Pepê Rezende escreveu:Esse processo dura, no mínimo, 10 anos. A Mectron está envolvida com o SCIPIO desde 1986 e só agora deu algum resultado. Radar meteorológico é o mais simples. É a criança engatinhando. Só que não conhece processos industriais pode dizer que ela pode desenvolver "módulos de combate ar-ar", como a propaganda enganosa da SAAB disse.
Vamos ser sérios.
Santiago escreveu:O que queremos para o futuro quando formos desenvolver um caça nacional daqui a 10-20 anos (ou mais)?
Encomendar um radar a Thales/Onmisys que fabricará aqui um sob-licença, do seu portfólio e desenvolvido no exterior ou incentivar uma empresa genuinamente nacional para que absorva tecnologias e se especialize em radares, incluindo militares? Vale a pena ver como os chineses e indianos estão fazendo.
A Omnisys tem tanta experiência na fabricação de radares militares quanto a Atmos. Alias, ambas são parceiras no desenvolvimento de radares meteorológicos. A Omnisys tem um bom contrato como sub-contratada da Thales na manutenção dos radares do Cindacta.
Quando o Scipio foi encomendado? Pepê, se o governo não financiar adequadamente os projetos estratégicos e encomendar os produtos resultantes, vamos continuar com inveja de chineses e indianos e sempre dependentes de fornecedores estrangeiros.
[]s
As tecnologias-chaves, segundo a licitação, deverão ser entregues à FAB. Caberá a ela decidir quem ficará de posse do patrimônio tecnológico. Quanto à Omnisys, ela tem uma experiência de 60 anos por trás dela, a própria Thales (ela fabricou sets de radar para cruzadores e couraçados franceses entre 1939 e 1942, quando tinha outro nome). A Atmos só desenvolveu e desenvolve radares atmosféricos. Esse, aliás, é um dos truques para burlar o pacote de ToT. Escolhe-se um associado que não tenha capacidade imediata de absorvê-lo. Quando consegue, já está obsoleto. Ao contrário do que se pensa, a grana fluiu para o Scipio nesses anos todos, faltou capacitação inicial à Mectron.
Em relação ao modelo chinês, ele compra a tecnologia de um produto e, a partir daí, inicia o processo de desenvolvimento em um grande centro de pesquisa mantido pelo governo. Muitas vezes a cópia é melhor que a original. O SD-10 tem elementos do Derby a bordo, mas possui um alcance maior que o AIM-120C-7. O AWACS deles, que usa o Il-76 como plataforma, é AESA. O domo, em verdade, traz três antenas fixas que dão 360º de varredura.
Pode não parecer, mas o modelo que defendo é exatamente esse. Faltam os centros de desenvolvimento (temos apenas o CTA) e nossa experiência nesse campo é pífia. Também precisamos parar de reinventar a roda por meio de engenharia reversa. Os russos nos propuseram a fabricação sob licença do Igla no Brasil. Bastaria a aquisição de 2 mil deles, o mínimo para uma cobertura decente de nossas unidades. Não é um valor proibitivo em relação ao custo/benefício: US$ 400 milhões. Em lugar disso, abrimos um míssil russo no CTEx há cinco anos. A cópia não deu certo e nunca foi disparada. Foi mais barato? Sim, mas não deu certo...
O RBE2 é uma excelente plataforma para desenvolvimento futuro. Madura e prestes a entrar em operação. O pacote francês foi o único a nos abrir o conteúdo do radar. Boeing e SELEX não se comprometeram com a transferência de hardware. A Thales topou. Aliás, a Mectron será associada ao programa depois da fase de montagem inicial pela Omnisys. Resta saber se a indústria nacional terá capacidade de suprir os componentes necessários.
Todos reclamam que o Sampa não está operacional, mas não sabem as razões por trás. Parte do sistema de geração de vapor é formado por condensadores que usam água do mar. Esse conjunto usa 10 mil gaxetas (anéis isolantes de vedação). Se não funcionam direito, a água destilada é contaminada pela água salgada o que, a longo prazo, danifica a caldeira. Tínhamos 6 mil em estoque.
Em uma de suas últimas saídas, detectou-se a presença de água do mar numa das caldeiras. A primeira idéia foi testar uma a uma para encontrar a falha. Quando se observou que isso não era viável, a Marinha procurou suprir a necessidade encomendando conjuntos em uma empresa nacional. Era para durarem seis anos, duraram exatas seis horas! Tivemos de recorrer aos franceses, que reabriram uma linha de montagem para fornecer 40 mil gaxetas...
Ou seja: temos problemas para suprir componentes militares simples. Imagine a demanda exigida em circuitos eletro-eletrônicos complexos... Não é para menos que nossa supridora mais confiável é a Aeroeletrônica, que tem capital israelense (engraçado, ninguém lembra disso porque não é francesa). Mesmo assim, alguns F-5EM apresentaram apagões em seus painéis de bordo.
Temos de saber nossas limitações para superá-las, Santiago. Esse é o segredo do modelo chinês e do modelo japonês. São lições que deveríamos levar em conta para, realmente, nos tornarmos independentes.
Abraços
Pepê