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Mensagem
por Pepê Rezende » Dom Jun 27, 2010 9:12 am
Em função de denúncias que chegaram ao meu conhecimento, fui a campo verificar se houvera modificações nos laudos emitidos pela Marinha a respeito da operação do Rafale no Sampa. Na segunda-feira passada, amigos da MB e da FAB deram-me acesso ao material entregue ao Ministro da Defesa e mantidos na Exposição de Motivos que será entregue ao presidente Lula.
A assinatura dos comandantes das duas forças atestam que são originais. Alguns pontos:
1. O Rafale operaria do Sampa com apenas 40% de sua capacidade, o que poderia ser minimizado com o reabastecimento em vôo após a decolagem;
2. O F/A-18E/F Super Hornet não tem condições de operar em nosso porta-aviões. Seu peso vazio supera a capacidade de cabeamento, o comprimento é maior que os elevadores e a catapulta não teria condições de lançá-lo;
3. Mesmo o Gripen Naval, que só existe em teoria, operaria apenas com 80% da capacidade.
O documento preparado pela MB e MANTIDO TEXTUALMENTE na Exposição de Motivos afirma que os três operariam sem problemas na futura classe de navios aeródromos que será operada pela MB, de 50 mil toneladas. O material preparado pela COPAC e revisado pelo Alto Comando da Aeronáutica FOI MANTIDO. O que mudou foram os pesos atribuídos a cada item. Um bom exemplo: nos parâmetros originais, PREPARADOS EM 1995, a transferência de tecnologia tinha peso 9 em 100. Em compensação, preço e custo de manutenção receberam pesos 30 e 40. Não é para menos que o F/A-18E/F foi o vencedor do processo. Os brigadeiros fizeram os engenheiros aceitarem o que eles mesmos haviam estabelecido como regra! O Jobim devolveu porque não atendia aos novos pressupostos da END.
Dentro dos novos critérios, ESTABELECIDOS PELA ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA, o pacote tecnológico passou a valer 40%. É bom ressaltar que o recálculo das pontuações foi preparado pela COPAC. Nesse processo, terminado há 75 dias, o Rafale apareceu como vencedor porque obteve notas regulares em todos os itens, como o "timinho" do Fluminense que foi campeão carioca na década de 50 porque vencia regularmente de 1 x 0, enquanto os concorrentes, como o meu Mengão, aplicavam goleadas, mas perdiam mais pontos por se arriscarem desnecessariamente. Os concorrentes ganharam notas excelentes em alguns pontos, mas apresentaram um desempenho latimável em outros.
O Super Hornet foi extremamente penalizado pela legislação dos Estados Unidos, que impede ao governo estabelecer offsets com outros Estados. Cabe apenas ao fabricante, que não pode bancar a aquisição de aviões para as FFAA de Tio Sam, só para dar um exemplo. O Gripen, por sua vez, apresentou altos riscos, segundo a própria COPAC. Os suecos nem conseguiram apresentar uma planilha de custos do F-414, porque trata-se de material proprietário da US Navy. Só para dar uma idéia, o volume de páginas nesse quesito equivale à soma das páginas usadas para descrever os riscos dos DOIS concorrentes.
Há dúvidas sobre o desempenho do radar, sobre a durabilidade da célula, sobre o cumprimento do programa e algumas certezas devastadoras, como o fato de que, por ter pouco espaço interno e menor capacidade de geração de energia, o Gripen oferece menor capacidade de desenvolvimento que os concorrentes. Meninos, eu vi: escrito pela própria COPAC! A propósito, teve uma nota um pouco melhor que a do Rafale no quesito transferência de tecnologia, mas não o suficiente para superar seus pontos fracos nem a contrapartida comercial da França, que garante a compra de 12 KC-390 e a participação da Dassault no programa da Embraer.
Quanto à Exposição de Motivos, ela é um primor sob o ponto de vista metodológico. Cada frase remete a um documento anexo, inclusive para a Exposição de Motivos enviada em dezembro pelo Comando da Aeronáutica, que usa um código de cores para destacar pontos fortes, fracos e medianos de cada aparelho...
Por motivos de saúde, afastei-me dos fóruns. Minha diabetes, descoberta há um ano, entrou em nova fase. Para piorar, estava com uma gripe incubada há quase dois meses (deflagrou neste fim de semana). Espero ter sido útil às discussões.
A propósito: a MB quer operar 48 aviões de suas duas unidades futuras.
Abraços
Pepê
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Pepê Rezende em Dom Jun 27, 2010 9:17 am, em um total de 1 vez.