#1371
Mensagem
por Clermont » Sex Mai 07, 2010 3:51 pm
UM CONTO DE PORTA-AVIÕES.
Por Fred Reed – 23 de abril de 2010.
Eu me pergunto se os americanos compreendem que, em termos militares, eles tem uma salsicha pelo preço de um bife de filé mignon. O lamentável desempenho nas guerras recentes é, somente, um exemplo da decomposição em andamento, mas o estabelecimento total tornou-se desequilibrado, dirigido para combater os tipos de inimigos que nós não temos, ao invés destes que, recentemente, escolhemos fazer.
A Marinha é um excelente exemplo. O grupo de batalha de porta-aviões, o coração da Marinha, é uma forma, enormemente dispendiosa, de levar, relativamente, poucos aviões de combate para um local remoto. Ele é uma relíquia da Segunda Guerra Mundial para o qual era bem adequado.. Já que estava enfrentando grupos de batalha similares, as forças e fraquezas eram, mais ou menos, comparáveis.
Mas a Marinha não trava uma guerra há sessenta anos. Os grupos de batalha de hoje, CVBGs, como são chamados, são quase indistinguíveis daqueles de 1945, excepto pelo aperfeiçoamento das armas. Ao invés dos 5 pol/38, nós temos mísseis “Standard”. Ao invés de F4F “Hellcats”, os F-18 “Hornet”. Mesmo assim, o porta-aviões ainda é a nau-capitânea, protegida por cruzadores e destróieres de escolta, com interceptadores executanto patrulhas aéreas de combate. O problema é que o inimigo mudou.
Tenha em mente que um grande número de países temem um ataque dos Estados Unidos, entre eles, nações tão triviais quanto Rússia, China e Irã. Nenhum destes tem o dinheiro para construir grupos de porta-aviões para se opor aos da Marinha americana.
Todos eles têm pensado em formas baratas de dominar o mastodonte americano. Quatro soluções estão â mão:
1. Mísseis de cruzeiro, rente ao mar, muito rápidos, tais como o “Brahmos” e o “Brahmos II” (Match 5 +).
2. Torpedos de supercavitação, alcançando velocidades de mais de 320 Km/h.
3. Submarinos muito silenciosos, diesel-elétricos, no caso de países mais pobres.
4. Mísseis balísticos antinavio, tais como aquele atribuído aos chineses.
Qualquer entusiasta de assuntos militares sabe que a Marinha não pode defender-se contra isto. Ela diz que pode. Ela tem de dizer que pode. Em exercícios de esquadra contra submarinos, estes sempre vencem – com facilidade. O Pentágono tem tentado inventar medidas contra mísseis balísticos, desde os dias de Reagan (lembram da “Guerra nas Estrelas”?) com resultados miseráveis. Se você tem amigos do peito na Marinha, pergunte a eles, depois de lhes dar algumas cervejas, o que os faz mijar de medo. Fácil: ondas de velozes, furtivos, mísseis de cruzeiro, rentes ao mar, com guiagem terminal multi-modo.
Acrescente-se que os navios de hoje são frágeis, baseados na pressuposição de que eles nunca serão atingidos. Vá à bordo de um couraçado da Segunda Guerra, como o BB-61 Iowa, (eu fui) e você encontrará cinturões de blindagem de dezesseis polegadas e torretas desenhadas para resistir ao impacto de um asteróide. Agora, vá à bordo de um barco AEGIS da classe Ticonderoga (eu fui). Você encontrará uma maravilha eletrônica, com grandes telas num CIC (centro de informações de combate) escurecido e um espantoso radar SPY-1 que um estilhaço de granada pode tirar de ação durante meses.
Agora, perceba que mísseis de cruzeiro tem alcances de centenas de quilômetros. Pense: Golfo Pérsico. Um míssil de cruzeiro pode ser encaixotado e montado num caminhão, uma lancha rápida ou num navio mercante. O míssil balístico chinês tem um alcance de 1.900 km, o bastante para manter os porta-aviões fora do alcance aéreo de Taiwan. Será que os chineses já terão pensado nisto?
Em resumo, os dias dos navios de superfície parecem estar chegando ao fim, pelo menos, como forças de decisão estratégica. Assim como os dias dos caças tripulados, enquanto os drones do tipo “Predator” são aperfeiçoados.
O que acontece, então? Nada – por enquanto.
Para compreender o problema, presuma, por um momento, que a Marinha sabe, além de qualquer dúvida, e admita, abertamente, nas discussões internas, que não pode proteger suas belonaves de superfície dos modernos mísseis anti-navio. O que ela fará? O que poderia fazer?
Nada. Por quê? Porque, além dos submarinos lança-mísseis, que não tem nenhuma função em combate, a Marinha é a esquadra de superfície. Muitos, muitos bilhões de dólares estão investidos nos porta-aviões, em carreiras militares à bordo de porta-aviões, em escoltas para porta-aviões, em incontáveis homens adestrados para conduzir porta-aviões. Mande os porta-aviões para o depósito, e a Marinha será reduzida a uns poucos navios de tropas, úteis para desembarques sem oposição. Manter uma grande esquadra, somente para dar apoio ao papel favorito do Pentágono de massacrar camponeses semi-armados, será custoso demais.
E mais: Deveria a Marinha dizer ao Congresso, “Realmente, não somos mais de muita utilidade. Sugerimos que vocês desmanchem os navios e gastem o dinheiro em outra coisa qualquer”? A espécie humana não funciona dessa maneira. Os apelos para a tradição, ego, e simples diversão são muito fortes. (Nunca subestime a importância do ego e da diversão em questões de política militar). Um CVBG é uma coisa magnífica, só não é muito útil. O glamour de operações de vôo noturno, aviões enganchando, motores zunindo a toda potência, trinta nós de vento sobre o convés de vôo, lançamento de aviões no ar – estas coisas apelam, poderosamente, a alguma coisa bem fundo na cabeça do macho. A Marinha não vai desistir disto.
Portanto, ela não pode admitir que seus dias estão próximos do fim, saiba, suspeite ou se recuse a pensar nisto. O porta-aviões é para sempre. A não ser que algum seja afundado.
O que (suspeito) é improvável, pois os almirantes não irão arriscar o teste. Eu não sei o que o Irã tem, mas, se um tiroteio irromper, e meia-dúzia de navios aparecerem na televisão internacional, fumegando e adernando, com enormes buracos neles, isto seria o fim da credibilidade da Marinha. Lembrem do que aconteceu quando um caça iraquiano atingiu o USS Stark, com dois mísseis “Exocet” franceses. Os mísseis funcionaram perfeitamente, e as sofisticadas defesas da Stark falharam, completamente. A Marinha produziu todo tipo de explicações para salvar as aparências.
Previsivelmente, as indústrias de armas oferecerão defesas à toda prova, extremamente dispendiosas, do tipo energia-direta, que serão desenvolvidas mais lentamente do que os mísseis e experimentarão maciças valorizações de custos, que é do que se tratam armas. John Paul Jones, traficante de escravos transformado em herói naval, certa vez disse que tinha a intenção de ficar perto do barulho. A Marinha de hoje ficará, cada vez mais e mais, longe do barulho, o que é a coisa mais sábia, e se tornará uma imensamente custosa coleção de iates de ferro simbólicos.
Portanto, o que a cavalaria está fazendo, diante das metralhadoras e arame farpado? Comprando um cavalo melhor. A Marinha deseja o porta-aviões classe “Ford” (CVN 78), que eu penso poderia ser melhor chamado de USS Balangandã. O que ele fará que os atuais porta-aviões classe Nimitz não fazem? Custará mais (oito bilhões de dólares para a primeira cópia, mais cinco bilhões de P&D. Uma pechincha). Para os não-iniciados pode parecer um bocado de alta-tecnologia, mas também criará um monte de empregos em Norfolk, Virgínia, e encherá de dinheiro as empresas de material bélico. Que coisa boa os Estados Unidos terem uma economia robusta.
Você pode colocar maionese numa salsicha e comê-la, mas não num porta-aviões.