Calma, foi um pouco de desabafo do JT8D, a questão não é exatamente assim.Francoorp escreveu:JT8D escreveu:É desanimador ver que não temos capacidade político/gerencial para administrar algo da complexidade de um programa espacial. Nossos técnicos são competentes mas trabalham sem recursos e com salários ridículos, em condições precárias a ponto de colocar suas vidas em risco. Enquanto isso, as grandes decisões, como a desse acordo absurdo em que estamos sendo enganados pelos ucranianos, são tomadas por pessoas despreparadas. Falta um Oziris Silva no programa espacial brasileiro.
[]´s,
JT
No que é de preciso que estamos sendo enganados??????????
O acordo que assinamos com a Ucrânia desde o princípio previa apenas os lançamentos à partir da base de Alcântara, sendo a construção dos foguetes e as atividades de lançamento de responsabilidade deles. Já se sabia que isto significava que não haveria nenhuma transferência de tecnologia para nosso país, estávamos apenas alugando a base para eles e deixaría-mos a infra-estrutura (estradas, energia, prédios) pronta para que trouxessem e instalassem os equipamentos de que necessitassem para seu uso. Cada foguete a ser lançado viria pronto da Ucrânia, e somente a montagem final seria feita aqui, por ucranianos. E os eventuais lucros de cada lançamento seriam divididos entre os dois países.
Eles nunca nos enganaram a respeito de nada disso, jamais prometeram coisa alguma de diferente.
O que está acontecendo (e era perfeitamente previsível que acontecesse) é que o pessoal brasileiro que tem posições importantes dentro da empresa criada para gerenciar e comercializar os lançamentos do Cyclone-4 (a ACS) passou a apresentar a sua empresa como legítima opção ao programa espacial brasileiro, e como tal com direito a reivindicar o apoio e as verbas públicas que poderiam ser empregadas naquele. E vários políticos e mesmo órgãos de imprensa já ecoaram estas posições, criando uma imagem que hoje se vê com frequência de que a ACS será o futuro do Brasil no espaço, e que portanto o programa genuinamente nacional não é mais importante, não precisamos nos preocupar em mantê-lo e muito menos em reforçá-lo. Isto é muito ruim, pois está-se abandonando toda uma área que poderia prestar grandes serviços ao desenvolvimento tecnológico e industrial do país e é importante até mesmo à imagem que se deseja apresentar para o mundo do Brasil como uma nação madura e no caminho real do desenvolvimento, para simplesmente garantir um ponto de lançamento confortável para outro país que não tem nenhum compromisso conosco. Daí ser importante dizer mesmo que tem gente querendo nos enganar (embora não sejam exatamente os ucranianos).
Não existe nenhum problema básico com o acordo Brasil x Ucrânia, apenas detalhes pontuais (o foguete é realmente poluente, há séria dúvidades sobre se será comercialmente bem sucedido, suas instalações de lançamento ocuparão um espaço que ficou exíguo em Alcântara após a cessão das terras aos quilombolas, etc...). A questão realmente importante é que devia ser deixado muito claro para a população o escopo do acordo e o fato de que ele não acrescenta nada ao programa espacial brasileiro (e por conseguinte ao patrimônio técnico-científico nacional) além de justificar a manutenção da base de Alcântara (os lançamentos de um VLS a cada dois, três ou quatro anos dificilmente justificariam), fora algum eventual dinheiro que se conseguir comercializando o foguete. O custo de tornar a ACS operacional será equivalente a comprar diversos lançamentos em fornecedores tradicionais, como a Rússia ou o consórcio europeu Ariane, e mesmo alegações de que com ele teríamos acesso livre de pressões internacionais ao espaço não são verdadeiras, pois no momento em que a Ucrânia parar de fornecer os foguetes não poderemos lançar mais nada, e como país ela é muito mais vulnerável a pressões do que nós mesmos.
Leandro G. Card