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Mensagem
por Clermont » Ter Out 19, 2010 12:06 pm
10 DOWNING STREET AFUNDARÁ A MARINHA REAL?
Por Eric Margolis - 19 de outubro de 2010.
PARIS - A poderosa Marinha Real da Grã-Bretanha governou as ondas, até a Segunda Guerra Mundial, no todo 25 porcento da superfície da Terra. Há poucas épocas maiores na história do que a agitada saga da Marinha Real, a famosa "muralha de madeira" da Grã-Bretanha.
Quando menino, eu viajei com as gloriosas aventuras dos marinheiros da Inglaterra, tais como Sir Francis Drake, os renomados almirantes Anson e Howe, e o grande Sir Horatio Nelson, cujo nome viverá para sempre na glória naval.
Qual garoto, com sangue nas veias, não ficaria excitado com Sir Richard Grenville, no Revenge, em 1591, encarando a frota espanhola inteira de 53 galeões, ao largo da Ilha das Flores, nos Açores. Jazendo moribundo, no convés, Grenville, nas palavras de Lorde Tennyson, ordenou ao seu artilheiro-chefe, "afunde o navio, mestre artilheiro, afunde-o, divida-o em dois. Deixe-o nas mãos de Deus, não nas mãos dos espanhóis!" Eu ainda não posso recitar estas linhas sem um nó na garganta.
Quem pode esquecer a caçada de vida e morte da Marinha Real, em busca do poderoso Bismarck alemão e a perda do famoso cruzador de batalha Hood, ou o afundamento do Repulse e do Prince Of Wales, ao largo de Singapura, por bombardeiros japoneses?
A Grã-Bretanha tinha 900 belonaves em 1945. Não havia um oceano, mar, estuário, ou rio navegável que fosse imune ao poder da Marinha Real. O "Serviço Mais Antigo" da Grã-Bretanha era a arma estratégica final de dominação. Brittania governava as ondas, e a partir delas, as costas e o comércio do mundo.
Hoje, esta arma de dominação mundial é a Força Aérea dos Estados Unidos.
Esta semana, a Marinha Real confrontará o mais perigoso engajamento em sua esplêndida história, um do qual ela poderá não emergir vitoriosa. O que os canhões espanhóis e franceses, e as granadas de 15 pol alemãs fracassaram em obter, as canetas dos contadores de feijões de Londres poderão conseguir - renunciar à Marinha Real e enviar seus mais excelentes vasos para o estaleiro. A era do romance acabou.
O orçamento da Marinha Real deverá ser cortado, segundo se relata, em pelo menos 10 porcento, talvez muito mais. A nova coalizão Democrata-Conservadora-Liberal de David Cameron e Nick Clegg prometeu cortar o monstruoso déficit herdado do antigo governo Trabalhista de Blair-Brown que deixou a Grã-Bretanha afogada no vermelho. Para supostos socialistas, Blair e Brown gastaram como marinheiros bêbados nas guerras do Afeganistão e Iraque, e tentando manter o passo militarmente com os Estados Unidos.
Cameron falou de cortes de 20-25 porcento em todo o governo. Apesar de negativas anteriores, o gasto militar será um alvo preferencial. Novos porta-aviões e submarinos nucleares podem ser cancelados, ou severamente reduzidos em número.
O totalmente draconiano orçamento de Cameron, esta semana, certamente arrancará uivos de protestos de Land's End até John o'Groats (o equivalente britânico a dizer "do Oiapoque ao Chuí").
A Grã-Bretanha, cujo economia endividada pode realmente, ser menor do que a da Itália (pois um terço do PIB da Itália não é registrado), possui uma marinha digna de uma potência mundial, segunda, somente, em força e capacidade de projeção de poder, a Marinha dos Estados Unidos.
A Marinha Real desdobra submarinos nucleares armados com mísseis com ogiva atômica Trident fornecidos pelos Estados Unidos, e encomendou dois porta-aviões de 65 mil toneladas para transportar os novos caças STOL F-35 americanos. Acrescente submarinos nucleares de ataque, fragatas modernas, transportes de ataque, extensa frota de apoio logístico e 7.500 Royal Marines de elite.
Esmagador! Mas, para quê tudo isto? Os britânicos confrontam agudos cortes em seus benefícios de saúde e bem-estar social. A grandeza naval imperial tornou-se impraticável.
A Grã-Bretanha, como o restante da Europa, não tem nenhum real inimigo externo, e certamente, nenhum que o ameaçe com armas nucleares. Durante a Guerra Fria, a missão primária da Marinha Real era tapar a Brecha Groenlândia-Islândia-Reino Unido (GIUK), a única passagem para a Frota Setentrional do Estandarte Vermelho soviética, para irromper no Atlântico Norte e atacar os comboios anglo-americanos. Hoje, esta ameaça se foi.
De forma interessante, este escritor foi informado por fontes militares britânicas superiores, que suas armas nucleares não podem ser disparadas sem que os Estados Unidos abram uma série de travas eletrônicas. Em outras palavras, o arsenal nuclear marítimo da Grã-Bretanha está sob controle final americano. Críticos de esquerda acusam o governo de ter transformado a Grã-Bretanha num protetorado militar dos Estados Unidos.
Os submarinos Trident podem não ser substituídos, em parte, ou totalmente, quando seu tempo de serviço acabar em 2020.
A única verdadeira missão da poderosa Marinha Real de hoje em dia, é apoiar a Marinha dos Estados Unidos, em suas operações ofensivas externas. Porém, muitos britânicos - particularmente, depois do Iraque - não querem ser, de modo nenhum, os peões dos cavaleiros nucleares da América, parafraseando as palavras do antigo ministro da defesa alemão, Franz Josef Strauss.
Uma maioria de britânicos não quer mais ser o "poodle de Washington", como Blair era sacaneado. Esta sensação é comum no resto da OTAN, que não tem, nem vontade, nem dinheiro para gastar bilhões em transportes militares e elementos logísticos de longo alcance para apoiar as atuais e futuras guerras da América no mundo muçulmano, ou mesmo contra a China.
O primeiro-ministro Cameron tem batalhado pelos cortes na defesa, com os direitistas obstinados em seu gabinete. O secretário da defesa, Dr. Liam Fox, o principal neoconservador da Grã-Bretanha, tem se oposto, amargamente, aos cortes da defesa de Cameron. O primeiro-ministro acabou de humilhar Fox, na semana passada, numa lancinante reprimenda pública.
A outra, e maior, metade do famoso "Relacionamento Especial", os Estados Unidos, antidiplomaticamente, simplesmente, tratou os britânicos como se fossem uma mau-comportada república de bananas. A secretária de estado, Hillary Clinton e o secretário de defesa, Robert Gates, abertamente, criticaram e repreenderam Londres por seus propostos cortes de defesa.
Dois pontos devem ser feitos aqui: primeiro, os cortes da Grã-Bretanha não são de "defesa" - já que ninguém está ameaçando as Ilhas Britânicas. Como a antiga chefe do MI 5, o serviço de segurança interno, recentemente testemunhou, a única ameaça para a Grã-Bretanha provém dos chamados ataques terroristas, que, segundo ela declarou, são, totalmente, resultado das invasões anglo-americanas do Iraque e Afeganistão.
As únicas nações construíndo verdadeiras marinhas de água-azul, nestes dias, são a China e a Índia. Mas, nem a Hindustânia, nem Catai, estão perto de governar as ondas - pelo menos, não em tempo curto.
Portanto, sem nenhuma ameaça externa, a única utilização para a frota da Grã-Bretanha é ofensiva, como uma auxiliar para a Marinha dos Estados Unidos. Eis porque La Clinton e Gates estão tão descontentes. A frota, a RAF e os soldados da Grã-Bretanha são um componente-chave das forças imperiais da América no Terceiro Mundo.
Efetivamente, as pequenas, porém de elite, forças britânicas tornaram-se os Gurkhas das forças expedicionárias da América.
Tirem os duros britânicos, e os Estados Unidos ficam com italianos, estonianos, poloneses, romenos e outros exércitos de aluguel. E os britânicos são muito melhores em explicarem o que estão fazendo, ao invadirem países estrangeiros e consertando políticas coloniais, do que os americanos.
O primeiro-ministro Cameron merece os maiores louvores por admitir que a Grã-Bretanha era um balão de dívidas com pretensões além de seu poder econômico ou militar. Os britânicos necessitam de hospitais decentes e trens que não descarrilhem, muito mais do que alegres guerrinhas em lugares remotos.
Segundo, a medida de Cameron expõe Washington com um monstruosamente inchado estabelecimento militar imperial, que esta nação na bancarrota não pode mais se permitir. O orçamento anual do Pentágono é quase de um $ 1 trilhão - metade do gasto militar total do planeta. Mesmo assim, não há nenhum plano ou vontade, em Washington, para cortar gastos militares, mesmo quando o déficit sobe à velocidade da luz.
Pior, este orçamento de trilhão de dólares, não é pago pelos impostos, como deveria ser, mas é bancado com empréstimos da China e do Japão.
O maior poder naval do mundo é, também, o maior devedor do mundo, flutuando num oceano de dívidas.