Os últimos Búfalos da FAB
Escrito por Hélio Higuchi & Paulo Roberto Bastos Jr
Ter, 25 de Março de 2008 09:05
A comemoração do 37º aniversário de criação da Base Aérea de Manaus (BAMN), da Força Aérea Brasileira (FAB), no dia 29 de abril de 2007, teve como destaque a incorporação oficial dos primeiros aviões de transporte militar EADS/CASA C-295, nomeados na FAB como C-105A Amazonas, ao 1º Esquadrão do 9º Grupo de Aviação (1º/9º GAV). Eles vieram para substituir os veneráveis De Havilland Canada DHC-5A Buffalo (C-115 Búfalo na FAB), que até aquela data era o principal vetor do esquadrão.
O sobrevôo em formação de ambas as aeronaves representava o passado e o futuro, despertando a nostalgia com estes veteranos, pois era claro o clima de despedida com a sua iminente desativação, prevista para setembro de 2007.
Finalmente os Búfalos estariam chegando ao limite de sua vida útil? Por incrível que pareça a resposta parece ser não. Suas células estão com apenas 11.500-12.000 horas de vôo, o que garante que ainda podem voar por um bom tempo (pelo menos mais 5000 horas). Todavia, desde o início da década de 90, quando se iniciaram os planos para substituí-lo, cessaram os investimentos para mantê-los atualizados e, ao contrário do que se pensa, o desestímulo a atualização não comprometeu sua manutenção. A verdade é que, a partir daquela data, não se adquiriu mais nenhum dos diversos kits de modernização de seus componentes que surgiram no mercado, o que acabou tornando a sua operação onerosa e não compensadora.
Como conseqüência os Búfalos ficaram bem mais caros de se operar que os novos Amazonas , fator decisivo para que a FAB decidisse pela sua desativação, mesmo sem que os novos vetores possuam as mesmas capacidades STOL ( Short Take Off and Landing / Decolagem e Pouso Curtos ), inclusive já destinando o Búfalo FAB2371 para o Museu Aeroespacial (MUSAL) . Este Búfalo em particular foi recebido pela FAB em 17 de dezembro de 1970 e operou regularmente até dezembro de 2006. Ele chegou voando ao MUSAL, no dia 20/12 do mesmo ano, e foi oficialmente incorporado ao acervo do museu em 18 de abril de 2007.
Porém, contrapondo os planos iniciais , a FAB decidiu manter os quatro Búfalos restantes operacionais até pelo menos o final de 2008, e o PAMA-SP, que efetua a sua manutenção e retrofit , recebeu instruções para conservá-lo até aquela data em condições operacionais plenas, um indício de que se planeja vender estes aviões a outro país após sua desativação.
Dos 24 Búfalos adquiridos em dois lotes, a partir de 1968, restam no inventário da FAB apenas cinco: os FAB2351, 2353, 2360, 2365 e 2367. Destes o FAB2367 encontra-se estacionado em Manaus, necessitando uma revisão de maior monta, acarretando na necessidade de ser encaminhado até o Parque de Manutenção de São Paulo (PAMA-SP). Por não ser economicamente compensador, foi decidida pela sua desativação, tendo sido transformando num monumento na Base Aérea de Manaus.
Não se sabe o real motivo de prolongar sua carreira, pois os Amazonas estão sendo entregues pelo fabricante dentro do cronograma, com oito deles recebidos até o final de outubro de 2007, dos doze encomendados no total (os outros quatro chegarão ao longo de 2008). Mas o fato é que em 2008 o C-115 Búfalo irá comemorar a impressionante marca de 40 anos em serviço ininterrupto na FAB.
O PAMA-SP também será o responsável pela manutenção dos C-105A Amazonas e ficará responsável pelas células ( airframes ), hélices, baterias, rodas e freios. Obviamente, por serem novos, nenhum deles ainda foi encaminhado, entretanto os técnicos lá baseados já foram devidamente treinados e equipados com todo instrumental necessário caso haja necessidade.
(...)
A história do Búfalo na FAB funde-se indelevelmente com a realidade diária da imensidão da Amazônia. Com número reduzido de pistas capazes de receber aviões de grande porte e incalculáveis distâncias impossíveis de serem percorridas por terra ou mesmo de barco, a floresta amazônica é completamente dependente do transporte pelo ar. E o C-115, desde o início, foi peça chave para a vida da população da selva. Nesses quase 40 anos de operação, ele foi fundamental no apoio às três Forças Armadas e à diversas agências governamentais que atuam na região, atuando em missões de logística, transporte de tropas, reabastecimento de destacamentos do Exército, Marinha e Aeronáutica, abastecimento de aldeias indígenas e pequenos povoados, evacuação aeromédica e diversas outras atividades que só podiam ser executadas em função da capacidade do avião de operar nas piores e menores pistas imagináveis, com segurança e eficiência. Deve-se salientar também, como prova de sua confiabilidade, que, nos acidentes ocorridos com o modelo durante sua vida operacional até aqui, não houve a perda de nenhuma vida.
A substituição dos Búfalos pelo CASA 295 encerra um capítulo brilhante na história da Força Aérea, que agora trabalha para alcançar a modernização da frota sem detrimento das missões cumpridas pelos vetores que saem de cena.
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