Já expliquei como esta questão funciona mais de uma vez, mas não custa explicar de novo.Tupi escreveu:Putz que ducha gelada.joao fernando escreveu:Já morreu Tupi. A TR foi enviada pra "estudos teoricos" no ITA. Teve amigo meu, até o talo no projeto, dispensado
Dai os caras fecham um pacote com a GE...
Dai, vai significar o que? Turbina se compra, não se projeta. Ou se compra uma atual, e melhora. Mas reinventar a roda, o avião...acho dificil pra quem não tem $$$ nem pro basico
E eu que acreditei que a END era pra valer.
Quando se pensa em P&D no Brasil se pensa em mestres e doutores estudando à fundo pequenos detalhes técnicos durante anos e escrevendo papers e powerpoints para apresentar em congressos. De vez em quando estes estudos até levam à construção de alguma coisa quase real (como a TR3500, o VLS, etc...), que embora até possa ser ligada e funcionar não tem como objetivo atender a nenhuma demanda específica de cliente algum, apenas demonstrar a "maturidade da tecnologia". Feito isso e defendida a tese de doutorado não há mais nada a fazer, e o programa empaca. Como o projeto não visava desde o princípio atender a nenhuma aplicação prática ele tem pouca utilidade real e nenhuma competitividade (é pesado demais, produzido artezanalmente, carrega pouca carga, tem pouca potência, usa peças fora de padrão, não existem especificações de qualidade, etc...), e empresa alguma se interessa em produzí-lo em série para competir com outros produtos estrangeiros já estabelecidos no mercado. E trabalhar nestes "detalhes" que poderiam tornar o projeto comerciável jamais é feito, pois exigiria muito maior interdisciplinaridade e não renderia nenhuma tese ou paper apresentável no meio acadêmico. Por exemplo, um mestrando estudando escoamento multifásico em torno de pás de turbina não ganha nada perdendo meses de trabalho para estudar a influência das variações dimensionais na durabilidade da mesma turbina. Teria que haver outro mestrando interessado neste assunto específico para que este trabalho fosse feito (na verdade até um novo orientador que trabalhasse nesta área, pois escoamento de fluídos e durabilidade não são áreas de pesquisa afins e nenhum pesquisador acadêmico estudas ambas as áreas ao mesmo tempo).
Em países com tradição industrial esta etapa também acontece dentro de universidades e centros de pesquisa, mas ela serve basicamente para formar profissionais e não para desenvolver tecnologia útil à aplicações reais. Isto é feito dentro das empresas, que contratam os profissionais formados e os levam para seus próprios centros de desenvolvimento de produtos (e não de pesquisa), onde eles se dedicam a resolver problemas práticos no aperfeiçoamento de equipamentos e sistemas já existentes, ou na criação de novos equipamentos e sistemas para atender demandas bem determinadas, desde o princípio com a preocupação de garantir especificações, desempenho, custo e qualidade adequados para competir no mercado.
Na grande maioria dos casos os novos avanços tecnológicos são desenvolvidos nestes departamento de projeto de produto, e passam a fazer parte do patrimônio tecnológico destas empresas, obviamente não sendo divulgados sem que isso represente algum retorno vantajoso. Em uns poucos casos uma empresa encontra algum problema que não pode resolver sozinha, e busca ajuda de algum centro de pesquisa ou universidade, para a qual propõem que o trabalho seja desenvolvido como uma atividade especial (não como uma tese, pois esta teria obrigatóriamente que ser divulgada) e se propõem a pagar por isso. E em paralelo a tudo isso, caso a empresa perceba que alguma área de desenvolvimento pode vir a apresentar resultados interessantes no futuro (mas não para algum projeto já em andamento) ela propõem um tema de tese para alguma universidade ou centro de pesquisa, que pode aceitar ou não, dependendo isto inteiramente do interesse dos orientadores sobre aquele tema específico (nos EUA quem mais faz isto é o DoD).
É nesta parte, que deveria acontecer dentro do departamento de projeto das empresas, que o Brasil é carente. E isto não vai mudar por causa de CPNQ's, CAPES e MCT`s e END's da vida, nem que as verbas sejam multiplicadas por 10 ou por 1000. Só uma ênfase no desenvolvimento industrial geral do país (com uma política industrial de verdade e ações para o aumento da competitividade), que leve as empresas nacionais a vislumbrarem a chance de realmente auferir lucros tentando competir no mercado contra fabricantes estrangeiros, poderia mudar este triste panorama da pesquisa aplicada no Brasil. Fora isso podemos até ver um ou outro sucesso esporádico, mas não haverá nenhuma mudança significativa na situação que temos visto desde o final da década de 70, quando esta política de valorização da indústria nacional existia (embora contivesse equívocos graves).
Leandro G. Card