O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
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O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
Caros colegas, procurei e não encontrei um tópico sobre este tema, então:
Colapso econômico: A "inundação de
dólares" financia o crescimento militar
global dos EUA
por Michael Hudson
Professor de Teoria Económica na Universidade de Missouri – Kansas City,
Estou a viajar pela Europa há três semanas para discutir a crise financeira global com responsáveis de governos, políticos e líderes trabalhistas. O mais notável é quão diferentemente o problema financeiro é percebido aqui. É como estar em outro universo económico, não apenas em outro continente.
Os media dos EUA estão silenciosos acerca dos tópicos mais importantes que os decisores políticos discutem aqui (e suspeito que na Ásia também): como proteger os seus países de três dinâmicas inter-relacionadas: (1) o excesso de dólares que está a ser despejado no resto do mundo para ainda mais especulação financeira e takeovers corporativos; (2) o facto de os bancos centrais serem obrigados a reciclar estes influxos de dólares com a compra títulos do Tesouro dos EUA e assim financiar o défice do orçamento federal dos EUA; e, ainda mais importante (mas suprimido nos media dos EUA), (3) o carácter militar do défice de pagamentos dos EUA e do défice orçamental federal interno.
Por estranho que possa parecer e irracional como seria num sistema de diplomacia mundial que fosse mais lógico, a "inundação de dólares" é o que financia o crescimento militar global da América. Ela força bancos centrais estrangeiros a arcarem com os custos da expansão militar do império americano, uma efectiva "tributação sem representação". Manter reservas internacionais em "dólares" significa reciclar seus influxos de dólares na compra de títulos dos Tesouro dos EUA, emitidos pelo governo dos EUA em grande medida para financiar o sector militar.
Até à data, os países têm sido impotentes para se defenderem contra o facto de este financiamento compulsório dos gastos militares dos EUA estar embutido dentro do sistema financeiro global. Economistas neoliberais aplaudem isto como "equilíbrio", como se fosse parte da natureza económica e dos "mercados livres" ao invés de diplomacia claramente exercida com crescente agressividade por responsáveis dos EUA. Os mass media intrometem-se, pretendendo que reciclar a inundação de dólares para financiar os gastos militares estado-unidenses é "mostrar a sua fé na fortaleza económica dos EUA" com o envio dos "seus" dólares aqui para "investir". É como se houvesse nisto uma opção, não compulsão financeira e diplomática para simplesmente optar entre o "Sim" (da China, relutantemente), o "Sim, por favor" (do Japão e da União Europeia) e o "Sim, obrigado" (da Grã-Bretanha, Geórgia e Austrália).
Não é "a fé estrangeira na economia dos EUA" que leva os de fora a "colocarem o seu dinheiro aqui". Isto é um tolo quadro antropomórfico de uma dinâmica mais sinistra. Os "estrangeiros" em causa não são consumidores a comprar exportações dos EUA, nem são "investidores" do sector privado a comprar acções e títulos dos EUA. As maiores e mais importantes entidades estrangeiras que colocam o "seu dinheiro" aqui são bancos centrais, e não é os "seu dinheiro" de modo algum. Eles estão a remeter de volta os dólares que exportadores estrangeiros e outros receptores entregam aos seus bancos centrais em troca de divisas internas.
Quando o défice de pagamentos dos EUA enche de dólares economias estrangeiras, estes bancos têm pouca opção além de comprar títulos do Tesouro dos EUA os quais são gastos por este no financiamento de um crescimento militar enorme e hostil destinado a cercar os principais recicladores de dólares, China, Japão e produtores de petróleo árabes da OPEP. Mas estes governos são forçados a reciclar influxos de um modo que financia políticas militares dos EUA a cuja formulação eles são alheios e que os ameaça cada vez mais beligerantemente. Foi por isso que a China e a Rússia tomaram a iniciativa de formar a Organização de Cooperação de Shangai (SCO) uns poucos anos atrás.
Aqui na Europa há uma consciência clara de que o défice de pagamentos dos EUA é muito maior do que o défice comercial. Basta simplesmente olhar a Tabela 5 dos dados da balança de pagamentos dos EUA compilados pelo Bureau of Economic Analysis (BEA) e publicados pelo Departamento do Comércio no seu Survey of Current Business para ver que o défice não se deve simplesmente ao facto de consumidores comprarem mais importações do que os Estados Unidos exportam quando o sector financeiro desindustrializa a sua economia. As importações dos EUA estão agora a afundar quando a sua economia se contrai e os consumidores estão agora a descobrir que são obrigados a pagar as dívidas que assumiram.
O Congresso disse aos investidores estrangeiros do maior possuidor de dólares, a China, para não comprar nada excepto talvez lojas de automóveis usados e talvez mais pacotes de hipotecas e acções da Fannie Mae, o equivalente de investidores japoneses a serem pilotados para o gasto de US$1 mil milhões no Rockefeller Center, nos quais a seguir tiveram uma perda de 100%, e ao investimento saudita no Citigroup. Esta é a espécie de "equilíbrio internacional" que os responsáveis dos EUA gostam de ver. "CNOOK [NT] go home" é a palavra-de-ordem quando há tentativas sérias de governos estrangeiros e seus fundos de riqueza soberana (departamentos de bancos centrais a tentarem imaginar o que fazer com a sua inundação de dólares) de fazerem investimentos directos na indústria americana.
De modo que somos confrontados com a extensão em que o défice de pagamentos dos EUA tem origem nos gastos militares. O problema não é só a guerra no Iraque, agora a ser estendida ao Afeganistão e ao Paquistão. É o dispendioso crescimento de bases militares dos EUA na Ásia, Europa, países pós-soviéticos e do Terceiro Mundo. A administração Obama prometeu tornar o montante real destes gastos militares mais transparente. Isto presumivelmente significa publicar um conjunto revisto dos números da balança de pagamentos bem como estatísticas do orçamento federal interno.
A sobrecarga militar é como uma sobrecarga de dívida, extracção de receita da economia. Neste caso é para pagar o complexo militar-industrial, não simplesmente os bancos da Wall Street e outras instituições financeiras. O défice do orçamento federal interno não brota só do "estímulo" de distribuir enormes somas para criar uma nova oligarquia financeira. Ele contém um enorme componente militar em crescimento rápido.
De modo que europeus e asiáticos vêm companhias dos EUA a despejarem cada vez mais dólares para dentro das suas economias, não só para comprarem as suas exportações sem lhes proporcionar bens e serviços em retorno, e não só para comprarem as suas companhias e "postos de comando" de empresas públicas privatizadas sem lhes dar o direito recíproco de comprar companhias importantes nos EUA (recordar que os EUA rejeitaram a tentativa da China de comprar negócios de distribuição de petróleo nos EUA), e não só para comprar acções, títulos e imobiliário estrangeiro. Os media dos EUA de certa forma esquecem de mencionar que o governo estado-unidense está a gastar centenas de milhares de milhões de dólares no exterior não só no Médio Oriente no combate directo, mas também para construir enormes bases militares a fim de cercar o resto do mundo, para instalar sistemas de radar, sistemas de mísseis guiados e outras formas de coerção militar, incluindo as "revoluções coloridas" que tem sido financiadas e ainda o são em torno da antiga União Soviética. Paletes de notas de US$100 envolvidas em plástico, cada uma das quais soma dezenas de milhões de dólares, tornaram-se imagens familiares em algumas emissões de TV, mas não se faz a ligação com os gastos militares e diplomáticos dos EUA e com os haveres em dólares de bancos centrais estrangeiros, os quais são relatados simplesmente como a "maravilhosa fé da recuperação económica dos EUA" e presumivelmente na "mágica monetária" que está a ser montada no Tesouro por Tim Geithner da Wall Street e pelo Helicóptero Ben Bernake no Federal Reserve.
Aqui está o problema: A companhia Coca-Cola recentemente tentou comprar o maior produtor e distribuidor de sumo de frutas da China. A China já possui aproximadamente US$2 milhões de milhões (trillion) em títulos dos EUA a mais do que precisa ou pode utilizar, visto que o Governo dos Estados Unidos recusa-se a deixá-la que compre companhias significativas nos EUA. Se a compra estado-unidense tivesse sido permitida, isto teria confrontado a China com um dilema: A Opção 1 seria deixar a venda consumar-se e aceitar pagamento em dólares, reinvestindo-os no que o Tesouro dos EUA lhes diz, em títulos do Tesouro que rendem cerca de 1%. A China assumiria uma perda capital sobre isto quando as taxas de juros dos EUA ascendessem ou quando o dólar declinasse pois os Estados Unidos estão insistindo isoladamente em políticas expansionistas keynesianas numa tentativa de permitir às companhias dos EUA que arquem com o seu fardo de dívidas.
A Opção 2 é não reciclar os influxos de dólares. Isto levaria o renminbi a subir em relação ao dólar, desgastando dessa forma a competitividade das exportações chinesas nos mercados mundiais. Assim, a China optou por um terceiro caminho, o qual provocou protestos dos EUA. Ela descartou a venda da sua companhia tangível por simples dólares "de papel" os quais combinavam-se com a "opção" de mais uma vez financiar o cerco militar dos EUA aos países da Organização de Cooperação de Shangai (SCO). As únicas pessoas que parecem não estar a perceber isto são os mass media americanos e portanto o público. Posso assegurar a partir de experiência pessoal que isto é percebido aqui na Europa. (Eis uma boa questão diplomática a discutir: Qual será o primeiro país europeu além da Rússia a aderir ao SCO?)
Os manuais académicos nada têm a dizer acerca de como o "equilíbrio" em movimentos de capital especulativo estrangeiro bem como em investimento directo é infinito só até ao ponto em que a economia dos EUA é afectada. A economia dos EUA pode criar dólares livremente, agora que eles já não são convertíveis em ouro ou mesmo em compras de companhias dos EUA, na medida em que a América permanece a economia mais protegida do mundo. Isto só é permitido para proteger a sua agricultura mediante quotas de importação, tendo aberto esta excepção ("grandfathered") nas regras do comércio mundial meio século atrás. O Congresso recusa-se a deixar fundos de "riqueza soberana" investirem em importantes sectores dos EUA.
Assim, somos confrontados com o facto de que o Tesouro dos EUA prefere que bancos centrais estrangeiros se mantenham a financiar o seu défice orçamental interno, o que significa financiar o custo da guerra da América no Médio Oriente e o cerco de países estrangeiros com um cordão de bases militares. Quanto mais "saídas de capital" os investidores gastarem para comprar os sectores mais lucrativos de economias estrangeiras, onde os novos proprietários estado-unidenses podem extrair as mais altas rendas de monopólio, mais fundos acabam em bancos centrais estrangeiros para suportar o crescimento militar global da América. Nenhum manual de teoria política ou relações internacionais sugeriu axiomas para explicar porque os países actuam de um modo tão adverso aos seus próprios interesses políticos, militares e económicos. Mas isto é exactamente o que tem estado a acontecer durante a última geração.
Assim, a questão final acaba por ser o que podem os países fazer para conter este ataque financeiro. Um sindicato de trabalhadores basco perguntou-me se eu pensava que o controle de movimentos de capital especulativo asseguraria que o sistema financeiro actuasse no interesse público. Ou seria necessária a nacionalização sem rodeios para melhor desenvolver a economia real?
Não é simplesmente um problema de "regulação" ou de "controle de movimentos de capital especulativo". A questão é como nações podem actuar como nações reais, no seu próprio interesse, ao invés de serem amarradas ao serviço do quer que seja que diplomatas dos EUA decidam ser do interesse da América.
Qualquer país que tentasse fazer o que os Estados Unidos tem feito durante os últimos 150 anos seria acusado de ser "socialista" e isto pela mais anti-socialista economia do mundo, excepto quando recorre a salvamentos para os seus bancos, "socialismo para o ricos", também conhecidos como oligarquia financeira. Esta retórica quase não deixa alternativa senão a nacionalização completa do crédito como um serviço público básico.
Naturalmente, a palavra "nacionalização" tornou-se um sinónimo para o salvamento dos bancos maiores e mais temerários dos seus maus empréstimos, e para salvar hedge funds e contrapartes não bancárias por perdas no "capitalismo de casino", jogando com derivativos que a AIG e outras seguradoras ou actores no lado perdedor destes jogos são incapazes de pagar. Tais salvamentos não são nacionalização no sentido tradicional do termo, de devolver a criação de crédito e outras funções financeiras básicas ao domínio público. Trata-se do oposto. Ela imprime novos títulos governamentais para submetê-los, juntamente com poder auto-regulatório, ao sector financeiro, bloqueando a cidadania de assumir estas funções.
Enquadrando a questão como uma escolha entre democracia e oligarquia traz a questão de quem irá controlar o governo que faz a regulação e "nacionalização". Se for feita por um governo cujo banco central e os principais comité do Congresso que tratam de finanças são dirigidos pela Wall Street, isto não ajudará a dirigir o crédito para usos produtivos. Isto meramente continuará a era de Greenspan-Paulson-Geithner de mais e mais amplos almoços gratuitos para os seus clientes financeiros.
A ideia de "regulação" da oligarquia financeira é garantir que os desreguladores sejam instalados em posições chave e que se lhes dê um quadro de pessoal reduzido e pouco financiamento. Apesar do anúncio do sr. Greenspan de que tinha chegado a ver a luz e percebera que auto-regulação não funcionava, o Tesouro ainda é dirigido por um responsável da Wall Street e o Fed é dirigido por um lobbyista para a Wall Street. Para os lobbyistas, a preocupação real não é a ideologia como tal e sim o auto-interesse dos seus clientes. Eles podem procurar patetas com boas intenções, conduzidos como são pelos seguidores de Milton Friedman na Universidade de Chicago. Tais indivíduos são colocados no lugar como "porteiros" das principais publicações académicas a fim de impedir a entrada de ideias que não sirvam adequadamente os lobbyistas financeiros.
O pretexto para excluir o governo da regulação significativa é que as finanças são tão técnicas que só alguém da "indústria" financeira é capaz de regulá-la. Para aumentar ainda mais a infâmia, é feita a afirmação adicional e contra-intuitiva de que uma marca da democracia é tornar o banco central "independente" do governo eleito. Na realidade, naturalmente, isso é exactamente o oposto de democracia. As finanças são o centro do sistema económico. Se não forem reguladas democraticamente no interesse público, então estão "livres" para serem dominadas pelos interesses especiais. Assim, isto torna-se a definição oligárquica de "liberdade de mercado".
O perigo é que os governos deixem o sector financeiro determinar como serão aplicadas as "regulações". Os interesses especiais procuram ganhar dinheiro a partir da economia e o sector financeiro faz isto de um modo extractivo. Aqui está o seu plano de marketing. Financiar hoje é actuar de um modo que desindustrialize economias, não que as construa. O "plano" é austeridade para o trabalho, a indústria e todos os sectores fora das finanças, como nos programas do FMI impostos sobre infelizes países devedores do Terceiro Mundo. A experiência da Islândia, Letónia e outras economias "financiarizadas" deveria ser examinada como lições objectivas, mesmo porque eles estão no topo da classificação dos países feita pelo Banco Mundial quanto à "facilidade para fazer negócio".
A única regulação significativa só pode vir de fora do sector financeiro. De outra forma, os países sofrerão o que os japoneses chamam "a descida do céu": os reguladores são seleccionados entre as fileiras dos banqueiros e dos seus "idiotas úteis". Ao saírem do governo eles retornam ao sector financeiro com empregos lucrativos, convites para conferências bem pagas e pagamentos afins. Sabendo disto, regulam em favor dos interesses financeiros especiais, não o do público em geral.
O problema dos movimentos do capital especulativo vai além da formulação de um conjunto de regulações específicas. Refere-se ao âmbito do poder do governo nacional. Os artigos do Acordo do Fundo Monetário Internacional impedem os países de restaurar os sistemas de "taxas de câmbio duplas" que muitos adoptaram ao longo da década de 1950 e mesmo nos anos 60. Era prática generalizada de muitos países haver uma taxa de câmbio para bens e serviços (por vezes várias taxas de câmbio para diferentes categorias de importação e exportação) e uma outra para "movimentos de capital". Sob pressão americana, o FMI impingiu a ficção de que há uma taxa de "equilíbrio" que acontece ser a mesma tanto para bens e serviços como para movimentos de capital. Os governos que não adoptaram esta ideologia foram excluídos da condição de membros do FMI e do Banco Mundial ou foram derrubados.
A implicação hoje é que o único meio com que um país pode bloquear movimentos de capital é retirando-se do FMI, do Banco Mundial e da Organização Mundial de Comércio (OMC). Pela primeira vez desde a década de 1950, isto parece uma possibilidade real, graças à tomada de consciência à escala mundial de como a economia dos EUA está a inundar a economia global com um excesso de dólares "de papel" e à intransigência estado-unidense em travar este seu benefício gratuito. Na perspectiva privilegiada dos EUA, isto é nada menos do que uma tentativa de restringir o seu programa militar internacional.
Colapso econômico: A "inundação de
dólares" financia o crescimento militar
global dos EUA
por Michael Hudson
Professor de Teoria Económica na Universidade de Missouri – Kansas City,
Estou a viajar pela Europa há três semanas para discutir a crise financeira global com responsáveis de governos, políticos e líderes trabalhistas. O mais notável é quão diferentemente o problema financeiro é percebido aqui. É como estar em outro universo económico, não apenas em outro continente.
Os media dos EUA estão silenciosos acerca dos tópicos mais importantes que os decisores políticos discutem aqui (e suspeito que na Ásia também): como proteger os seus países de três dinâmicas inter-relacionadas: (1) o excesso de dólares que está a ser despejado no resto do mundo para ainda mais especulação financeira e takeovers corporativos; (2) o facto de os bancos centrais serem obrigados a reciclar estes influxos de dólares com a compra títulos do Tesouro dos EUA e assim financiar o défice do orçamento federal dos EUA; e, ainda mais importante (mas suprimido nos media dos EUA), (3) o carácter militar do défice de pagamentos dos EUA e do défice orçamental federal interno.
Por estranho que possa parecer e irracional como seria num sistema de diplomacia mundial que fosse mais lógico, a "inundação de dólares" é o que financia o crescimento militar global da América. Ela força bancos centrais estrangeiros a arcarem com os custos da expansão militar do império americano, uma efectiva "tributação sem representação". Manter reservas internacionais em "dólares" significa reciclar seus influxos de dólares na compra de títulos dos Tesouro dos EUA, emitidos pelo governo dos EUA em grande medida para financiar o sector militar.
Até à data, os países têm sido impotentes para se defenderem contra o facto de este financiamento compulsório dos gastos militares dos EUA estar embutido dentro do sistema financeiro global. Economistas neoliberais aplaudem isto como "equilíbrio", como se fosse parte da natureza económica e dos "mercados livres" ao invés de diplomacia claramente exercida com crescente agressividade por responsáveis dos EUA. Os mass media intrometem-se, pretendendo que reciclar a inundação de dólares para financiar os gastos militares estado-unidenses é "mostrar a sua fé na fortaleza económica dos EUA" com o envio dos "seus" dólares aqui para "investir". É como se houvesse nisto uma opção, não compulsão financeira e diplomática para simplesmente optar entre o "Sim" (da China, relutantemente), o "Sim, por favor" (do Japão e da União Europeia) e o "Sim, obrigado" (da Grã-Bretanha, Geórgia e Austrália).
Não é "a fé estrangeira na economia dos EUA" que leva os de fora a "colocarem o seu dinheiro aqui". Isto é um tolo quadro antropomórfico de uma dinâmica mais sinistra. Os "estrangeiros" em causa não são consumidores a comprar exportações dos EUA, nem são "investidores" do sector privado a comprar acções e títulos dos EUA. As maiores e mais importantes entidades estrangeiras que colocam o "seu dinheiro" aqui são bancos centrais, e não é os "seu dinheiro" de modo algum. Eles estão a remeter de volta os dólares que exportadores estrangeiros e outros receptores entregam aos seus bancos centrais em troca de divisas internas.
Quando o défice de pagamentos dos EUA enche de dólares economias estrangeiras, estes bancos têm pouca opção além de comprar títulos do Tesouro dos EUA os quais são gastos por este no financiamento de um crescimento militar enorme e hostil destinado a cercar os principais recicladores de dólares, China, Japão e produtores de petróleo árabes da OPEP. Mas estes governos são forçados a reciclar influxos de um modo que financia políticas militares dos EUA a cuja formulação eles são alheios e que os ameaça cada vez mais beligerantemente. Foi por isso que a China e a Rússia tomaram a iniciativa de formar a Organização de Cooperação de Shangai (SCO) uns poucos anos atrás.
Aqui na Europa há uma consciência clara de que o défice de pagamentos dos EUA é muito maior do que o défice comercial. Basta simplesmente olhar a Tabela 5 dos dados da balança de pagamentos dos EUA compilados pelo Bureau of Economic Analysis (BEA) e publicados pelo Departamento do Comércio no seu Survey of Current Business para ver que o défice não se deve simplesmente ao facto de consumidores comprarem mais importações do que os Estados Unidos exportam quando o sector financeiro desindustrializa a sua economia. As importações dos EUA estão agora a afundar quando a sua economia se contrai e os consumidores estão agora a descobrir que são obrigados a pagar as dívidas que assumiram.
O Congresso disse aos investidores estrangeiros do maior possuidor de dólares, a China, para não comprar nada excepto talvez lojas de automóveis usados e talvez mais pacotes de hipotecas e acções da Fannie Mae, o equivalente de investidores japoneses a serem pilotados para o gasto de US$1 mil milhões no Rockefeller Center, nos quais a seguir tiveram uma perda de 100%, e ao investimento saudita no Citigroup. Esta é a espécie de "equilíbrio internacional" que os responsáveis dos EUA gostam de ver. "CNOOK [NT] go home" é a palavra-de-ordem quando há tentativas sérias de governos estrangeiros e seus fundos de riqueza soberana (departamentos de bancos centrais a tentarem imaginar o que fazer com a sua inundação de dólares) de fazerem investimentos directos na indústria americana.
De modo que somos confrontados com a extensão em que o défice de pagamentos dos EUA tem origem nos gastos militares. O problema não é só a guerra no Iraque, agora a ser estendida ao Afeganistão e ao Paquistão. É o dispendioso crescimento de bases militares dos EUA na Ásia, Europa, países pós-soviéticos e do Terceiro Mundo. A administração Obama prometeu tornar o montante real destes gastos militares mais transparente. Isto presumivelmente significa publicar um conjunto revisto dos números da balança de pagamentos bem como estatísticas do orçamento federal interno.
A sobrecarga militar é como uma sobrecarga de dívida, extracção de receita da economia. Neste caso é para pagar o complexo militar-industrial, não simplesmente os bancos da Wall Street e outras instituições financeiras. O défice do orçamento federal interno não brota só do "estímulo" de distribuir enormes somas para criar uma nova oligarquia financeira. Ele contém um enorme componente militar em crescimento rápido.
De modo que europeus e asiáticos vêm companhias dos EUA a despejarem cada vez mais dólares para dentro das suas economias, não só para comprarem as suas exportações sem lhes proporcionar bens e serviços em retorno, e não só para comprarem as suas companhias e "postos de comando" de empresas públicas privatizadas sem lhes dar o direito recíproco de comprar companhias importantes nos EUA (recordar que os EUA rejeitaram a tentativa da China de comprar negócios de distribuição de petróleo nos EUA), e não só para comprar acções, títulos e imobiliário estrangeiro. Os media dos EUA de certa forma esquecem de mencionar que o governo estado-unidense está a gastar centenas de milhares de milhões de dólares no exterior não só no Médio Oriente no combate directo, mas também para construir enormes bases militares a fim de cercar o resto do mundo, para instalar sistemas de radar, sistemas de mísseis guiados e outras formas de coerção militar, incluindo as "revoluções coloridas" que tem sido financiadas e ainda o são em torno da antiga União Soviética. Paletes de notas de US$100 envolvidas em plástico, cada uma das quais soma dezenas de milhões de dólares, tornaram-se imagens familiares em algumas emissões de TV, mas não se faz a ligação com os gastos militares e diplomáticos dos EUA e com os haveres em dólares de bancos centrais estrangeiros, os quais são relatados simplesmente como a "maravilhosa fé da recuperação económica dos EUA" e presumivelmente na "mágica monetária" que está a ser montada no Tesouro por Tim Geithner da Wall Street e pelo Helicóptero Ben Bernake no Federal Reserve.
Aqui está o problema: A companhia Coca-Cola recentemente tentou comprar o maior produtor e distribuidor de sumo de frutas da China. A China já possui aproximadamente US$2 milhões de milhões (trillion) em títulos dos EUA a mais do que precisa ou pode utilizar, visto que o Governo dos Estados Unidos recusa-se a deixá-la que compre companhias significativas nos EUA. Se a compra estado-unidense tivesse sido permitida, isto teria confrontado a China com um dilema: A Opção 1 seria deixar a venda consumar-se e aceitar pagamento em dólares, reinvestindo-os no que o Tesouro dos EUA lhes diz, em títulos do Tesouro que rendem cerca de 1%. A China assumiria uma perda capital sobre isto quando as taxas de juros dos EUA ascendessem ou quando o dólar declinasse pois os Estados Unidos estão insistindo isoladamente em políticas expansionistas keynesianas numa tentativa de permitir às companhias dos EUA que arquem com o seu fardo de dívidas.
A Opção 2 é não reciclar os influxos de dólares. Isto levaria o renminbi a subir em relação ao dólar, desgastando dessa forma a competitividade das exportações chinesas nos mercados mundiais. Assim, a China optou por um terceiro caminho, o qual provocou protestos dos EUA. Ela descartou a venda da sua companhia tangível por simples dólares "de papel" os quais combinavam-se com a "opção" de mais uma vez financiar o cerco militar dos EUA aos países da Organização de Cooperação de Shangai (SCO). As únicas pessoas que parecem não estar a perceber isto são os mass media americanos e portanto o público. Posso assegurar a partir de experiência pessoal que isto é percebido aqui na Europa. (Eis uma boa questão diplomática a discutir: Qual será o primeiro país europeu além da Rússia a aderir ao SCO?)
Os manuais académicos nada têm a dizer acerca de como o "equilíbrio" em movimentos de capital especulativo estrangeiro bem como em investimento directo é infinito só até ao ponto em que a economia dos EUA é afectada. A economia dos EUA pode criar dólares livremente, agora que eles já não são convertíveis em ouro ou mesmo em compras de companhias dos EUA, na medida em que a América permanece a economia mais protegida do mundo. Isto só é permitido para proteger a sua agricultura mediante quotas de importação, tendo aberto esta excepção ("grandfathered") nas regras do comércio mundial meio século atrás. O Congresso recusa-se a deixar fundos de "riqueza soberana" investirem em importantes sectores dos EUA.
Assim, somos confrontados com o facto de que o Tesouro dos EUA prefere que bancos centrais estrangeiros se mantenham a financiar o seu défice orçamental interno, o que significa financiar o custo da guerra da América no Médio Oriente e o cerco de países estrangeiros com um cordão de bases militares. Quanto mais "saídas de capital" os investidores gastarem para comprar os sectores mais lucrativos de economias estrangeiras, onde os novos proprietários estado-unidenses podem extrair as mais altas rendas de monopólio, mais fundos acabam em bancos centrais estrangeiros para suportar o crescimento militar global da América. Nenhum manual de teoria política ou relações internacionais sugeriu axiomas para explicar porque os países actuam de um modo tão adverso aos seus próprios interesses políticos, militares e económicos. Mas isto é exactamente o que tem estado a acontecer durante a última geração.
Assim, a questão final acaba por ser o que podem os países fazer para conter este ataque financeiro. Um sindicato de trabalhadores basco perguntou-me se eu pensava que o controle de movimentos de capital especulativo asseguraria que o sistema financeiro actuasse no interesse público. Ou seria necessária a nacionalização sem rodeios para melhor desenvolver a economia real?
Não é simplesmente um problema de "regulação" ou de "controle de movimentos de capital especulativo". A questão é como nações podem actuar como nações reais, no seu próprio interesse, ao invés de serem amarradas ao serviço do quer que seja que diplomatas dos EUA decidam ser do interesse da América.
Qualquer país que tentasse fazer o que os Estados Unidos tem feito durante os últimos 150 anos seria acusado de ser "socialista" e isto pela mais anti-socialista economia do mundo, excepto quando recorre a salvamentos para os seus bancos, "socialismo para o ricos", também conhecidos como oligarquia financeira. Esta retórica quase não deixa alternativa senão a nacionalização completa do crédito como um serviço público básico.
Naturalmente, a palavra "nacionalização" tornou-se um sinónimo para o salvamento dos bancos maiores e mais temerários dos seus maus empréstimos, e para salvar hedge funds e contrapartes não bancárias por perdas no "capitalismo de casino", jogando com derivativos que a AIG e outras seguradoras ou actores no lado perdedor destes jogos são incapazes de pagar. Tais salvamentos não são nacionalização no sentido tradicional do termo, de devolver a criação de crédito e outras funções financeiras básicas ao domínio público. Trata-se do oposto. Ela imprime novos títulos governamentais para submetê-los, juntamente com poder auto-regulatório, ao sector financeiro, bloqueando a cidadania de assumir estas funções.
Enquadrando a questão como uma escolha entre democracia e oligarquia traz a questão de quem irá controlar o governo que faz a regulação e "nacionalização". Se for feita por um governo cujo banco central e os principais comité do Congresso que tratam de finanças são dirigidos pela Wall Street, isto não ajudará a dirigir o crédito para usos produtivos. Isto meramente continuará a era de Greenspan-Paulson-Geithner de mais e mais amplos almoços gratuitos para os seus clientes financeiros.
A ideia de "regulação" da oligarquia financeira é garantir que os desreguladores sejam instalados em posições chave e que se lhes dê um quadro de pessoal reduzido e pouco financiamento. Apesar do anúncio do sr. Greenspan de que tinha chegado a ver a luz e percebera que auto-regulação não funcionava, o Tesouro ainda é dirigido por um responsável da Wall Street e o Fed é dirigido por um lobbyista para a Wall Street. Para os lobbyistas, a preocupação real não é a ideologia como tal e sim o auto-interesse dos seus clientes. Eles podem procurar patetas com boas intenções, conduzidos como são pelos seguidores de Milton Friedman na Universidade de Chicago. Tais indivíduos são colocados no lugar como "porteiros" das principais publicações académicas a fim de impedir a entrada de ideias que não sirvam adequadamente os lobbyistas financeiros.
O pretexto para excluir o governo da regulação significativa é que as finanças são tão técnicas que só alguém da "indústria" financeira é capaz de regulá-la. Para aumentar ainda mais a infâmia, é feita a afirmação adicional e contra-intuitiva de que uma marca da democracia é tornar o banco central "independente" do governo eleito. Na realidade, naturalmente, isso é exactamente o oposto de democracia. As finanças são o centro do sistema económico. Se não forem reguladas democraticamente no interesse público, então estão "livres" para serem dominadas pelos interesses especiais. Assim, isto torna-se a definição oligárquica de "liberdade de mercado".
O perigo é que os governos deixem o sector financeiro determinar como serão aplicadas as "regulações". Os interesses especiais procuram ganhar dinheiro a partir da economia e o sector financeiro faz isto de um modo extractivo. Aqui está o seu plano de marketing. Financiar hoje é actuar de um modo que desindustrialize economias, não que as construa. O "plano" é austeridade para o trabalho, a indústria e todos os sectores fora das finanças, como nos programas do FMI impostos sobre infelizes países devedores do Terceiro Mundo. A experiência da Islândia, Letónia e outras economias "financiarizadas" deveria ser examinada como lições objectivas, mesmo porque eles estão no topo da classificação dos países feita pelo Banco Mundial quanto à "facilidade para fazer negócio".
A única regulação significativa só pode vir de fora do sector financeiro. De outra forma, os países sofrerão o que os japoneses chamam "a descida do céu": os reguladores são seleccionados entre as fileiras dos banqueiros e dos seus "idiotas úteis". Ao saírem do governo eles retornam ao sector financeiro com empregos lucrativos, convites para conferências bem pagas e pagamentos afins. Sabendo disto, regulam em favor dos interesses financeiros especiais, não o do público em geral.
O problema dos movimentos do capital especulativo vai além da formulação de um conjunto de regulações específicas. Refere-se ao âmbito do poder do governo nacional. Os artigos do Acordo do Fundo Monetário Internacional impedem os países de restaurar os sistemas de "taxas de câmbio duplas" que muitos adoptaram ao longo da década de 1950 e mesmo nos anos 60. Era prática generalizada de muitos países haver uma taxa de câmbio para bens e serviços (por vezes várias taxas de câmbio para diferentes categorias de importação e exportação) e uma outra para "movimentos de capital". Sob pressão americana, o FMI impingiu a ficção de que há uma taxa de "equilíbrio" que acontece ser a mesma tanto para bens e serviços como para movimentos de capital. Os governos que não adoptaram esta ideologia foram excluídos da condição de membros do FMI e do Banco Mundial ou foram derrubados.
A implicação hoje é que o único meio com que um país pode bloquear movimentos de capital é retirando-se do FMI, do Banco Mundial e da Organização Mundial de Comércio (OMC). Pela primeira vez desde a década de 1950, isto parece uma possibilidade real, graças à tomada de consciência à escala mundial de como a economia dos EUA está a inundar a economia global com um excesso de dólares "de papel" e à intransigência estado-unidense em travar este seu benefício gratuito. Na perspectiva privilegiada dos EUA, isto é nada menos do que uma tentativa de restringir o seu programa militar internacional.
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
A desdolarização:
O desmantelamento do império financeiro-militar da América
– O ponto de viragem de Yekaterinburg
por Michael Hudson
A cidade de Yakaterinburg, a maior da Rússia a leste dos Urais, pode tornar-se conhecida não só como o local da morte dos czares como também da hegemonia americana – não só como o lugar em que o piloto Gari Powers, do U-2, foi abatido em 1960 como também o lugar em que a ordem financeira internacional centrada nos EUA foi deitada abaixo.
O desafio à América será o foco primário das extensas reuniões de Yekaterinburg (antiga Sverdlovsk) nos dia 15 e 16 de Junho entre o presidente chinês Hu Jintao, o presidente russo Dmitry Medvedev e outros responsáveis superiores dos seis países da Organização de Cooperação de Shangai (SCO). A aliança é formada pela Rússia, China, Cazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão e Uzbequistão, com estatutos de observadores para o Irão, Índia, Paquistão e Mongólia. A ela somar-se-á na terça-feira o Brasil, para discussões entre os países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
Os participantes asseguraram a diplomatas americanas que o desmantelamento do império financeiro e militar dos EUA não é o seu objectivo. Eles simplesmente querem discutir ajuda mútua – mas de um modo em que não haja papel para os Estados Unido, a NATO ou o dólar americano como veículo de comércio. Os diplomatas estado-unidenses podem bem perguntar-se o que isto realmente significa, se não um movimento para tornar a hegemonia dos EUA obsoleta. Isto é o que quer dizer afinal de contas um mundo multipolar. Para começar, em 2005 a SCO pediu a Washington para estabelecer um calendário para a retirada das suas bases militares na Ásia Central. Dois anos depois os países SCO alinharam-se formalmente com as antigas repúblicas CIS pertencentes à Collective Security Treaty Organization (CSTO), estabelecida em 2002 como contra-peso à NATO.
Mas a reunião provocou apenas um bocejo colectivo dos EUA e mesmo da imprensa europeia, apesar da sua agenda de substituição do padrão dólar global por um novo sistema financeiro e de defesa militar. Um porta-voz do Council on Foreign Relations disse dificilmente poder imaginar que a Rússia e a China pudessem ultrapassar as suas rivalidades geopolíticas, [1] sugerindo que a América poderia utilizar a táctica do divide-e-conquista tão habilmente utilizada pela Grã-Bretanha durante séculos a fim de fragmentar a oposição estrangeira ao seu próprio império. Mas George W. Bush ("Eu sou um unificador, não um divisor") confiou no legado da administração Clinton impulsionando a Rússia, a China e os seus vizinhos a descobrirem um terreno comum quando chegou o momento de encontrar uma alternativa para o dólar e portanto para a capacidade americana de incorrer em défices de balança de pagamentos ad infinitum.
Aquilo que pode vir a demonstrar-se como ritos finais da hegemonia americana começou em Abril na conferência do G-20 e tornou-se ainda mais explícito no Fórum Económico Internacional de S. Petesburgo, quando o sr. Medvedev apelou à China, Rússia e Índia para "construírem uma ordem mundial cada vez mais multipolar". O que isto significa é bom inglês é: Nós atingimos o nosso limite na subsidiação do cerco militar da Eurásia pelos Estados Unidos enquanto permitimos também que os EUA se apropriem das nossas exportações, companhias, acções e imobiliário em troca de papel-dinheiro de valor discutível.
"O sistema unipolar mantido artificialmente", esclareceu o sr. Medvedev, está baseado sobre "um grande centro de consumo, financiado por um défice crescente, e portanto dívidas crescentes, uma divisa de reserva anteriormente forte e um sistema dominante de avaliação de activos e riscos". [2] A raiz da crise financeira global, concluiu, é que os Estados Unidos fabricam muito pouco e gastam demasiado. Especialmente inquietantes são os seus gastos militares, tais como a escalada militar da ajuda americana à Geórgia anunciada na semana passada, o escudo de mísseis da NATO na Europa do Leste e o crescimento americano nos países ricos em petróleo do Médio Oriente e Ásia Central.
O ponto de impasse com todos estes países é a capacidade de os EUA imprimirem ilimitadas quantias de dólares. Os super-gastos dos consumidores americanos com importações em excesso das exportações, as compras americanas de companhias e imobiliário estrangeiro, e os dólares que o Pentágono gasta no exterior acabam todos em bancos centrais estrangeiros. Estas agências enfrentam então uma escolha difícil: ou reciclar este dólares de volta para os Estados Unidos através da compra de títulos do Tesouro dos EUA, ou deixar a força do "mercado livre" aumentar o valor relativo da sua divisa para com o dólar – com isso apreçando as suas exportações de modo a colocá-las fora dos mercados mundiais e portanto criando desemprego interno e insolvências de negócios.
Quando a China e outros países reciclam as suas entradas de dólares ao comprarem títulos do Tesouro dos EUA para "investir" nos Estados Unidos, esta acumulação não é realmente voluntária. Ela não reflecte a fé na economia dos EUA, no enriquecimento de bancos centrais estrangeiros através das suas poupanças, ou qualquer preferência de investimento calculado, mas simplesmente uma falta de alternativas. "Mercados livres" em US-style engancham países num sistema que os força a aceitarem dólares sem limites. Agora eles querem sair.
Isto significa criar uma nova alternativa. Ao invés de fazer simplesmente "mudanças cosméticas como alguns países e talvez como as próprias organizações financeiras internacionais desejassem", concluiu o sr. Medvedev no discurso de S. Petesburgo, "o que precisamos são instituições financeiras de um tipo completamente novo, em que questões políticas e motivos, e países particulares, não dominarão".
Quando os gastos militares no estrangeiro forçaram a balança de pagamentos dos EUA ao défice e conduziram os Estados Unidos ao abandono do ouro, em 1971, os bancos centrais ficaram sem o activo tradicional utilizado para regular desequilíbrios de pagamentos. A alternativa, na falta de outra, era investir as suas subsequentes entradas de pagamentos em títulos do Tesouro dos EUA, como se estes ainda fossem "tão bons quanto ouro". Os bancos centrais agora possuem US$4 milhões de milhões (trillion) destes títulos nas suas reservas internacionais – o enterrar destes empréstimos financiou a maior parte dos défices do orçamento interno do Governo dos EUA durante mais de três décadas! Uma vez que cerca da metade dos gastos discricionários do governo dos EUA é com operações militares – incluindo mais de 750 bases militares no estrangeiro e operações cada vez mais dispendiosas nos países produtores de petróleo e nas vias de acesso ao mesmo – o sistema financeiro internacional está organizado de um modo que financia o Pentágono, assim como compras americanas de activos estrangeiros que se espera renderem muito mais do que os títulos do Tesouro possuídos pelos bancos centrais estrangeiros.
A principal questão política a enfrentar os bancos centrais do mundo é portanto como evitar acrescentar ainda mais dólares às suas reservas e portanto financiar ainda mais o gasto deficitário dos EUA – incluindo a despesa militar junto às suas fronteiras.
Em primeiro lugar, os seis países SCO e os países BRIC pretendem comerciar nas suas próprias divisas de modo a obterem o benefício do crédito mútuo que os Estados Unidos até agora monopolizaram para si próprios. Tendo em vista este objectivo, a China selou acordos bilaterais com a Argentina e o Brasil no sentido de denominar o seu comércio em renminbi ao invés do dólar, da libra esterlina ou dos euros, [3] e duas semanas atrás a China alcançou um acordo com a Malásia no sentido de denominar o comércio entre os dois países em renminbi. [4] O antigo primeiro-ministro, Dr. Mahathir Mohamad, explicou-me em Janeiro que, como país muçulmano, a Malásia quer evitar fazer qualquer coisa que facilite a acção militar estado-unidense contra países islâmicos, incluindo a Palestina. O país já tem demasiados activos em dólares, explicaram os seus colegas. O governador do banco central Zhou Xiaochuan, do Banco do Povo da China, redigiu uma declaração oficial no seu sítio web de que o objectivo agora é criar uma divisa de reserva "que seja desconectada de países individuais". [5] Este é o objectivo das discussões em Yekaterinburg.
Além de evitar financiar tanto a compra da sua própria indústria pelos EUA como o cerco estado-unidense do globo, a China, a Rússia e outros países gostariam sem dúvida de obter a mesma espécie de "almoço gratuito" que a América tem estado a obter. Tal como a questão se lhes apresenta, vêm os Estados Unidos como um país fora da lei, tanto financeiramente como militarmente. Como caracterizar de outra maneira um país que mantém um conjunto de leis para os outros – sobre guerra, reembolso de dívida e tratamento de prisioneiros – mas ignora-as em relação a si próprio? Os Estados Unidos são agora o maior devedor do mundo mas tem evitado o sofrimento dos "ajustamentos estruturais" impostos a outras economias devedoras. As reduções de taxas de juros e fiscais em face dos défices comerciais e orçamentais em explosão são vistas como o cúmulo da hipocrisia considerando os programas de austeridades a que Washington força outros países, através do FMI e outros dos seus veículos.
Os Estados Unidos dizem às economias devedoras para liquidarem as suas empresas públicas e os seus recursos naturais, elevarem as suas taxas de juros e aumentarem impostos enquanto arruínam as suas redes de segurança social a fim de espremer dinheiro para pagar aos credores. E internamente o Congresso proibiu a CNOOK da China de comprar a Unocal com o argumento da segurança nacional, assim como proibiu o Dubai de comprar portos e a outros fundos de riqueza soberana de comprarem infraestruturas chave. Os estrangeiros são convidados a emularem a compra japonesa de troféus tipo elefantes brancos, tal como o Rockefeller Center, no qual os investidores perderam rapidamente mil milhões de dólares e acabaram por se afastar.
Quanto a isto, os EUA não deram realmente à China e a outros países com excedentes de pagamentos grande alternativa excepto descobrir um meio de evitar nova acumulação de dólares. Até à data, as tentativas da China de diversificar os seus haveres em dólares para além dos títulos do Tesouro não tiveram muito êxito. Para começar, Hank Paulson da Goldman Sachs dirigiu o seu banco central para os títulos de rendimento mais alto da Fannie Mae e do Freddie Mac, explicando-lhes que estes eram de facto obrigações públicas. Ambos entraram em colapso em 2008, mas pelo menos o governo dos EUA tomou posse destas duas agências de empréstimos hipotecários, acrescentando formalmente os seus US$5,2 milhões de milhões em obrigações à dívida nacional. De facto, foi em grande parte o investimento oficial estrangeiro que estimulou o salvamento. Impor uma perda a agências oficiais estrangeiras teria rompido de imediato o padrão do título do Tesouro, não só por destruir totalmente a credibilidade dos EUA como também porque há simplesmente muito poucos títulos do governo a absorverem a inundação de dólares na economia mundial devida à elevação dos défices da balança de pagamentos estado-unidense.
Procurando uma posição de equilíbrio para proteger o valor dos seus haveres em dólares quando a bolha do crédito do Federal Reserve levou ao rebaixamento das taxas de juro, os fundos de riqueza soberana da China procuraram diversificar a partir do fim de 2007. A China comprou participações no bem conectado fundo de acções Blackstone e no Morgan Stanley na Wall Street, no Standard Bank do Barclays na África do Sul (antes filiado ao Chase Manhattan no tempo do apartheid na década de 1960) e no conglomerado financeiro belga Fortis, que entrou logo em colapso. Mas o sector financeiro dos EUA estava a entrar em colapso sob o peso da sua dívida piramidal e os preços das acções de bancos e firmas de investimento mergulharam no mundo todo.
Os estrangeiros vêem o FMI, o Banco Mundial e a Organização Internacional de Comércio como emanações de Washington num sistema financeiro suportado por bases militares e porta-aviões americanos que envolve todo o globo. Mas esta dominação militar é um vestígio de um império americano que já não é mais capaz de dominar pela força económica. O poder militar estado-unidense é músculo em excesso, baseado mais no armamento atómico e ataques aéreos a longa distância do que sobre operações no terreno, as quais politicamente tornaram-se demasiado impopulares para serem montadas em grande escala.
Na frente económica não há meio previsível pelo qual os Estados Unidos possam descarregar os US$4 milhões de milhões que devem a governos estrangeiros, os seus bancos centrais e aos fundos de riqueza soberana estabelecidos para dar destino à inundação global de dólares. A América tornou-se uma caloteira – e na verdade, um caloteiro militarmente agressivo pois procura manter-se como a potência única que chegou a ser através de meios económicos. O problema é como restringir o seu comportamento. Yu Yongding, um antigo conselheiro do banco central chinês agora na Academia de Ciências de China, sugeriu que o secretário do Tesouro Tim Geithner fosse avisado de que os Estados Unidos deveriam "salvar-se" antes e acima de tudo pela redução do seu orçamento militar. "O imposto sobre o rendimento dos EUA provavelmente não aumentará no curto prazo devido ao baixo crescimento económico, a despesas inflexíveis e ao custo de 'combater duas guerras' ". [6]
Actualmente são as poupanças estrangeiras, não as dos americanos, que estão a financiar o défice orçamental dos EUA através da compra da maior parte dos títulos do Tesouro. O efeito é tributação sem representação para os eleitores estrangeiros pois não podem dizer ao governo dos EUA como utilizar as suas poupanças forçadas. Portanto é necessário aos diplomatas financeiros que ampliem o âmbito das suas decisões políticas para além do sector do mercado privado. As taxas de câmbio são determinadas por muito factores além de "cartões de crédito detidos pelos consumidores", o eufemismo habitual que os media dos EUA mencionam para o défice da balança de pagamentos. Desde o século XIII, a guerra tem sido um factor dominante na balança de pagamentos dos principais países – e das suas dívidas nacionais. O financiamento de governos através de títulos faz-se sobretudo para dívidas de guerra, pois em tempos de paz normais os orçamentos tendem a ser equilibrados. Isto liga o orçamento de guerra directamente à balança de pagamentos e às taxas de câmbio.
Os países estrangeiros vêem-se presos a títulos de dívida impagáveis – sob condições em que, se se movimentassem para travar o almoço gratuito dos EUA, o dólar mergulharia e os seus haveres em dólares cairiam de valor em relação às suas próprias divisas internas e outras divisas. Se a divisa da China se elevasse em 10% contra o dólar, o seu banco central mostrará o equivalente a uma perda de US$200 milhões nos seus haveres de US$2 milhões de milhões quando denominados em yuan. Isto explica porque, quando agências de classificação de títulos falam acerca da perda da classificação AAA para os títulos do Tesouro dos EUA, elas não querem dizer que o governo não possa simplesmente imprimir os dólares de papel para "tornar bons" estes títulos. Querem dizer que os dólares depreciarão no valor internacional. E isso é exactamente o que está agora a verificar-se. Quando o sr. Geithner fez uma cara séria e disse numa sessão na Universidade de Pequim, no princípio de Junho, que acreditava num "dólar forte" e que os investimentos da China nos EUA portanto era seguros e saudáveis, a reacção foram risadas sarcásticas. [7]
A previsão de uma elevação da taxa de câmbio da China dá um incentivo a especuladores para procurarem tomar emprestado em dólares a fim de comprar renminbi e beneficiarem da valorização. Para a China, o problema é que este influxo especulativo tornar-se-ia uma profecia auto-cumprida ao forçar a alta da sua divisa. Assim o problema das reservas internacionais está inerentemente ligado ao dos controles de capitais. Por que a China deveria ver as suas companhias mais lucrativas vendidas por US dólares criados livremente, os quais o banco central deve utilizar para comprar títulos do Tesouro dos EUA de baixo rendimento ou perder ainda mais dinheiro na Wall Street?
Para evitar este dilema é necessário inverter a filosofia dos mercados de capital abertos que o mundo tem adoptado desde Bretton Woods em 1944. Por ocasião da visita do sr. Geithner à China, "Zhou Xiaochuan, ministro do Banco Popular da China, o banco central do país, disse enfaticamente que esta era a primeira vez desde as conversações semestrais principiadas em 2006 que a China precisava aprender tanto com os erros americanos como com os seus êxitos" no que concerne à desregulamentação de mercados de capital e desmantelamento de controles. [8]
Uma era está portanto a chegar ao fim. Face ao contínuo super gasto dos EUA, a desdolarização ameaça forçar países a retornarem à espécie de taxas de câmbio duais que eram comuns entre a I e a II Guerras Mundiais: uma taxa de câmbio para o comércio de mercadorias e outra para movimentos de capital e investimentos, pelo menos das economias da área do dólar.
Mesmo sem controles de capital, os países que se reúnem em Yekaterinburg estão a dar passos para evitar serem os receptores relutantes de ainda mais dólares. Ao verem que a hegemonia global dos EUA não pode continuar sem os gastos de poder que eles próprios fornecem, os governos estão a tentar acelerar o que Chalmers Johnson denominou de "as aflições do império" no seu livro com o mesmo nome ("The Sorrows of Empire"). Se a China, a Rússia e seus aliados não alinhados prosseguirem o seu caminho, os Estados Unidos já não viverão mais das poupanças dos outros (na forma dos seus próprios dólares reciclados) nem terão o dinheiro para as suas despesas e aventuras militares ilimitadas.
Responsáveis americanos quiseram comparecer como observadores à reunião de Yekaterinburg. Disseram-lhes Não. É uma palavra que os americanos ouvirão muito no futuro.
Notas
1. Andrew Scheineson, "The Shanghai Cooperation Organization", Council on Foreign Relations, Updated: March 24, 2009: "While some experts say the organization has emerged as a powerful anti-U.S. bulwark in Central Asia, others believe frictions between its two largest members, Russia and China, effectively preclude a strong, unified SCO."
2. Kremlin.ru, June 5, 2009, in Johnson's Russia List , June 8, 2009, #8.
3. Jamil Anderlini e Javier Blas, "China reveals big rise in gold reserves," Financial Times, April 24, 2009. Ver também "Chinese political advisors propose making yuan an int'l currency." Beijing, March 7, 2009 (Xinhua). "The key to financial reform is to make the yuan an international currency, said [Peter Kwong Ching] Woo [chairman of the Hong Kong-based Wharf (Holdings) Limited] in a speech to the Second Session of the 11th National Committee of the Chinese People's Political Consultative Conference (CPPCC), the country's top political advisory body. That means using the Chinese currency to settle international trade payments …"
4. Shai Oster, "Malaysia, China Consider Ending Trade in Dollars," Wall Street Journal, June 4, 2009.
5. Jonathan Wheatley, "Brazil and China in plan to axe dollar," Financial Times, May 19, 2009.
6. "Another Dollar Crisis inevitable unless U.S. starts Saving - China central bank adviser. Global Crisis 'Inevitable' Unless U.S. Starts Saving, Yu Says," Bloomberg News, June 1, 2009. http://www.bloomberg.com/apps/news?pid= ... refer=asia
7. Kathrin Hille, "Lesson in friendship draws blushes," Financial Times, June 2, 2009.
8. Steven R. Weisman, "U.S. Tells China Subprime Woes Are No Reason to Keep Markets Closed," The New York Times, June 18, 2008.
O desmantelamento do império financeiro-militar da América
– O ponto de viragem de Yekaterinburg
por Michael Hudson
A cidade de Yakaterinburg, a maior da Rússia a leste dos Urais, pode tornar-se conhecida não só como o local da morte dos czares como também da hegemonia americana – não só como o lugar em que o piloto Gari Powers, do U-2, foi abatido em 1960 como também o lugar em que a ordem financeira internacional centrada nos EUA foi deitada abaixo.
O desafio à América será o foco primário das extensas reuniões de Yekaterinburg (antiga Sverdlovsk) nos dia 15 e 16 de Junho entre o presidente chinês Hu Jintao, o presidente russo Dmitry Medvedev e outros responsáveis superiores dos seis países da Organização de Cooperação de Shangai (SCO). A aliança é formada pela Rússia, China, Cazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão e Uzbequistão, com estatutos de observadores para o Irão, Índia, Paquistão e Mongólia. A ela somar-se-á na terça-feira o Brasil, para discussões entre os países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
Os participantes asseguraram a diplomatas americanas que o desmantelamento do império financeiro e militar dos EUA não é o seu objectivo. Eles simplesmente querem discutir ajuda mútua – mas de um modo em que não haja papel para os Estados Unido, a NATO ou o dólar americano como veículo de comércio. Os diplomatas estado-unidenses podem bem perguntar-se o que isto realmente significa, se não um movimento para tornar a hegemonia dos EUA obsoleta. Isto é o que quer dizer afinal de contas um mundo multipolar. Para começar, em 2005 a SCO pediu a Washington para estabelecer um calendário para a retirada das suas bases militares na Ásia Central. Dois anos depois os países SCO alinharam-se formalmente com as antigas repúblicas CIS pertencentes à Collective Security Treaty Organization (CSTO), estabelecida em 2002 como contra-peso à NATO.
Mas a reunião provocou apenas um bocejo colectivo dos EUA e mesmo da imprensa europeia, apesar da sua agenda de substituição do padrão dólar global por um novo sistema financeiro e de defesa militar. Um porta-voz do Council on Foreign Relations disse dificilmente poder imaginar que a Rússia e a China pudessem ultrapassar as suas rivalidades geopolíticas, [1] sugerindo que a América poderia utilizar a táctica do divide-e-conquista tão habilmente utilizada pela Grã-Bretanha durante séculos a fim de fragmentar a oposição estrangeira ao seu próprio império. Mas George W. Bush ("Eu sou um unificador, não um divisor") confiou no legado da administração Clinton impulsionando a Rússia, a China e os seus vizinhos a descobrirem um terreno comum quando chegou o momento de encontrar uma alternativa para o dólar e portanto para a capacidade americana de incorrer em défices de balança de pagamentos ad infinitum.
Aquilo que pode vir a demonstrar-se como ritos finais da hegemonia americana começou em Abril na conferência do G-20 e tornou-se ainda mais explícito no Fórum Económico Internacional de S. Petesburgo, quando o sr. Medvedev apelou à China, Rússia e Índia para "construírem uma ordem mundial cada vez mais multipolar". O que isto significa é bom inglês é: Nós atingimos o nosso limite na subsidiação do cerco militar da Eurásia pelos Estados Unidos enquanto permitimos também que os EUA se apropriem das nossas exportações, companhias, acções e imobiliário em troca de papel-dinheiro de valor discutível.
"O sistema unipolar mantido artificialmente", esclareceu o sr. Medvedev, está baseado sobre "um grande centro de consumo, financiado por um défice crescente, e portanto dívidas crescentes, uma divisa de reserva anteriormente forte e um sistema dominante de avaliação de activos e riscos". [2] A raiz da crise financeira global, concluiu, é que os Estados Unidos fabricam muito pouco e gastam demasiado. Especialmente inquietantes são os seus gastos militares, tais como a escalada militar da ajuda americana à Geórgia anunciada na semana passada, o escudo de mísseis da NATO na Europa do Leste e o crescimento americano nos países ricos em petróleo do Médio Oriente e Ásia Central.
O ponto de impasse com todos estes países é a capacidade de os EUA imprimirem ilimitadas quantias de dólares. Os super-gastos dos consumidores americanos com importações em excesso das exportações, as compras americanas de companhias e imobiliário estrangeiro, e os dólares que o Pentágono gasta no exterior acabam todos em bancos centrais estrangeiros. Estas agências enfrentam então uma escolha difícil: ou reciclar este dólares de volta para os Estados Unidos através da compra de títulos do Tesouro dos EUA, ou deixar a força do "mercado livre" aumentar o valor relativo da sua divisa para com o dólar – com isso apreçando as suas exportações de modo a colocá-las fora dos mercados mundiais e portanto criando desemprego interno e insolvências de negócios.
Quando a China e outros países reciclam as suas entradas de dólares ao comprarem títulos do Tesouro dos EUA para "investir" nos Estados Unidos, esta acumulação não é realmente voluntária. Ela não reflecte a fé na economia dos EUA, no enriquecimento de bancos centrais estrangeiros através das suas poupanças, ou qualquer preferência de investimento calculado, mas simplesmente uma falta de alternativas. "Mercados livres" em US-style engancham países num sistema que os força a aceitarem dólares sem limites. Agora eles querem sair.
Isto significa criar uma nova alternativa. Ao invés de fazer simplesmente "mudanças cosméticas como alguns países e talvez como as próprias organizações financeiras internacionais desejassem", concluiu o sr. Medvedev no discurso de S. Petesburgo, "o que precisamos são instituições financeiras de um tipo completamente novo, em que questões políticas e motivos, e países particulares, não dominarão".
Quando os gastos militares no estrangeiro forçaram a balança de pagamentos dos EUA ao défice e conduziram os Estados Unidos ao abandono do ouro, em 1971, os bancos centrais ficaram sem o activo tradicional utilizado para regular desequilíbrios de pagamentos. A alternativa, na falta de outra, era investir as suas subsequentes entradas de pagamentos em títulos do Tesouro dos EUA, como se estes ainda fossem "tão bons quanto ouro". Os bancos centrais agora possuem US$4 milhões de milhões (trillion) destes títulos nas suas reservas internacionais – o enterrar destes empréstimos financiou a maior parte dos défices do orçamento interno do Governo dos EUA durante mais de três décadas! Uma vez que cerca da metade dos gastos discricionários do governo dos EUA é com operações militares – incluindo mais de 750 bases militares no estrangeiro e operações cada vez mais dispendiosas nos países produtores de petróleo e nas vias de acesso ao mesmo – o sistema financeiro internacional está organizado de um modo que financia o Pentágono, assim como compras americanas de activos estrangeiros que se espera renderem muito mais do que os títulos do Tesouro possuídos pelos bancos centrais estrangeiros.
A principal questão política a enfrentar os bancos centrais do mundo é portanto como evitar acrescentar ainda mais dólares às suas reservas e portanto financiar ainda mais o gasto deficitário dos EUA – incluindo a despesa militar junto às suas fronteiras.
Em primeiro lugar, os seis países SCO e os países BRIC pretendem comerciar nas suas próprias divisas de modo a obterem o benefício do crédito mútuo que os Estados Unidos até agora monopolizaram para si próprios. Tendo em vista este objectivo, a China selou acordos bilaterais com a Argentina e o Brasil no sentido de denominar o seu comércio em renminbi ao invés do dólar, da libra esterlina ou dos euros, [3] e duas semanas atrás a China alcançou um acordo com a Malásia no sentido de denominar o comércio entre os dois países em renminbi. [4] O antigo primeiro-ministro, Dr. Mahathir Mohamad, explicou-me em Janeiro que, como país muçulmano, a Malásia quer evitar fazer qualquer coisa que facilite a acção militar estado-unidense contra países islâmicos, incluindo a Palestina. O país já tem demasiados activos em dólares, explicaram os seus colegas. O governador do banco central Zhou Xiaochuan, do Banco do Povo da China, redigiu uma declaração oficial no seu sítio web de que o objectivo agora é criar uma divisa de reserva "que seja desconectada de países individuais". [5] Este é o objectivo das discussões em Yekaterinburg.
Além de evitar financiar tanto a compra da sua própria indústria pelos EUA como o cerco estado-unidense do globo, a China, a Rússia e outros países gostariam sem dúvida de obter a mesma espécie de "almoço gratuito" que a América tem estado a obter. Tal como a questão se lhes apresenta, vêm os Estados Unidos como um país fora da lei, tanto financeiramente como militarmente. Como caracterizar de outra maneira um país que mantém um conjunto de leis para os outros – sobre guerra, reembolso de dívida e tratamento de prisioneiros – mas ignora-as em relação a si próprio? Os Estados Unidos são agora o maior devedor do mundo mas tem evitado o sofrimento dos "ajustamentos estruturais" impostos a outras economias devedoras. As reduções de taxas de juros e fiscais em face dos défices comerciais e orçamentais em explosão são vistas como o cúmulo da hipocrisia considerando os programas de austeridades a que Washington força outros países, através do FMI e outros dos seus veículos.
Os Estados Unidos dizem às economias devedoras para liquidarem as suas empresas públicas e os seus recursos naturais, elevarem as suas taxas de juros e aumentarem impostos enquanto arruínam as suas redes de segurança social a fim de espremer dinheiro para pagar aos credores. E internamente o Congresso proibiu a CNOOK da China de comprar a Unocal com o argumento da segurança nacional, assim como proibiu o Dubai de comprar portos e a outros fundos de riqueza soberana de comprarem infraestruturas chave. Os estrangeiros são convidados a emularem a compra japonesa de troféus tipo elefantes brancos, tal como o Rockefeller Center, no qual os investidores perderam rapidamente mil milhões de dólares e acabaram por se afastar.
Quanto a isto, os EUA não deram realmente à China e a outros países com excedentes de pagamentos grande alternativa excepto descobrir um meio de evitar nova acumulação de dólares. Até à data, as tentativas da China de diversificar os seus haveres em dólares para além dos títulos do Tesouro não tiveram muito êxito. Para começar, Hank Paulson da Goldman Sachs dirigiu o seu banco central para os títulos de rendimento mais alto da Fannie Mae e do Freddie Mac, explicando-lhes que estes eram de facto obrigações públicas. Ambos entraram em colapso em 2008, mas pelo menos o governo dos EUA tomou posse destas duas agências de empréstimos hipotecários, acrescentando formalmente os seus US$5,2 milhões de milhões em obrigações à dívida nacional. De facto, foi em grande parte o investimento oficial estrangeiro que estimulou o salvamento. Impor uma perda a agências oficiais estrangeiras teria rompido de imediato o padrão do título do Tesouro, não só por destruir totalmente a credibilidade dos EUA como também porque há simplesmente muito poucos títulos do governo a absorverem a inundação de dólares na economia mundial devida à elevação dos défices da balança de pagamentos estado-unidense.
Procurando uma posição de equilíbrio para proteger o valor dos seus haveres em dólares quando a bolha do crédito do Federal Reserve levou ao rebaixamento das taxas de juro, os fundos de riqueza soberana da China procuraram diversificar a partir do fim de 2007. A China comprou participações no bem conectado fundo de acções Blackstone e no Morgan Stanley na Wall Street, no Standard Bank do Barclays na África do Sul (antes filiado ao Chase Manhattan no tempo do apartheid na década de 1960) e no conglomerado financeiro belga Fortis, que entrou logo em colapso. Mas o sector financeiro dos EUA estava a entrar em colapso sob o peso da sua dívida piramidal e os preços das acções de bancos e firmas de investimento mergulharam no mundo todo.
Os estrangeiros vêem o FMI, o Banco Mundial e a Organização Internacional de Comércio como emanações de Washington num sistema financeiro suportado por bases militares e porta-aviões americanos que envolve todo o globo. Mas esta dominação militar é um vestígio de um império americano que já não é mais capaz de dominar pela força económica. O poder militar estado-unidense é músculo em excesso, baseado mais no armamento atómico e ataques aéreos a longa distância do que sobre operações no terreno, as quais politicamente tornaram-se demasiado impopulares para serem montadas em grande escala.
Na frente económica não há meio previsível pelo qual os Estados Unidos possam descarregar os US$4 milhões de milhões que devem a governos estrangeiros, os seus bancos centrais e aos fundos de riqueza soberana estabelecidos para dar destino à inundação global de dólares. A América tornou-se uma caloteira – e na verdade, um caloteiro militarmente agressivo pois procura manter-se como a potência única que chegou a ser através de meios económicos. O problema é como restringir o seu comportamento. Yu Yongding, um antigo conselheiro do banco central chinês agora na Academia de Ciências de China, sugeriu que o secretário do Tesouro Tim Geithner fosse avisado de que os Estados Unidos deveriam "salvar-se" antes e acima de tudo pela redução do seu orçamento militar. "O imposto sobre o rendimento dos EUA provavelmente não aumentará no curto prazo devido ao baixo crescimento económico, a despesas inflexíveis e ao custo de 'combater duas guerras' ". [6]
Actualmente são as poupanças estrangeiras, não as dos americanos, que estão a financiar o défice orçamental dos EUA através da compra da maior parte dos títulos do Tesouro. O efeito é tributação sem representação para os eleitores estrangeiros pois não podem dizer ao governo dos EUA como utilizar as suas poupanças forçadas. Portanto é necessário aos diplomatas financeiros que ampliem o âmbito das suas decisões políticas para além do sector do mercado privado. As taxas de câmbio são determinadas por muito factores além de "cartões de crédito detidos pelos consumidores", o eufemismo habitual que os media dos EUA mencionam para o défice da balança de pagamentos. Desde o século XIII, a guerra tem sido um factor dominante na balança de pagamentos dos principais países – e das suas dívidas nacionais. O financiamento de governos através de títulos faz-se sobretudo para dívidas de guerra, pois em tempos de paz normais os orçamentos tendem a ser equilibrados. Isto liga o orçamento de guerra directamente à balança de pagamentos e às taxas de câmbio.
Os países estrangeiros vêem-se presos a títulos de dívida impagáveis – sob condições em que, se se movimentassem para travar o almoço gratuito dos EUA, o dólar mergulharia e os seus haveres em dólares cairiam de valor em relação às suas próprias divisas internas e outras divisas. Se a divisa da China se elevasse em 10% contra o dólar, o seu banco central mostrará o equivalente a uma perda de US$200 milhões nos seus haveres de US$2 milhões de milhões quando denominados em yuan. Isto explica porque, quando agências de classificação de títulos falam acerca da perda da classificação AAA para os títulos do Tesouro dos EUA, elas não querem dizer que o governo não possa simplesmente imprimir os dólares de papel para "tornar bons" estes títulos. Querem dizer que os dólares depreciarão no valor internacional. E isso é exactamente o que está agora a verificar-se. Quando o sr. Geithner fez uma cara séria e disse numa sessão na Universidade de Pequim, no princípio de Junho, que acreditava num "dólar forte" e que os investimentos da China nos EUA portanto era seguros e saudáveis, a reacção foram risadas sarcásticas. [7]
A previsão de uma elevação da taxa de câmbio da China dá um incentivo a especuladores para procurarem tomar emprestado em dólares a fim de comprar renminbi e beneficiarem da valorização. Para a China, o problema é que este influxo especulativo tornar-se-ia uma profecia auto-cumprida ao forçar a alta da sua divisa. Assim o problema das reservas internacionais está inerentemente ligado ao dos controles de capitais. Por que a China deveria ver as suas companhias mais lucrativas vendidas por US dólares criados livremente, os quais o banco central deve utilizar para comprar títulos do Tesouro dos EUA de baixo rendimento ou perder ainda mais dinheiro na Wall Street?
Para evitar este dilema é necessário inverter a filosofia dos mercados de capital abertos que o mundo tem adoptado desde Bretton Woods em 1944. Por ocasião da visita do sr. Geithner à China, "Zhou Xiaochuan, ministro do Banco Popular da China, o banco central do país, disse enfaticamente que esta era a primeira vez desde as conversações semestrais principiadas em 2006 que a China precisava aprender tanto com os erros americanos como com os seus êxitos" no que concerne à desregulamentação de mercados de capital e desmantelamento de controles. [8]
Uma era está portanto a chegar ao fim. Face ao contínuo super gasto dos EUA, a desdolarização ameaça forçar países a retornarem à espécie de taxas de câmbio duais que eram comuns entre a I e a II Guerras Mundiais: uma taxa de câmbio para o comércio de mercadorias e outra para movimentos de capital e investimentos, pelo menos das economias da área do dólar.
Mesmo sem controles de capital, os países que se reúnem em Yekaterinburg estão a dar passos para evitar serem os receptores relutantes de ainda mais dólares. Ao verem que a hegemonia global dos EUA não pode continuar sem os gastos de poder que eles próprios fornecem, os governos estão a tentar acelerar o que Chalmers Johnson denominou de "as aflições do império" no seu livro com o mesmo nome ("The Sorrows of Empire"). Se a China, a Rússia e seus aliados não alinhados prosseguirem o seu caminho, os Estados Unidos já não viverão mais das poupanças dos outros (na forma dos seus próprios dólares reciclados) nem terão o dinheiro para as suas despesas e aventuras militares ilimitadas.
Responsáveis americanos quiseram comparecer como observadores à reunião de Yekaterinburg. Disseram-lhes Não. É uma palavra que os americanos ouvirão muito no futuro.
Notas
1. Andrew Scheineson, "The Shanghai Cooperation Organization", Council on Foreign Relations, Updated: March 24, 2009: "While some experts say the organization has emerged as a powerful anti-U.S. bulwark in Central Asia, others believe frictions between its two largest members, Russia and China, effectively preclude a strong, unified SCO."
2. Kremlin.ru, June 5, 2009, in Johnson's Russia List , June 8, 2009, #8.
3. Jamil Anderlini e Javier Blas, "China reveals big rise in gold reserves," Financial Times, April 24, 2009. Ver também "Chinese political advisors propose making yuan an int'l currency." Beijing, March 7, 2009 (Xinhua). "The key to financial reform is to make the yuan an international currency, said [Peter Kwong Ching] Woo [chairman of the Hong Kong-based Wharf (Holdings) Limited] in a speech to the Second Session of the 11th National Committee of the Chinese People's Political Consultative Conference (CPPCC), the country's top political advisory body. That means using the Chinese currency to settle international trade payments …"
4. Shai Oster, "Malaysia, China Consider Ending Trade in Dollars," Wall Street Journal, June 4, 2009.
5. Jonathan Wheatley, "Brazil and China in plan to axe dollar," Financial Times, May 19, 2009.
6. "Another Dollar Crisis inevitable unless U.S. starts Saving - China central bank adviser. Global Crisis 'Inevitable' Unless U.S. Starts Saving, Yu Says," Bloomberg News, June 1, 2009. http://www.bloomberg.com/apps/news?pid= ... refer=asia
7. Kathrin Hille, "Lesson in friendship draws blushes," Financial Times, June 2, 2009.
8. Steven R. Weisman, "U.S. Tells China Subprime Woes Are No Reason to Keep Markets Closed," The New York Times, June 18, 2008.
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
A proposta Bolsa do Petróleo iraniana
por Krassimir Petrov [*][/size]
I. A economia dos impérios
II. A Bolsa do Petróleo iraniana
III. A morte do dólar
I. A economia dos impérios
Todos os estados-nação tributam os seus cidadãos, ao passo que um império tributa os restantes estados-nação. A história dos impérios, desde o Grego e Romano, até ao Otomano e Britânico, ensina-nos que o fundamento económico de qualquer império é a tributação das restantes nações. A capacidade imperial para tributar esteve sempre baseada numa melhor e mais forte economia, e como consequência, num melhor e mais forte exército. Uma parte dos impostos serve para melhorar o nível de vida no império; a outra parte serve para fortalecer o domínio militar necessário a uma boa eficácia na cobrança desses impostos.
Historicamente, a tributação de um estado subjugado era efectuada de diversas formas – normalmente em ouro e prata, quando estes metais eram considerados dinheiro, mas também em escravos, soldados, colheitas, gado, ou outros recursos tais como os agrícolas ou recursos naturais, enfim, qualquer bem económico que o império exigisse e que o estado subjugado pudesse entregar. A tributação imperial foi sempre exercida de forma directa, isto é, o estado subjugado entregava os bens económicos directamente ao império.
No século XX e pela primeira vez na história, os EUA puderam, através da inflação, tributar o mundo de um modo indirecto. Não obrigou o pagamento directo de impostos como todos os precedentes impérios fizeram, mas fê-lo difundindo a sua própria moeda, o dólar norte-americano, pelas restantes nações em troca de bens, com uma intenção planeada de inflacionar, e de seguida desvalorizar todos esses dólares, e em virtude disso, reembolsando depois cada dólar com menor quantidade de bens económicos – a diferença entre estes dois estágios, valorização e desvalorização do dólar, representa exactamente o imposto imperial norte-americano. É assim que o sistema tem funcionado.
No início do século XX, a economia norte-americana começou a dominar a economia mundial. O dólar norte-americano foi fixado ao ouro, de forma que o valor do dólar não aumentava, nem diminuía, mantendo o mesmo valor tendo por base o ouro. A Grande Depressão, com a sua elevada inflação registada entre 1921 e 1929, e consequentemente com os seus crescentes défices governamentais, haviam aumentado substancialmente o montante de dólares em circulação, o que tornou impossível sustentar o dólar com o ouro existente nos EUA. Isto levou Roosevelt a desligar o dólar do ouro em 1932. Até esta altura os EUA dominaram a economia mundial, mas de um ponto de vista económico, não eram ainda um império. O valor do dólar fixado ao ouro não permitia que os americanos extraíssem benefícios económicos dos outros países, pois os dólares por eles adquiridos eram convertíveis em ouro até essa altura.
Economicamente, o império americano nasceu com o acordo de Bretton Woods em 1945. O dólar norte-americano não era completamente convertível em ouro, porque essa convertibilidade só era possível para os governos estrangeiros. Este acordo estabeleceu assim o dólar como sendo a moeda de reserva do mundo. Esta situação foi possível porque durante a 2ª Guerra Mundial os Estados Unidos haviam fornecido todo o tipo de bens aos seus aliados, exigindo ouro como pagamento, acumulando por isso uma substancial quantidade do ouro mundial. Um império nunca teria sido possível se o acordo de Bretton Woods limitasse a emissão de dólares à disponibilidade de ouro, assim como o completo retorno desses dólares em ouro. Porém, a política dos EUA durante os anos 60 de "armas & manteiga", foi efectivamente uma política imperial: houve um incremento da emissão de dólares para financiamento da guerra do Vietname e da Sociedade Fantástica de Lyndon Johnson. A maioria desses dólares foi parar às mão de estrangeiros através de pagamentos de bens económicos por eles fornecidos aos EUA, sem que os próprios EUA tivessem a intenção de os voltar a obter de volta pelo mesmo valor. O aumento de participações em dólares na posse de estrangeiros devido ao persistente défice comercial norte-americano, equivaliam a uma tributação – a tributação clássica devida à inflação que qualquer país impõe aos seus cidadãos; neste caso tratava-se de uma tributação que através da inflação os EUA impunham ao resto do mundo.
Quando em 1970-1971 os estrangeiros exigiram o pagamento dos seus dólares em ouro, depararam com a recusa do governo norte-americano, facto que se deu em 15 de Agosto de 1971. Enquanto se ia explicando simplisticamente este acontecimento como sendo uma forma de "cortar a ligação entre o dólar e o ouro", na realidade essa negação de reembolsar o ouro era um acto de bancarrota do governo norte-americano. No essencial, o EUA declararam-se nessa altura como um império. Tinham conseguido obter uma enorme quantidade de bens económicos do resto do mundo, sem terem a intenção ou a capacidade para devolver esses bens, e o mundo nessa situação foi impotente para reagir — o mundo foi tributado e nada pôde fazer para o evitar.
A partir daqui, para sustentar o império americano e para continuar a tributar o resto do mundo, os Estados Unidos tiveram que forçá-lo a continuar a aceitar dólares em permanente depreciação, em troca de bens económicos que lhe eram continuamente fornecidos, apesar o mundo possuir cada vez mais desses dólares depreciados. Foi preciso por isso dar ao mundo um forte motivo económico para que retivesse os dólares obtidos das transacções comerciais com os EUA: esse motivo foi o petróleo.
Em 1971, tornava-se evidente que o Governo de EUA não poderia comprar de volta seus dólares com ouro como estava previsto no acordo de Bretton Woods. Foi feito por isso um acordo com a Arábia Saudita de que os EUA suportariam a Casa Real em troca deste país aceitar apenas o dólar norte-americano como forma de pagamento do seu petróleo. Os restantes países da OPEP de imediato seguiriam esta medida aceitando unicamente dólares para as suas vendas de petróleo. A partir daqui e porque o mundo precisava de obter petróleo dos países árabes, passou então a existir uma razão objectiva para se obterem dólares para o pagamento do petróleo. Porque o mundo precisava de crescentes quantidades de petróleo, e a preços de petróleo também eles crescentes, a procura de dólares no mundo só poderia aumentar. Embora já não fosse possível trocar os dólares por ouro, eles eram agora trocáveis por petróleo.
A essência económica deste acordo era de que o dólar estava agora suportado por petróleo em vez de ouro. Enquanto isto fosse sucedendo, o mundo teria de acumular montantes crescentes de dólares, pois eram necessários para a aquisição de petróleo. Portanto enquanto o dólar fosse o único pagamento aceitável para o petróleo, o seu domínio no mundo estaria assegurado, e o império americano poderia assim continuar a tributar o resto do mundo. Se por qualquer razão, o dólar perdesse o suporte do petróleo, o império americano deixaria de existir. Por isso, a sobrevivência imperial exigia que o petróleo fosse vendido apenas em dólares. Por outro lado impedia que estados soberanos que não fossem suficientemente fortes em termos políticos e militares, pudessem exigir o pagamento das suas reservas de petróleo, noutra moeda que não fosse o dólar. Se um qualquer país tomasse uma tal decisão, teria que ser convencido a mudar de opinião tanto por pressão política, como por meios militares.
O homem que realmente pediu que o petróleo do seu país fosse pago em euros, foi Saddam Hussein em 2000. No inicio, a sua exigência caiu no ridículo, depois no desprezo, só mais tarde, quando se tornou claro que ele havia feito um bom negócio, se iniciou a pressão política para que modificasse a sua posição. Quando outros países, como o Irão, pretendem o pagamento noutras moedas, como sejam o euro e o iene, o perigo para o dólar é evidente, e portanto uma acção punitiva passa a estar na ordem do dia. A operação "choque-e-terror" de Bush no Iraque nada teve a ver com as capacidades nucleares de Saddam, nem com a defesa dos direitos humanos, nem com o objectivo de espalhar a democracia, nem mesmo com a tomada dos campos petrolíferos; o objectivo nuclear dessa operação foi defender o dólar, e consequentemente o império americano. Era preciso que todos tivessem o exemplo de que quem exige o pagamento do seu petróleo noutra moeda que não o dólar será igualmente punido.
Muitos criticaram Bush por efectuar uma guerra contra o Iraque a fim de capturar os campos de petróleo iraquianos. Porém, esses críticos não conseguem explicar porque razão Bush havia de querer capturar esses campos – ele poderia simplesmente imprimir os dólares que quisesse e com eles poderia adquirir no mundo todo o petróleo que necessitasse. Ele deve ter tido qualquer outra razão para invadir o Iraque.
A História ensina que um império só deverá ir para guerra por uma de duas razões: (1) para se defender ou (2) para tirar benefício de guerra; caso contrário, como o Paul Kennedy ilustra no seu magistral "The Rise and Fall of the Great Powers", o esforço militar esgotará os seus recursos económicos e precipitará o seu colapso. Falando economicamente, para que um império inicie e conduza uma guerra, os seus benefícios têm que exceder em valor os custos com o seu exército e os custos sociais decorrentes da guerra. Os benefícios dos campos petrolíferos iraquianos dificilmente serão merecedores a longo prazo, dos custos militares envolvidos nos vários anos de ocupação que os EUA terão de exercer. Em vez disso, as razões que levaram Bush a ir para o Iraque foram unicamente para defesa do seu império. Na realidade, o que se passou foi que, dois meses depois de os Estados Unidos invadirem o Iraque, o programa "Petróleo por Alimentos" terminou, as contas iraquianas em euros foram trocadas por dólares, e o petróleo voltou a ser vendido em dólares norte-americanos. O mundo deixou de poder continuar a comprar o petróleo iraquiano em euros. A supremacia global do dólar foi restabelecida uma vez mais. Bush desceu vitoriosamente de um avião de combate e declarou que a missão fora cumprida – ele acabava de defender o dólar norte-americano com êxito, e consequentemente também o império americano.
II. A Bolsa do Petróleo iraniana
O governo iraniano desenvolveu finalmente a arma "nuclear" final que pode destruir rapidamente o sistema financeiro a sustentar o império americano. Essa arma é a Bolsa Iraniana de Petróleo que se espera vir a abrir em Março de 2006. Estará baseado num mecanismo "euro-oil-trading" o que naturalmente implicará o pagamento do petróleo em euros. Em termos económicos, isto representa uma ameaça à hegemonia do dólar muito maior do que Saddam representou, pois será possível nesta Bolsa que qualquer um possa comprar ou vender petróleo em euros, podendo-se evitar assim completamente o dólar norte-americano para este tipo de transacção. Se assim for, passarão a existir razões para que quase todo o mundo passe a adoptar decididamente este sistema do euro-oil:
Os europeus não terão que comprar e armazenar dólares para assegurar o pagamento das suas aquisições de petróleo mas, em vez disso, poderão utilizar a sua própria moeda. A adopção do euro para transações de petróleo dará à moeda europeia um estatuto de reserva que beneficiará os europeus à custa dos americanos.
Os chineses e os japoneses estarão especialmente ansiosos por adoptar o novo sistema, porque lhes permitirá baixar drasticamente as suas enormes reservas em dólares diversificando-as com euros, protegendo-se assim da depreciação do dólar. Na redefinição da estrutura das suas reservas de dólares poderão optar pela manutenção de apenas uma parte dos seus dólares como reserva; uma outra parte poderá ser para alienar; e uma terceira parte poderão usar para realizar pagamentos futuros, tendo o cuidado de não aumentar mais as suas reservas em dólares mas, pelo contrário, ir consolidando as suas reservas em euros.
Os russos têm um interesse económico inerente na adopção do euro e que tem a ver com a dimensão do comércio que desenvolvem com os países europeus, com os países exportadores de petróleo, com a China, e com o Japão. A adopção do euro terá como efeito imediato a facilitação das transacções comerciais entre os primeiros dois blocos, a Rússia e a UE, e com o passar do tempo facilitará o comércio com a China e com o Japão. Aparentemente os russos também não gostam de estar sujeitos a ter de guardar dólares que se vão desvalorizando, o que os tem levado ultimamente a ter um novo interesse pelo ouro. Os russos por outro lado, revivem na actualidade um forte nacionalismo, e se aderirem ao euro sabem que causarão dano grave aos americanos, pelo que o farão com prazer só para verem os americanos a sangrar.
Os países árabes exportadores de petróleo adoptarão prontamente o euro como um meio de diversificar as suas crescentes reservas de dólares em desvalorização. Tal como os russos, as suas principais transacções comerciais são com países europeus, e por isso ambos preferirão a moeda corrente europeia para promoção da sua estabilidade e para evitar riscos de cambio; isto para não mencionar a sua jihad contra o Inimigo Infiel.
Apenas os britânicos se encontram entre a espada e a parede. Eles sempre tiveram uma associação estratégica com o EUA, assim como uma tendência natural para abandonar a Europa. No entanto já não existem razões para se manterem associados ao vencedor. Porém, quando virem em dificuldades o seu parceiro de longa data, será que continuarão ao seu lado ou pelo contrário lhe aplicarão o golpe de misericórdia? Por outro lado não nos devemos esquecer que actualmente as duas principais bolsas para transacção de petróleo são o NYMEX em Nova York e o Petroleum Exchange (IPE) em Londres, embora ambas sejam efectivamente propriedade de americanos. Parece mais provável que perante a conjuntura descrita, os britânicos não consigam evitar o seu próprio afundamento juntamente com este navio em dificuldades, senão seria o mesmo que dar um tiro no próprio pé, precisamente porque põem em risco a bolsa de Londres, o IPE. É aqui de notar que apesar de toda a retórica acerca da sobrevivência da libra britânica, os britânicos não adoptam o euro principalmente porque os americanos os pressionam para que o não façam, pois se o IPE aceitasse euros para as transacções de petróleo, feriria de morte o dólar e consequentemente o seu sócio estratégico.
De qualquer modo, não importa o que os britânicos venham a decidir. Se a bolsa de petróleo iraniana avançar, os interesses que realmente têm peso – europeus, chineses, japoneses, russos e árabes – adoptarão o euro, decidindo o destino do dólar. Os americanos não podem permitir que isto aconteça, e se necessário poderão usar um conjunto de estratégias muito diversas para travar ou dificultar o avanço desta operação:
Sabotando a bolsa – pode ser com a introdução de vírus no sistema, na rede ou nas comunicações, atacando o servidor ou violando as suas seguranças, ou ainda com um ataque tipo 11/Set a instalações principais ou de apoio.
Golpe de estado – esta é de longe a melhor estratégia de longo prazo disponível para os americanos.
Negociando termos & limitações aceitáveis – esta é também uma excelente solução para os americanos. Claro que, um golpe de estado é claramente a estratégia preferida porque garante que o processoa da bolsa não avança, deixando de haver qualquer ameaça aos interesses americanos. Porém, se uma tentativa de sabotagem ou golpe de estado falhar, então não existirá outro remédio senão negociar, mas sempre como segunda opção.
Resolução conjunta de guerra na ONU – esta será sem dúvida difícil de garantir em virtude dos interesses de todos os outros membros do Conselho de Segurança. A retórica insistente acerca do desenvolvimento de armas nucleares dos iranianos serve indubitavelmente para preparar esta linha de acção.
Ataque nuclear unilateral – esta será uma terrível opção estratégica por todas as razões associadas com a estratégia seguinte, a Guerra Total Unilateral. Os americanos provavelmente utilizariam Israel para fazer o seu trabalho sujo, o ataque nuclear.
Guerra Total Unilateral – esta é obviamente a pior opção estratégica. Primeiro porque, após duas guerras, os recursos militares norte-americanos encontram-se esgotados. Segundo, os americanos arrastarão consigo mais cedo ou mais tarde, outras nações igualmente poderosas. Terceiro, os países com maiores reservas de dólares podem decidir retaliar alienando os seus dólares, dificultando assim o financiamento por parte dos EUA das suas ambições militares. Por último, o Irão tem acordos estratégicos com outras nações poderosas que se podem envolver no conflito. O Irão tem acordos supostamente com a China, a Índia, e a Rússia, conhecido como o Grupo de Cooperação de Shanghai, e um acordo separado com a Síria.
Qualquer que seja a opção estratégica utilizada, de um ponto de vista puramente económico, se a Bolsa de Petróleo Iraniana ganhar impulso será ansiosamente abraçada pelas principais potências económicas, precipitando o colapso do dólar.
III. A morte do dólar
O colapso do dólar incrementará dramaticamente a inflação norte-americana e pressionará o aumento das taxas de juros de longo prazo norte-americanas. Nesta situação, o FED encontrar-se-á entre Sila e Caribdis — entre deflação e hiperinflação — que o forçará rapidamente a utilizar a sua "medicina clássica" de deflação através do aumento das taxas de juros, provocando uma significativa depressão económica, um colapso nos valores imobiliários, e uma implosão no mercado de acções, e mercados de derivados, com um colapso financeiro total, ou em alternativa, utilizando a solução Weimar aumentando a inflação, submergindo o sistema financeiro através de uma impressão desmedida de dólares e o seu afogamento em liquidez, libertando numerosos LTCMs (Long-Term Capital Management), logo hiperinflacionando a economia.
A teoria austríaca para o dinheiro, crédito, e ciclos económicos ensina que não há lugar entre as duas margens deste rio estreito. Tarde ou cedo o sistema monetário tem que guinar para um lado ou outro, obrigando o FED a fazer sua escolha. Sem dúvida que o comandante Ben Bernanke [1] um académico de renome conhecedor da Grande Depressão e um apto piloto de helicópteros Black Hawk, escolherá inflação. O "helicoptero Ben", esquecido da Grande Depressão americana de Rothbard , no entanto dominou as lições da Grande Depressão e o poder aniquilador das deflações. O Mestre ensinou-lhe a panaceia para qualquer problema financeiro – para inflacionar venha o "inferno ou a inundação". Ele até ensinou aos japoneses os seus próprios métodos não convencionais mas engenhosos, para combater a armadilha de liquidez deflacionária. Tal como o seu mentor, sonhou combater um Inverno de Kondratieff. Para evitar a deflação, ele recorrerá às máquinas de impressão; ele vai requisitar todos os helicópteros estacionados nas 800 bases militares que os EUA têm no estrangeiro; e, se necessário, vai monetarizar tudo o que estiver à vista. A sua última realização será a destruição hiperinflacionária da moeda americana, e das suas cinzas renascerá a próxima moeda de reserva do mundo: a relíquia bárbara chamada ouro.
[1] Novo presidente do banco central dos EUA, sucessor de Greenspan. Bernanke proclamou a sua disposição de imprimir e lançar a partir de um helicóptero todo o dinheiro que venha a ser necessário.
[*] Doutorado em Economia pela Ohio State University. Actualmente ensina Macroeconomia e Finanças Internacionais na "American University" da Bulgária. Autor de "China's Great Depression", "Masters of Austrian Investment Analysis", "Austrian Analysis of U.S. Inflation", "Oil Performance in a Worldwide Depression" . Email: Krassimir_Petrov@hotmail.com
O original encontra-se em http://www.energybulletin.net/12125.html . Tradução de MJS.
por Krassimir Petrov [*][/size]
I. A economia dos impérios
II. A Bolsa do Petróleo iraniana
III. A morte do dólar
I. A economia dos impérios
Todos os estados-nação tributam os seus cidadãos, ao passo que um império tributa os restantes estados-nação. A história dos impérios, desde o Grego e Romano, até ao Otomano e Britânico, ensina-nos que o fundamento económico de qualquer império é a tributação das restantes nações. A capacidade imperial para tributar esteve sempre baseada numa melhor e mais forte economia, e como consequência, num melhor e mais forte exército. Uma parte dos impostos serve para melhorar o nível de vida no império; a outra parte serve para fortalecer o domínio militar necessário a uma boa eficácia na cobrança desses impostos.
Historicamente, a tributação de um estado subjugado era efectuada de diversas formas – normalmente em ouro e prata, quando estes metais eram considerados dinheiro, mas também em escravos, soldados, colheitas, gado, ou outros recursos tais como os agrícolas ou recursos naturais, enfim, qualquer bem económico que o império exigisse e que o estado subjugado pudesse entregar. A tributação imperial foi sempre exercida de forma directa, isto é, o estado subjugado entregava os bens económicos directamente ao império.
No século XX e pela primeira vez na história, os EUA puderam, através da inflação, tributar o mundo de um modo indirecto. Não obrigou o pagamento directo de impostos como todos os precedentes impérios fizeram, mas fê-lo difundindo a sua própria moeda, o dólar norte-americano, pelas restantes nações em troca de bens, com uma intenção planeada de inflacionar, e de seguida desvalorizar todos esses dólares, e em virtude disso, reembolsando depois cada dólar com menor quantidade de bens económicos – a diferença entre estes dois estágios, valorização e desvalorização do dólar, representa exactamente o imposto imperial norte-americano. É assim que o sistema tem funcionado.
No início do século XX, a economia norte-americana começou a dominar a economia mundial. O dólar norte-americano foi fixado ao ouro, de forma que o valor do dólar não aumentava, nem diminuía, mantendo o mesmo valor tendo por base o ouro. A Grande Depressão, com a sua elevada inflação registada entre 1921 e 1929, e consequentemente com os seus crescentes défices governamentais, haviam aumentado substancialmente o montante de dólares em circulação, o que tornou impossível sustentar o dólar com o ouro existente nos EUA. Isto levou Roosevelt a desligar o dólar do ouro em 1932. Até esta altura os EUA dominaram a economia mundial, mas de um ponto de vista económico, não eram ainda um império. O valor do dólar fixado ao ouro não permitia que os americanos extraíssem benefícios económicos dos outros países, pois os dólares por eles adquiridos eram convertíveis em ouro até essa altura.
Economicamente, o império americano nasceu com o acordo de Bretton Woods em 1945. O dólar norte-americano não era completamente convertível em ouro, porque essa convertibilidade só era possível para os governos estrangeiros. Este acordo estabeleceu assim o dólar como sendo a moeda de reserva do mundo. Esta situação foi possível porque durante a 2ª Guerra Mundial os Estados Unidos haviam fornecido todo o tipo de bens aos seus aliados, exigindo ouro como pagamento, acumulando por isso uma substancial quantidade do ouro mundial. Um império nunca teria sido possível se o acordo de Bretton Woods limitasse a emissão de dólares à disponibilidade de ouro, assim como o completo retorno desses dólares em ouro. Porém, a política dos EUA durante os anos 60 de "armas & manteiga", foi efectivamente uma política imperial: houve um incremento da emissão de dólares para financiamento da guerra do Vietname e da Sociedade Fantástica de Lyndon Johnson. A maioria desses dólares foi parar às mão de estrangeiros através de pagamentos de bens económicos por eles fornecidos aos EUA, sem que os próprios EUA tivessem a intenção de os voltar a obter de volta pelo mesmo valor. O aumento de participações em dólares na posse de estrangeiros devido ao persistente défice comercial norte-americano, equivaliam a uma tributação – a tributação clássica devida à inflação que qualquer país impõe aos seus cidadãos; neste caso tratava-se de uma tributação que através da inflação os EUA impunham ao resto do mundo.
Quando em 1970-1971 os estrangeiros exigiram o pagamento dos seus dólares em ouro, depararam com a recusa do governo norte-americano, facto que se deu em 15 de Agosto de 1971. Enquanto se ia explicando simplisticamente este acontecimento como sendo uma forma de "cortar a ligação entre o dólar e o ouro", na realidade essa negação de reembolsar o ouro era um acto de bancarrota do governo norte-americano. No essencial, o EUA declararam-se nessa altura como um império. Tinham conseguido obter uma enorme quantidade de bens económicos do resto do mundo, sem terem a intenção ou a capacidade para devolver esses bens, e o mundo nessa situação foi impotente para reagir — o mundo foi tributado e nada pôde fazer para o evitar.
A partir daqui, para sustentar o império americano e para continuar a tributar o resto do mundo, os Estados Unidos tiveram que forçá-lo a continuar a aceitar dólares em permanente depreciação, em troca de bens económicos que lhe eram continuamente fornecidos, apesar o mundo possuir cada vez mais desses dólares depreciados. Foi preciso por isso dar ao mundo um forte motivo económico para que retivesse os dólares obtidos das transacções comerciais com os EUA: esse motivo foi o petróleo.
Em 1971, tornava-se evidente que o Governo de EUA não poderia comprar de volta seus dólares com ouro como estava previsto no acordo de Bretton Woods. Foi feito por isso um acordo com a Arábia Saudita de que os EUA suportariam a Casa Real em troca deste país aceitar apenas o dólar norte-americano como forma de pagamento do seu petróleo. Os restantes países da OPEP de imediato seguiriam esta medida aceitando unicamente dólares para as suas vendas de petróleo. A partir daqui e porque o mundo precisava de obter petróleo dos países árabes, passou então a existir uma razão objectiva para se obterem dólares para o pagamento do petróleo. Porque o mundo precisava de crescentes quantidades de petróleo, e a preços de petróleo também eles crescentes, a procura de dólares no mundo só poderia aumentar. Embora já não fosse possível trocar os dólares por ouro, eles eram agora trocáveis por petróleo.
A essência económica deste acordo era de que o dólar estava agora suportado por petróleo em vez de ouro. Enquanto isto fosse sucedendo, o mundo teria de acumular montantes crescentes de dólares, pois eram necessários para a aquisição de petróleo. Portanto enquanto o dólar fosse o único pagamento aceitável para o petróleo, o seu domínio no mundo estaria assegurado, e o império americano poderia assim continuar a tributar o resto do mundo. Se por qualquer razão, o dólar perdesse o suporte do petróleo, o império americano deixaria de existir. Por isso, a sobrevivência imperial exigia que o petróleo fosse vendido apenas em dólares. Por outro lado impedia que estados soberanos que não fossem suficientemente fortes em termos políticos e militares, pudessem exigir o pagamento das suas reservas de petróleo, noutra moeda que não fosse o dólar. Se um qualquer país tomasse uma tal decisão, teria que ser convencido a mudar de opinião tanto por pressão política, como por meios militares.
O homem que realmente pediu que o petróleo do seu país fosse pago em euros, foi Saddam Hussein em 2000. No inicio, a sua exigência caiu no ridículo, depois no desprezo, só mais tarde, quando se tornou claro que ele havia feito um bom negócio, se iniciou a pressão política para que modificasse a sua posição. Quando outros países, como o Irão, pretendem o pagamento noutras moedas, como sejam o euro e o iene, o perigo para o dólar é evidente, e portanto uma acção punitiva passa a estar na ordem do dia. A operação "choque-e-terror" de Bush no Iraque nada teve a ver com as capacidades nucleares de Saddam, nem com a defesa dos direitos humanos, nem com o objectivo de espalhar a democracia, nem mesmo com a tomada dos campos petrolíferos; o objectivo nuclear dessa operação foi defender o dólar, e consequentemente o império americano. Era preciso que todos tivessem o exemplo de que quem exige o pagamento do seu petróleo noutra moeda que não o dólar será igualmente punido.
Muitos criticaram Bush por efectuar uma guerra contra o Iraque a fim de capturar os campos de petróleo iraquianos. Porém, esses críticos não conseguem explicar porque razão Bush havia de querer capturar esses campos – ele poderia simplesmente imprimir os dólares que quisesse e com eles poderia adquirir no mundo todo o petróleo que necessitasse. Ele deve ter tido qualquer outra razão para invadir o Iraque.
A História ensina que um império só deverá ir para guerra por uma de duas razões: (1) para se defender ou (2) para tirar benefício de guerra; caso contrário, como o Paul Kennedy ilustra no seu magistral "The Rise and Fall of the Great Powers", o esforço militar esgotará os seus recursos económicos e precipitará o seu colapso. Falando economicamente, para que um império inicie e conduza uma guerra, os seus benefícios têm que exceder em valor os custos com o seu exército e os custos sociais decorrentes da guerra. Os benefícios dos campos petrolíferos iraquianos dificilmente serão merecedores a longo prazo, dos custos militares envolvidos nos vários anos de ocupação que os EUA terão de exercer. Em vez disso, as razões que levaram Bush a ir para o Iraque foram unicamente para defesa do seu império. Na realidade, o que se passou foi que, dois meses depois de os Estados Unidos invadirem o Iraque, o programa "Petróleo por Alimentos" terminou, as contas iraquianas em euros foram trocadas por dólares, e o petróleo voltou a ser vendido em dólares norte-americanos. O mundo deixou de poder continuar a comprar o petróleo iraquiano em euros. A supremacia global do dólar foi restabelecida uma vez mais. Bush desceu vitoriosamente de um avião de combate e declarou que a missão fora cumprida – ele acabava de defender o dólar norte-americano com êxito, e consequentemente também o império americano.
II. A Bolsa do Petróleo iraniana
O governo iraniano desenvolveu finalmente a arma "nuclear" final que pode destruir rapidamente o sistema financeiro a sustentar o império americano. Essa arma é a Bolsa Iraniana de Petróleo que se espera vir a abrir em Março de 2006. Estará baseado num mecanismo "euro-oil-trading" o que naturalmente implicará o pagamento do petróleo em euros. Em termos económicos, isto representa uma ameaça à hegemonia do dólar muito maior do que Saddam representou, pois será possível nesta Bolsa que qualquer um possa comprar ou vender petróleo em euros, podendo-se evitar assim completamente o dólar norte-americano para este tipo de transacção. Se assim for, passarão a existir razões para que quase todo o mundo passe a adoptar decididamente este sistema do euro-oil:
Os europeus não terão que comprar e armazenar dólares para assegurar o pagamento das suas aquisições de petróleo mas, em vez disso, poderão utilizar a sua própria moeda. A adopção do euro para transações de petróleo dará à moeda europeia um estatuto de reserva que beneficiará os europeus à custa dos americanos.
Os chineses e os japoneses estarão especialmente ansiosos por adoptar o novo sistema, porque lhes permitirá baixar drasticamente as suas enormes reservas em dólares diversificando-as com euros, protegendo-se assim da depreciação do dólar. Na redefinição da estrutura das suas reservas de dólares poderão optar pela manutenção de apenas uma parte dos seus dólares como reserva; uma outra parte poderá ser para alienar; e uma terceira parte poderão usar para realizar pagamentos futuros, tendo o cuidado de não aumentar mais as suas reservas em dólares mas, pelo contrário, ir consolidando as suas reservas em euros.
Os russos têm um interesse económico inerente na adopção do euro e que tem a ver com a dimensão do comércio que desenvolvem com os países europeus, com os países exportadores de petróleo, com a China, e com o Japão. A adopção do euro terá como efeito imediato a facilitação das transacções comerciais entre os primeiros dois blocos, a Rússia e a UE, e com o passar do tempo facilitará o comércio com a China e com o Japão. Aparentemente os russos também não gostam de estar sujeitos a ter de guardar dólares que se vão desvalorizando, o que os tem levado ultimamente a ter um novo interesse pelo ouro. Os russos por outro lado, revivem na actualidade um forte nacionalismo, e se aderirem ao euro sabem que causarão dano grave aos americanos, pelo que o farão com prazer só para verem os americanos a sangrar.
Os países árabes exportadores de petróleo adoptarão prontamente o euro como um meio de diversificar as suas crescentes reservas de dólares em desvalorização. Tal como os russos, as suas principais transacções comerciais são com países europeus, e por isso ambos preferirão a moeda corrente europeia para promoção da sua estabilidade e para evitar riscos de cambio; isto para não mencionar a sua jihad contra o Inimigo Infiel.
Apenas os britânicos se encontram entre a espada e a parede. Eles sempre tiveram uma associação estratégica com o EUA, assim como uma tendência natural para abandonar a Europa. No entanto já não existem razões para se manterem associados ao vencedor. Porém, quando virem em dificuldades o seu parceiro de longa data, será que continuarão ao seu lado ou pelo contrário lhe aplicarão o golpe de misericórdia? Por outro lado não nos devemos esquecer que actualmente as duas principais bolsas para transacção de petróleo são o NYMEX em Nova York e o Petroleum Exchange (IPE) em Londres, embora ambas sejam efectivamente propriedade de americanos. Parece mais provável que perante a conjuntura descrita, os britânicos não consigam evitar o seu próprio afundamento juntamente com este navio em dificuldades, senão seria o mesmo que dar um tiro no próprio pé, precisamente porque põem em risco a bolsa de Londres, o IPE. É aqui de notar que apesar de toda a retórica acerca da sobrevivência da libra britânica, os britânicos não adoptam o euro principalmente porque os americanos os pressionam para que o não façam, pois se o IPE aceitasse euros para as transacções de petróleo, feriria de morte o dólar e consequentemente o seu sócio estratégico.
De qualquer modo, não importa o que os britânicos venham a decidir. Se a bolsa de petróleo iraniana avançar, os interesses que realmente têm peso – europeus, chineses, japoneses, russos e árabes – adoptarão o euro, decidindo o destino do dólar. Os americanos não podem permitir que isto aconteça, e se necessário poderão usar um conjunto de estratégias muito diversas para travar ou dificultar o avanço desta operação:
Sabotando a bolsa – pode ser com a introdução de vírus no sistema, na rede ou nas comunicações, atacando o servidor ou violando as suas seguranças, ou ainda com um ataque tipo 11/Set a instalações principais ou de apoio.
Golpe de estado – esta é de longe a melhor estratégia de longo prazo disponível para os americanos.
Negociando termos & limitações aceitáveis – esta é também uma excelente solução para os americanos. Claro que, um golpe de estado é claramente a estratégia preferida porque garante que o processoa da bolsa não avança, deixando de haver qualquer ameaça aos interesses americanos. Porém, se uma tentativa de sabotagem ou golpe de estado falhar, então não existirá outro remédio senão negociar, mas sempre como segunda opção.
Resolução conjunta de guerra na ONU – esta será sem dúvida difícil de garantir em virtude dos interesses de todos os outros membros do Conselho de Segurança. A retórica insistente acerca do desenvolvimento de armas nucleares dos iranianos serve indubitavelmente para preparar esta linha de acção.
Ataque nuclear unilateral – esta será uma terrível opção estratégica por todas as razões associadas com a estratégia seguinte, a Guerra Total Unilateral. Os americanos provavelmente utilizariam Israel para fazer o seu trabalho sujo, o ataque nuclear.
Guerra Total Unilateral – esta é obviamente a pior opção estratégica. Primeiro porque, após duas guerras, os recursos militares norte-americanos encontram-se esgotados. Segundo, os americanos arrastarão consigo mais cedo ou mais tarde, outras nações igualmente poderosas. Terceiro, os países com maiores reservas de dólares podem decidir retaliar alienando os seus dólares, dificultando assim o financiamento por parte dos EUA das suas ambições militares. Por último, o Irão tem acordos estratégicos com outras nações poderosas que se podem envolver no conflito. O Irão tem acordos supostamente com a China, a Índia, e a Rússia, conhecido como o Grupo de Cooperação de Shanghai, e um acordo separado com a Síria.
Qualquer que seja a opção estratégica utilizada, de um ponto de vista puramente económico, se a Bolsa de Petróleo Iraniana ganhar impulso será ansiosamente abraçada pelas principais potências económicas, precipitando o colapso do dólar.
III. A morte do dólar
O colapso do dólar incrementará dramaticamente a inflação norte-americana e pressionará o aumento das taxas de juros de longo prazo norte-americanas. Nesta situação, o FED encontrar-se-á entre Sila e Caribdis — entre deflação e hiperinflação — que o forçará rapidamente a utilizar a sua "medicina clássica" de deflação através do aumento das taxas de juros, provocando uma significativa depressão económica, um colapso nos valores imobiliários, e uma implosão no mercado de acções, e mercados de derivados, com um colapso financeiro total, ou em alternativa, utilizando a solução Weimar aumentando a inflação, submergindo o sistema financeiro através de uma impressão desmedida de dólares e o seu afogamento em liquidez, libertando numerosos LTCMs (Long-Term Capital Management), logo hiperinflacionando a economia.
A teoria austríaca para o dinheiro, crédito, e ciclos económicos ensina que não há lugar entre as duas margens deste rio estreito. Tarde ou cedo o sistema monetário tem que guinar para um lado ou outro, obrigando o FED a fazer sua escolha. Sem dúvida que o comandante Ben Bernanke [1] um académico de renome conhecedor da Grande Depressão e um apto piloto de helicópteros Black Hawk, escolherá inflação. O "helicoptero Ben", esquecido da Grande Depressão americana de Rothbard , no entanto dominou as lições da Grande Depressão e o poder aniquilador das deflações. O Mestre ensinou-lhe a panaceia para qualquer problema financeiro – para inflacionar venha o "inferno ou a inundação". Ele até ensinou aos japoneses os seus próprios métodos não convencionais mas engenhosos, para combater a armadilha de liquidez deflacionária. Tal como o seu mentor, sonhou combater um Inverno de Kondratieff. Para evitar a deflação, ele recorrerá às máquinas de impressão; ele vai requisitar todos os helicópteros estacionados nas 800 bases militares que os EUA têm no estrangeiro; e, se necessário, vai monetarizar tudo o que estiver à vista. A sua última realização será a destruição hiperinflacionária da moeda americana, e das suas cinzas renascerá a próxima moeda de reserva do mundo: a relíquia bárbara chamada ouro.
[1] Novo presidente do banco central dos EUA, sucessor de Greenspan. Bernanke proclamou a sua disposição de imprimir e lançar a partir de um helicóptero todo o dinheiro que venha a ser necessário.
[*] Doutorado em Economia pela Ohio State University. Actualmente ensina Macroeconomia e Finanças Internacionais na "American University" da Bulgária. Autor de "China's Great Depression", "Masters of Austrian Investment Analysis", "Austrian Analysis of U.S. Inflation", "Oil Performance in a Worldwide Depression" . Email: Krassimir_Petrov@hotmail.com
O original encontra-se em http://www.energybulletin.net/12125.html . Tradução de MJS.
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
O fim do dólar como moeda-padrão está perto?… O Irão já não o usa para vender o seu petróleo.
O Irão, país que é atualmente o segundo maior produtor de petróleo da OPEP, já não está a fazer transacções comerciais em dólares, cumprindo assim uma promessa já antiga do seu presidente… A decisão resulta de um aumento de pressão da diplomacia dos EUA contra o programa nuclear iraniano, mas também devido à continuada redução da cotação dólar-euro e ao seu impacto nos rendimentos da República Islâmica. O movimento de transição para o Euro e outras moedas já tinha começado no começo de 2007. Para a Europa, o Irão vende petróleo em euros, e um misto de euros e ienes são usados nas exportações para os países asiáticos.
O Irão está a pressionar os outros países da OPEP a segui-lo, mas, por enquanto sem grande sucesso, sobretudo por causa da influência que os EUA ainda detêm nas políticas dos governos dos países do Golfo Pérsico, mas não tardará muito até que a Venezuela siga os seus passos e depois, a massa crítica poderá ser suficiente para levar os demais países da OPEP a enveredar pelo mesmo caminho, especialmente se a fraqueza do dólar persistir, e nada indica que assim não seja, uma vez que a maioria dos economistas dão como certo o prolongamento da recessão nos EUA pelo menos até finais de 2009… E se o dólar continuar a ser a moeda preferida nas transacções de petróleo, até os países importadores vão começar a pressionar para o seu abandono. É claro, que a perda do papel de referência do dólar no mercado global vai implicar uma profunda ameaça à própria economia americana, que muito tem vivido da predominância da sua moeda no mundo, e logo, criar ainda mais condições para que esta recessão que dizem ainda ser ligeira, se torne efetivamente numa das mais graves de sempre na Economia americana. Sabendo como esta responde por 30% do consumo mundial, isso não irá arrastar todo o planeta para a recessão, mesmo a Ásia e a Europa que têm estado relativamente afastadas desta?
Fonte: http://www.cbsnews.com/stories/2008/04/ ... ated_story
O Irão, país que é atualmente o segundo maior produtor de petróleo da OPEP, já não está a fazer transacções comerciais em dólares, cumprindo assim uma promessa já antiga do seu presidente… A decisão resulta de um aumento de pressão da diplomacia dos EUA contra o programa nuclear iraniano, mas também devido à continuada redução da cotação dólar-euro e ao seu impacto nos rendimentos da República Islâmica. O movimento de transição para o Euro e outras moedas já tinha começado no começo de 2007. Para a Europa, o Irão vende petróleo em euros, e um misto de euros e ienes são usados nas exportações para os países asiáticos.
O Irão está a pressionar os outros países da OPEP a segui-lo, mas, por enquanto sem grande sucesso, sobretudo por causa da influência que os EUA ainda detêm nas políticas dos governos dos países do Golfo Pérsico, mas não tardará muito até que a Venezuela siga os seus passos e depois, a massa crítica poderá ser suficiente para levar os demais países da OPEP a enveredar pelo mesmo caminho, especialmente se a fraqueza do dólar persistir, e nada indica que assim não seja, uma vez que a maioria dos economistas dão como certo o prolongamento da recessão nos EUA pelo menos até finais de 2009… E se o dólar continuar a ser a moeda preferida nas transacções de petróleo, até os países importadores vão começar a pressionar para o seu abandono. É claro, que a perda do papel de referência do dólar no mercado global vai implicar uma profunda ameaça à própria economia americana, que muito tem vivido da predominância da sua moeda no mundo, e logo, criar ainda mais condições para que esta recessão que dizem ainda ser ligeira, se torne efetivamente numa das mais graves de sempre na Economia americana. Sabendo como esta responde por 30% do consumo mundial, isso não irá arrastar todo o planeta para a recessão, mesmo a Ásia e a Europa que têm estado relativamente afastadas desta?
Fonte: http://www.cbsnews.com/stories/2008/04/ ... ated_story
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
Premio Nobel defende o fim do dólar como moeda internacional
O economista americano Joseph Stiglitz, vencedor do Premio Nobel de 2001, pediu ontem na sede da ONU em Nova York a substituição do dólar como moeda corrente em transações internacionais e a criação do Conselho de Coordenação Econômica Global para substituir o G20. O novo conselho teria 25 membros, faria parte da ONU, atuaria de forma semelhante ao Conselho de Segurança e nenhum de seus membros teria o poder de veto. O relatório assinado por Stiglitz pede “o fim do domínio que o dólar exerceu sobre a economia global desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, lembrando que a maioria dos bancos centrais tem reservas em dólar e que a moeda americana serve para fixar o preço nos mercados internacionais de materias primas, especialmente o petróleo”. O texto recomenda “a criação de novo sistema de reserva global” e pediu também a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI).
_ O mundo fracassou em criar um sistema que proporcione proteção aos mais vulneráveis, tanto nas economias desenvolvidas quanto nos país em desenvolvimento _ afirmou Stiglitz.
Stiglitz liderou uma comissão de 18 especialistas internacionais para recomendar soluções para a crise financeira mundial e o grupo apresentou ontem para a Assembléia Geral um relatório contendo 21 propostas, entre elas, medidas de regulação do mercado financeiro que limitam o crescimento desmesurado dos bancos e restringem transações com paraísos fiscais. O grupo sugeriu também restringir o risco financeiro assumido pelos bancos, e por consequência o seu nivel de alavancagem. O economista americano ressaltou que a crise atual revelou deficiências fundamentais do sistema financeiro internacional, que o crescimento artificialmente alimentado pela bolha imobiliária havia permitido ocultar.
_ Algo está muito errado com um sistema que necessita que um país rico gaste mais do que tem para que o resto do sistema funcione. A proposta que fazemos é a de que não é mais possóvel que o sistema financeiro mundial dependa de uma única moeda e da forma como ela é administrada. Precisamos de um novo sistema internacional de reservas para agir contra crises e é isto o que propomos _ avaliou Stiglitz.
O relatório recomenda que o novo conselho de coordenação econômica tenha poderes, por exemplo, para fazer avaliações periódicas do desempenho do Banco Mundial e do FMI. As recomendações do grupo liderado por Stiglitz fazem eco à recente proposta do governo chines de substituir o dólar como moeda ecorrente internacional, proposta que foi terminantemente rechaçada pelo presidente Barack Obama em sua entrevista coletiva da última terça-feira e pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, após seu depoimento no Congresso.
O economista americano Joseph Stiglitz, vencedor do Premio Nobel de 2001, pediu ontem na sede da ONU em Nova York a substituição do dólar como moeda corrente em transações internacionais e a criação do Conselho de Coordenação Econômica Global para substituir o G20. O novo conselho teria 25 membros, faria parte da ONU, atuaria de forma semelhante ao Conselho de Segurança e nenhum de seus membros teria o poder de veto. O relatório assinado por Stiglitz pede “o fim do domínio que o dólar exerceu sobre a economia global desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, lembrando que a maioria dos bancos centrais tem reservas em dólar e que a moeda americana serve para fixar o preço nos mercados internacionais de materias primas, especialmente o petróleo”. O texto recomenda “a criação de novo sistema de reserva global” e pediu também a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI).
_ O mundo fracassou em criar um sistema que proporcione proteção aos mais vulneráveis, tanto nas economias desenvolvidas quanto nos país em desenvolvimento _ afirmou Stiglitz.
Stiglitz liderou uma comissão de 18 especialistas internacionais para recomendar soluções para a crise financeira mundial e o grupo apresentou ontem para a Assembléia Geral um relatório contendo 21 propostas, entre elas, medidas de regulação do mercado financeiro que limitam o crescimento desmesurado dos bancos e restringem transações com paraísos fiscais. O grupo sugeriu também restringir o risco financeiro assumido pelos bancos, e por consequência o seu nivel de alavancagem. O economista americano ressaltou que a crise atual revelou deficiências fundamentais do sistema financeiro internacional, que o crescimento artificialmente alimentado pela bolha imobiliária havia permitido ocultar.
_ Algo está muito errado com um sistema que necessita que um país rico gaste mais do que tem para que o resto do sistema funcione. A proposta que fazemos é a de que não é mais possóvel que o sistema financeiro mundial dependa de uma única moeda e da forma como ela é administrada. Precisamos de um novo sistema internacional de reservas para agir contra crises e é isto o que propomos _ avaliou Stiglitz.
O relatório recomenda que o novo conselho de coordenação econômica tenha poderes, por exemplo, para fazer avaliações periódicas do desempenho do Banco Mundial e do FMI. As recomendações do grupo liderado por Stiglitz fazem eco à recente proposta do governo chines de substituir o dólar como moeda ecorrente internacional, proposta que foi terminantemente rechaçada pelo presidente Barack Obama em sua entrevista coletiva da última terça-feira e pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, após seu depoimento no Congresso.
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
Chávez defende fim do dólar no comércio de petróleo
Venezuela, Rússia e Irã consideram a mudança.
Alternativa seria a adoção de uma cesta de moedas.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse neste sábado (17) que alguns países, incluindo Venezuela, Rússia e Irã, propuseram que o dólar norte-americano seja substituído no mercado de petróleo.
"Estivemos falando sobre isso na Opep. A Venezuela concorda e há outros países, como Irã e Rússia, que também propuseram essa ideia", disse Chávez a repórteres na cidade boliviana de Cochabamba, onde estava participando de uma cúpula da Alba.
A questão de substituir o dólar por uma cesta de moedas em uma tentativa de estabilizar as receitas tem sido amplamente discutida desde que uma reportagem do jornal Independent disse este mês que países do Golfo Pérsico estão considerando uma mudança.
Venezuela, Rússia e Irã consideram a mudança.
Alternativa seria a adoção de uma cesta de moedas.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse neste sábado (17) que alguns países, incluindo Venezuela, Rússia e Irã, propuseram que o dólar norte-americano seja substituído no mercado de petróleo.
"Estivemos falando sobre isso na Opep. A Venezuela concorda e há outros países, como Irã e Rússia, que também propuseram essa ideia", disse Chávez a repórteres na cidade boliviana de Cochabamba, onde estava participando de uma cúpula da Alba.
A questão de substituir o dólar por uma cesta de moedas em uma tentativa de estabilizar as receitas tem sido amplamente discutida desde que uma reportagem do jornal Independent disse este mês que países do Golfo Pérsico estão considerando uma mudança.
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
The demise of the dollar
In a graphic illustration of the new world order, Arab states have launched secret moves with China, Russia and France to stop using the US currency for oil trading
By Robert Fisk
In the most profound financial change in recent Middle East history, Gulf Arabs are planning – along with China, Russia, Japan and France – to end dollar dealings for oil, moving instead to a basket of currencies including the Japanese yen and Chinese yuan, the euro, gold and a new, unified currency planned for nations in the Gulf Co-operation Council, including Saudi Arabia, Abu Dhabi, Kuwait and Qatar.
Secret meetings have already been held by finance ministers and central bank governors in Russia, China, Japan and Brazil to work on the scheme, which will mean that oil will no longer be priced in dollars.
The plans, confirmed to The Independent by both Gulf Arab and Chinese banking sources in Hong Kong, may help to explain the sudden rise in gold prices, but it also augurs an extraordinary transition from dollar markets within nine years.
In a graphic illustration of the new world order, Arab states have launched secret moves with China, Russia and France to stop using the US currency for oil trading
By Robert Fisk
In the most profound financial change in recent Middle East history, Gulf Arabs are planning – along with China, Russia, Japan and France – to end dollar dealings for oil, moving instead to a basket of currencies including the Japanese yen and Chinese yuan, the euro, gold and a new, unified currency planned for nations in the Gulf Co-operation Council, including Saudi Arabia, Abu Dhabi, Kuwait and Qatar.
Secret meetings have already been held by finance ministers and central bank governors in Russia, China, Japan and Brazil to work on the scheme, which will mean that oil will no longer be priced in dollars.
The plans, confirmed to The Independent by both Gulf Arab and Chinese banking sources in Hong Kong, may help to explain the sudden rise in gold prices, but it also augurs an extraordinary transition from dollar markets within nine years.
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
Para Nobel de Economia, câmbio no Brasil não faz sentido
Professor Paul Krugman diz que há avaliação exagerada no País por parte de investidores internacionais
Ricardo Leopoldo - Agência Estado
SÃO PAULO - O prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, professor da Princeton University nos EUA, afirmou que o atual nível de câmbio do Brasil "é um problema real e, se for mantido no atual patamar - por um prazo duradouro -, pode prejudicar a economia nacional, especialmente gerando efeitos negativos sobre as exportações e o agravamento do déficit das contas correntes". "O patamar atual do câmbio é semelhante ao registrado no início de 2008, quando os preços das commodities estavam muito elevados. Isso não é saudável", ressaltou.
Embora Krugman não tenha defendido de forma peremptória que o governo adote medidas específicas para coibir a valorização do real ante o dólar norte-americano, o intelectual afirmou que dois caminhos poderão ajudar a coibir a apreciação excessiva do câmbio. Um deles é a adoção de impostos sobre capitais que ingressam no País, o que o governo passou a fazer recentemente com a implementação da alíquota de 2% de IOF sobre o ingresso de investimentos estrangeiros em ações e títulos de governo brasileiro.
A outra alternativa, segundo ele, é a compra de reservas cambiais, movimento que deve ser mantido pelo Banco Central (BC) no curto prazo, como manifestou seu presidente, Henrique Meirelles. Em agosto de 2008, a poupança externa atingiu US$ 205 bilhões. Atualmente, o montante está próximo a US$ 237 bilhões.
Krugman ressaltou que o atual fluxo de capitais para o País é "uma bolha", mas não manifestou se ela vai estourar nos próximos meses. Na sua avaliação, o ingresso maciço de recursos no País é fruto de uma avaliação exagerada de investidores internacionais, pois, segundo o acadêmico, "o Brasil não será superpotência amanhã, mas o mercado já precifica isso".
O acadêmico disse ainda que o otimismo excessivo dos investidores em relação ao futuro do Brasil não é tão positivo no curto prazo, pois tende a estimular o ingresso de investimentos e valorizar ainda mais o câmbio. Ele destacou, em tom de brincadeira, que talvez as autoridades do governo não deveriam dizer que a situação do País é bastante favorável, a fim de reduzir a avaliação muito favorável dos investidores sobre a economia brasileira. Krugman afirmou que uma parte de sua poupança está aplicada em títulos do Brasil, mas não soube discriminar quais eram, pois fazem parte de um fundo de investimentos.
http://www.estadao.com.br/noticias/econ ... 5705,0.htm
Professor Paul Krugman diz que há avaliação exagerada no País por parte de investidores internacionais
Ricardo Leopoldo - Agência Estado
SÃO PAULO - O prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, professor da Princeton University nos EUA, afirmou que o atual nível de câmbio do Brasil "é um problema real e, se for mantido no atual patamar - por um prazo duradouro -, pode prejudicar a economia nacional, especialmente gerando efeitos negativos sobre as exportações e o agravamento do déficit das contas correntes". "O patamar atual do câmbio é semelhante ao registrado no início de 2008, quando os preços das commodities estavam muito elevados. Isso não é saudável", ressaltou.
Embora Krugman não tenha defendido de forma peremptória que o governo adote medidas específicas para coibir a valorização do real ante o dólar norte-americano, o intelectual afirmou que dois caminhos poderão ajudar a coibir a apreciação excessiva do câmbio. Um deles é a adoção de impostos sobre capitais que ingressam no País, o que o governo passou a fazer recentemente com a implementação da alíquota de 2% de IOF sobre o ingresso de investimentos estrangeiros em ações e títulos de governo brasileiro.
A outra alternativa, segundo ele, é a compra de reservas cambiais, movimento que deve ser mantido pelo Banco Central (BC) no curto prazo, como manifestou seu presidente, Henrique Meirelles. Em agosto de 2008, a poupança externa atingiu US$ 205 bilhões. Atualmente, o montante está próximo a US$ 237 bilhões.
Krugman ressaltou que o atual fluxo de capitais para o País é "uma bolha", mas não manifestou se ela vai estourar nos próximos meses. Na sua avaliação, o ingresso maciço de recursos no País é fruto de uma avaliação exagerada de investidores internacionais, pois, segundo o acadêmico, "o Brasil não será superpotência amanhã, mas o mercado já precifica isso".
O acadêmico disse ainda que o otimismo excessivo dos investidores em relação ao futuro do Brasil não é tão positivo no curto prazo, pois tende a estimular o ingresso de investimentos e valorizar ainda mais o câmbio. Ele destacou, em tom de brincadeira, que talvez as autoridades do governo não deveriam dizer que a situação do País é bastante favorável, a fim de reduzir a avaliação muito favorável dos investidores sobre a economia brasileira. Krugman afirmou que uma parte de sua poupança está aplicada em títulos do Brasil, mas não soube discriminar quais eram, pois fazem parte de um fundo de investimentos.
http://www.estadao.com.br/noticias/econ ... 5705,0.htm
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
Puxa acho que pus informação demais...assim o caboclo fica com preguiça de ler e vai embora sem postar...
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
Em agosto de 2008, a poupança externa atingiu US$ 205 bilhões. Atualmente, o montante está próximo a US$ 237 bilhões.
Bem se as reservas estão aumentando neste ritmo, a coisa parece que não é o bicho assim, basta que continue crescendo.
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
Dá para postar um monte de coisa, mas estou sem tempo, motivação e tesão. Vou ver aonde vai dar e, se voltar aquele T grandão, quem sabe post alguma coisa ou venho me sentindo a Beyoncé. Mas lá próximo do natal, pois agora meus esforços estão direcionados a outros objetivos muito mais pecaminosos
P. S. onde está o Véio Túlio, Soultrain, P44 para prever o apocalipse?
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- Sterrius
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
A previsão das reservas cambiais brasileiras em 2010 deverá ser de 300milhões de dolares!
Bem que eu gostaria que o Brasil troca-se as reservas cambiais de dolares para euros! Bem mais seguro
Bem que eu gostaria que o Brasil troca-se as reservas cambiais de dolares para euros! Bem mais seguro
- Bourne
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
O euro é tão perigoso quanto o dólar e, pior, não tem um país unificado por trás. Além do mais o comércio e investimento mundial é feito sobretudo em dólares, não dá para trocar por euros, pois não existe oferta para isso. Outro fator é que trocar as moedas de reservas só se muda o demônio a qual serve, mas continua sendo um demônio.
Cesta de moedas para basear a transações internacionais? Não creio sucesso. Os interesses nacionais irão se sobrepor.
A questão central deveria ser o Brasil ter acesso a sua própria moeda. Ou seja, pagar importações, empréstimos e realizar investimentos em reais. Aliás, podendo ser um moeda muito interessante para a América Latina e criar uma área de influência monetária. Por que? Ora, assim reduz a zero a necessidade de manter divisas estrangeiras para honrar seus compromissos, a transforma em uma moeda de reserva desejável e, por fim, reduz a probabilidade de sofrer ataques especulativos. Como se faz isso? Ai que complica
Gostaram da minha pincelada?
Cesta de moedas para basear a transações internacionais? Não creio sucesso. Os interesses nacionais irão se sobrepor.
A questão central deveria ser o Brasil ter acesso a sua própria moeda. Ou seja, pagar importações, empréstimos e realizar investimentos em reais. Aliás, podendo ser um moeda muito interessante para a América Latina e criar uma área de influência monetária. Por que? Ora, assim reduz a zero a necessidade de manter divisas estrangeiras para honrar seus compromissos, a transforma em uma moeda de reserva desejável e, por fim, reduz a probabilidade de sofrer ataques especulativos. Como se faz isso? Ai que complica
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
Justamente por nao ter um país unificado é mais dificil o Euro sofrer interferencias de 1 unico país! isso na verdade é uma proteção a mais! Inclusive a diferença de riqueza dos membros garante que "aventuras" com a moeda não são possiveis pois no final acabam por machucar o bloco como um todo!
O Real nao tem força para substituir as funções do dolar, logo esta descartado! Um dia quem sabe tenhamos força pra escapar do demonio, mas por enquanto nao é opção! Existe planos para uma moeda latino americana, mas enquanto os paises sul americanos não ajeitarem suas economias (E nem confiarem em si proprios, como colombia e venezuela / Chile e Peru) isso não vai funcionar, quanto mais utilizar a mesma para negocios internacionais!
A Transição do Dolar pra Euro nao precisa ser feita da noite pro dia!
O que der pra deixar em relações bi-laterais (Real - Moeda estrangeira X) que se faça! Mas o que nao der que se coloque na "cesta de moedas" mais segura atualmente que é o Euro!
O que nao da é continuar no dolar sabendo que os dias deles estão contados a medio/longo prazo! È uma peteca que o Lula vai chutar pro sucessor, mas terá que ser resolvida!
O Real nao tem força para substituir as funções do dolar, logo esta descartado! Um dia quem sabe tenhamos força pra escapar do demonio, mas por enquanto nao é opção! Existe planos para uma moeda latino americana, mas enquanto os paises sul americanos não ajeitarem suas economias (E nem confiarem em si proprios, como colombia e venezuela / Chile e Peru) isso não vai funcionar, quanto mais utilizar a mesma para negocios internacionais!
A Transição do Dolar pra Euro nao precisa ser feita da noite pro dia!
O que der pra deixar em relações bi-laterais (Real - Moeda estrangeira X) que se faça! Mas o que nao der que se coloque na "cesta de moedas" mais segura atualmente que é o Euro!
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- mandalacabla
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Re: O fim do Dollar e da Hegemonia U.S.A.
No maior calor da crise financeira (algo normal no capitalismo) os capitais procuraram os titulos da dividida americana como forma de proteção, não devemos nos iludir, enquanto isto ocorrer (ou seja, os donos do dinheiro olharem para os titulos americanos como refugio seguro) não vejo uma mudança grande da importancia do dolar.
Aula de massinha.