Luiz,Luiz Bastos escreveu:Não concordo muito com esta teoria não.
Quando os alemães fizeram voar os primeiros Me-262 com turbinas a jato e os aliados perceberam a potencialidade intrínseca na guerra, correram logo a desenvolver as suas, e não me parece que eles tivessem esta visão de produção global, naquele momento, apresentada muito bem por sinal pelo amigo Leandro.
Os aliados, particularmente os ingleses, já desenvolviam turbinas para uso aeronáutico ANTES dos caças à jato alemães entrarem em operação, e inclusive a tecnologia usada por eles (fluxo radial) tinha um potencial de desenvolvimento maior que a dos alemães (fluxo axial). Veja nos links abaixo os desenvolvimentos ingleses, que começaram antes de 1940.
http://www.daviddarling.info/encycloped ... ittle.html
http://www.daviddarling.info/encycloped ... 28_39.html
Não deixa de ser interessante notar que a idéia e a patente da primeira turbina inglesa não veio de cientistas e doutores dentro de uma universidade, mas de um jovem fascinado por aviação que sequer tinha curso de engenheiro (a RAF é que o enviou para fazer o curso depois). O desenvolvimento se iniciou praticamente ao mesmo tempo que o dos alemães, de forma totalmente independente. Tive a chance de estudar uma destas primeiras turbinas inglesas, usada nos Gloster meteor da FAB, que está no laboratório de combustão interna da UnB. Elas eram muito mais volumosas e pesadas que as promeiras turbinas alemãs, mas permitiam muito maiores taxas de compressão e com o tempo evoluíram para as turbinas modernas, tendo o conceito alemão sido abandonado (na verdade os dois conceitos se fundiram, com as turbinas modernas possuíndo estágios de compressão axiais e centrífugos, mas este desenvolvimento se deu com o aperfeiçoaemnto do conceito inglês).
http://www.daviddarling.info/encycloped ... Ohain.html
Mesmo os russos, que capturaram a maior parte da tecnologia alemã de turbinas ao final da segunda guerra mundial, só conseguiram avançar consistentemente nesta área após os ingleses terem vendido para eles algumas turbinas Rolls&Royce Nene.
Portanto não faz sentido dizer que os aliados correram atrás dos alemães. Com relação a produção global, tanto eles tinham ênfase no mercado global que venderam seus motores e aviões equipados com eles para muita gente, como os americanos e suecos (fabricados sob licença), franceses, e até para os inimigos russos. O importante era o mercado global, e não só o inglês.
A idéia de a mesma empresa produzir todos os componentes e subsistemas dos seus produtos é chamada verticalização, e na área aeronáutica isto não acontece em lugar nenhum do planeta, porque o produto (avião) e seus principais subsistemas (propulsão, instrumentação, armamanento, sensores, etc...) são complexos demais, exigindo alto grau de especialização. Se ao invés de gastar seus recursos e dinheiro desenvolvendo continuamente novos aviões (como é o caso hoje do KC390) a Embraer tentasse fazer turbinas, o mais provável é que perdesse sua participação no mercado aeronáutico e jamais conseguisse desenvolver qualquer turbina realmente competitiva. Se é para vender no extremamente competitivo mercado de aviões hoje e no futuro próximo, a Embraer não pode perder o foco e tentar fazer subsistemas, inclusive turbinas.A coisa é politica. Infelizmente os brasileiros só entram neste jogo para perder. Com a demanda por motores que a Embraer tem anualmente, era para manter ela sozinha uma bancada de desenvolvimento destes protótipos, mas infelizmente é mais pratico pagar no exterior, a final de contas dá muito trabalho ficar fazendo ensaios, testando novas configurações, novos materiais, novos combustíveis, etc. E assim continuamos sem fabricar nada que sirva por aqui, alem de parafusos, e mesmo assim com total controle externo. Fui
Se o Brasil (ou seja, o governo, e não a Embraer) quisesse produzir turbinas em geral e aeronáuticas em particular outra/outras empresas teriam que ser envolvidas. Ou uma que já atuasse neste mercado e que visse no desenvolviemnto de uma turbina nova algo sinérgico com seus negócios atuais, ou uma nova (talvez estatal no início) que pudesse contar com o apoio e a proteção do governo enquanto não pudesse caminhar com as próprias pernas. Em qualquer caso o governo teria que no mínimo garantir um mercado inicial razoável, então é sim uma questão política, mas muito mais complexa do que somente a vontade de fazer.
Um grande abraço,
Leandro G. Card