Missão de Paz no Haiti

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Centurião
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1606 Mensagem por Centurião » Dom Jan 17, 2010 12:26 pm

Santiago escreveu:São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

CLÓVIS ROSSI

Rottweiler sem dentes
SÃO PAULO - O Brasil mudou de complexo. Antes, abrigava n'alma o de vira-lata, segundo Nelson Rodrigues, o notável escafandrista da alma brasileira. Agora, na crise haitiana, mostra complexo de rottweiler.
Pena que não tenha dentes. Refiro-me à ciumeira de autoridades brasileiras em relação a rápida e decidida ação do governo norte-americano. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reage com pura masturbação diplomática, ao dizer que se trata de "assistencialismo unilateral".
Qualquer pessoa que não tenha perdido o senso comum sabe que os haitianos não estão preocupados com a cor do assistencialismo, se unilateral, bilateral, multilateral. Querem que funcione.
No aeroporto da capital, está funcionando, conforme relato desta Folha: "Depois que os americanos assumiram o aeroporto, os voos aumentaram e também o envio de medicamentos e alimentos".
É claro que precisa haver coordenação, como cobra o chanceler Celso Amorim, mas é bobagem resmungar sobre os Estados Unidos assumirem um papel mais relevante que o das forças da ONU. É brigar com os fatos da vida. Os EUA podem mais que qualquer outro país, o que é escandalosamente óbvio.
Ajuda-memória aos resmungões, extraída do texto de Sérgio Dávila: os EUA enviaram vários navios da Guarda Costeira com helicópteros, o porta-aviões Carl Vinson, com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares, três centros cirúrgicos e capacidade de tornar potáveis centenas de milhares de litros de água por dia.
Nos próximos dias, chegam mais dois navios com helicópteros e uma força-anfíbia com 2.200 fuzileiros e um navio-hospital.
O Brasil tem condições de chegar a um décimo disso? Não. Então que pare de rosnar e reforce o seu pessoal no Haiti, que fez e está fazendo notável trabalho, dentro de seus limites bem mais modestos.

crossi@uol.com.br
Que puxa-saco, lambe botas. Os americanos podem ajudar mais, pois têm mais recursos. Ninguém nega issp. Mas a ajuda brasileira também é bem-vinda e está claro que houve um atropelo dos americanos. Podiam ter contado com quem tem experiência real de convivência da população.

Nada contra quem colocou a mensagem, mas está parecendo fazer relações públicas dos americanos ultimamente.




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Re: Missão de Paz no Haiti

#1607 Mensagem por Centurião » Dom Jan 17, 2010 12:39 pm

Santiago escreveu:EUA rebatem críticas do Brasil sobre controle aéreo

Casa Branca nega ""unilateralismo"" no auxílio; Obama vê na tragédia do Haiti chance de reaproximar País

Patrícia Campos Mello

Segurança Nacional dos EUA, Denis McDonough, esclareceu ontem ao Estado que Washington assumiu o controle do aeroporto de Porto Príncipe a pedido do governo haitiano e não pôde permitir o pouso de todos os aviões apenas por "motivos de segurança".

"O governo haitiano que nos pediu para tornar o aeroporto operacional, estamos seguindo o acordo com os haitianos de trabalhar com os controladores de voo", disse McDonough. "Há aviões demais e nós quisemos apenas evitar acidentes", afirmou, negando que haja "ação unilateral" por parte dos EUA, como havia acusado o ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim.

Na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, queixou-se com a secretária de Estado, Hillary Clinton, do fato de os americanos controlarem o aeroporto e terem impedido o pouso de aviões brasileiros.

Não foi só o Brasil que reclamou. Dois aviões do Programa de Alimentação Mundial da ONU tentaram pousar no aeroporto e foram desviados. Os EUA estão priorizando o pouso de seus aviões com tropas e equipamentos e de aeronaves para retirar americanos e outros estrangeiros do país.

"Há 200 voos entrando e saindo todos os dias, o que é um número enorme para um país como o Haiti", disse Jarry Emmanuel, diretor de logística aérea para a missão do programa da ONU no Haiti. "Mas a maioria desse voos é para as forças armadas americanas", disse ao New York Times. "A prioridade deles é garantir a segurança. A nossa é alimentar as pessoas."

NOVA IMAGEM

Dentro do governo Barack Obama, a operação de socorro ao Haiti é vista como uma oportunidade de ouro de mostrar que os EUA ainda são uma grande potência mundial, que assumem responsabilidade pelos "irmãos mais fracos" do hemisfério, mas não seguem mais a cartilha intervencionista do passado. Obama queria provar , na primeira tragédia internacional de seu governo, que não repetiria o fracasso retumbante de seu antecessor, George W. Bush, no socorro às vítimas do furacão Katrina.

Dentro do departamento de Estado, havia a esperança de que a missão de resgate no Haiti pudesse reaproximar o Brasil e os EUA, depois que uma série de divergências no ano passado - como as eleições em Honduras e a visita do iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil - esfriaram o relacionamento. Como os dois países são os mais influentes no Haiti, os EUA como maior doador e lar de 500 mil haitianos, e o Brasil como líder das tropas da missão de paz da ONU, seria uma boa oportunidade para juntar esforços.

"Obama teve uma ótima conversa com o presidente Luís Inácio Lula da Silva e ressaltou o desejo dos EUA trabalhar com o Brasil no Haiti", disse McDonough ao Estado. "Obama elogiou a liderança do Brasil no Haiti na última década."

Mesmo assim, ao longo da conferência de imprensa McDonough não havia mencionado o Brasil. Referiu-se duas vezes ao purificador de água dos argentinos, à atuação da República Dominicana e à ajuda dos franceses e chineses. Mas só falou sobre o Brasil depois de ser questionado.

O funcionário do Comando Sul dos EUA responsável pela relação com o Brasil, coronel Willie Berges, garantiu que Washington não deseja se sobrepor ao Brasil no Haiti. "Para nós a prioridade, é óbvio, é a ajuda e não duplicar esforços com a Minustah."

"Hillary falou ontem com Amorim e, certamente, vai novamente expressar sua satisfação com a colaboração brasileira hoje (ontem)", disse McDonough. Ele afirmou que é o governo do Haiti que está liderando o esforço e estabelecendo as prioridades.

Na sexta-feira, o secretário de Defesa, Robert Gates, também havia tentado rebater as críticas de unilateralismo americano no pacote de resgate. Gates afirmou não estar preocupado com a possibilidade de a ajuda americana ser vista como uma intervenção no país ou uma ameaça.

"Dado o papel que nós teremos na entrega de alimentos, água e assistência médica, acho que a reação será de alívio ao ver os americanos trazendo ajuda", disse Gates. "E ainda há muitas outras pessoas em terra - os brasileiros têm uma presença significativa e estão fazendo muita coisa.

Existe sim uma disputa pelo protagonismo. Só não vê quem não quer. Os americanos sabem que propaganda é alma do negócio.




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Edu Lopes
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1608 Mensagem por Edu Lopes » Dom Jan 17, 2010 12:54 pm

Brasil quer manter comando nas operações no Haiti

Luciana Abade, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Prevista para acabar em outubro do ano passado, a Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah) foi estendida até o próximo mês de outubro. E, se previsão do Ministério das Relações Exteriores se confirmar, com o terremoto de 7.3 na escala Richter que devastou o país na última terça-feira, a missão será estendida por tempo indeterminado. Após a tragédia que atingiu o país caribenho, o Itamaraty trabalha agora para que o Brasil continue na liderança da missão. Na leitura da diplomacia brasileira, o país já demonstrou que está apto para comandar os esforços internacionais de auxílio ao Haiti. A afirmação foi feita ao JB por interlocutor de elevado posto no Itamaraty.

O reconhecimento francês, comprovado pelo pedido do presidente Nicolas Sarkozy para que o Brasil, juntamente com França, Estados Unidos e Canadá, reconstrua o Haiti, é um dos exemplos apontados pela diplomacia brasileira como sinal do respeito internacional que o Brasil conquistou desde que assumiu o comando da força de segurança no Haiti. Na visão da chancelaria brasileira, o fato de que as missões internacionais não se concentram mais apenas na questão da manutenção da ordem pode alavancar ainda mais o papel desempenhado pelo país no cenário internacional.

Desde a intervenção internacional realizada no Timor Leste, as missões de paz do Conselho de Segurança das Nações Unidas não focam apenas a questão da segurança. Hoje, a reestruturação econômica e social dos países que sofrem intervenção caminha lado a lado com a consolidação da ordem. Por isso, mais do que reestabelecer a segurança dos haitianos, os brasileiros hoje comemoram que, com sua presença, caminhavam para garantir algum nível de melhora nas condições de vida da população do Haiti até o terremoto.

Segundo o Itamaraty, em algumas questões de Justiça, por exemplo, os haitianos hoje preferem a ajuda de técnicos brasileiros à de outros membros da missão, principalmente aqueles oriundos de países desenvolvidos. Pelo fato do Brasil se tratar de um país em desenvolvimento, mesmo que em escala diferente do Haiti, a população local consegue enxergar os brasileiros como aliados que enfrentam “problemas semelhantes” em suas instituições e por isso entendem com mais facilidade os gargalos sociais do país.

Por enquanto, por ter o maior contingente militar em atuação no Haiti, coube ao Brasil a liderança da força de paz. Contudo, do ponto de vista prático, algum outro país pode reivindicar o comando, principalmente se enviar reforços que ultrapassem o número de militares brasileiros em território haitiano, algo que já aconteceu com as mobilizações internacionais de ajuda ao país caribenho nesse momento de crise. O Itamaraty, contudo, garante que hoje a probabilidade do Brasil perder o comando da missão para outra nação é pequena.

Obras e cordialidade para ganhar confiança

A confiança do Itamaraty na permanência do Brasil na liderança da missão de paz da ONU se baseia na aceitação que os militares brasileiros já têm na população local e na certeza de que o Brasil irá intensificar o trabalho que vem realizando e que há muito não se limita às questões de segurança. Só para citar um exemplo, o corpo de engenharia do Exército Brasileiro naquele país dobrou desde 2004. Mesmo antes do terremoto, eles já atuavam na construção civil e de estradas, o que deve se intensificar nos próximos meses. Além disto, foi o Brasil que ajudou a chamar a atenção internacional para as mazelas do Haiti.

O país mais pobre das Américas – 80% da população haitiana vive com menos de um dólar por dia – já foi alvo de quatro ações internacionais coordenadas pela Nações Unidas na década de 90. Todas fracassaram e o país continuou nas mãos de gangues sanguinárias. Em 2004, o Brasil, que ocupava uma vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU, foi chamado para liderar a missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti ou Minustah. Foi o primeiro passo brasileiro no sentido de conseguir um dia uma vaga permanente no conselho.

Militares ouvidos pelo JB afirmam que, além do profissionalismo que permeia as ações dos militares, o modo cortês como os militares tratam a população foi crucial no processo de aceitação das forças. Uma das primeiras ações de aproximação com a população promovida pelo Brasil foi a realização, em 2004, do “jogo da paz”, um amistoso entre a seleção brasileira e a seleção haitiana.

Em cinco anos de missão em solo haitiano, o Brasil sofreu quatro baixas, mas nenhuma delas em confronto. Em 2006, um dos comandantes da missão brasileira, o general do Exército Urano Teixeira da Matta Bacellar, foi encontrado morto em seu quarto de hotel. Apesar das suspeitas iniciais de assassinato, o Instituto Médico Legal de Brasília constatou ser suicídio.

A presença brasileira no Haiti não é unanimidade por aqui. Alguns parlamentares chegarem se articular para que a permanência dos militares brasileiros não fosse prorrogada. Especialistas também criticaram a presença das Forças Armadas. Para o Itamaraty, no entanto, como o Brasil é o principal contribuinte da missão da ONU, agora, mais do que nunca, deve permanecer onde está.


Fonte: http://jbonline.terra.com.br/pextra/201 ... 114994.asp




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gaitero
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1609 Mensagem por gaitero » Dom Jan 17, 2010 2:58 pm

Santiago escreveu:
gaitero escreveu: Com toda certeza os presos perderam familiares, perderam suas casas, e estão na mesma merda que toda a população, sem favela para controlar, sem dinheiro para roubar e sem drogas para vender...

Seriam loucos de atacar a força de ajuda??

Com certeza, se eu fosse um preso e minha pena fosse o tráfico, 80% dos presos, eu jamais faria isto...
Gaitero,

Vc é um homem de bem, mas a realidade não é assim, ainda mais em catastrofes:

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Nas ruas, sobreviventes de tremor no Haiti lutam por comida


16/01/2010 - 12h04
Nas ruas, sobreviventes de tremor no Haiti lutam por comida

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JANAINA LAGE
CAIO GUATELLI
enviados especiais da Folha de S. Paulo a Porto Príncipe

Primeiro foram os corpos espalhados pelas ruas. Agora são as disputas por alimento. Três dias depois do terremoto que destruiu a capital do Haiti, a parte mais afetada da cidade se transformou em uma imensa área de desmanche.

Na avenida Jean-Jacques Dessalines, que leva o nome do ícone do nacionalismo haitiano, dezenas de homens, mulheres e crianças disputavam comida, água e artigos de limpeza nos escombros das lojas que existiam antes do terremoto.

Na manhã desta sexta-feira um pequeno grupo de policiais tentava manter a ordem na região. Mas eram poucos para conter a multidão. O maior supermercado da cidade ruiu e, até agora há mortos nos escombros. Uma mulher diz que sua irmã está soterrada e ainda viva, mas tem certeza de que não resistirá -não terá ajuda a tempo.

Do lado de fora ainda é possível ver corpos soterrados.

Neste momento, uma briga explode na loja ao lado. Um homem com uma faca de cortar cana e outros com paus e pás disputam os produtos encontrados em meio aos escombros. Há uma debandada, mas em poucos minutos a situação volta à normalidade.

Esta é a situação nas áreas mais afetadas: uma tensa calma aparente, que pode rapidamente dar lugar à violência.

Um dos policiais explica que as pessoas preferem se arriscar sob os escombros e invadir as lojas em busca de algo que possa ser vendido. "Precisamos impedir a confusão." Durante a manhã, a reportagem ouviu tiros no local, mas é impossível saber de onde partiram.

Em áreas próximas ao aeroporto, os estrangeiros são abordados por pedintes que, famintos, buscam centavos. Eles não usam violência, mas o tamanho dos grupos causa apreensão.

Na frente de um hotel, um grupo de homens começa a arrancar esquadrias de alumínio, vergalhões, ferro e até mesmo um vaso sanitário, tudo que puder ser comercializado depois. Outros arrancam um por um os pneus de um carro abandonado. Das lojas destruídas, as pessoas levam o que dá: roupas, sapatos, móveis e eletrônicos.

Mesmo nos locais que sofreram danos menores, ainda é possível sentir os efeitos do terremoto. No bairro de Cité Soleil, um dos mais pobres e populosos da cidade, os casebres não foram derrubados, mas falta água e as pessoas não têm como comprar comida.

A distribuição de água na região é racionada e cada mulher só tem direito a um balde. Um grupo delas diz à reportagem que não consegue água há dois dias. Uma das vendedoras de frutas explica que precisa aumentar os preços, mas que desde o terremoto ninguém mais tem dinheiro para comprar.

Em grandes regiões descampadas, famílias começam a construir tendas em frente aos restos das casas pobres. Todos tentam compartilhar suas histórias em busca de ajuda das autoridades. Um homem chamado Rochelle procura a reportagem para pedir ajuda.

Diz que perdeu quatro filhos no terremoto, só conseguiu resgatar os corpos de dois. Ele construía uma tenda a uma pequena distância do local onde ficava sua casa. Questionado se não gostaria de se mudar para outra região, responde: "Não há outro lugar para ir. Ninguém veio ajudar. Resta encontrar o corpo dos meus filhos".

A ajuda, no entanto, já começava aparecer na cidade. No começo da tarde de ontem, oficiais distribuíam comida enviada pelo governo da Bolívia.
Veja como nós tempos visões diferentes sobre um mesmo problema...

Eu interpretei que pessoas comuns que tiveram toda sua vida destruida, perderam tudo, e agora estão morrendo de fome.

Para solucionar, é necessário resolver as dificuldades de liberação que estão comprometendo o repasse de alimentos à população mais necessitada.

Já você quer que os EUA enviem uma força especial de 10000 solados preparados para a guerra, e que já demonstraram sua fragilidade emocional no Afeganistão..




Aonde estão as Ogivas Nucleares do Brasil???
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P44
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1610 Mensagem por P44 » Dom Jan 17, 2010 3:43 pm

Regresso
"Não há pobres no Haiti. Agora todos são iguais"

Hoje

Um emigrante português, que vivia desde 1983 no Haiti, relatou as cenas de destruição. Chegou ontem a Portugal com os dois filhos.

Uma mala grande castanha é tudo o que resta de quase três décadas de vida no Haiti. A mala e os dois filhos, de 21 e 24 anos, que conseguiu encontrar depois de dias de preocupação no meio da morte e das ruínas de Port-au-Prince. Ontem, Gilberto Nunes António regressou à terra que o viu nascer há 61 anos, Portugal, mas não consegue esquecer o horror que deixou para trás. "Estou sempre a ver o sangue, as pessoas a pedir ajuda e ninguém para ajudar", contou à chegada ao aeroporto de Lisboa.

"Não sabia onde estavam os meus dois filhos e não dava para ver mais do que dois metros. Parecia um filme, vi prédios a cair sobre crianças e sobre as pessoas que estavam no passeio", lembrou, horrorizado. Gilberto, há 27 anos no Haiti, estava a conduzir quando a terra começou a tremer: "Perdi o controlo e só via prédios a cair." Até que o seu carro foi atingido. Por sorte, a porta do seu lado abriu-se e conseguiu escapar.

"Saí do centro da cidade a pé. Estava tudo destruído, as pessoas gritavam, choravam e louvavam a Deus", recordou, pouco antes de embarcar noutro avião para Faro. O destino final é a casa da irmã, em Portimão. A dele, ficou destruída: "Quando cheguei, vi que todos os edifícios estavam destruídos e não encontrava a minha casa nem os meus filhos. Subi aos escombros e continuava a não os ver."

Galliano, de 21 anos, contou ainda abalado o que aconteceu na fatal tarde de terça-feira. "Primeiro pensava que era um ciclone. Depois o tecto caiu e fui para a rua." A casa desmoronou-se atrás dele. Nessa altura pensou que ia "morrer ali mesmo". Encontrou o pai no dia seguinte, mas localizar o irmão mais velho foi mais difícil.

Darwin, de 24 anos, admitiu que ficou de tal forma "que nem sabia onde tinha a cabeça". Nos dias a seguir ao sismo ficou com amigos até finalmente reencontrar a família e embarcar no voo da cooperação espanhola. "Chorei muito, perdi muitos amigos. Do Haiti, trouxe muitas más recordações", disse em francês. O pouco que tinha era pão duro e água com sal, à qual juntava açúcar para poder consumir e "disfarçar a sede".

Apesar do que a família passou, Gilberto pensa regressar ao Haiti. O português, que teve quatro empresas e agora tinha uma fundação, quer voltar assim que tiver os meios para o fazer. Depois de ter visto tanta morte e destruição e ninguém para ajudar, quer ele próprio deitar mãos à obra.

Galliano não tem tanta certeza: "Não há vida no Haiti. Já não há ricos, já não há pobres. Agora, todos são iguais", desabafou.

http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior ... Am%E9ricas



Tragédia
Morte é negócio para explorar alguns dos vivos

por ALFREDO LEITE, Hoje

Entre os escombros, há quem peça 1200 dólares para resgatar um corpo soterrado e organizar um funeral em Port-au-Prince.

Pode parecer estranho, mas não foi a notícia da morte de Marco Louis Destin que mais doeu a Keyla. "O corpo do meu irmão foi resgatado um dia depois do terramoto. Foi levado para a casa mortuária e agora ameaçam enterrá- -lo em vala comum", explica.

A ameaça tem a razão de quem faz da morte a vida. E com tanta morte, o negócio é ainda mais feroz.

"Pedem 1200 dólares (pouco mais de 800 euros) para podermos levantar o corpo e realizar o funeral", conta Keyla Eunice.

"Se não o fizermos até este sábado, será enterrado numa grande vala que vão abrir aqui perto do cemitério e nós queremos enterrar o nosso querido irmão aqui, junto a casa", acrescenta a secretária e tradutora.

Keyla, a mãe Ludie e alguns vizinhos começaram a recolher donativos, mas a colecta está longe do objectivo.

"Tudo o que conseguimos arranjar foram 600 dólares. Vamos ver se nos deixam fazer o funeral assim."

A tarefa não é nada fácil. Acompanhámos Keyla, com alguns dos seus familiares da remediada e escassa classe média haitiana, à casa mortuária onde repousa o irmão. Junto à porta do salão fúnebre "1000 souvenirs", aparecem mais famílias sem dinheiro a reclamar corpos.

Ao todo, para lá das portas de vidro preto estilhaçado, estão 30 cadáveres. Sem electricidade, as condições de conservação dos corpos degradam-se a cada instante que passa e nas ruas o cheiro pestilento torna-se insuportável.

Reina uma evidente tensão entre os proprietários da casa mortuária que, de um dia para o outro, devido ao sismo, também se tornaram nos donos do que a família de Keyla mais quer.

A discussão está quente, mas a dona da casa mortuária resolve condescender. Vai aceitar o levantamento do corpo contra o pagamento de "apenas" 600 dólares e, daí a pouco, decide autorizar a visita ao cadáver de Marco.

É Ludie Desde que mais se indigna: "Fecham o corpo como se fosse deles. Não é. Quero o meu filho! Quero fazer um funeral que é a única coisa que agora posso fazer por ele."

http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior ... Am%E9ricas




Triste sina ter nascido português 👎
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1611 Mensagem por Marino » Dom Jan 17, 2010 3:44 pm

E que foram expulsos do Haiti pela população, lembra?
Foi quando, por total incompatibilidade com a missão, querendo só dar porrada, pediram para o Brasil assumir a Minustah, e retiraram seus homens.




"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1612 Mensagem por Enlil » Dom Jan 17, 2010 3:49 pm

Santiago escreveu:EUA rebatem críticas do Brasil sobre controle aéreo

Casa Branca nega ""unilateralismo"" no auxílio; Obama vê na tragédia do Haiti chance de reaproximar País

Patrícia Campos Mello

Segurança Nacional dos EUA, Denis McDonough, esclareceu ontem ao Estado que Washington assumiu o controle do aeroporto de Porto Príncipe a pedido do governo haitiano e não pôde permitir o pouso de todos os aviões apenas por "motivos de segurança".

"O governo haitiano que nos pediu para tornar o aeroporto operacional, estamos seguindo o acordo com os haitianos de trabalhar com os controladores de voo", disse McDonough. "Há aviões demais e nós quisemos apenas evitar acidentes", afirmou, negando que haja "ação unilateral" por parte dos EUA, como havia acusado o ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim.

Na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, queixou-se com a secretária de Estado, Hillary Clinton, do fato de os americanos controlarem o aeroporto e terem impedido o pouso de aviões brasileiros.

Não foi só o Brasil que reclamou. Dois aviões do Programa de Alimentação Mundial da ONU tentaram pousar no aeroporto e foram desviados. Os EUA estão priorizando o pouso de seus aviões com tropas e equipamentos e de aeronaves para retirar americanos e outros estrangeiros do país.

"Há 200 voos entrando e saindo todos os dias, o que é um número enorme para um país como o Haiti", disse Jarry Emmanuel, diretor de logística aérea para a missão do programa da ONU no Haiti. "Mas a maioria desse voos é para as forças armadas americanas", disse ao New York Times. "A prioridade deles é garantir a segurança. A nossa é alimentar as pessoas."

NOVA IMAGEM

Dentro do governo Barack Obama, a operação de socorro ao Haiti é vista como uma oportunidade de ouro de mostrar que os EUA ainda são uma grande potência mundial, que assumem responsabilidade pelos "irmãos mais fracos" do hemisfério, mas não seguem mais a cartilha intervencionista do passado. Obama queria provar , na primeira tragédia internacional de seu governo, que não repetiria o fracasso retumbante de seu antecessor, George W. Bush, no socorro às vítimas do furacão Katrina.

Dentro do departamento de Estado, havia a esperança de que a missão de resgate no Haiti pudesse reaproximar o Brasil e os EUA, depois que uma série de divergências no ano passado - como as eleições em Honduras e a visita do iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil - esfriaram o relacionamento. Como os dois países são os mais influentes no Haiti, os EUA como maior doador e lar de 500 mil haitianos, e o Brasil como líder das tropas da missão de paz da ONU, seria uma boa oportunidade para juntar esforços.

"Obama teve uma ótima conversa com o presidente Luís Inácio Lula da Silva e ressaltou o desejo dos EUA trabalhar com o Brasil no Haiti", disse McDonough ao Estado. "Obama elogiou a liderança do Brasil no Haiti na última década."

Mesmo assim, ao longo da conferência de imprensa McDonough não havia mencionado o Brasil. Referiu-se duas vezes ao purificador de água dos argentinos, à atuação da República Dominicana e à ajuda dos franceses e chineses. Mas só falou sobre o Brasil depois de ser questionado.

O funcionário do Comando Sul dos EUA responsável pela relação com o Brasil, coronel Willie Berges, garantiu que Washington não deseja se sobrepor ao Brasil no Haiti. "Para nós a prioridade, é óbvio, é a ajuda e não duplicar esforços com a Minustah."

"Hillary falou ontem com Amorim e, certamente, vai novamente expressar sua satisfação com a colaboração brasileira hoje (ontem)", disse McDonough. Ele afirmou que é o governo do Haiti que está liderando o esforço e estabelecendo as prioridades.

Na sexta-feira, o secretário de Defesa, Robert Gates, também havia tentado rebater as críticas de unilateralismo americano no pacote de resgate. Gates afirmou não estar preocupado com a possibilidade de a ajuda americana ser vista como uma intervenção no país ou uma ameaça.

"Dado o papel que nós teremos na entrega de alimentos, água e assistência médica, acho que a reação será de alívio ao ver os americanos trazendo ajuda", disse Gates. "E ainda há muitas outras pessoas em terra - os brasileiros têm uma presença significativa e estão fazendo muita coisa.
Santiago, não quero polemizar contigo mas é indicativo q tu está conseguindo te superar ao postar só notícias POSITIVAS sobre os EUA e CRÍTICAS ao Brasil... Melhor advogado impossível...




Editado pela última vez por Enlil em Dom Jan 17, 2010 3:51 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1613 Mensagem por DELTA22 » Dom Jan 17, 2010 3:51 pm

Advogado??? Jurava que pensava que o Santiago era funcionário da Embaixada dos EUA!!! :shock: :twisted: :mrgreen:




Editado pela última vez por DELTA22 em Dom Jan 17, 2010 3:52 pm, em um total de 1 vez.
"Apenas o mais sábio e o menos sábio nunca mudam de opinião."
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1614 Mensagem por Enlil » Dom Jan 17, 2010 3:52 pm

Centurião escreveu:
Santiago escreveu:São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

CLÓVIS ROSSI

Rottweiler sem dentes
SÃO PAULO - O Brasil mudou de complexo. Antes, abrigava n'alma o de vira-lata, segundo Nelson Rodrigues, o notável escafandrista da alma brasileira. Agora, na crise haitiana, mostra complexo de rottweiler.
Pena que não tenha dentes. Refiro-me à ciumeira de autoridades brasileiras em relação a rápida e decidida ação do governo norte-americano. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reage com pura masturbação diplomática, ao dizer que se trata de "assistencialismo unilateral".
Qualquer pessoa que não tenha perdido o senso comum sabe que os haitianos não estão preocupados com a cor do assistencialismo, se unilateral, bilateral, multilateral. Querem que funcione.
No aeroporto da capital, está funcionando, conforme relato desta Folha: "Depois que os americanos assumiram o aeroporto, os voos aumentaram e também o envio de medicamentos e alimentos".
É claro que precisa haver coordenação, como cobra o chanceler Celso Amorim, mas é bobagem resmungar sobre os Estados Unidos assumirem um papel mais relevante que o das forças da ONU. É brigar com os fatos da vida. Os EUA podem mais que qualquer outro país, o que é escandalosamente óbvio.
Ajuda-memória aos resmungões, extraída do texto de Sérgio Dávila: os EUA enviaram vários navios da Guarda Costeira com helicópteros, o porta-aviões Carl Vinson, com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares, três centros cirúrgicos e capacidade de tornar potáveis centenas de milhares de litros de água por dia.
Nos próximos dias, chegam mais dois navios com helicópteros e uma força-anfíbia com 2.200 fuzileiros e um navio-hospital.
O Brasil tem condições de chegar a um décimo disso? Não. Então que pare de rosnar e reforce o seu pessoal no Haiti, que fez e está fazendo notável trabalho, dentro de seus limites bem mais modestos.

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Que puxa-saco, lambe botas. Os americanos podem ajudar mais, pois têm mais recursos. Ninguém nega issp. Mas a ajuda brasileira também é bem-vinda e está claro que houve um atropelo dos americanos. Podiam ter contado com quem tem experiência real de convivência da população.

Nada contra quem colocou a mensagem, mas está parecendo fazer relações públicas dos americanos ultimamente.
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Mental Ray
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1615 Mensagem por Mental Ray » Dom Jan 17, 2010 4:41 pm

Gangues voltam à favela do Haiti depois de fugirem da prisão


Joseph Guyler Delva e Tom Brown

Da Reuters
Em Cité Soleil (Haiti)

Membros de gangues fortemente armadas, que já controlaram a maior favela do Haiti como senhores da guerra, voltaram ao local depois que o terremoto de terça-feira danificou a Penitenciária Nacional, permitindo que 3.000 detentos fugissem.

A pacificação de Cité Soleil foi uma das poucas vitórias do presidente René Préval desde que assumiu o cargo em 2006, até que o tremor devastasse Porto Príncipe.

"É natural que eles voltem para cá. Esse sempre foi o bastião deles", disse um policial haitiano na favela, que abriga mais de 300 mil pessoas.

Ele e outro policial, que pediram para não serem identificados porque não estão autorizados a falar sobre a volátil situação em Cité Soleil, disseram que gangues armadas famosas voltaram a marcar presença ali desde o terremoto.

Se violência em larga escala surgir aqui, em meio ao caos e saques que vêm crescendo a cada hora em Porto Príncipe, isso pode representar um grande desafio aos esforços para restabelecer a lei e a ordem na capital haitiana.

Os líderes das gangues de Cité Soleil são criminosos perigosos, que servem de inspiração para lendas urbanas e populares músicas rap haitianas. Montados em motos e brandindo fuzis e pistolas que podem ter sido tomadas dos guardas durante o terremoto, os membros das gangues incluem um assassino frio conhecido como "Blade".

O que se diz é que eles invadiram o Ministério da Justiça na manhã de sábado e queimaram o local para destruir quaisquer registros de suas prisões ou históricos criminosos.

Roubos e tiros
Seja o que for que tenha acontecido dentro da prisão, o prédio não parece ter sido muito danificado pelo terremoto. Não havia corpos dentro e o único sinal de vida vinha de dois cães vira-latas dormindo dentro de uma cela.

Entre os 3.000 detentos que escaparam na terça-feira, muitos são violentos e com passado criminoso relacionado à Cité Soleil, uma favela que há muito tempo é um símbolo potente do país mais pobre das Américas.

"Eles saíram da prisão e agora estão por aí, roubando as pessoas", disse a moradora de Cité Soleil Elgin St. Louis, de 34 anos. "Eles passaram a noite passada toda atirando", acrescentou.

"Nós tememos a volta deles", disse outro morador, um jovem que disse se chamar Forrestal Champlain. "Eles estão armados, não têm moral alguma e podem fazer o que quiserem."

Apesar da oposição às gangues manifestada, o ressentimento ainda é alto em Cité Soleil, que foi um bastião de apoio ao ex-presidente populista Jean-Bertrand Aristide.

Várias casas do lugar ainda estão marcadas pelas batalhas entre as gangues e pacificadores das Nações Unidas, que estão no Haiti desde 2004 e estão foram usados por Préval para estabelecer o controle sobre Cité Soleil depois que assumiu o poder.

Mas um morador afirmou no sábado: "Préval não manda aqui. Ninguém está no comando aqui, exceto os chefes (das gangues)."

O comandante da polícia nacional do Haiti, Mario Andresol, tem uma opinião diferente, apesar de reconhecer que os criminosos que escaparam da cadeia representam um risco sério.

"Minha mensagem a todos esses bandidos armados que estão se aproveitar da situação é que vamos prendê-los como fizemos antes", disse Andresol, à Reuters.

"Estamos trabalhando para tomar as medidas apropriadas para combater esses criminosos", acrescentou.




Mental Ray
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1616 Mensagem por Mental Ray » Dom Jan 17, 2010 4:42 pm

E, para piorar, caçar os bandidos tudo de novo. De certa forma é bom ter os milhares marines lá pra fazer segurança, mas o Brasil podia mandar mais gente pra prender os bandidos de novo.




Anton
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Re: Missão de Paz no Haiti

#1617 Mensagem por Anton » Dom Jan 17, 2010 4:47 pm

Se já postaram, desculpe, mas é uma homenagem aos soldados brasileiros...
http://blog.estadao.com.br/blog/chacra/ ... &tb=1&pb=1
----------------------------------------------------------------------------------
O anonimato dos soldados heróis e dos corpos carbonizados nas ruas do Haiti
por Gustavo Chacra, Seção: Geral 18:45:35.

Estamos agora os jornalistas brasileiros na sala de imprensa montada na base militar brasileira de Porto Príncipe. Estado, Folha, Globo, Bandeirantes dividem as instalações daqui, lutando pela internet para tentar passar as notícias para vocês. Todos retornamos da rua, cada um com uma história diferente. Nenhum de nós passou por uma experiência parecida como essa na vida. E aqui tem gente que cobriu guerra e outros terremotos.

Hoje, seguramente, vi as cenas mais inesquecíveis que já presenciei ou que qualquer pessoa tenha me relatado. Os corpos têm tão pouca valia que são queimados ou jogados em valas comuns. Eles nunca serão identificados. Vi vários carbonizados na área da cozinha do inferno, como era conhecida a parte decadente próxima ao porto, repleta de bares e restaurantes populares. E estes mortos eram pessoas como a gente, com história, com pais, com filhos, com amigos, com memórias. E esta região podia ser pobre, mas isso não significa não ter história nas suas farmácias e bares antigos. Tudo acabou. As mesas dos bares, a comida na calçada, os vendedores animados e a musicalidade do Haiti. Não existe perspectiva para imaginar a reconstrução de toda esta região. Pode demorar uma década. Eu vi Beirute, nos anos 1990, ainda destruída, e anos depois, reconstruída. Mas não dá para comparar a escala. Porto Príncipe é pior. Como escrevi ontem, é Gaza vezes dez.

Como esquecer de um bebê em uma cartolina, jogado como se não fosse nada. E nem há o que fazer. Não se pode tocar sem luvas, as moscas já consomem parte do corpo. A solução para os haitianos é o fogo mesmo. Aqueles esqueletos queimando, debaixo de sol, sob os escombros, com as pessoas desesperadas de fome eu como um extra-terrestre acompanhado das forças brasileiras e o repórter da Globo.

Aliás, os leitores costumam achar os jornalistas corajosos. Vocês não idéia do que são esses militares brasileiros. Heróis, de verdade. Minutos depois do terremoto, já se embrenhavam no escuro, em meio a escombros, em busca de sobreviventes. Não tinham máquina, mas trabalhavam com as mãos. Entram sob escombros, arriscando a própria vida. E seguem anônimos como muitas da vítimas. Mas eles não perdem a esperança de encontrar pessoas vivas. Mereciam medalhas, o verdadeiro Nobel da Paz. Soldados que não lutam em guerras, mas para salvar vidas.

Nós jornalistas, mesmo tomando banho e se enxugando com camiseta, repetindo roupa (viemos apenas com uma mochila, obviamente) e dividindo quarto com outros dez não temos do que reclamar. A base é o paraíso nesta cidade. E com arroz, feijão, carne e suco todos os dias.




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Re: Missão de Paz no Haiti

#1618 Mensagem por Francoorp » Dom Jan 17, 2010 5:07 pm

Corpo de brasileiro da ONU é encontrado

Missão de Paz no Haiti - MINUSTAH

Escrito por Defesa Brasil
Dom, 17 de Janeiro de 2010 12:24
Sob os escombros do Hotel Christopher também foi achado o chefe da missão.

Marília Martins

O corpo do brasileiro Luiz Carlos da Costa, o segundo homem da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) foi encontrado ontem sob os escombros do Hotel Christopher, que funcionava como sede da ONU na capital. Junto com ele, foi achado também o corpo do tunisiano Heidi Annabi, o chefe da missão.

Ao confirmar as mortes dos dois funcionários, o secretário-geral da ONU, Ban ki-Moon, afirmou sobre Costa:
- Ele era considerado uma lenda nas operações de paz da ONU.

O corpo foi levado para o Hospital Argentino, mantido pelas Forças Armadas da Argentina, de onde será posteriormente removido.

Tanto o brasileiro quanto o tunisiano estavam desaparecidos desde a última terça-feira, quando um terremoto destruiu boa parte da capital do Haiti, Porto Príncipe, inclusive o Hotel Christopher, onde ambos participavam de uma reunião de cúpula da Minustah, com cerca de 200 pessoas, sobre o reforço da segurança em Porto Príncipe. Pelo menos 100 da ONU foram soterrados pelos escombros.

No escritório central das missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, todos se entreolham a cada vez que o telefone toca. Enquanto as TVs desfilam imagens chocantes do sofrimento no Haiti, os funcionários buscam notícias de seus colegas de trabalho.

Costa foi designado representante especial adjunto na ONU no Haiti em novembro de 2006, depois de missões na reconstrução de países como Libéria, Kosovo e Camboja. Entre suas atribuições está a integração entre as forças civis, militares e policiais.

Ele começou a trabalhar na sede da ONU em 1969, como mensageiro e era muito amigo do embaixador Sergio Vieira de Mello. Costa foi uma das últimas pessoas a conversar com Vieira de Mello, que morreu soterrado depois de um ataque ao escritório da ONU em Bagdá.

Costa passou as festas de fim de ano em Nova York, junto com a mulher Cristina e as duas filhas, e voltou a Porto Príncipe no dia 4 de janeiro. Um dos funcionários do escritório da missão de paz que se lembram de Luiz Carlos da Costa é Nick Birnback. Os dois trabalharam juntos por mais de 15 anos.

- Ele era uma das pessoas mais admiradas aqui no escritório. Sempre foi considerado muito competente e é respeitado pelo seu extenso currículo, que incluiu missões de reconstrução de países como Libéria e Camboja - diz Birnback. - Esta missão de paz enfrenta uma situação de emergência inédita pela escala da tragédia e pelo fato de que toda a chefia desapareceu no terremoto. Estamos tendo cuidado em não identificar publicamente os mortos antes de notificar as famílias - comenta Birnback.

Ele descreve Costa como uma pessoa otimista e atenciosa:
- Ele havia decidido manter a família em Nova York porque Porto Príncipe era uma área de alto risco.

Fonte: O Globo

Perdemos mais um grande Brasileiro da ONU no exterior.




As Nossas vidas não são nada, A Nossa Pátria é tudo !!!

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PRick

Re: Missão de Paz no Haiti

#1619 Mensagem por PRick » Dom Jan 17, 2010 5:55 pm

Mas uma vez vemos os EUA agindo de forma unilateral, sem respeitar a ONU, essa é a mudança política dos EUA. Não aceitam a integração, não cooperam, querem sempre impor, mandar. E a galera azul fica em polvorosa, os gringos chegaram! :lol: :lol:

[]´s




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Re: Missão de Paz no Haiti

#1620 Mensagem por Penguin » Dom Jan 17, 2010 5:56 pm

Centurião escreveu:
Santiago escreveu:São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

CLÓVIS ROSSI

Rottweiler sem dentes
SÃO PAULO - O Brasil mudou de complexo. Antes, abrigava n'alma o de vira-lata, segundo Nelson Rodrigues, o notável escafandrista da alma brasileira. Agora, na crise haitiana, mostra complexo de rottweiler.
Pena que não tenha dentes. Refiro-me à ciumeira de autoridades brasileiras em relação a rápida e decidida ação do governo norte-americano. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reage com pura masturbação diplomática, ao dizer que se trata de "assistencialismo unilateral".
Qualquer pessoa que não tenha perdido o senso comum sabe que os haitianos não estão preocupados com a cor do assistencialismo, se unilateral, bilateral, multilateral. Querem que funcione.
No aeroporto da capital, está funcionando, conforme relato desta Folha: "Depois que os americanos assumiram o aeroporto, os voos aumentaram e também o envio de medicamentos e alimentos".
É claro que precisa haver coordenação, como cobra o chanceler Celso Amorim, mas é bobagem resmungar sobre os Estados Unidos assumirem um papel mais relevante que o das forças da ONU. É brigar com os fatos da vida. Os EUA podem mais que qualquer outro país, o que é escandalosamente óbvio.
Ajuda-memória aos resmungões, extraída do texto de Sérgio Dávila: os EUA enviaram vários navios da Guarda Costeira com helicópteros, o porta-aviões Carl Vinson, com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares, três centros cirúrgicos e capacidade de tornar potáveis centenas de milhares de litros de água por dia.
Nos próximos dias, chegam mais dois navios com helicópteros e uma força-anfíbia com 2.200 fuzileiros e um navio-hospital.
O Brasil tem condições de chegar a um décimo disso? Não. Então que pare de rosnar e reforce o seu pessoal no Haiti, que fez e está fazendo notável trabalho, dentro de seus limites bem mais modestos.

crossi@uol.com.br
Que puxa-saco, lambe botas. Os americanos podem ajudar mais, pois têm mais recursos. Ninguém nega issp. Mas a ajuda brasileira também é bem-vinda e está claro que houve um atropelo dos americanos. Podiam ter contado com quem tem experiência real de convivência da população.

Nada contra quem colocou a mensagem, mas está parecendo fazer relações públicas dos americanos ultimamente.
Prezado Centurião,

Vc não tem obrigação de ler o que é postado e nem comentar. São notícias/artigos públicos, que estão na grande mídia brasileira. É salutar que seus comentários fiquem restritos às noticias e não a quem posta. Vc não sabe minha opinião sobre o tema acima, pois não escrevi nada a respeito desse artigo.

Ter contrapontos e saber o que dizem os "outros" é no mínimo útil.

[]s




Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
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