Santiago escreveu:Bender escreveu:[ quote="Santiago"][ quote="Bender"]
A questão diplomática e da política externa que voce acrescenta agora as idéias já expostas é fundamental,realmente fica nítido que a escolha francesa foi conservadora,mas foi talvez a que alcançou o consenso entre os atores principais do processo,como adequada naquele momento,hoje já vivemos um momento diferente,não dá para avaliar ainda qual foi o resultado da votação nessa reunião,mas acredito que o caminho do meio teve voto da FAB e do min. da Defesa, a opção russa teve voto do min. Mangabeira sem dúvida,o MRE talvez tenha sido o voto que deu a vitoria por maioria a opção francesa,e ai fica mais claro ainda que a intenção da exclusão dos russos também teve a intenção de preservar intacta a opção russa,sem desgastes para alguma eventualidade.
Sds.
Sem desgaste? A proposta russa foi fulminada pelo governo!
![[011]](./images/smilies/011.gif)
Não houve lamentos. Só entre os muitos fãs do Flanker no mundo virtual da internet. Segundo Nelson Jobim e FAB eles ficaram aquém do exigido justo no quesito crítico, transferência de tecnologia.
[]s
Sem desgaste algum.
Foi simplesmente rejeitada pelo alegado "motivo" da falta de transferência de tecnologia.
Enquanto isso,o F18 permaneceu na disputa e na mídia,mas esse sim sendo fulminado uma vez por semana com reafirmações pontuais por parte do nosso Min. da Defesa de que os EUA não transferem tecnologia e tem maus antecedentes.
Reparou que mesmo tendo maus antecedentes e sendo portador da mesma doença que aparentemente "excluiu" os russos de forma
rápida e sem muitas mais explicações,da disputa,o F18 foi mantido e massacrado pelos condutores do processo pelo mesmo motivo durante 12 meses.
Atentando para isso realmente os russos foram eleiminados de forma fulminante,o processo morreu para eles e não deu tempo sequer de reagir,mas foram poupados de serem difamados ou atacados.
Mas no caso do F18,este foi mantido e vem sendo torturado e
desgastado sem tréguas e sem chances de se defender,da indefesável mesma
pecha que eliminou os russos,é muito diferente e muito pior na minha opinião.
Mundo cruél.
Sds.[/quote]
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Bender,
Acho que o galho nesse processo, foi ter mantido os americanos.
Se dependesse da opinião formado por NJ dos americanos, da jurisprudência (como se houvesse jusrisprudência com os franceses*), ele não teria por que se preocupar com a proposta americana. Os americanos nunca se aproximariam da proposta da França.
Mas surpreendentemente o que ocorre? Os americanos liberam de forma inédita, mesmo aos 45' do segund0 tempo, o que eles nunca liberaram para terceiros. E por que isso ocorre? Há muitas explicações possíveis:
1) Querem evaporar a Dassault da face da terra, mesmo Sarkozy sendo o presidente francês mais pró-USA desde o pós-Guerra. O presidente que re-aproximou a França da OTAN. Que tem apoiado todas as iniciativas americanas após a invasão do Iraque por Bush filho.
2) Efeito Cavalo de Tróia. Querem destruir os planos do Brasil de investir em pesquisas de desenvolvimento militar e para isso oferecem todas as comodidades e facilidades para os latinos de fala portuguesa se acomodarem e gastarem os seus recursos com coisas menos importantes do ponto de vista militar.
3) A relevância do Brasil no mundo está mudando e eles querem se aproximar e ter o Brasil como um parceiro próximo. O Brasil é um importante fator de equilíbrio da America do Sul e pode ser um importante interlocutor para questões globais. Essa aproximação reforçaria as já intensas relações de negócios existentes. Pode ser uma relação ganha-ganha.
É certo que o sistema de poder americano é complexo e possui uma grande inércia. Mesmo com um novo presidente, em tese disposto a mudar as relações com a AL, eles fizeram movimentos que os prejudicaram: o anuncio da criação da 4a Frota e a forma como foi feito o anuncio das bases na Colômbia. Mas a vida é assim mesmo. Tudo tem conseqüências.
(*) a jurisprudencia dos subs e EC-725 só poderá ser avaliada quando os contratos forem executados/concluídos (o caso alemão reforça isso). A dos Esquilos e INACE não é das melhores.
[]s[/quote]
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Curiosamente, foi publicado o artigo abaixo, 08/12, que vai de encontro com o item 3):
São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009
TENDÊNCIAS/DEBATES
América Latina: o peso pesado e seu contrapeso
PETER HAKIM
Em vez de continuarem como concorrentes, Brasil e EUA têm mais a ganhar se encontrarem formas de cooperar na América Latina
O BRASIL demonstrou de maneira cabal sua capacidade de se contrapor ao poderio dos EUA na América Latina em 2004, quando provocou a suspensão das negociações regionais para a criação da Alca, defendida pelos EUA.
Um ano mais tarde, na cúpula de líderes do hemisfério Ocidental em Mar del Plata, o Brasil, contando com o apoio de apenas quatro países, conseguiu bloquear um esforço dos EUA e mais 28 países para reiniciar as negociações. Ainda mais notável foi que, logo após a cúpula (que alguns viram como humilhante para os EUA), o então presidente Bush compareceu a um churrasco com Lula no Brasil.
O Brasil não apenas mostrou seu perfil e influência crescentes como também ilustrou sua capacidade incomum de lançar uma ponte sobre as divisões ideológicas da região. Dentro do hemisfério Ocidental, politicamente dividido, o Brasil talvez seja o único país que não tem adversários.
O Brasil é um polo alternativo de poder no hemisfério Ocidental. Na América do Sul, tomou o lugar dos EUA como presença dominante em relação a muitas questões.
É verdade que a atenção dos EUA está fixada sobre outras partes do mundo, mas a questão crucial é que, hoje, os EUA frequentemente se curvam ao Brasil em assuntos interamericanos.
No ano passado, por exemplo, a diplomacia norte-americana não reagiu às tensões perigosas e crescentes entre Colômbia e Venezuela. De modo geral, Washington deixou a tarefa a cargo do Brasil e da recém-formada Unasul. De modo semelhante, neste ano, quando Venezuela e Colômbia novamente entraram em atrito, foi o Brasil quem se ofereceu para mediar.
Mesmo assim, ainda restam limitações grandes à capacidade do Brasil de moldar e influenciar os fatos na América Latina.
Para começar, o Brasil avançou pouco em direção a sua ambição de longa data de integração econômica regional. Após duas décadas, o pacto comercial do Mercosul, que o Brasil chegou a anunciar como sua âncora econômica, está uma bagunça.
Seus quatro membros não desenvolveram regras comuns ou políticas convergentes -nem mesmo arranjos institucionais modestamente eficazes. Tampouco negociaram um único acordo comercial com outro país.
A Unasul, esquema de integração em estilo europeu, com dois anos de existência, ainda é mais uma aspiração que uma meta prática. É difícil imaginar como poderá dar certo, dadas as enormes diferenças de política econômica entre seus membros -diferenças reforçadas por tensões políticas e divisões ideológicas.
Em segundo lugar, o Brasil continua a hesitar em se envolver em disputas entre outros países -vem mantendo distância da disputa áspera entre Argentina e Uruguai e se abstém de intervir nas disputas de longa data do Chile com o Peru e a Bolívia.
Também tem se mostrado mais que avesso a interferir nas decisões internas dos vizinhos, ainda que tenham consequências para a economia ou a segurança brasileiras. O país evita criticar as muitas transgressões antidemocráticas cometidas por Hugo Chávez, as violações dos direitos humanos e as ingerências em outros países.
É possível que o Brasil seja realista, simplesmente. Ele compreende que sua intervenção não seria necessariamente bem recebida e que poderia ter custos políticos e econômicos altos.
E é esta a terceira limitação à liderança do Brasil: sua capacidade (ou disposição) modesta de assumir os ônus financeiros e políticos de um envolvimento mais assertivo.
Nem o governo de Lula nem o de Fernando Henrique Cardoso fizeram muito para ajudar a Colômbia em sua guerra contra guerrilheiros e traficantes de drogas. Nesse quesito, fica claro que a posição dominante é a dos EUA: ao longo de uma década, ajudou as Forças Armadas colombianas com mais de US$ 6 bilhões.
Ademais, os EUA têm regularmente usado seus recursos para dar assistência a países que enfrentam problemas econômicos (incluindo o Brasil), e pactos de livre comércio com os EUA ou preferências comerciais são altamente valorizados pela maioria dos países latino-americanos.
Em quarto lugar, a influência do Brasil se limita principalmente à América do Sul. Os EUA continuam a ser o ponto de referência para a América Central, o Caribe e o México.
É verdade que a liderança brasileira de forças de manutenção da paz da ONU vem contribuindo enormemente para a estabilidade do Haiti. E o Brasil pode vir a exercer papel importante na eventual transição em Cuba. Mas a crise em Honduras demonstrou as limitações do Brasil. Enquanto Washington teve papel central, a diplomacia brasileira ficou em grande medida em posição secundária.
É muito possível que, no futuro próximo, os EUA cedam mais e mais diante da liderança brasileira na América Latina -e é quase certo que a influência do Brasil cresça em toda a região. Mas, em vez de continuarem como concorrentes ou contrapesos um ao outro, tanto Brasil quanto EUA têm mais a ganhar se encontrarem maneiras de cooperar.
PETER HAKIM, mestre em relações internacionais, é presidente do Diálogo Interamericano, em Washington.
Tradução de Clara Allain