Estrutura de 1º mundo a serviço da investigação
Divisão de Homicídios faz 100 dias e eleva resolução de casos, como o crime da mala
POR MARIA INEZ MAGALHÃES
Rio - Na data em que completou 100 dias de funcionamento, a Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil prendeu ontem, em Pernambuco, um acusado de matar a mulher e deixar o corpo dela dentro de uma mala, no Leblon, há dez dias. Com uma estrutura maior e mais moderna, a delegacia especializada conseguiu melhorar o índice de elucidação de assassinatos. Dos 399 procedimentos abertos na unidade até 30 de abril, 14,5% foram solucionados, o que corresponde a 58 registros. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), em todo o ano de 2007, esse índice foi de apenas 9%.
O percentual alcançado até agora pela DH está dentro da meta estipulada pela Chefia de Polícia Civil. Quando chegar aos seis meses de funcionamento da divisão, o objetivo é solucionar 30% dos casos. Até 30 de abril, 33 pessoas foram presas, 15 em flagrante, número considerado satisfatório pela polícia.
Desde a inauguração, no dia 8 de fevereiro, delegados, agentes, peritos e papiloscopistas passaram a atuar juntos em locais de homicídios. Ao todo, são sempre 16 profissionais trocando informações ao mesmo tempo.
Não é apenas nos lugares onde acontecem os assassinados que a estrutura de superdelegacia se diferencia do modelo anterior. Com 230 policiais, sendo seis delegados, há 170 agentes trabalhando todos os dias. “A polícia tem investigado os homicídios como nunca. E mesmo nos casos ainda não solucionados, os procedimentos estão adiantados. Temos produzido muitas provas técnicas que estão sendo enviadas à Justiça”, comemora o chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski.
Outro diferencial é a tecnologia. Como os agentes da série de TV americana CSI — em que policiais e peritos criminais usam técnicas e equipamentos de ponta para elucidar crimes complexos —, os investigadores da DH contam com material para coleta de digitais, filmadoras, câmeras fotográficas, detectores de metal, luminol (para identificar sangue e sêmen, por exemplo) e carro que funciona como laboratório móvel. Uma das novidades é o ‘crimescope’, aparelho que emite sinal luminoso ao captar vestígios biológicos, como sangue, pólvora ou digitais.
Com a nova estrutura, os laudos dos locais de crimes são elaborados na DH, e não mais no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), agilizando a informação. As necropsias — exame do cadáver — também estão mais rápidas: legistas ficam à disposição da divisão no Instituto Médico Legal (IML).
“A polícia trabalha com prioridades. Reduzir os homicídios é uma. Não gosto de comemorar porque o caminho é longo. Mas podemos ser otimistas”, avalia o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.
De acordo com as estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP), o número de homicídios de janeiro a março foi o menor desde 1991, quando começaram as pesquisas.
Agentes vão a Pernambuco e prendem ex-marido
Equipe da Divisão de Homicídios, chefiada pelo delegado Felipe Ettore, prendeu ontem, no interior da Pernambuco, Rafael da Silva Lima, 27 anos, acusado de matar e colocar dentro de uma mala o corpo da mulher Íris Bezerra da Silva, 21, no início do mês. Ele estava escondido na casa de amigos na cidade de Vitória do Santo Antão. O acusado chegará hoje ao Rio.
Rafael é suspeito de matar Íris com 33 facadas, dobrar o corpo da ex-mulher e colocar na mala, abandonada no canal da Avenida Visconde de Albuquerque, Leblon. Segundo as investigações, o marido não se conformava com a separação. Com a prisão, a polícia agora irá comparar as imagens gravadas por câmeras do circuito interno de um prédio onde aparece um homem carregando mala igual à encontrada no canal.
Tio da vítima, Euclivaldo Barbosa comemorou a prisão de Rafael. “Era isso que a gente queria: que ele pagasse pelo que fez com minha sobrinha. Só não entendo como ele conseguiu viajar sem os documentos. Graças a Deus ele foi preso”, desabafou ele, que mora no Rio.
Moradora de Fagundes, na Paraíba, a 120 quilômetros de João Pessoa, a mãe de Íris, Maria da Guia de Freitas, ainda está no Rio. Ela veio para liberar o corpo da filha, mas aguarda a decisão da Justiça para levar a neta de 2 anos para morar com ela. A criança está na casa da avó paterna, na Favela da Rocinha, local onde, segundo Euclivaldo, Rafael teria matado Íris.
“É absurdo ela estar naquele lugar. Temos medo que ele mate a menina também. Estamos esperando a Justiça decidir”, disse Euclivaldo.
Meta é elucidar 60% dos casos em 2016
Para atender às exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI), que apontou a segurança como um dos pontos negativos na candidatura do Rio à Olimpíada de 2016, autoridades se comprometeram a elevar para 60% o índice de elucidação de homicídios. Um número ainda distante da realidade atual.
Para o delegado Felipe Ettore, diretor da DH, o desempenho pode melhorar. Ele destaca a rapidez com que as equipes chegam aos locais de crime. “Isso nos ajuda, muitas vezes, a conseguir provas fundamentais e até prisões em flagrante”, conta. Coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, a socióloga Julita Lemgruber visitou a DH e elogiou as mudanças: “ Essa estrutura é fundamental para que se melhorem os índices de elucidação de homicídios, que são vergonhosos no Rio”.