EXTERMÍNIO DE FAMÍLIA DE HERÓI DE GUERRA CHOCA O MÉXICO.PQD escreveu:O fim do 'chefe dos chefes'
Governo mexicano derruba traficante de 1º escalão em sua maior vitória contra o narcotráfico
CIDADE DO MÉXICO
Duzentos fuzileiros navais invadiram anteontem um condomínio de luxo numa cidade de veraneio do México e mataram um dos traficantes de droga mais procurados do mundo: Arturo Beltrán Leyva, conhecido como "chefe dos chefes", um dos três mais poderosos do país. A operação, que contou com helicópteros, agentes descendo edifícios por rapel e quase duas horas de tiroteio, foi a mais exitosa do governo do presidente mexicano, Felipe Calderón - que assumiu o cargo em 2006 anunciando uma cruzada contra o tráfico. Até agora, apesar de elogiado pelos Estados Unidos por seus esforços, o governo Calderón só tinha conseguido atingir traficantes de segundo e terceiro escalões.
Por E. Eduardo Castillo, Associated Press – 22/12/09.
CIDADE DO MÉXICO – Assaltantes, na terça-feira, abateram à tiros a mãe, a tia e os irmãos de um fuzileiro naval morto na incursão que liquidou um dos mais poderosos líderes de cartéis do México – mandando uma arrepiante mensagem para os soldados que lutam na guerra contra as drogas. Vocês nos pegam, e nós liquidamos com as famílias de vocês.
As brutais matanças ao amanhecer ocorreram umas poucas horas depois de a Marinha ter honrado Melquisedet Angulo, como herói nacional, num memorial.
“A mensagem é muito clara: intimidar não só o governo, mas sua carne e sangue,” disse Jorge Chabat, um especialista mexicano nos cartéis da droga. “Intimidar estes nas Forças Armadas para que sintam medo, não só por suas próprias vidas, mas pelas vidas de seus familiares.”
Autoridades federais tinham prevenido que a morte do senhor das drogas, Arturo Beltran Leyva, conhecido como o “Chefe dos Chefes”, poderia provocar uma violenta resposta dos traficantes, que já foram atrás de policiais federais no passado, depois da detenção de membros de alto-posto de cartéis.
Beltran Leyva estava entre os mais procurados senhores da droga no México e Estados Unidos, e foi o maior traficante abatido pela administração do presidente Felipe Calderón, até agora. As autoridades da U.S. Drug Enforcement Administration culpam seu cartel por muito do derramamento de sangue por todo o México.
Mesmo assim, o país ficou chocado com a brutal matança da família de Angulo, em sua casa, apenas umas poucas horas depois de a mãe do fuzileiro naval caído, Irma Cordova, 55 anos, participar de seu serviço memorial, na Cidade do México, onde recebeu a bandeira mexicana cobrindo o ataúde.
Além da mãe, o irmão, Benito Angulo, 28 anos, a irmã, Jolidabey Angulo, 22 e a tia, Josefa Ângulo, 46, também foram assassinados, um pouco depois da meia-noite, quando pistoleiros dotados com fuzis de assalto, arrombaram a porta da casa deles. A irmã Miraldey Angulo, 24, está no hospital, em estado grave.
A casa da família, no sul do estado de Tabasco, estava juncada com dezenas de cápsulas de munição.
Pistoleiros ligados ao cartel Beltran Leyva tem forte presença em Tabasco, um estado do Golfo, bordejando a Guatemala e são suspeitos de estarem por detrás do ataque. Forças federais e estaduais buscando os atacantes, estabeleceram bloqueios rodoviários por todo o estado na terça-feira.
A Marinha não declarou se está tomando medidas especiais para proteger as famílias dos fuzileiros navais, incluindo os dois filhos de Angulo, de anos e de 16 meses. Autoridades não dizem onde eles e a mãe estavam, quando os parentes foram exterminados.
Calderon chamou o ataque de “ato covarde” e prometeu levar avante sua guerra envolvendo 45 mil soldados.
“Não vamos ser intimidados por criminosos sem escrúpulos como estes que cometeram esta barbárie,” disse terça-feira. “Estes que agem assim merecem repúdio unânime da sociedade e precisam pagar por seus crimes”.
Embora as Forças Armadas tenham liderado a campanha de Calderon contra o crime organizado, que já resultou em mais de 15 mil mortos pela violência das drogas, desde que começou em 2006, ataques diretos dos cartéis contra as tropas tem sido raros, especialmente contra os Fuzileiros Navais que, recentemente começaram a desempenhar um papel maior na guerra às drogas.
A maioria das matanças tem ocorrido entre traficantes rivais, de acordo com o governo federal. Centenas de policiais federais, estaduais e municipais também tem sido mortos, mas apenas um punhado de militares tem morrido nas mãos dos traficantes.
Angulo, 30 anos, foi o único fuzileiro naval morto em 16 de dezembro, na incursão que resultou num tiroteio de quase duas horas, num complexo de apartamentos na cidade colonial de Cuernavaca, sul da Cidade do México. Dois outros navais foram feridos.
Angulo foi, também, o único naval cuja identidade foi tornada pública dos mais de 60 que tomaram parte na operação, que deixou seis pistoleiros mortos, além de Beltran Leyva. Militares mexicanos nunca tem seus nomes ou números nas fardas para proteger suas identidades.
O governo mexicano, ansioso para anunciar sua vitória, foi, de forma inusitada, aberto sobre a incursão da semana passada, muito da qual foi filmada pela mídia local. Repórteres foram admitidos no apartamento para contemplarem o cadáver crivado de balas de Beltran Leyva.
“Isto é, realmente, preocupante, e é um desafio ao governo, pois, claramente, uma das armas do crime organizado é sua capacidade para utilizar violência para intimidar e tem ficado aparente que o estado tem fracassado, muitas vezes, em proteger suas autoridades e, neste caso, até mesmo suas famílias,” disse Chabat.
O ataque de Tabasco ocorre, exatamente, um ano do dia em que as autoridades encontraram os corpos decapitados de sete soldados e cinco outras vítimas, no sul do estado de Guerrero, uma região onde o cartel Beltran Leyva tem lutado para controlar. Os corpos estavam acompanhados por uma mensagem que avisava:
”Para cada um dos meus que vocês matarem, eu vou matar dez dos seus.”
Um saco com as cabeças, algumas ainda amordaçadas com fitas, foi achado próximo.
Estas matanças, em Chilplancingo, uma hora de viagem ao norte de Acapulco, marcaram o pior ataque contra o Exército mexicano em sua luta de meio-século contra as quadrilhas de drogas.
Após a medonha descoberta, o governo realizou uma cerimônia de alto-perfil visando a reassegurar á Nação que não iria render-se. Autoridades também liberaram os nomes dos soldados – justamente como fez a Marinha, segunda-feira, quando honrou Ângulo. Suas esposas soluçando, apareceram na televisão nacional, recebendo as bandeiras que haviam coberto os ataúdes de seus maridos.
Neste caso, entretanto, as autoridades acabaram a cerimônia na base e recusaram a dizer onde os corpos seriam enterrados; elas também não liberaram nenhuma informação sobre qual cartel era suspeito das matanças.
Na segunda-feira, por contraste, autoridades da Marinha voaram com a família de Angulo para sepultá-lo em seu estado natal, onde a chegada deles foi coberta pela mídia.