A IMPLANTAÇÃO DA DEFESA AÉREA : ORGANIZAÇÃO E MEIOS
Antecedentes
O ano era 1967 e assumia o Ministério da Aeronáutica o ministro MARCIO DE SOUZA E MELLO. Homem sábio, pleno conhecedor da Aeronáutica e do "métier" da arma aérea, se permitia filosofar em torno de temas que, em sua opinião, deveriam ser tratados com extrema prioridade pois, caso assim não fosse, estaria sendo colocada em risco a "sobrevivência do Poder Aéreo Brasileiro". Esses temas eram: a Capacidade Aeroestratégica e a Defesa Aérea.
Dizia, então, o Min. MARCIO: "a capacidade aerotática existente na FAB, e que a tantos encanta, poderá vir - a qualquer momento - ser questionada, independentemente da Doutrina. Basta acrescentar o componente da "vontade política governamental" ao processo, para que Exército e Marinha passem a executar as tarefas aéreas (táticas) de interesse de suas próprias operações, com seus próprios meios. Entretanto, jamais, sob qualquer argumento, as tarefas aeroestratégicas e de Defesa Aérea serão alocadas a qualquer outro segmento do Poder Militar, que não seja ao PODER AÉREO!"
Com essa visão aparecem, pela primeira vez, no Organograma da Reforma Administrativa do Min. Aeronáutica (Dec 60.521 de 30 Mar 67) o COMANDO AÉREO DE DEFESA AÉREA e o COMANDO COSTEIRO (com encargos aeroestratégicos). Como conseqüência, além do surgimento organizacional, cabia prover os meios, para tornar realidade o conceito filosófico.
Àquela época, ocupava a função de Chefia do GM4 o Cel Av CASSIANO PEREIRA, exímio Caçador e homem sobejamente conhecido por suas posições firmes no exercício da profissão. Absolutamente alinhado com a filosofia do Ministro, coube ao Cel CASSIANO criar e operacionalizar a CEPAI (Comissão Especial para o Projeto Aeronave de Interceptação). Essa Comissão trataria dos estudos relativos à escolha de uma aeronave pura de interceptação, nova (sem ser usada) e supersônica.
Esses requisitos eram originados do pensamento do próprio Ministro. Para tanto, o GM4 designou o então Membro do Gabinete do Ministro, Ten Cel MENEZES L.N. para Chefiar a CEPAI, fazendo agregar a ela o Ten Cel MARCIO NOBREGA MOREIRA (GM3), o Ten Cel ANTONIO CLARET JORDÃO (EMAer) e o Maj Esp CESCCATO (DIRMA).
A CEPAI estruturou seus trabalhos em Projetos: Projeto USA, Projeto França, Projeto Inglaterra, Projeto Itália e Projeto Suécia. A idéia era avaliar, respectivamente, as aeronaves F5A/B, MIRAGE III, LIGHTNING MK55, F104 e SAAB DRAKEN. Para tanto, consultas formais, a nível de Governo, foram iniciadas com vistas a enviar equipes de avaliação a esses países.
Surpreendentemente, o Governo norte americano se colocou contrário à avaliação de aeronaves supersônicas por parte do Brasil já que, em sua concepção, aeronaves dessa performance estariam vetadas aos países latino-americanos, por desequilibrar "o balanço do poder ao Sul do Rio Grande"...
Isto posto, a avaliação do F5A/B foi eliminada e a CEPAI fez organizar seu roteiro de avaliações incorporando, para isso, alguns Pilotos de Caça das Unidades Aéreas para compor seus times. Dessa forma, os Projetos tiveram a seguinte constituição:
França:
Ten Cel Av MENEZES, LN <B
Maj Eng OSIRES, S
Inglaterra:
Ten Cel Av MENEZES, LN
Maj Av BARROS, AFS
Maj Av FROTA, IM
Maj Eng ROBERTO
Itália;
Ten Cel Av DELVAUX,
Maj Av FROTA, IM
Suécia;
Ten Cel Av DELVAUX,
Maj Av FROTA, IM
Cada um dos times cumpriu sua tarefa de avaliar um interceptador para guarnecer o recém-criado COMDA e produziu seus relatórios.
Inesperadamente, no transcurso do andamento dos Projetos, o Governo norte-americano insiste para que o Brasil envie um time para voar o F5A/B, embora permanecessem as restrições de exportação. A contragosto do Min. MARCIO (pressão política?), a CEPAI montou um novo time para a missão USA, composta de:
Ten Cel BARROS, AFS
Ten Cel ERNANI, A
Ten Cel MARQUES, HPC
Essa avaliação(?) foi "hors-concours"...
A análise dos relatórios, feita a nível do GABAer/EMAer, resultou na escolha do MIRAGE III, em detrimento das outras aeronaves.
Aquisição do MIRAGE III
Para apresentar a solução a nível presidencial, a CEPAI elaborou um substancioso relatório que seria encaminhado ao Pres. Costa e Silva para a necessária aprovação, o que foi feito.
Há um fato curioso (presenciado pelo Chefe da CEPAI), no que tange à análise presidencial do relatório. O Min. MARCIO, em despacho pessoal, apresentou o Relatório da CEPAI indicando o MIRAGE III e seu arrazoado. O Pres. Costa e Silva ouviu atentamente o Min. MARCIO e, ao final dos esclarecimentos, teria declarado:
- "Min. MARCIO, estou com um problema político com o governo inglês e seus bancos no que se refere ao financiamento para as obras da Ponte Rio-Niterói. Muito me ajudaria se a solução da FAB fosse o LIGHTNING".
O Min. MARCIO retirou-se e convocou o Chefe da CEPAI e instruiu:
- "Onde estiver escrito MIRAGE nesse Relatório, apaga e põe LIGHTNING". O que, a contragosto, foi cumprido. E o Relatório BRAINGLA (Brasil-Inglaterra) recebeu o APROVO por escrito do Pres. Costa e Silva, que dias depois adoeceu, vindo a falecer.
Passaram-se alguns meses. Quando já empossado o Pres. MEDICI, o Min. MARCIO retorna ao assunto fazendo um retrospecto histórico do processo. Após tudo ouvir, o Pres. MEDICI acrescentou:
· "Min. MARCIO, não temos mais o problema financeiro citado pelo meu antecessor. Se a escolha técnica da FAB foi o MIRAGE francês, que o seja".
O Min. MARCIO reuniu seu Alto Comando no Salão Nobre do MAer - BRASÍLIA e cientificou a todos que daria início ao processo de aquisição de 16 (dezesseis) aviões MIRAGE III, para equipar a 1a ALA DE DEFESA AÉREA, a ser instalada em Anápolis (GO). Isto posto, redigiu de próprio punho mensagem telegráfica a ser expedida para conhecimento de toda a FAB, cuja cópia ampliada está compondo o Histórico do 1o GDA.
Iniciava-se a fase SUPERSÔNICA de Caça na FAB!
Maj Brig RR L.N. Menezes
http://zairopigatto.sites.uol.com.br/HAv2.htm