Governo instala postos pacificadores sem
estrutura para policiais em morros do Rio
Policiais que não têm alojamentos ou sede para trabalhar se sentem desmotivados
Maior aposta do governo do Rio de Janeiro para acabar com a violência em comunidades dominadas por traficantes ou milicianos, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) foram instaladas em oito áreas da capital fluminense, mas, metade delas não tem sede ou alojamento. Os policiais militares que atuam nessas unidades não têm lugar para guardar as armas, trocar de roupa e nem para descansar, já que muitos deles trabalham em turnos de 24 horas, onde quatro horas são reservadas para o descanso. Para ir ao banheiro ou realizar as funções administrativas, os policiais dessas UPPs sem sede têm de se espremer em contêineres.
A reportagem do R7 ouviu alguns desses PMs, que se sentem desvalorizados diante da falta de estrutura para trabalhar em um projeto tratado como prioridade pelo governo do Estado. Na UPP que atende as comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, que ficam entre Copacabana e Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, um alojamento improvisado está em péssimas condições de estrutura e higiene. No local há vazamentos, armários quebrados e muita sujeira, como mostra o vídeo abaixo.
Enquanto os policiais trabalham em condições insalubres, na mesma comunidade, o governo conclui agora no fim de junho a luxuosa obra de um elevador da estação General Osório do Metrô até o morro. A construção custou R$ 45 milhões – parte deles vindos de empréstimo do governo federal.
http://noticias.r7.com/videos/imagens-m ... 45417.html
O próprio secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, admite a dificuldade da instalação de UPPs, já que só é possível determinar onde será feita a construção após a ocupação da comunidade pela polícia. Na última sexta-feira (11) ele anunciou a instalação de unidades pacificadoras no Andaraí e no morro da Formiga, ambos na zona norte. Atualmente, 150 mil pessoas são protegidas pelas UPPs.
- É muito difícil. Não se pode ir naquela área normalmente, transitar, fazer um levantamento topográfico de onde vai colocar [a UPP], ver de quem é a propriedade do terreno. Esse trabalho é feito agora [após ocupação], porque pode-se ver onde é o lugar mais adequado. Pode-se conversar com as pessoas, ver quem é o proprietário daquela área, fazer medição, ver infraestrutura, acessibilidade, se chega carro, se não chega, que tipo de arquitetura pode ser usada.
Na ladeira dos Tabajaras, última UPP instalada na zona sul, em janeiro deste ano, o governo espera a iniciativa privada para construir a sede. Antes de iniciar o trabalho na unidade, os policiais têm de trocar de roupa e pegar as armas no 19º Batalhão da PM, em Copacabana e seguir a pé para a comunidade.
Um dos policiais ouvidos pelo R7, que preferiu não se identificar, trabalhava na UPP do Pavão-Pavãozinho e disse acreditar que a situação nos Tabajaras poderia melhorar, o que não aconteceu.
- Lá [Pavão-Pavãozinho] as condições são subumanas. Aqui [Tabajaras] nosso maior problema é a falta de estrutura. Não há motivação. Nosso trabalho não vai diminuir, mas haveria mais motivação [se houvesse instalações]. O governo está preocupado com a sociedade, mas e o policial militar?
O policial fez concurso em 2008 para trabalhar na Baixada Fluminense, mas, com o surgimento das UPPs, foi transferido para a capital. Ele percorre 80 km para ir e voltar do trabalho, porém, recebe uma gratificação por atuar na unidade de pacificação. Mesmo desmotivado com as condições do trabalho, o PM diz estar satisfeito com o seu desempenho.
- Adoro essa atividade. Não vou deixar de cumprir minha missão por causa dessas dificuldades.
O mesmo não acontece com outro PM ouvido pela reportagem. Ele fez e passou no mesmo concurso. Porém, é do sul do Estado e prestou a prova para trabalhar na sua região. Atualmente, ele está lotado na UPP dos Tabajaras, com uma escala de 24 horas de trabalho e três dias de folga. Como não há alojamento no local, tem de dividir uma viatura com colegas para poder usufruir das quatro horas de descanso a que tem direito no expediente.
- Você sai cedo de casa já desmotivado. Sempre tem alguém lá [comunidade] medindo, falando que vai construir alguma coisa, mas até agora nada. Se tivesse alojamento seria bem melhor, como em qualquer unidade da PM. É complicado abandonar o barco, mas estou com esse intuito.
A distância de 170 km que o soldado tem de percorrer para trabalhar também contribui para a desmotivação. Ele não tem perspectiva de ser transferido porque viu colegas tentarem a mesma coisa na Justiça e terem o pedido negado após a Secretaria de Segurança alegar que as UPPs são prioridade máxima.
- Não tem ninguém para fazer nada pela gente [sic]. O edital dizia que o concurso era voltado para o interior. Se soubesse que teria de trabalhar na capital, eu não fazia [o concurso].
A Secretaria da Segurança admite que não há previsão de inauguração de uma sede dos Tabajaras. Em Cidade de Deus, na zona oeste, a sede será construída pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), mas também não há previsão para inauguração.
Sobre a precariedade do alojamento da UPP do Pavão-Pavãozinho, a secretaria disse que uma nova sede será construída, porém, explicou por meio de nota que “as regras para uso de dinheiro público são rígidas. Exigem relatórios, projetos e aprovações de outros órgãos independentes do Executivo. São regras impostas pela sociedade. No caso do Pavãozinho, a Secretaria de Obras ficou responsável pela construção”.
Para o morro do Borel, primeira UPP na zona norte da cidade, uma estrutura modular já está em construção e terá 170 metros quadrados. Ela deve ficar pronta em 30 dias.
FONTE:
R7 RECORD