Mas o outro texto saiu no aero qualquer coisa...Tem montes de achismos, mas deve ser verdade...AlbertoRJ escreveu:O outro lado:
em, o que eu poderia dizer? Primeiro um pequeno histórico.
Participei da licitação dos Mirage III quando eu era capitão Ajudante de Ordens do Cmt do Comando de Defesa Aérea recém criado alias, eu assinei o primeiro boletim interno e registrei a inclusão no efetivo do seu primeiro Comandante e de seu Ajudante de Ordens (eu). Nesse período fui designado, acumulando as funções, Chefe da Comissão de Implantação da Base de Anápolis. Fui o primeiro fabiano a entrar na cidade após Anápolis ter sido escolhida como local de uma Base Aérea.
Dois anos após, fui transferido para o Sistema Logístico como chefe da Comissão de Recebimento das Aeronaves, e da inplantação da parte logística da Base Aérea de Anápolis. Recebí todas as aeronaves desmontadas e em coordenação com a assistência técnica francesa, as montamos e fizemos os primeiros vôos de experiência nas 16 aeronaves.
As aeronaves iniciando o seu ciclo operacional, iniciei um estudo da manutenção de seus equipamentos e da célula propriamente dita. Negociei, após conclusão do estudo (3 anos), um contrato de aquisição dos bancos de ensaio, ferramentas especiais, publicações técnicas, instrução na França de 50 mecânicos e suprimento necessário para 20 revisões da cada equipamento reparável dos MIR III. Passei dois anos na França recebendo todo o objeto do contrato e após fui para o Parque de São Paulo instalar os bancos de Ensaio e testes,e fazer as primeiras revisões nos equipamentos (caixas pretas). Durante esse período, iniciei o estudo da revisão das células, pois deveríamos nos antecipar, dentro duma diagonal de células para evitar que todas atingissem os seus limites de utilização juntas. Terminado o estudo negociei com a DASSAULT a aquisição do ferramental necessário, publicações técnicas, suprimentos e assistência técnica para as primeiras revisões. Recebí a primeira aeronave e acompanhei as primeiras revisões das células e os vôos de ensaio em Anápolis respectivamente.
Então fui fazer o curso de Estado Maior aqui no Rio.
Como podem notar eu trabalhei, exclusivamente, no Projeto Mirage, de 1970 até 1985 e participei intensamente em todas as fases de sua implantação logística.
Como vc bem falou, existem as tais Lendas Urbanas. Durante todo esse período e até a desativação dos MIR III, direta ou indiretamente estive envolvido com essas máquinas e posso afirmar que os problemas que tivemos, todos sem excessão, foi por nossa culpa. Poderia enumerar quais foram elas, resumindo porém, posso dizer que foi por falta de cultura aeronáutica, restrições orçamentárias e uma burocracia monumental. O MIR III foi a única aeronave, desde que FAB é FAB, que teve um planejamento de todo o seu ciclo de vida e por incrivel que possa parecer, nesse nosso País, todo o planejamento foi realizado. Os três últimos MIR III usados adquiridos, em função de uma taxa de atrito prevista, foram escolhidos por mim, já como Brigadeiro e as véspera de passar para a reserva.Como uma Lenda Urbana, diametralmente oposta a que vc pensou, e foi na verdade um fato, os MIR III completarm 30 anos de serviço na FAB com 100% de disponibilidade em toda afrota. Fato inédito na FAB e normal em países mais adiantados.
Dúvidas? posso falar desse assunto uma infinidade de horas.
Queiram-me bem, pois não estou tirando onda de "sabido" mas tenho orgulho de ter conseguido participar desse projeto da sua escolha até a sua desativação. Acredito que isso foi e será inédito na FAB"que possa ter sido responsável por uma imagem negativa vinculada ao modelo de manutenção do Mirage-III?"
Vamos por parte:
1- o modelo de manutenção dos MIR III, é o modelo europeu, ou seja, a filosofia de Revisão Geral adotado pelo Brasil desde a missão francesa no Campo dos Afonsos.
Uma Revisão Geral consiste em parar a aeronave por um bom período para desmonta-la por completo, inspecionar toda a célula e asas com testes não destrutivos (NDI)sobre rachaduras por fadiga e corrosão; tratá-la onde apresente corrosão quimica; substituir toda a cablagem elétrica; remontá-la com equipamentos revisados e colocá-la em condições operacionais para mais um ciclo de 8 anos no caso dos MIR III. A filosofia de manutenção dos americanos prevê, mais ou menos a mesma coisa, só que indisponibiliza a aeronave menos tempo e não vai até a desmontagem total.A filosofia européia de manutenção permite que se voe uma aeronave indefinitivamente, desde que se encontre suprimento ao longo dos anos. A americana, limita a utilização da aeronave em "X" anos e após vira sucata. Voar o C-130 por longo período (mais de 25 anos) é uma temeridade se não fizermos uma revisão geral à europeia, pois muitas partes deles não são inspecionadas pelas TO americanas.
2 - Desconheço o que se passou em outros países quanto a "lenda urbana" dos MIR III. Aquí no Brasil e na FAB a lenda foi puramente política. Quando estava na antiga DIRMA, por volta de 1974, levei um problema dos MIR III que precisava ser solucionado pelo Sub Diretor de manutenção. Ao iniciar a descrição do problema, fui interrompido pelo Sub diretor que me falou: "Major, faça o que achar melhor, eu não tomo conhecimento dos MIR III por que fui contrário a sua aquisição". Como podes notar foi de um "profissinalismo" exemplar de país de terceiro mundo. Muitos reclamavam do preço da revisão dos motores: um milhão de dólares /each. Quando os espanhois desativaram os seus MIR III e os trocaram por F-1, eu estava fazendo uma visita a Base Aérea de Manices em Barcelona. Ofereceram ao Brasil o pacote completo de revisão dos motores a troco de banana. Levei o assunto às autoridades da FAB e até hoje espero um "feed back". Não compraram para fortalecer a Lenda Urbana brasileira dos MIR III.
3 - "O francês é um portugues que deu certo" Outra Lenda Urbana. Ele é desonesto, trapaceiro e mau caráter. Durante esses anos todos em contato com a Industria Francesa, in loco e profissionalmente quando no Brasil, jamais notei essas características neles. São comerciantes como qualquer outro e cumprem rigorosamente os contratos assinados. Se levarmos em conta que os brasileiros quando chegam na França pensam que as mulheres francesas mantém as mesmas características da época da libertação americana na 2ª Guerra Mundial e que os comerciantes aeromáuticos atuais tratam os "xicanos" como massa corrupta e corruptivel, dá para perceber outra vertente da lenda urbana brasileira. Em minha estada na França cansei de ver Comissões sul americanas, inclusive brasileiras, em visitas aos diversos fabricantes. Eram motivo de chacota e a programação era LIDO e restaurantes caros com reuniões de trabalho com duração de uma hora por semana.
4 - Monomotor, sem REVO, num País continental foi outro argumento contra a aeronave que era explorado pelos americanófilos radicais..
5 - Dificuldade de ressuprimento, outra Lenda Urbana. O sistema computadorizado de então, foi copiado da limha de montagem da fábrica do C-130 e aplicado na manutenção das aeronaves da FAB. Na época foi realmente um grande passo administrativo, porém a adaptação de um software industrial para um de acompanhamento logístico transformou-o em uma colcha de retalhos ineficiente na maioria de seus aspectos. Conclusão tinhamos que projetar o consumo de um parafuso, por exemplo, em no minimo dois anos que era o tempo de "pedido/remessa/recebimento. Imagine a confusão para cada peça de cada equipamento de cada fabricante. É muito dificil para qualquer montadora atender a um ressuprimento nesses moldes.
6 - As Publicações Técnicas não tiveram nenhuma reclamação, pois nunca foram lidas pelos "políticos" fabianos.
7 - Nunca houve reclamações das revisões dos equipamentos reparáveis nem das Revisões Gerais das células feitas no PAMA SP durante todo o periodo de vida dos MIR III .
NOTA: os atritos que tivemos, nenhum teve como causa a manutenção. As indisponibilidades nunca foram causadas, esclusivamente, pela manutenção..
Bem vou ficando por aqui. Tem mais, mas aí a gente vai para detalhes que já pertencem ao passado.
Abs.
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