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Mensagem
por Clermont » Qua Out 15, 2008 9:13 pm
UM GUIA DE PLANEJAMENTO DE OPERAÇÕES DE TOCAIEIROS PARA COMANDANTES.
Por David Liwanag (com participação de Michael Haugen) – Infantry Magazine, maio-junho de 2008.
Um tocaieiro é um atirador de fuzil treinado e equipado para identificar e atingir elementos-chave inimigos, freqüentemente, a partir de posições ocultas. Seus alvos incluem líderes, serventes de armas coletivas, observadores de artilharia ou quaisquer outros, como instruído.
Este guia tenciona fornecer um auxílio de planejamento geral para preparar, encarregar e manobrar tocaieiros, que são os batedores e caçadores do comandante. Ele se destina a comandantes de batalhão e oficiais de emprego de tocaieiros que podem ter experiência limitada com estes, seus papéis e missões. Ele não é absolutamente abrangente e está baseado, somente, na minha experiência como tocaieiro, líder de pelotão de batedores-tocaieiros da infantaria ligeira, na 2ª Divisão de Infantaria na Coréia, e como comandante de companhia e de destacamento operacional “Alfa” das Forças Especiais, encarregado de missões de apoio de tocaieiros e de ação direta.
Genericamente, refiro-me ao elemento de tocaieiros como pelotão e ao elemento líder (seja ele oficial ou sargento) como líder de pelotão de tocaieiros.
Eu freqüentei o Curso de Tocaieiros da Unidade de Tiro de Precisão do Exército dos Estados Unidos (USAMU, ou U.S. Army Markmanship Unit), em Fort Benning, Geórgia, como 2º tenente, em novembro de 1982. Eu baseei o treinamento de desdobramento da minha unidade inicial, sobre os bem-documentados sucessos e experiências da 9ª Divisão de Infantaria no Vietnam, como relembrado pelo tenente-general Julian J. Ewell, em “Sharpening the Combat Edge: The Use of Analysis to Reinforce Military”, Judgment (HQDA, reimpressão de 1995) e “Limited War Sniping” por Peter Senich (Paladin, 1977).
A 9ª Divisão de Infantaria liderou o Exército no estabelecimento de uma capacidade divisionária de tocaieiros, no que é, geralmente, considerado a gênese das atuais equipes de tocaieiros. O ten-gen Ewell requisitou a assistência da USAMU, em Fort Benning, para construir o Sistema de Armas de Tocaieiro XM-21, especificamente para a 9ª Divisão e para as equipes móveis de treinamento de tocaieiros (MTTs, ou Mobile Training Teams) sendo desdobradas para o Vietnam.
De novembro de 1968, até julho de 1969, os tocaieiros da 9ª Divisão totalizaram 1.158 abates, atingindo o pico em abril, com 346 inimigos mortos em ação, e nivelando-se em cerca de 200 mortes por mês. O ten-gen Ewell, especificamente, creditou o envolvimento dos comandantes de batalhão pelo sucesso do programa de tocaieiros.
Tocaieiros oferecem ao comandante a habilidade para interditar alvos e colocar “o olho neles” fornecendo relatórios e avisos em tempo real; para observar terreno e vias de acesso chaves e servir com fogo direto ofensivo, protetor e de reforço; e/ou por chamar e ajustar fogo indireto sobre unidades e locais inimigos.
O treinamento único dos tocaieiros em camuflagem, ocultação e movimento, os permitem a se infiltrar, furtivamente, em posições de onde podem direcionar fogo de apoio (direto e indireto), sobre alvos, de outra forma, inatingíveis, devido a localização e acesso. Tocaieiros são um elemento de inteligência humana (HUMINT) e de reconhecimento, vigilância e aquisição de alvos (RSTA, ou Reconnaissance, Surveillance and Target Acquisition), formalmente, ou informalmente, sendo tanto parte do plano de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR) do oficial S2, como do plano de manobra e apoio de fogo do oficial S3 (MFS).
O planejamento de tocaieiros não é uma arte oculta, mas há uma pequena conduta doutrinária. Tocaieiros são batedores e caçadores, que servem como os olhos do comandante, antes da chegada ou do desdobramento da força principal. Levemente armados e dependendo da ação furtiva para proteção, eles não podem “consolidar terreno-chave”; entretanto, eles fornecem inteligência “no local” para as unidades da força principal, proteção ao movimento e fornecimento de segurança, por toda a duração da missão.
O comandante de batalhão é o responsável pelo emprego de seus tocaieiros. O líder de pelotão de tocaieiros é designado pelo comandante como seu conselheiro e encarregado de manobrar a fração de tocaieiros. O comandante de batalhão especifica qual comandante de subunidade terá prioridade de apoio. Ele emite as ordens de missão, intenções e conduta, permitindo aos líderes de equipes de tocaieiros, priorizarem alvos e engajamentos com compreensão clara do método, propósito e finalidade última do comandante. Ele designa áreas e zonas de operação e manobra, para permitir aos tocaieiros a escolha de suas próprias rotas de manobra e pontos de observação e tiro. Sua mais importante norma de conduta concede aos tocaieiros, autorização para engajar alvos críticos de elevado valor ou ameaça, que satisfaçam a intenção do comandante. Ele fornece ao líder de pelotão de tocaieiros, meios adicionais ou elementos anexos, se a missão exigir reforço.
O líder de pelotão de tocaieiros conduz uma análise de missão, baseado na tarefa e na intenção do comandante apoiado. Ele, então, conduz o planejamento de missão, organização por tarefa e dá ordens operacionais aos líderes de equipe subordinados. O líder de pelotão de tocaieiros coordena com o S3 e unidades vizinhas para reduzir o risco de fratricídio. Ele utiliza os princípios de patrulhamento para ajudá-lo a conduzir seu planejamento:
- Planejamento
- Reconhecimento
- Segurança
- Controle
Os líderes de equipe selecionam posições provisórias de observação e de tiro, baseados em análise de mapas e do terreno e das fraquezas e vulnerabilidades do inimigo, e seus mais prováveis e mais perigosos cursos de ação, baseados em reações relatadas, observadas ou padronizadas. A equipe de tocaieiros seleciona suas próprias rotas e posições finais de tiro (FFP, Final Firing Positions), baseadas no reconhecimento, no terreno, do líder de equipe de tocaieiros. Os líderes de equipe e planejadores devem, também, examinar informações de outras unidades que tenham operado na área, relatórios pós-ação (AARs, After-Action Reports) e relatórios de patrulhas, ou de residentes e fontes locais.
Equipes de tocaieiros servem em quatro funções, limitadas por suas vulnerabilidades e mobilidade desmontada:
- Batedores-tocaieiros.
- Tocaieiros-observadores.
- Caçadores-matadores.
- Apoio de fogo (direto, geral e de reforço).
Tocaieiros (como elementos de infantaria ligeira) podem atravessar terreno inadequado (total ou parcialmente) para viaturas, de acordo com a missão, carga do soldado e clima. Por definição, a seleção de rotas ocultas ou mascaradas, postos de observação e posições de tiro, exigem tempo-extra para movimento furtivo, para minimizar vulnerabilidades. Tocaieiros anexados a turmas de reconhecimento e cavalaria, não mantém contato sustentado com o inimigo. Na função de apoio de fogo, equipes de tocaieiros podem se mover com elementos de segurança, apoio ou assalto da força principal.
A 9ª Divisão de Infantaria, no Vietnam, organizou seus tocaieiros por tarefa, em equipes de emboscada de quatro homens, com dois tocaieiros, um fuzileiro (armado com lança-granadas M-79) e um rádio-operador. Equipes, normalmente, moviam-se para suas áreas de operação, juntamente com um GC. O Corpo de Fuzileiros Navais empregava equipes de dois homens (atirador/observador). O primeiro, armado com um fuzil M-40, de ação de ferrolho, e o segundo, com um fuzil M-14.
O grupo de tocaieiros era parte integral do pelotão de batedores, na tabela de organização da série H (MTOE, Modified Tables of Organization and Equipment). A organização por tarefa de batedores tinha duas equipes (dois homens) de tocaieiros em cada uma das duas seções de batedores. A mobilidade e segurança eram fornecidas por oito jipes M-151, armados com metralhadoras.
Uma equipe de quatro homens fornece uma combinação otimizada para observação, segurança, comunicações e descanso (presumindo que todos os soldados estejam, adequadamente, treinados). Dois tocaieiros permitem que um sirva como atirador enquanto o outro serve como observador, revezando as tarefas, para aliviar a tensão e cansaço visual. O terceiro soldado (um fuzileiro ou líder de equipe), também, pode servir como tocaieiro ou observador, se for qualificado. O quarto soldado mantém comunicações com o centro de operações táticas de tocaieiros (COT) e transmite os relatos de situação (SITREPs) e imagens da equipe.
FFPs de tocaieiros são guarnecidas por uma equipe de tiro de dois homens, enquanto o líder de equipe e o rádio-operador podem manter posição numa posição de apoio à missão (MSS, ou Mission Support Site) ao lado ou por trás da FFP. Tocaieiros podem descansar ou ressuprir-se na MSS, e o rádio-operador pode instalar antenas que não irão comprometer os postos de observação e FFPs. Um único MSS pode apoiar múltiplas equipes de tocaieiros.
Equipes de tocaieiros podem entrar e sair de suas áreas de operações, anexadas à GC ou pelotões de segurança.
A equipe de tocaieiros está armada com fuzis de tocaia semi-automáticos ou de ação de ferrolho, capazes de desfecharam fogo de precisão consistente entre 180 a 730 m, durante o dia, e 180 a 450 m à noite (dependendo da iluminação e condições). Forças Especiais e tropas aliadas utilizam fuzis calibrados para o cartucho .300 Winchester Magnum, que estendem o alcance diurno para 900 m; ou o cartucho .338 Lapua Magnum que estende o alcance prático até, aproximadamente, 1100 m.
Tocaieiros utilizam o fuzil M-107 calibre .50 pol como arma de apoio de fogo, para engajar elementos inimigos por detrás de coberturas leves e no interior de edifícios e bunker de construção leve. Sal portabilidade oferece à infantaria ligeira uma capacidade de fogo de calibre pesado, particularmente, para tropas desmontadas em terreno de montanha ou urbano; e em edifícios afastados do apoio de fogo de viaturas. O cartucho M-8A1, Incendiário-Perfurante de Blindagem permite ao tocaieiro engajar e destruir viaturas de blindagem leve e alvos materiais.
Fuzis de precisão com futuras lunetas de tocaieiros compostas (intensificação de imagem “Starlight” com tecnologia de imagens infra-vermelhas/térmicas [”Starlight” image intensification coupled with thermal/infrared imagind technology]) auxiliadas por iluminadores/apontadores laser-infravermelhos e supressores de ruído, dão às equipes de tocaieiros excepcional vantagem para engajamento de alvos e aumentam a sobrevivência da equipe.
Cada equipe é dotada de binóculos e telescópio de marcação para observação, para estimar velocidade do vento e para marcar impactos de tiros. No papel de batedores, dispositivos ópticos e de visão noturna, juntamente com marcadores de distância laser (laser range finders), uma bússola, GPS e rádio-comunicações, fornecem uma poderosa ferramenta para solicitar e ajustar fogos indiretos e apoio aéreo aproximando.
Equipes de tocaieiros no papel de reconhecimento podem estar equipadas com câmeras digitais, um laptop ou computador notebook rusticizado, com compressão de software, e um rádio digital, permitem às equipes enviarem imagens da atividade e da condição dos alvos ao COT, para permitir ao comandante “enxergar o campo de batalha”.
Tocaieiros apóiam diretamente a necessidade do comandante para enxergar o campo de batalha e moldar e formar as condições para destruir e explorar as forças inimigas através da economia-de-forças. Bem-sucedidas operações de tocaieiros são uma parte importante dos planos de reconhecimento, inteligência e apoio de fogo.
Análise de Missão e Considerações de Planejamento.
Tocaieiros são a mais confiável ferramenta de inteligência que o comandante no terreno têm a sua disposição – eles observam, constantemente, memorizam, registram e analisam os hábitos e rotinas inimigos, para visar e explorar suas vulnerabilidades. Seja em função defensiva ou ofensiva, tocaeiros observam, continuadamente, e avaliam o inimigo e o terreno, utilizando o METT-TC (missão, inimigo, tempo, tropas, terreno, civis ou Mission, Enemy, Time, Troops, Terrain, Civilians) e o OACOK (obstáculos, vias de acesso, cobertura e ocultação, observação e terreno-chave ou Obstacles, Avenues of Aproach, Cover and concealment, Observation, Key terrain) para melhor apoiar a segurança de movimento, supressão e fogo anti-tocaieiro, equilibrados contra ocultação, sobrevivência e ressuprimento ou substituição.
Camuflagem e organização do terreno ajudam o tocaieiro a sobreviver no campo de batalha, mas elas não o tornam invisível nem impermeável ao clima, fadiga, patrulhamento ativo inimigo e contramedidas eletrônicas.
O COT de tocaieiros.
O pelotão de tocaieiros organiza seu próprio COT. Equipes de tocaieiros reportam, diretamente, ao COT de tocaieiros, (a não ser que estejam utilizando um MSS) que poderá, ou não, estar localizado no COT do comandante apoiado, ou centro de inteligência. O sargento de operações de tocaieiros acompanha os movimentos e as posições da equipe de tocaieiros e analisa a situação das equipes desdobradas.
O líder de pelotão de tocaieiros manobra suas equipes para cobrir espaço morto, coordenar descanso, ressuprimento e planos de substituição, acompanha extrações e rotas de deslocamento de emergência e coordena o reforço normal e de forças de reação rápida.
O COT de tocaieiros transmite relatórios de situação (SITREPs, Situation Reports) e informação para o oficial S2 e para os COTs de batalhão e/ou de companhia, para atualizar o quadro operacional comum e reforçar a consciência situacional do comandante.
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Tenente-coronel David Liwanag, atualmente, é conselheiro do Comando Anti-Terrorismo, Força Anti-Terrorista Nacional Iraquiana, em Bagdá, Iraque. Ele comandou a USAMU em Fort Benning, Geórgia, de junho de 2003 até junho de 2006. Um graduado do Curso de Tocaieiros da USAMU de 1982, ele comandou tocaieiros nos níveis de pelotão de batedores, Destacamento Operacional “Alfa” e companhia de Forças Especiais e de batalhão.
Suboficial-Chefe Nível 3 (Reformado) [Chief Warrant Officer 3] Michael Haugen, serviu vinte e seis anos, mais de dezessetes destes, nas Forças Especiais. Como elemento de assalto e tocaieiros das Forças Especiais, ele adestrou soldados americanos e aliados em combate urbano e operações de tocaieiros. Ele serviu como líder de equipe de tocaieiros, e oficial de tocaieiros de companhia, batalhão e grupo de Forças Especiais. Ele, também, serviu como oficial encarregado do 1º Grupo de Habilidades Combativas Avançadas das Forças Especiais. Atualmente, ele é o diretor de vendas Militares Internacionais/Imposição da Lei para a Companhia de Armas da Remington.