Não se pode mudar o passado, mas sim aprender com ele, disse Michelle Bachelet
Chile inaugura Museu da Memória para lembrar crimes da ditadura
15.01.2010 - 10:01 Por Isabel Gorjão Santos
À porta está uma placa com o principal desejo. "Nunca mais". Lá dentro há cartas, fotografias, instrumentos de tortura.
Ao longo de 5600 metros quadrados vêem-se instrumentos para torturar com choques eléctricos ou as peças de artesanato feitas na prisão
Foi inaugurado no Chile o Museu da Memória, onde são lembrados os crimes cometidos durante a ditadura de Augusto Pinochet, entre 1973 e 1990, em que morreram ou desapareceram 3200 pessoas e mais de 28 mil foram torturadas. Uma inauguração a poucos dias das eleições que, no domingo, deverão marcar o regresso da direita ao poder no Chile.
"Só tenho vontade de chorar", dis-se Cármen ao diário espanhol El Mundo, depois de ler o testemunho de uma antiga prisioneira. No ecrã estava escrito: "Sangrava pelo umbigo, pelos mamilos, pelos ouvidos. Eu era só uma massa de sangue". As crianças não podem entrar. Lá dentro são mostradas as fotografias dos mortos, num televisor vêem-se imagens do bombardeamento do Palácio de La Moneda, com Salvador Allendre lá dentro, a 11 de Setembro de 1973.
A Presidente do Chile, Michelle Bachelet, ela própria detida e torturada durante a ditadura, considerou que o museu é "um símbolo poderoso do vigor do Chile unido (...) na promessa de não voltar a conhecer uma tragédia como esta". E adiantou: "Não podemos mudar o passado, mas sim aprender com o que foi vivido".
Ao longo de 5600 metros quadrados vêem-se instrumentos para torturar com choques eléctricos ou as peças de artesanato feitas na prisão. Entre as cartas está a do pai da Presidente, Alberto Bachelet, um antigo funcionário da Força Aérea que se opôs ao golpe e morreu na prisão.
Ao lado de Michelle Bachelet estiveram os ex-presidentes do Chile Patrício Aylwin, Eduardo Frei e Ricardo Lagos. Frei é, aliás, candidato pela Concertação, no poder, à segunda volta das presidenciais, no domingo, mas as sondagens dão vitória ao candidato de direita, o milionário Sebastián Piñera.
Um dos apoiantes de Piñera é o escritor peruano Mario Vargas Llosa, que esteve na inauguração do museu. "Alguém que apoia Piñera não faz nada aqui", gritaram alguns visitantes. Piñera tem procurado representar a direita moderada, mas muitos chilenos não esquecem que fez parte do regime de Pinochet.
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