paquistaneses são incapazes de fazer qualquer coisa pelo povo, o que ficou demonstrado mais uma vez nas enchentes deste ano [que afetaram 10% da população de 200 milhões].
Foi o pior desastre natural que o país já sofreu, e dois eventos simbolizam os problemas do Paquistão. Uma cidade média, Jacobabad, foi tomada pelas águas, e o governo pediu à Força Aérea, que tem uma base perto, que mandasse helicópteros para salvar as pessoas. Disseram que não podiam porque o base estava sendo usada pelos americanos para os bombardeios com aviões não tripulados em outra parte do país. O segundo incidente foi quando a enchente chegou à província de Sind, onde há uma grande concentração de latifúndios. Havia a alternativa de construir uma barreira que salvaria as aldeias onde vivem os mais pobres ou uma que salvaria as fazendas. Escolheram a segunda opção. O governo foi incapaz de responder à enchente.
O sr. não acha que a resposta internacional à enchente também foi fraca?
Totalmente. Eu acho que a mídia global vem se concentrando em pintar o Paquistão como um país governado por jihadistas [combatentes islâmicos], pessoas barbadas que estão à beira de tomar conta do arsenal nuclear. Essa é a mitologia, e mostrar pessoas comuns sofrendo não é parte do quadro. Não há a intenção de se criar simpatia por esse país e por sua população.
A mídia global normalmente ama desastres naturais, que são transformados em novelas, como no caso dos mineiros chilenos. No Paquistão havia milhares de pessoas sofrendo com as enchentes, em condições desumanas, crianças morrendo por falta de remédios, mas o Ocidente fez muito pouco. A chamada ajuda humanitária não chegou.
O Paquistão tem sido apontado na imprensa americana como responsável pelo fracasso em conter o Taleban no Afeganistão. Como isso se reflete dentro do país?
Setenta por cento dos paquistaneses veem os EUA como seu principal inimigo, segundo pesquisa de instituto americano. Esse número não reflete extremismo religioso, mas revolta política em relação aos EUA e com a elite que colabora com os EUA.
Quando os americanos têm problemas com um país, nunca gostam de admitir que a culpa é sua. Estão perdendo no Afeganistão e dizem que é porque os afegãos atravessam para o Paquistão. Isso é verdade, mas não é razão da derrota. A guerra é um desastre militar, político, social e ideológico.
O sr. diz que o fundamentalismo islâmico não é um problema de fato no Paquistão. Por quê?
É uma força marginal, que cresceu sobretudo por ter sido apoiada pelo Estado. A inclinação natural da maioria dos paquistaneses é mostrada nos resultados eleitorais --menos de 5% dos eleitores votam em partidos religiosos. Os grupos de jihadistas fanáticos são pequenos no Paquistão. Eles parecem mais poderosos porque têm armas e praticam atentados. Mas o apoio da população é pequeno.
A possibilidade de uma solução negociada para a questão nuclear no Irã parece muito pequena. Como analisa a situação?
A situação no Irã é determinada essencialmente pelo interesse de Israel, não tanto dos EUA. Para as israelenses, o mais importante na região, devido à própria má consciência pelo que fizeram com os palestinos, é não haver qualquer poder militar alternativo. No caso do Irã, temem perder o monopólio nuclear regional.
É daí que a pressão está vindo, porque os americanos poderiam fazer um acordo com este regime [do Irã] se quisessem. [O presidente iraniano Mahmoud] Ahmadinejad não é muito inteligente. Mas a noção de que ele seja mais autoritário do que o rei da Arábia Saudita [Abdullah] e o presidente do Egito [Hosni Mubarak] é uma brincadeira. Há mais democracia no Irã do que nestes dois países.
Os EUA estão preocupados com dois coisas. Uma é a pressão israelense, e a outra é que, ao ocupar o Iraque e destruir o Exército iraquiano, eles criaram um novo poder no Iraque, xiita, que é muito próximo ao Irã. Os xiitas iraquianos colaboram com os EUA que os colocou no poder, mas, quando há uma crise, toda a liderança xiita, da direita à esquerda, voa para Teerã, se reúne com a liderança local e os aiotolás decidem.
Isso preocupa os EUA, que temem a consolidação do Irã como um centro de poder na região. Se o Irã tiver armas nucleares, se torna intocável. São essas contradições que entram nos cálculos agora. O fato é que tratar o Irã como um pária é uma política sem sentido, porque a cultura política iraniana é muito forte, e muitos iranianos que não apoiam o clero são a favor de o país ter armas nucleares, já que tantos vizinhos as têm e submarinos nucleares americanos patrulham a costa iraniana.
Parte dos analistas avaliou que a tentativa de Brasil e Turquia de negociar a questão nuclear iraniana foi ingênua, por não levar em consideração os fatores internos nos EUA e no Irã. O sr. concorda?
Acho que foram ingênuos porque acreditaram em Obama, já tanto Lula quanto os líderes turcos foram encorajados pelos EUA a mediar. Por isso considero um pouco injusto atacar Lula. Ele não queria um conflito entre Irã e EUA, e Obama lhe disse ao telefone para tentar.
Turquia e Brasil conseguiram fazer com que os iranianos concordassem com um plano que os EUA haviam proposto antes, e aí Obama recuou. Em vez de atacar Obama, a mídia de direita ataca Lula e os turcos. Acho que eles fizeram o melhor que podiam, a ingenuidade foi pensar que poderiam fazer algo que os EUA não queriam, imaginando que queriam. Muitas pessoas tinham ilusões sobre Obama. Eu não.
Qual é o cerne de seu livro sobre Obama?
O subtítulo do livro é "Rendição em Casa, Guerra no Exterior". Ele se rendeu a interesses corporativos --Wall Street, os lobbies de seguros e farmacêutico. Ele se rendeu ao pensamento do complexo industrial-militar. Disse que ia fechar Guantánamo e a prisão ainda está aberta. Disse que os direitos civis seriam protegidos e nada mudou. Que não haveria sequestros [de estrangeiros] e tortura e nada mudou. Em essência, há mais mais continuidades com o regime de [George W.] Bush do que outra coisa. Só mudou a música de fundo. E agora os próprios apoiadores de Obama estão desapontados.
Com a crise nos EUA e na Europa, fala-se muito do poder dos emergentes, do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). A hegemonia dos EUA está em risco?
Não. Acho que os EUA continuam sendo o poder hegemônico global, e no momento não há quem possa mudar isso. Talvez no fim deste século as coisas possam ficar mais claras. Há reclamações, irritação. Mas sempre foi assim. Os EUA, ironicamente, estão mais fortes agora do que nos anos 1960 e 70.
A ilusão que as pessoas têm sobre a China está mal colocada. Acho que a liderança chinesa, no futuro previsível, dificilmente vai desafiar a hegemonia americana. De certo modo precisa dela, a China como a maior potência econômica e os EUA como a maior potência militar. O Bric não é uma coisa séria.
Os EUA e a Otan vão manter a tendência de intervir fora do territórios de seus países-membros?
Acho que essa é a única função da Otan, hoje o braço militar do império americano. Quando ocasionalmente há divergências dentro da Otan, os EUA atuam sozinhos, como no Iraque.
O que analistas nos EUA dizem é que hoje o país não pode mais agir sozinho, precisa dos aliados.
Isso é música de fundo. Claro que o ideal para os EUA é ter uma coalizão por trás deles, como no Afeganistão. Mas quando não conseguem, agem sozinhos. Não levo essa análise a sério.
O sr. tem um livro, "Piratas do Caribe" (Record), sobre o "eixo da esperança" na América do Sul. Como avalia a região agora?
Acho que a situação continua positiva. O golpe contra Rafael Correa no Equador fracassou. Não interpreto as eleições legislativas na Venezuela [em que o oposição teve metade dos votos] como derrota de [Hugo] Chávez. Para a mídia ocidental, o governo venezuelano nunca faz nada certo. Evo Morales, na Bolívia, teve outra grande vitória com ampla porcentagem dos votos [foi reeleito em dezembro de 2009 com 64%]. O Paraguai está numa situação mais triste porque [Fernando] Lugo está doente, com câncer. E, apesar de o Brasil não fazer parte desse eixo, porque a política econômica não difere muito das de direita, o fato de o PT ter ganhado as eleições de novo faz uma diferença na política externa, porque significa que os EUA não poderão contar com o Brasil para agir por Washington nesta região. A maneira de os EUA exercerem sua hegemonia é ter em cada região um policial com o qual podem contar. Aqui costumava ser o Brasil ou a Argentina, mas agora eles só têm a Colômbia.
A Colômbia parece um tanto desiludida, porque o Congresso americano não ratificou o acordo bilateral de livre comércio.
Os EUA não podem contar totalmente nem com a Colômbia. A América do Sul é a pior história para o império americano no momento. O único sucesso que tiveram foi o golpe em Honduras, uma vitória do Departamento de Estado americano --claro que não podem dizer isso em público. Mas de modo geral a América do Sul se mantém independente do império.
Mas isso incomoda os EUA? Porque, excluindo Chávez, cujo poder é bastante exagerado, a região nunca é mencionada entre as prioridades americanas.
Não, e a razão disso é que o capitalismo como sistema não foi desafiado na América do Sul. O que argumento em "Piratas do Caribe" [editora Record] é que tudo o que esses líderes estão fazendo é usar o poder do Estado para fazer reformas sociais necessárias. É uma social-democracia, e o Brasil poderia aprender com isso.
Apesar de se falar muito da economia brasileira, as condições dos pobres e trabalhadores no Brasil, em termos de saúde, educação e transporte público continua muito ruim. A Bolsa Família é um cala-boca. Os ricos neste país não pagam impostos. É melhor começar a pensar nisso agora do que quando a crise atingir o país. O Brasil pensa que é imune porque evitou o colapso de 2008, mas o sistema [econômico] é muito hierárquico.
Segundo a maioria das análises, o que levou à vitória do PT foi o aumento do poder de compra da população.
Não podemos nos esquecer que foi Fernando Henrique que adotou medidas anti-inflação e aumentou o poder de compra do real, mas ao custo de desindustrializar o país. O Brasil foi financeirizado e isso continua sendo um problema, mesmo dentro do quadro capitalismo. Eu fiquei um pouco decepcionado, para dizer o mínimo, quando vi Dilma [Rousseff] ao lado de Palocci, que foi o arquiteto de políticas neoliberais. Eles têm que entender o que está acontecendo no mundo e adotar medidas preventivas antes que o Brasil seja atingido.
Com Dilma, EUA continuarão sem "policial" na América do Sul, diz Tariq Ali
PUBLICIDADE
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Atualizado às 13h10.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/8356 ... -ali.shtml
A América do Sul é hoje a região mais independente do poder americano e a vitória do PT na eleição presidencial brasileira indica que os EUA continuarão sem contar com um "policial" que possa agir por eles nesta parte do mundo, diz o escritor paquistanês Tariq Ali.
Um dos editores da revista britânica "New Left Review" e colaborador da "London Review of Books", Ali é conhecido pela militância contra as intervenções externas americanas e veio ao Rio para participar de conferência com sindicalistas e ativistas de favelas sobre imprensa alternativa.
Seu penúltimo livro, "O Duelo", sobre a relação EUA-Paquistão, acaba de ser publicado no Brasil pela editora Record. Outra obra, "O Poder das Barricadas", sobre sua experiência nos anos 60, está sendo lançada pela Boitempo. No exterior, ele recém-lançou "Obama Syndrome", em que destaca as continuidades entre o ocupante da Casa Branca e seu antecessor, George W. Bush. "Só mudou a música ambiente."
Nesta entrevista à Folha, o escritor também analisou a situação no Paquistão, a falta de solidariedade mundial às milhares de vítimas das enchentes deste ano em seu país de origem e a guerra americana no Afeganistão. Disse que os EUA, que prometeram se retirar do país centro-asiático até 2014, gostariam de deixar para trás bases permanentes, como no Iraque, mas que a China tem feito saber sua oposição à presença da Otan (aliança militar ocidental) em sua fronteira.
Apesar de aprovar a política externa do governo Lula, Ali é crítico da política econômica. Se disse "no mínimo decepcionado" por ver o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, "arquiteto de políticas neoliberais", na equipe da presidente eleita Dilma Rousseff.
Ele diz que, se houve ingenuidade de Brasil e Turquia quanto tentaram mediar o impasse nuclear iraniano, foi em relação às intenções do governo americano. "Os dois países conseguiram fazer com que os iranianos concordassem com um plano que os EUA haviam proposto antes, e aí Obama recuou."
Apesar das constantes "reclamações e irritação" em relação a Washington, Ali não acredita que a hegemonia americana esteja em risco, diz que a China não pretende desafiar esse poderio no futuro previsível e avalia que o fórum Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) "não é coisa séria". "Os EUA estão mais fortes agora do que nos anos 60 e 70", afirma. Abaixo, a íntegra da entrevista.
*
FOLHA - Os EUA se aproximam da Índia, cuja candidatura ao Conselho de Segurança da ONU apoiaram. A China, do seu lado, se aproxima do Paquistão. Isso afeta a guerra no Afeganistão?
TARIQ ALI - Os EUA sabem que têm que se retirar do Afeganistão. Gostariam de sair, mas manter bases militares lá. Isso não vai ser possível. Os chineses, nos bastidores, disseram aos militares paquistaneses que não querem bases permanentes da Otan na sua fronteira. Para resolver esse problema, os EUA precisam dos militares paquistaneses.
Simultaneamente, os EUA estão jogando a Índia contra a China. A Índia é o país mais importante para os EUA na Ásia. Sempre foi, mesmo quando a Índia tinha uma política externa de neutralidade. Mas hoje há uma elite indiana que se ajoelha diante dos EUA, o que para Washington é uma grande oportunidade. Claro que nunca poderão tratar a Índia como um pequeno país que controlam, mas precisam dela como anteparo ao crescimento econômico chinês, que ninguém sabe aonde vai levar.
Mas o apoio à candidatura ao Conselho de Segurança não é grande coisa. O conselho não é mais um organismo muito interessante, tampouco a ONU. Se os americanos não conseguem usar a ONU para implementar sua hegemonia, eles usam a Otan [aliança militar ocidental] ou vão sozinhos.
O sr. crê que os EUA se retirarão do Afeganistão até 2014, como prometido?
A ideia de que em 2014 eles terão criado condições para a retirada não faz sentido. Houve total fracasso em criar qualquer Estado no Afeganistão. Os americanos não confiam nem nas pessoas que estão treinando [para o Exército afegão]. Houve casos em que essas pessoas mudaram de lado.
O sr. defende que a solução para o Afeganistão teria que ser regional, com o envolvimento de todos os vizinhos --Rússia, Irã, Paquistão, Índia, China-- que têm influência sobre grupos no país. A disputa Índia-Paquistão pode dificultar isso?
Acho que a Índia será parte da solução. Os indianos vão fazer o que os americanos querem no Afeganistão. Eles têm muitas outras coisas para se preocupar, incluindo o grande problema da Caxemira ocupada, onde a população é tratada como um povo colonizado pelos indianos. Para resolver esse problema, a Índia precisará da ajuda do Paquistão e dos EUA, e está usando sua presença no Afeganistão como barganha.
Desde que o senhor escreveu "O Duelo", em 2008, a situação no Paquistão piorou, não?
Muito. O livro tem quatro argumentos principais: que o Paquistão esteve na rota de voo do poder americano desde os anos 50; que os americanos têm mostrado que preferem lidar com os militares a qualquer outra força no país; que os políticos que estão no poder no Paquistão, incluindo o viúvo de Benazir Bhutto [o presidente Asif Ali Zardari] são corruptos, criminosos, assassinos e todo o país sabe disso; que o governo e a elite paquistaneses são incapazes de fazer qualquer coisa pelo povo, o que ficou demonstrado mais uma vez nas enchentes deste ano [que afetaram 10% da população de 200 milhões].
Foi o pior desastre natural que o país já sofreu, e dois eventos simbolizam os problemas do Paquistão. Uma cidade média, Jacobabad, foi tomada pelas águas, e o governo pediu à Força Aérea, que tem uma base perto, que mandasse helicópteros para salvar as pessoas. Disseram que não podiam porque o base estava sendo usada pelos americanos para os bombardeios com aviões não tripulados em outra parte do país. O segundo incidente foi quando a enchente chegou à província de Sind, onde há uma grande concentração de latifúndios. Havia a alternativa de construir uma barreira que salvaria as aldeias onde vivem os mais pobres ou uma que salvaria as fazendas. Escolheram a segunda opção. O governo foi incapaz de responder à enchente.
O sr. não acha que a resposta internacional à enchente também foi fraca?
Totalmente. Eu acho que a mídia global vem se concentrando em pintar o Paquistão como um país governado por jihadistas [combatentes islâmicos], pessoas barbadas que estão à beira de tomar conta do arsenal nuclear. Essa é a mitologia, e mostrar pessoas comuns sofrendo não é parte do quadro. Não há a intenção de se criar simpatia por esse país e por sua população.
A mídia global normalmente ama desastres naturais, que são transformados em novelas, como no caso dos mineiros chilenos. No Paquistão havia milhares de pessoas sofrendo com as enchentes, em condições desumanas, crianças morrendo por falta de remédios, mas o Ocidente fez muito pouco. A chamada ajuda humanitária não chegou.
O Paquistão tem sido apontado na imprensa americana como responsável pelo fracasso em conter o Taleban no Afeganistão. Como isso se reflete dentro do país?
Setenta por cento dos paquistaneses veem os EUA como seu principal inimigo, segundo pesquisa de instituto americano. Esse número não reflete extremismo religioso, mas revolta política em relação aos EUA e com a elite que colabora com os EUA.
Quando os americanos têm problemas com um país, nunca gostam de admitir que a culpa é sua. Estão perdendo no Afeganistão e dizem que é porque os afegãos atravessam para o Paquistão. Isso é verdade, mas não é razão da derrota. A guerra é um desastre militar, político, social e ideológico.
O sr. diz que o fundamentalismo islâmico não é um problema de fato no Paquistão. Por quê?
É uma força marginal, que cresceu sobretudo por ter sido apoiada pelo Estado. A inclinação natural da maioria dos paquistaneses é mostrada nos resultados eleitorais --menos de 5% dos eleitores votam em partidos religiosos. Os grupos de jihadistas fanáticos são pequenos no Paquistão. Eles parecem mais poderosos porque têm armas e praticam atentados. Mas o apoio da população é pequeno.
A possibilidade de uma solução negociada para a questão nuclear no Irã parece muito pequena. Como analisa a situação?
A situação no Irã é determinada essencialmente pelo interesse de Israel, não tanto dos EUA. Para as israelenses, o mais importante na região, devido à própria má consciência pelo que fizeram com os palestinos, é não haver qualquer poder militar alternativo. No caso do Irã, temem perder o monopólio nuclear regional.
É daí que a pressão está vindo, porque os americanos poderiam fazer um acordo com este regime [do Irã] se quisessem. [O presidente iraniano Mahmoud] Ahmadinejad não é muito inteligente. Mas a noção de que ele seja mais autoritário do que o rei da Arábia Saudita [Abdullah] e o presidente do Egito [Hosni Mubarak] é uma brincadeira. Há mais democracia no Irã do que nestes dois países.
Os EUA estão preocupados com dois coisas. Uma é a pressão israelense, e a outra é que, ao ocupar o Iraque e destruir o Exército iraquiano, eles criaram um novo poder no Iraque, xiita, que é muito próximo ao Irã. Os xiitas iraquianos colaboram com os EUA que os colocou no poder, mas, quando há uma crise, toda a liderança xiita, da direita à esquerda, voa para Teerã, se reúne com a liderança local e os aiotolás decidem.
Isso preocupa os EUA, que temem a consolidação do Irã como um centro de poder na região. Se o Irã tiver armas nucleares, se torna intocável. São essas contradições que entram nos cálculos agora. O fato é que tratar o Irã como um pária é uma política sem sentido, porque a cultura política iraniana é muito forte, e muitos iranianos que não apoiam o clero são a favor de o país ter armas nucleares, já que tantos vizinhos as têm e submarinos nucleares americanos patrulham a costa iraniana.
Parte dos analistas avaliou que a tentativa de Brasil e Turquia de negociar a questão nuclear iraniana foi ingênua, por não levar em consideração os fatores internos nos EUA e no Irã. O sr. concorda?
Acho que foram ingênuos porque acreditaram em Obama, já tanto Lula quanto os líderes turcos foram encorajados pelos EUA a mediar. Por isso considero um pouco injusto atacar Lula. Ele não queria um conflito entre Irã e EUA, e Obama lhe disse ao telefone para tentar.
Turquia e Brasil conseguiram fazer com que os iranianos concordassem com um plano que os EUA haviam proposto antes, e aí Obama recuou. Em vez de atacar Obama, a mídia de direita ataca Lula e os turcos. Acho que eles fizeram o melhor que podiam, a ingenuidade foi pensar que poderiam fazer algo que os EUA não queriam, imaginando que queriam. Muitas pessoas tinham ilusões sobre Obama. Eu não.
Qual é o cerne de seu livro sobre Obama?
O subtítulo do livro é "Rendição em Casa, Guerra no Exterior". Ele se rendeu a interesses corporativos --Wall Street, os lobbies de seguros e farmacêutico. Ele se rendeu ao pensamento do complexo industrial-militar. Disse que ia fechar Guantánamo e a prisão ainda está aberta. Disse que os direitos civis seriam protegidos e nada mudou. Que não haveria sequestros [de estrangeiros] e tortura e nada mudou. Em essência, há mais mais continuidades com o regime de [George W.] Bush do que outra coisa. Só mudou a música de fundo. E agora os próprios apoiadores de Obama estão desapontados.
Com a crise nos EUA e na Europa, fala-se muito do poder dos emergentes, do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). A hegemonia dos EUA está em risco?
Não. Acho que os EUA continuam sendo o poder hegemônico global, e no momento não há quem possa mudar isso. Talvez no fim deste século as coisas possam ficar mais claras. Há reclamações, irritação. Mas sempre foi assim. Os EUA, ironicamente, estão mais fortes agora do que nos anos 1960 e 70.
A ilusão que as pessoas têm sobre a China está mal colocada. Acho que a liderança chinesa, no futuro previsível, dificilmente vai desafiar a hegemonia americana. De certo modo precisa dela, a China como a maior potência econômica e os EUA como a maior potência militar. O Bric não é uma coisa séria.
Os EUA e a Otan vão manter a tendência de intervir fora do territórios de seus países-membros?
Acho que essa é a única função da Otan, hoje o braço militar do império americano. Quando ocasionalmente há divergências dentro da Otan, os EUA atuam sozinhos, como no Iraque.
O que analistas nos EUA dizem é que hoje o país não pode mais agir sozinho, precisa dos aliados.
Isso é música de fundo. Claro que o ideal para os EUA é ter uma coalizão por trás deles, como no Afeganistão. Mas quando não conseguem, agem sozinhos. Não levo essa análise a sério.
O sr. tem um livro, "Piratas do Caribe" (Record), sobre o "eixo da esperança" na América do Sul. Como avalia a região agora?
Acho que a situação continua positiva. O golpe contra Rafael Correa no Equador fracassou. Não interpreto as eleições legislativas na Venezuela [em que o oposição teve metade dos votos] como derrota de [Hugo] Chávez. Para a mídia ocidental, o governo venezuelano nunca faz nada certo. Evo Morales, na Bolívia, teve outra grande vitória com ampla porcentagem dos votos [foi reeleito em dezembro de 2009 com 64%]. O Paraguai está numa situação mais triste porque [Fernando] Lugo está doente, com câncer. E, apesar de o Brasil não fazer parte desse eixo, porque a política econômica não difere muito das de direita, o fato de o PT ter ganhado as eleições de novo faz uma diferença na política externa, porque significa que os EUA não poderão contar com o Brasil para agir por Washington nesta região. A maneira de os EUA exercerem sua hegemonia é ter em cada região um policial com o qual podem contar. Aqui costumava ser o Brasil ou a Argentina, mas agora eles só têm a Colômbia.
A Colômbia parece um tanto desiludida, porque o Congresso americano não ratificou o acordo bilateral de livre comércio.
Os EUA não podem contar totalmente nem com a Colômbia. A América do Sul é a pior história para o império americano no momento. O único sucesso que tiveram foi o golpe em Honduras, uma vitória do Departamento de Estado americano --claro que não podem dizer isso em público. Mas de modo geral a América do Sul se mantém independente do império.
Mas isso incomoda os EUA? Porque, excluindo Chávez, cujo poder é bastante exagerado, a região nunca é mencionada entre as prioridades americanas.
Não, e a razão disso é que o capitalismo como sistema não foi desafiado na América do Sul. O que argumento em "Piratas do Caribe" [editora Record] é que tudo o que esses líderes estão fazendo é usar o poder do Estado para fazer reformas sociais necessárias. É uma social-democracia, e o Brasil poderia aprender com isso.
Apesar de se falar muito da economia brasileira, as condições dos pobres e trabalhadores no Brasil, em termos de saúde, educação e transporte público continua muito ruim. A Bolsa Família é um cala-boca. Os ricos neste país não pagam impostos. É melhor começar a pensar nisso agora do que quando a crise atingir o país. O Brasil pensa que é imune porque evitou o colapso de 2008, mas o sistema [econômico] é muito hierárquico.
Segundo a maioria das análises, o que levou à vitória do PT foi o aumento do poder de compra da população.
Não podemos nos esquecer que foi Fernando Henrique que adotou medidas anti-inflação e aumentou o poder de compra do real, mas ao custo de desindustrializar o país. O Brasil foi financeirizado e isso continua sendo um problema, mesmo dentro do quadro capitalismo. Eu fiquei um pouco decepcionado, para dizer o mínimo, quando vi Dilma [Rousseff] ao lado de Palocci, que foi o arquiteto de políticas neoliberais. Eles têm que entender o que está acontecendo no mundo e adotar medidas preventivas antes que o Brasil seja atingido.
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
Carlo M. Cipolla
- Guerra
- Sênior
- Mensagens: 14202
- Registrado em: Dom Abr 27, 2003 10:47 pm
- Agradeceu: 53 vezes
- Agradeceram: 135 vezes
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Traduzindo: não é dessa vez que os EUA vai ter um capacho na AS
A HONESTIDADE É UM PRESENTE MUITO CARO, NÃO ESPERE ISSO DE PESSOAS BARATAS!
-
- Sênior
- Mensagens: 1375
- Registrado em: Sáb Abr 01, 2006 9:41 pm
- Localização: Brasília-DF.
- Agradeceu: 28 vezes
- Agradeceram: 76 vezes
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Fiquei em dúvida entre postar aqui ou em geopolítica. Esse texto, em decorrência dos recentes eventos na Coréia, traz uma opinião que compartilho sobre os EUA, questionando por que devem eles assumirem certas obrigações com aliados que já não necessitam ou querem seu auxílio contra antigos inimigos. Em tempos de vacas magras, já não seria hora de um "encolhimento" estratégico, notavelmente em regiões onde riquíssimos aliados parecem não querer assumir a responsabilidade pela própria segurança?
Why Are We Still in Korea?
Pat Buchanan
This writer was 11 years old when the shocking news came on June 25, 1950, that North Korean armies had crossed the DMZ.
Within days, Seoul had fallen. Routed U.S. and Republic of Korea troops were retreating toward an enclave in the southeast corner of the peninsula that came to be known as the Pusan perimeter.
In September came Gen. MacArthur's masterstroke: the Marine landing at Inchon behind enemy lines, the cut-off and collapse of the North Korean Army, recapture of Seoul and the march to the Yalu.
"Home by Christmas!" we were all saying.
Then came the mass intervention of a million "volunteers" of the People's Liberation Army that had, in October 1949, won the civil war against our Nationalist Chinese allies. Suddenly, the U.S. Army and Marines were in headlong retreat south. Seoul fell a second time.
There followed a war of attrition, the firing of MacArthur, the repudiation of Harry Truman and his "no-win war," the election of Ike and, in June 1953, an armistice along the DMZ where the war began.
Fifty-seven years after that armistice, a U.S. carrier task force is steaming toward the Yellow Sea in a show of force after the North fired 80 shells into a South Korean village.
We will stand by our Korean allies, says President Obama. And with our security treaty and 28,000 U.S. troops in South Korea, many on the DMZ, we can do no other. But why, 60 years after the first Korean War, should Americans be the first to die in a second Korean War?
Unlike 1950, South Korea is not an impoverished ex-colony of Japan. She is the largest of all the "Asian tigers," a nation with twice the population and 40 times the economy of the North.
Seoul just hosted the G-20. And there is no Maoist China or Stalinist Soviet Union equipping Pyongyang's armies. The planes, guns, tanks and ships of the South are far superior in quality.
Why, then, are we still in South Korea? Why is this quarrel our quarrel? Why is this war, should it come, America's war?
High among the reasons we fought in Korea was Japan, then a nation rising from the ashes after half its cities had been reduced to rubble. But, for 50 years now, Japan has had the second largest economy and is among the most advanced nations on earth.
Why cannot Japan defend herself? Why does this remain our responsibility, 65 years after MacArthur took the surrender in Tokyo Bay?
The Soviet Empire, against which we defended Japan, no longer exists, nor does the Soviet Union. Russia holds the southern Kurils, taken as spoils from World War II, but represents no threat. Indeed, Tokyo is helping develop Russia's resources in Siberia.
Why, when the Cold War has been over for 20 years, do all these Cold War alliances still exist?
Obama has just returned from a Lisbon summit of NATO, an alliance formed in 1949 to defend Western Europe from Soviet tank armies on the other side of the Iron Curtain that threatened to roll to the Channel. Today, that Red Army no longer exists, the captive nations are free, and Russia's president was in Lisbon as an honored guest of NATO.
Yet we still have tens of thousands of U.S. troops in the same bases they were in when Gen. Eisenhower became supreme allied commander more than 60 years ago.
Across Europe, our NATO allies are slashing defense to maintain social safety nets. But Uncle Sam, he soldiers on.
We borrow from Europe to defend Europe. We borrow from Japan and China to defend Japan from China. We borrow from the Gulf Arabs to defend the Gulf Arabs.
To broker peace in Palestine, Obama began his presidency with a demand that Israel halt all new construction of settlements in East Jerusalem and the West Bank.
Today, as his price for a one-time-only 90-day freeze on new construction on the West Bank, but not East Jerusalem, "Bibi" Netanyahu is demanding 20 F-35 strike fighters, a U.S. commitment to a Security Council veto of any Palestinian declaration of independence, and assurances the U.S. will support a permanent Israeli presence on the Jordan river. And the Israelis want it all in writing.
This, from a client state upon which we have lavished a hundred billion dollars in military aid and defended diplomatically for decades.
How to explain why America behaves as she does?
From 1941 to 1989, she played a great heroic role as defender of freedom, sacrificing and serving mankind, a role of which we can be forever proud. But having won that epochal struggle against the evil empire, we found ourselves in a world for which we were unprepared. Now, like an aging athlete, we keep trying to relive the glory days when all the world looked with awe upon us.
We can't let go, because we don't know what else to do. We live in yesterday -- and our rivals look to tomorrow.
- FoxTroop
- Sênior
- Mensagens: 1477
- Registrado em: Qui Mai 27, 2010 11:56 am
- Localização: Portugal
- Agradeceu: 82 vezes
- Agradeceram: 112 vezes
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
http://www.publico.pt/Mundo/wikileaks-v ... ma_1468306As relações de Washington com a Rússia, Israel ou Turquia podem ser afectadas após a publicação de nova leva de documentos secretos pelo site Wikileaks, o que pode acontecer ainda hoje. O Departamento de Estado dos EUA avisou os seus aliados e prepara-se para o pior.
Parte das comunicações dizem respeito ao primeiro ano de Obama na Casa Branca (Jason Reed/REUTERS)
Em causa estão telegramas com comunicações entre embaixadas norte-americanas feitas entre 2006 e 2009 – relativas, por isso, ao fim da Administração de George W. Bush e ao primeiro ano na Casa Branca de Barack Obama.
Serão comunicações com instruções oficiais, relatórios e comunicações do Departamento de Estado para embaixadas, consulados e missões dos EUA em países estrangeiros, bem com comunicações em sentido inverso enviadas para Washington.
Podem conter comentários sobre figuras políticas dos países estrangeiros onde estão instaladas as representações diplomáticas americanas, ou sobre negociações em curso – coisas que não se dizem em “on”, mas que têm de se dizer quando se fala livremente para avaliar uma determinada situação, decidir políticas. E que podem ser extremamente embaraçosas, para dizer o mínimo, se vierem a ser tornadas públicas.
Não admira, por isso, que o jornal russo “Kommersant” escreva hoje que “as novas revelações do Wikileaks podem provocar uma disputa entre os Estados Unidos e a Rússia”, adianta a AFP. “Uma fonte própria da direcção do site indicou ao ‘Kommersant’ que nos documentos há comentários sobre a política russa e ‘apreciações desagradáveis’ sobre alguns dirigentes do país”, cita a agência noticiosa russa.
Até agora, as grandes fugas de documentos classificados norte-americanos, sobre a guerra no Afeganistão e a guerra no Iraque, têm posto em causa essencialmente os Estados Unidos. Mas esta pode agitar um grande número de países, pois envolve os EUA e vários aliados europeus e também Israel, cujo Governo confirmou ter sido avisado por Washington.
O Departamento de Estado norte-americano, aliás, tem estado a avisar todos os governos que podem ser afectados por esta fuga de informação, informando-os do possível conteúdo destas comunicações, para que pelo menos não sejam apanhados de surpresa. As possibilidades são vastas: os EUA têm 297 embaixadas, consulados ou missões espalhadas pelo mundo, adianta a CNN.
As dimensões desta fuga de documentos são desconhecidas, mas é possível que sejam mesmo muito grandes: o Wikileaks, através da sua conta no Twitter, prometeu esta semana que será “sete vezes maior que a do Iraque”, e essa implicou a revelação de 400 mil documentos. Tal como aconteceu então, o site forneceu desta vez os materiais antecipadamente a vários media com projecção internacional, como os jornais “New York Times” e “The Guardian” e à revista alemã “Der Spiegel”, para que possam ser tratados jornalisticamente, e publicamente ao mesmo tempo.