Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
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Re: Legiao estrangeira, a minha experiencia pessoal.
Uma parte da instruçao no terreno era feita numa quinta, cuja foto ja coloquei . Todas as companhias tinham (têm) uma quinta na montanha, e é aqui que recebemos a instruçao mais pratica : a manobrar no terreno em secçao, em grupo, em equipa e individualmente. Aprendemos aqui tambem os rudimentos basicos da topografia, as tecnicas de camuflagem, os diversos tipos de armamento, a fazer os abrigos e trincheiras, etc . Todas as deslocaçoes no terreno eram feitas a pé, e praticamente todos os dias corriamos, trepavamos e rastejavamos nos mais diversos tipos de terreno. Dormiamos frequentemente ao ar livre, preparando nos mesmos as refeiçoes e quando era possivel tomavamos banho de forma muito precaria, a maior parte das vezes na agua fria, para nao dizer "gelada", pois estavamos na montanha.
O principal método pedagogico era baseado em gritarias constantes, e muito frequentemente na pancada, distribuida sem restriçoes por parte dos cabos, de cada vez que algum instruendo nao se executava com a rapidez suficiente, ou de cada vez que algum nao conseguia ultrapassar este ou aquele obstaculo ou efectuar determinada manobra correctamente. Como uma boa parte dos legionarios ainda nao percebe bem o francês, eram por vezes mais lentos a executar as ordens por essa razao,... mas isso nao era atenuante para os cabos e sargentos instrutores.
Nos "tempos livres" aprendemos e praticamos a ordem unida horas a fio, e os celebres canticos da legiao. Ninguem imagina o que sofre um legionario para aprender a cantar da forma que tanto impressiona os civis...
Nas instalaçoes do 4° RE, nas poucas vezes que la estavamos, pois a maior parte da instruçao era no terreno, dava-se mais enfase à instruçao mais teorica e ao tiro em stand , secorrismo, FLE (formaçao legiao estrangeira, onde se incute o espirito legionario), aprendizagem da lingua francesa, ordem unida ,etc ... e claro esta, desporto e tiro, muito desporto e muito tiro !
O que nos era mais dificil de suportar era a falta de tempo para nos mesmos. Nos so pudemos ir livremente ao bar do regimento, a que chamamos "Foyer" ao fim de algumas semanas e sempre por tempo limitado e acompanhados, e so pudemos sair à rua ao fim de 2 meses e meio , e so por 6 horas. Nao podiamos escrever nem telefonar à familia nos primeiros meses. Tudo estava estudado para nos condicionar ao maximo e para evitar as influencias exteriores.
O principal método pedagogico era baseado em gritarias constantes, e muito frequentemente na pancada, distribuida sem restriçoes por parte dos cabos, de cada vez que algum instruendo nao se executava com a rapidez suficiente, ou de cada vez que algum nao conseguia ultrapassar este ou aquele obstaculo ou efectuar determinada manobra correctamente. Como uma boa parte dos legionarios ainda nao percebe bem o francês, eram por vezes mais lentos a executar as ordens por essa razao,... mas isso nao era atenuante para os cabos e sargentos instrutores.
Nos "tempos livres" aprendemos e praticamos a ordem unida horas a fio, e os celebres canticos da legiao. Ninguem imagina o que sofre um legionario para aprender a cantar da forma que tanto impressiona os civis...
Nas instalaçoes do 4° RE, nas poucas vezes que la estavamos, pois a maior parte da instruçao era no terreno, dava-se mais enfase à instruçao mais teorica e ao tiro em stand , secorrismo, FLE (formaçao legiao estrangeira, onde se incute o espirito legionario), aprendizagem da lingua francesa, ordem unida ,etc ... e claro esta, desporto e tiro, muito desporto e muito tiro !
O que nos era mais dificil de suportar era a falta de tempo para nos mesmos. Nos so pudemos ir livremente ao bar do regimento, a que chamamos "Foyer" ao fim de algumas semanas e sempre por tempo limitado e acompanhados, e so pudemos sair à rua ao fim de 2 meses e meio , e so por 6 horas. Nao podiamos escrever nem telefonar à familia nos primeiros meses. Tudo estava estudado para nos condicionar ao maximo e para evitar as influencias exteriores.
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Re: Legiao estrangeira, a minha experiencia pessoal.
Nao posso concluir esta primeira parte do meu relato, (sobre a instruçao) sem falar sobre as marchas na legiao. A expressao "marche ou crève" , que em português significa : " ou andas ou rebentas", ficou célebre através do cinema e da literatura. Durante as longas patrulhas que antigamente os legionarios faziam a pé no deserto do Sahara, aquele que nao se aguentasse era deixado no caminho, onde inevitavelmente acabaria por morrer. Isto é o que nos vimos no cinema e lemos nalguns livros , nao sei se na realidade seria bem assim, pois esta situaçao contraria o "Codigo de honra do legionario" que diz :
- "...tu n'abandonnes jamais ni tes morts, ni tes blessés, ni tes armes " .
em português :
"...tu nunca abandonas, nem os teus mortos, nem os teus feridos, nem as tuas armas ".
A verdade porém, é que o referido codigo de honra nao era frequentemente seguido à letra...apesar de me abster de desenvolver muito este tema.
A primeira grande marcha que nos efectuamos é a chamada marcha do "Képi Branco". Esta marcha que eu fiz 4 semanas depois de têr começado a instruçao, durou 6 dias, e foi efectuada como seria de esperar em zonas montanhosas, durante os quais percorremos cerca de 200 quilometros. Normalmente o ritmo é de 25/30 quilometros por dia, mas o nosso chefe de secçao gostava de ir além do que era exigido pelo programa de instruçao.
Esta primeira grande marcha nao foi, nem de perto nem de longe, a mais dificil que fiz durante os 8 anos e meio que passei na legiao. Mais tarde falarei duma bem mais dificil que fiz no monte Garbi, em Djibouti, através dum dos desertos mais quentes do mundo.
Todos os legionarios da secçao (à excepçao de um italiano), conseguiram obter o seu Képi branco, simbolo do seu novo estatuto de legionario, no final desta marcha, que até nem achei particularmente dificil.
- "...tu n'abandonnes jamais ni tes morts, ni tes blessés, ni tes armes " .
em português :
"...tu nunca abandonas, nem os teus mortos, nem os teus feridos, nem as tuas armas ".
A verdade porém, é que o referido codigo de honra nao era frequentemente seguido à letra...apesar de me abster de desenvolver muito este tema.
A primeira grande marcha que nos efectuamos é a chamada marcha do "Képi Branco". Esta marcha que eu fiz 4 semanas depois de têr começado a instruçao, durou 6 dias, e foi efectuada como seria de esperar em zonas montanhosas, durante os quais percorremos cerca de 200 quilometros. Normalmente o ritmo é de 25/30 quilometros por dia, mas o nosso chefe de secçao gostava de ir além do que era exigido pelo programa de instruçao.
Esta primeira grande marcha nao foi, nem de perto nem de longe, a mais dificil que fiz durante os 8 anos e meio que passei na legiao. Mais tarde falarei duma bem mais dificil que fiz no monte Garbi, em Djibouti, através dum dos desertos mais quentes do mundo.
Todos os legionarios da secçao (à excepçao de um italiano), conseguiram obter o seu Képi branco, simbolo do seu novo estatuto de legionario, no final desta marcha, que até nem achei particularmente dificil.
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Re: Legiao estrangeira, a minha experiencia pessoal.
Eu tinha um caso desses no meu pelotão de recruta, era um bom rapaz, mas era fraco tanto intelectual como psicológicamente. O mais engraçado é que ele era provavelmente o homem mais forte do pel.
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Re: Legiao estrangeira, a minha experiencia pessoal.
Assiti a um episodio que confirma, dentro do seu contexto, a expressao "marche ou crève".
Numa marcha que fizemos na regiao montanhosa de Murat, privados de sono e com a agua muito racionada, um dos legionarios, um italiano que era um tipo sempre alegre e bem disposto, foi-se abaixo e apesar dos estimulos habituais (berros e pontapés) nao se conseguia levantar . Apesar dos evidentes sinais de esgotamento : o homem tinha o rosto congestionado, espumava pela boca, mal mexia os olhos e respirava com dificuldade, foi arrastado pelo chao até que o sargento-chefe W. exasperado, sacou da sua pistola e lha encostou à cabeça ordenando-lhe :" levanta-te filho da p... ou rebento-te os miolos". Claro que o homem ja nao se levantou porque entretanto perdeu conhecimento.
Teve que ser evacuado por helicopetero pois a zona nao era acessivel a veiculos. Este italiano foi (salvo erro) a unica baixa da secçao.
Uma outra situaçao curiosa durante uma marcha, foi a intervençao da gendarmeria (Policia militarizada francesa) alertada por uma senhora que, estando a trabalhar no campo, e tendo assistido horrorizada ao espancamento de um legionario, chamou os gendarmes. Estes nao tardaram a chegar e identificaram o graduado responsavel que posteriormente foi castigado pelo coronel, comandante do 4°RE. Como havia um relatorio da policia, o comandante nao pode abafar o caso...
Numa marcha que fizemos na regiao montanhosa de Murat, privados de sono e com a agua muito racionada, um dos legionarios, um italiano que era um tipo sempre alegre e bem disposto, foi-se abaixo e apesar dos estimulos habituais (berros e pontapés) nao se conseguia levantar . Apesar dos evidentes sinais de esgotamento : o homem tinha o rosto congestionado, espumava pela boca, mal mexia os olhos e respirava com dificuldade, foi arrastado pelo chao até que o sargento-chefe W. exasperado, sacou da sua pistola e lha encostou à cabeça ordenando-lhe :" levanta-te filho da p... ou rebento-te os miolos". Claro que o homem ja nao se levantou porque entretanto perdeu conhecimento.
Teve que ser evacuado por helicopetero pois a zona nao era acessivel a veiculos. Este italiano foi (salvo erro) a unica baixa da secçao.
Uma outra situaçao curiosa durante uma marcha, foi a intervençao da gendarmeria (Policia militarizada francesa) alertada por uma senhora que, estando a trabalhar no campo, e tendo assistido horrorizada ao espancamento de um legionario, chamou os gendarmes. Estes nao tardaram a chegar e identificaram o graduado responsavel que posteriormente foi castigado pelo coronel, comandante do 4°RE. Como havia um relatorio da policia, o comandante nao pode abafar o caso...
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Re: Legiao estrangeira, a minha experiencia pessoal.
FANTÁSTICO!!!
Com a permissão dos colegas, estou movendo este tópico para a Seção FORÇAS TERRESTRES, é um desperdício ficar nos 'Geraes'...
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“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Tenho que acrescentar uma coisa, o nosso caro Legionário foi PA, por isso tinha já alguma "bagagem" em cima. É que os militares da PA têm uma curso muito interessante e há um espirito de corpo bastante forte. O meu pai foi PA (anos 70) e antes de ir para a FAP fez a recruta e especialidade (armas pesadas) no Exército. Do pessoal que tirou a especialidade com ele foi tudo para a Guiné, só um pequeno grupo que se tinha dado como voluntários para a FAP é que se safaram. Segundo ele, no curso aprendeu coisas que nunca tinha sequer ouvido falar, fez treinos com um rigor e com uma complexidade que só mesmo nas Tropas Especiais é que havia instrução semelhante (até porque metade dos instrutores eram Páras).
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Relatos interessantes. Bem semelhantes ao que acontece aqui nas casernas brasileiras, em especial, as unidades de elite.
Por falar nisso, o autor do tópico conheceu algum legionário brasileiro?
Por falar nisso, o autor do tópico conheceu algum legionário brasileiro?
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Conheci sim ; mais do que um !Frederico Vitor escreveu:Relatos interessantes. Bem semelhantes ao que acontece aqui nas casernas brasileiras, em especial, as unidades de elite.
Por falar nisso, o autor do tópico conheceu algum legionário brasileiro?
O primeiro que conheci foi logo na instruçao , ele nao estava na minha secçao infelizmente. Era um rapaz de 28 anos do Parana, com quem eu me dava muito bem. Falavamos muito da sua terra, que tambem é a terra de parte da minha familia, pois os meus tios foram para o Brasil (Cascavel) nos anos 60 e os meus primos nasceram e sao brasileiros.
Ele era muito reservado, praticamente so se abria comigo . Ele era uma joia de pessoa mas o seu aspecto era mesmo intimidante, dai o pessoal nao se chegar muito a ele
Foi expulso da Legiao (depois de passar umas semanas na prisao) porque virou um cabo ao contrario quando este lhe pôs a mao em cima..
Tive tambem um chefe de serviço brasileiro quando estive destacado no 1°RE em Aubagne de quem era amicissimo. Uma pessoa muito competente no seu trabalho mas ao mesmo tempo muito acessivel comigo apesar de ser meu superior.
Fora estes dois de quem era muito amigo, conheci alguns outros que fui cruzando ao longo dos anos de serviço.
Na altura em que eu estava na Legiao, alguns dos meus colegas que estavam estacionados no 3°REI, na Guyana francesa, foram tirar o curso de "comandos da selva" ao centro de instruçao brasileiro de comandos (ja nao me recordo exactamente do nome deste centro). Segundo os seus relatos, aquilo ainda era mais duro (fisicamente) do que a legiao...e este centro brasileiro era uma referencia que todos os legionarios que por la passaram, evocavam com orgulho.
cumps
Editado pela última vez por legionario em Qui Set 16, 2010 5:37 am, em um total de 1 vez.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
legionario escreveu:Conheci sim ; mais do que um !Frederico Vitor escreveu:Relatos interessantes. Bem semelhantes ao que acontece aqui nas casernas brasileiras, em especial, as unidades de elite.
Por falar nisso, o autor do tópico conheceu algum legionário brasileiro?
O primeiro que conheci foi logo na instruçao , ele nao estava na minha secçao infelizmente. Era um rapaz de 28 anos do Parana, com quem eu me dava muito bem. Falavamos muito da sua terra, que tambem é a terra de parte da minha familia, pois os meus tios foram para o Brasil (Cascavel) nos anos 60 e os meus primos nasceram e sao brasileiros.
Ele era muito reservado, praticamente so se abria comigo . Ele era uma joia de pessoa mas o seu aspecto era mesmo intimidante, dai o pessoal nao se chegar muito a ele
Foi expulso da Legiao porque virou um cabo ao contrario quando este lhe pôs a mao em cima..
Tive tambem um chefe de serviço brasileiro quando estive destacado no 1°RE em Aubagne de quem era amicissimo. Uma pessoa muito competente no seu trabalho mas ao mesmo tempo muito acessivel comigo apesar de ser meu superior.
Fora estes dois de quem era muito amigo, conheci alguns outros que fui cruzando ao longo dos anos de serviço.
Na altura em que eu estava na Legiao, alguns dos meus colegas que estavam estacionados no 3°REI, na Guyana francesa, foram tirar o curso de "comandos da selva" ao centro de instruçao brasileiro de comandos (ja nao me recordo exactamente do nome deste centro). Segundo os seus relatos, aquilo ainda era mais duro (fisicamente) do que a legiao...e este centro brasileiro era uma referencia que todos os legionarios que por la passaram, evocavam com orgulho.
cumps
Legionário o nome deste centro é CIGS-Centro de Instrução de Guerra na Selva. SEja bem vindo e continue o seu impressionante relato.
Só há 2 tipos de navios: os submarinos e os alvos...
Armam-se homens com as melhores armas.
Armam-se Submarinos com os melhores homens.
Os sábios PENSAM
Os Inteligentes COPIAM
Os Idiotas PLANTAM e os
Os Imbecis FINANCIAM...
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Ola Cabeça de Martelo, como vai o FD Portugal ?cabeça de martelo escreveu:Tenho que acrescentar uma coisa, o nosso caro Legionário foi PA, por isso tinha já alguma "bagagem" em cima. É que os militares da PA têm uma curso muito interessante e há um espirito de corpo bastante forte. O meu pai foi PA (anos 70) e antes de ir para a FAP fez a recruta e especialidade (armas pesadas) no Exército. Do pessoal que tirou a especialidade com ele foi tudo para a Guiné, só um pequeno grupo que se tinha dado como voluntários para a FAP é que se safaram. Segundo ele, no curso aprendeu coisas que nunca tinha sequer ouvido falar, fez treinos com um rigor e com uma complexidade que só mesmo nas Tropas Especiais é que havia instrução semelhante (até porque metade dos instrutores eram Páras).
Os meus instrutores da PA eram quase todos paraquedistas. Uma coisa aprendi no curos de especialidade da PA que nao aprendi na legiao e que me veio a ser bem util mais tarde : o maneio da AK 47. Depois conto como é que isso me foi util .
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Obrigado ao Tulio e ao WalterGaudério pelos seus incentivos !
Estou a completar a parte seguinte do meu relato que dentro de horas publicarei aqui.
A versao que escrevi no forum português era algo resumida e estou a desenvolvê-la mais para a colocar aqui em primeira mao.
cumps
Estou a completar a parte seguinte do meu relato que dentro de horas publicarei aqui.
A versao que escrevi no forum português era algo resumida e estou a desenvolvê-la mais para a colocar aqui em primeira mao.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Outros componentes muito importantes na formaçao dum legionario sao a « Ordem unida »…e os canticos. Passamos horas a fio, quase todos os dias, a marchar no passo lento e imponente que é caracteristico da Legiao, sempre fazendo atençao aos mais pequenos detalhes no que diz respeito aos alinhamentos , à cabeça bem levantada, aos dedos das maos bem esticados, ao balançar dos braços que deve ser perfeitamente sincronizado...
Praticar « ordem unida legion» na parada ou em pisos regulares ja nao é facil…imagine-se quando temos que o fazer nas serranias, com os calhaus e os desniveis do terreno. Os instrutores nunca estavam satisfeitos com os resultados e as suas retaliaçoes eram constantes : marchar no « passo do pato » (joelhos flectidos, de cocoras, com as maos segurando a arma atraz da nuca), avançar às cambalhotas em cima dos calhaus…a imaginaçao dos instrutores era o limite !
Sempre que possivel, as deslocaçoes sao feitas a cantar velhos e nostalgicos canticos guerreiros franceses e…alemaes. Esta tradiçao dos canticos alemaes (cantados em alemao) vem do tempo do fim da segunda guerra mundial quando milhares de soldados alemaes, sobretudo das Wafen SS, se alistaram em massa na Legiao para escaparem aos campos de concentraçao aliados.
Uma boa parte destes alemaes viria a morrer pela França, nos campos de batalha da Indochina e da Argélia e os canticos que eles trouxeram da sua Patria e das suas unidades ficaram a fazer parte das tradiçoes da Legiao. Na maior parte dos casos, as letras destas cançoes foram alteradas, pois na sua origem o seu conteudo era politico (nacional-socialista), mas elas têm todas uma coisa em comum : sao impressionantes! Em meados dos anos 90, saiu uma directiva que proibia cantar em alemao…nao sei se esta ordem se mantem ainda nos dias de hoje, mas a mim, essa proibiçao nao me incomodou mesmo nada… pois sempre fui alérgico à lingua alema e nunca consegui aprender um cantico completo nesta lingua !
Praticar « ordem unida legion» na parada ou em pisos regulares ja nao é facil…imagine-se quando temos que o fazer nas serranias, com os calhaus e os desniveis do terreno. Os instrutores nunca estavam satisfeitos com os resultados e as suas retaliaçoes eram constantes : marchar no « passo do pato » (joelhos flectidos, de cocoras, com as maos segurando a arma atraz da nuca), avançar às cambalhotas em cima dos calhaus…a imaginaçao dos instrutores era o limite !
Sempre que possivel, as deslocaçoes sao feitas a cantar velhos e nostalgicos canticos guerreiros franceses e…alemaes. Esta tradiçao dos canticos alemaes (cantados em alemao) vem do tempo do fim da segunda guerra mundial quando milhares de soldados alemaes, sobretudo das Wafen SS, se alistaram em massa na Legiao para escaparem aos campos de concentraçao aliados.
Uma boa parte destes alemaes viria a morrer pela França, nos campos de batalha da Indochina e da Argélia e os canticos que eles trouxeram da sua Patria e das suas unidades ficaram a fazer parte das tradiçoes da Legiao. Na maior parte dos casos, as letras destas cançoes foram alteradas, pois na sua origem o seu conteudo era politico (nacional-socialista), mas elas têm todas uma coisa em comum : sao impressionantes! Em meados dos anos 90, saiu uma directiva que proibia cantar em alemao…nao sei se esta ordem se mantem ainda nos dias de hoje, mas a mim, essa proibiçao nao me incomodou mesmo nada… pois sempre fui alérgico à lingua alema e nunca consegui aprender um cantico completo nesta lingua !
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
A meio do mês de agosto a instruçao de base chegava ao fim, e para mim assim como para os 3 outros portugueses (os da foto) tudo se tinha passado muito bem…à excepçao de dois pequenos incidentes que tive . Num deles, o cabo alemao apanhou-me em flagrante, a mim e a outro legionario que estava de guarda comigo à noite num acampamento, a « pilhar » a tenda onde estava armazenado o café e os viveres. A besta do cabo tinha os sentidos muito apurados e ouviu-nos a remexer na dita tenda onde procuravamos discretamente sacar algum café para preparar uma bebida quente, pois a noite estava fria… Ele irrompeu dentro do local completamente fora de si e… tivemos direito a uma chuva de socos e de chutos ; ficamos sem vontade de beber café no resto da noite, e ficamos tambem com alguns hematomas como recordaçao, pois o homem era mesmo grande e pesado J
O segundo incidente foi mais grave para mim, e foi tambem a maior surra que apanhei na minha vida até hoje J ! Durante um exercico de campo em que participava toda a companhia , esta encontrava-se acampada algures nas serras. Quando a minha secçao chegou à zona do acampamento, montamos as nossas tendas enquanto os sargentos foram « descontrair » para uma grande tenda que servia de bar e que se encontrava ja montada, tendo previamente entregue as suas pistolas a um dos cabos para que este as guardasse na tenda que servia de armaria. O graduado responsavel da armaria nao estava presente e o cabo como nao queria esperar por ele, chamou-me e entregou-me duas pistolas carregadas , (o que, coisa que eu nao sabia, era rigorosamente proibido, pois no passado tinha havido historias de instruendos que se tinham « passado » e disparado contra os instrutores), ao mesmo tempo que me ordenou que procurasse o armeiro e que lhe entregasse as ditas pistolas. Como me tinham dito que o sargento da armaria se encontrava no bar-tenda dos sargentos, dirigi-me aqui inocentemente ,com as duas armas carregadas enfiadas no cinturao… Quando entrei na tenda estranhei o facto de todos os olhares se terem voltado para mim e o subito silencio que se fez…Respondi a um sargento de outra secçao que me interpelou, as razoes da minha entrada no bar, e este pôs-me logo na rua secamente.
O segundo incidente foi mais grave para mim, e foi tambem a maior surra que apanhei na minha vida até hoje J ! Durante um exercico de campo em que participava toda a companhia , esta encontrava-se acampada algures nas serras. Quando a minha secçao chegou à zona do acampamento, montamos as nossas tendas enquanto os sargentos foram « descontrair » para uma grande tenda que servia de bar e que se encontrava ja montada, tendo previamente entregue as suas pistolas a um dos cabos para que este as guardasse na tenda que servia de armaria. O graduado responsavel da armaria nao estava presente e o cabo como nao queria esperar por ele, chamou-me e entregou-me duas pistolas carregadas , (o que, coisa que eu nao sabia, era rigorosamente proibido, pois no passado tinha havido historias de instruendos que se tinham « passado » e disparado contra os instrutores), ao mesmo tempo que me ordenou que procurasse o armeiro e que lhe entregasse as ditas pistolas. Como me tinham dito que o sargento da armaria se encontrava no bar-tenda dos sargentos, dirigi-me aqui inocentemente ,com as duas armas carregadas enfiadas no cinturao… Quando entrei na tenda estranhei o facto de todos os olhares se terem voltado para mim e o subito silencio que se fez…Respondi a um sargento de outra secçao que me interpelou, as razoes da minha entrada no bar, e este pôs-me logo na rua secamente.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Menos de uma hora depois, ja eu tinha entregue as armas, fui convocado à tenda do chefe de secçao, onde se encontravam tambem os sargentos tahitiano e o inglês. Todos os 3 tinham acabado de chegar do bar-tenda, notava-se pelo cheiro a Pastis, e onde certamente teriam ouvido comentarios sobre a minha presença no mesmo, com as pistolas à cintura.
Entrei, pus-me em sentido e …nao tive tempo para abrir a boca para me apresentar que, na posiçao de « sentido » , levei um murro no rosto, desferido pelo chefe de secçao, que me desiquilibrou para traz…aqui esperava-me um violento soco do gigante tahitiano que me lançou logo por terra ; depois de estar no chao, enrolei-me e procurei proteger o rosto e a cabeça com as maos e os braços que se rasgavam a cada golpe que levava das botas cardadas desferidos pelos 3 sub-oficiais, cada um do seu lado.
A coisa durou o que me pareceu uma eternidade e so parou quando o sargento português, atraido pelo barulho, entrou na tenda e me tirou de la para fora, gritando aos seus colegas para que parassem o « massacre ».
Eu estava num estado lastimoso, coberto de sangue e com golpes na cara, nas maos, nos bracos, nas pernas,...doia-me mesmo o corpo todo.
Quando sai da tenda apoiado pelo sargento M., os meus camaradas olharam para mim e nao esconderam a impressao que eu lhes fazia. O sargento tuga quiz-me levar à infermaria para ser visto pelo médico o que eu recusei, tendo sido tratado pelo cabo-enfermeiro da secçao. Contei-lhe, a seu pedido, como se tinha passado a historia do cabo e das pistolas…Pelos vistos o chefe de secçao nao sabia que tinha sido o cabo a entregar-me as armas. O sargento M. era tudo menos calmo ! Ao ouvir a minha historia, ficou fora de si e entrou na tenda do chefe de secçao para lhe pedir uma explicaçao. Este ao tomar conhecimento do que se tinha passado na realidade, chamou o cabo à sua tenda…e foi a vez deste «almoçar » , e com o sargento M. a dar-lhe as « entradas » ! J
A partir deste dia, o meu chefe de secçao, que era um homem habitualmente muito violento e irascivel, mas consciente da injustiça que tinha cometido contra mim, nunca mais foi « grosso » comigo ! Anos mais tarde, je eu era sargento e ele Adudante-chefe, encontramo-nos por acaso e ele, à sua maneira, fez-me perceber que se tinha arrependido do sucedido.
Entrei, pus-me em sentido e …nao tive tempo para abrir a boca para me apresentar que, na posiçao de « sentido » , levei um murro no rosto, desferido pelo chefe de secçao, que me desiquilibrou para traz…aqui esperava-me um violento soco do gigante tahitiano que me lançou logo por terra ; depois de estar no chao, enrolei-me e procurei proteger o rosto e a cabeça com as maos e os braços que se rasgavam a cada golpe que levava das botas cardadas desferidos pelos 3 sub-oficiais, cada um do seu lado.
A coisa durou o que me pareceu uma eternidade e so parou quando o sargento português, atraido pelo barulho, entrou na tenda e me tirou de la para fora, gritando aos seus colegas para que parassem o « massacre ».
Eu estava num estado lastimoso, coberto de sangue e com golpes na cara, nas maos, nos bracos, nas pernas,...doia-me mesmo o corpo todo.
Quando sai da tenda apoiado pelo sargento M., os meus camaradas olharam para mim e nao esconderam a impressao que eu lhes fazia. O sargento tuga quiz-me levar à infermaria para ser visto pelo médico o que eu recusei, tendo sido tratado pelo cabo-enfermeiro da secçao. Contei-lhe, a seu pedido, como se tinha passado a historia do cabo e das pistolas…Pelos vistos o chefe de secçao nao sabia que tinha sido o cabo a entregar-me as armas. O sargento M. era tudo menos calmo ! Ao ouvir a minha historia, ficou fora de si e entrou na tenda do chefe de secçao para lhe pedir uma explicaçao. Este ao tomar conhecimento do que se tinha passado na realidade, chamou o cabo à sua tenda…e foi a vez deste «almoçar » , e com o sargento M. a dar-lhe as « entradas » ! J
A partir deste dia, o meu chefe de secçao, que era um homem habitualmente muito violento e irascivel, mas consciente da injustiça que tinha cometido contra mim, nunca mais foi « grosso » comigo ! Anos mais tarde, je eu era sargento e ele Adudante-chefe, encontramo-nos por acaso e ele, à sua maneira, fez-me perceber que se tinha arrependido do sucedido.
IN HOC SIGNO VINCES