Dunga, contraditório na convocação e nas relações com a imprensa: exclusiva só na Globo
Não vou discutir nomes, afinal, Dunga é "coerente". Tanto que não chamou Paulo Henrique Ganso e Neymar por terem sido reservas no Santos em jogos no Brasileirão 2009. Mas convocou Doni, Júlio Baptista e Kléberson, que são suplentes hoje! Tão "coerente" que alegou não poder levar os santistas porque não foram testados. Mas incluiu o meia na lista de espera. E chamou Grafite, que atuou só 26 minutos em sua equipe.
Bobagem discutir nomes quando o aspecto técnico não importa tanto. Para Dunga, o que vale é "paixão", "emoção", "o sonho de vestir a camisa da seleção", "ser patriota". Opa, alto lá. Patriota? Então quem não torce loucamente pelo time da CBF é menos brasileiro do que aqueles que se descabelam pelo dunguismo? Não, essa eu não aceito, professor.
Se a turma do panetone passar a Copa vestida de amarelo e festejando cada gol, isso não fará desses elementos bons brasileiros. Pátria de chuteiras em pleno século 21? O mesmo discurso quatro décadas depois? Não, obrigado. Seleção é apenas um time de futebol. Ninguém é obrigado a torcer por ela, tampouco pode ser atacado por não adotar tal comportamento. Jornalistas devem informar e analisar. Imprensa não existe para apoiar nada, e ninguém dá resposta aos críticos.
A seleção da CBF não é "a" favorita ao título, mas apenas uma das equipes com chances. As escolhas de Dunga foram pela dedicação, que em alguns casos pode ser entendida como subserviência. Sim, prioridade para os cordatos que se deixam levar pelo discurso tacanho do técnico que a CBF criou. Falta talento. Com Ronaldinho Gaúcho e Ganso nos lugares de Michel Bastos e Kléberson, por exemplo, ele poderia mudar os rumos de uma partida.
Mas a inflexibilidade impede Dunga de rever conceitos. Não em todos os terrenos. Quando assumiu a seleção da CBF, ele assegurou que não haveria privilégios a jogadores, tampouco a veículos de comunicação. Dunga esteve no Bola da Vez da ESPN Brasil. Chamado a retornar, recusou. Outras TVs, rádios, jornais, revistas e sites gostariam de entrevistá-lo com mais tempo. Nada feito.
Mas concedeu uma exclusiva ao canal Sportv há alguns meses, e após a convocação apareceu no Jornal Nacional. Durante sete minutos, respondeu perguntas. Deu mais ênfase às reações emocionais dos jogadores do que ao desempenho técnico. E sorriu. Dunga estava em casa. Claro, sabia que ali ninguém lhe faria questionamentos de difícil resposta e com chance de réplica, algo que não acontece nas coletivas organizadas pela CBF.
O treinador parece viver num universo paralelo, só dele. Fala sobre uma volta da paixão do torcedor e de um desejo dos atletas de jogarem pela sua seleção como se isso fosse algo novo. Quantos renunciaram à convocação de Parreira em 2006? Todos os por ele chamados estiveram na Alemanha. O que houve foi bagunça há quatro anos, graças à permissividade geral, inclusive de Américo Faria e Ricardo Teixeira, até hoje na CBF, ao lado de Dunga, que ignora tal "detalhe".
Jogadores de nível técnico discutível veem a seleção como algo distante e, quando dentro dela, aceitam o que lhes é imposto, seja o que for. A lista de Dunga está cheia de gente assim, daí o comportamento tão elogiado. Até porque, para ele, jogar bola não é o mais importante. Pesa mesmo a capacidade de aceitar o discurso que parece extraído de um livro de auto-ajuda.
Coerência? Não me parece esta a palavra que marque a atual "Era". Que tal contradição, subserviência e intransigência?
*Mauro Cezar Pereira é comentarista dos canais ESPN, e da Rádio Eldorado/ESPN.