30/10/2009
Obama precisa ter mais liderança na questão do Afeganistão
O Afeganistão e o Paquistão estão sendo sacudidos por ataques e o Taleban está ditando o curso da guerra. O presidente dos EUA, Barack Obama, tem mantido silêncio sobre a situação por tempo demais, e os países europeus como Alemanha e França estão corretos em exigir maior liderança norte-americana na questão do Afeganistão.
A notícia mais importante da recente reunião de ministros de defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi que não houve novidade.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, salientou os perigos do fracasso por parte da aliança militar ocidental no Afeganistão. O esforço de guerra já está em falta de várias centenas de milhões de euros. Ainda assim, os custos de derrota serão muito mais altos que os custos da missão, disse Rasmussen na reunião de cúpula da Otan em Bratislava, Eslováquia, na semana passada.
Suas advertências caíram em ouvidos surdos, com apenas o Reino Unido concordando a um ligeiro aumento de tropas. Todos os outros ministros de defesa, inclusive o ministro de defesa alemão, é claro, mantiveram-se polidamente afastados quando chegou a hora de fazer compromissos.
Por uma vez, essa hesitação não pode ser atribuída à ampla fadiga de guerra na Europa. A missão no Afeganistão é vista como questão tóxica em todas as nações ocidentais e os governos que forneceram soldados sofreram fortes críticas em casa. O que os aliados dos EUA na Otan agora estão achando ainda mais irritante é o silêncio do presidente Barack Obama sobre a questão.
O mundo vem esperando palavras claras da Casa Branca há meses. Obama colocou analistas do governo e militares para estudarem a situação militar e política na região do Hindu Kush desde o início de janeiro. Ele nomeou Richard Holbrooke, provavelmente o mais eficaz diplomata americano em situações de crise, como enviado especial na região do "AfPak" (Afeganistão/Paquistão), substituiu generais e empregou mais soldados. As respostas as perguntas que Obama fez aos seus especialistas após assumir o cargo estão em sua mesa há um longo tempo. Mas as conclusões variam. Obama terá que tomar sua própria decisão, e esta vai formatar seu destino político.
De acordo com Carl Von Clausewitz, um país só ganha uma guerra quando impõe sua vontade sobre o inimigo. Mesmo sem estudar os escritos do historiador militar prussiano, obrigatórios nas academias militares como West Point dos EUA, os generais americanos sabem como estão longe desse objetivo no Afeganistão e Paquistão.
O Taleban controla a iniciativa militar
Em vez disso, os ataques de quarta-feira mostraram como as coisas vêm progredindo na direção oposta há algum tempo. O Taleban está no controle da iniciativa militar e está cada vez mais ditando o curso da guerra. Agora é até questionável se Obama conseguirá reconquistar a iniciativa política no Hindu Kush. Apesar de o presidente afegão Hamid Karzai ter concordado com um segundo turno, após considerável pressão dos EUA, a mácula das fraudes eleitorais permanece e não se pode descartar a possibilidade das irregularidades serem repetidas no segundo turno.
Isso também explica a contenção em Bratislava. Os governos europeus sempre justificaram a missão afegã em casa com o argumento de que levaria à democratização na região. Até agora esse conceito não se expandiu. Mesmo que as tropas dos EUA estejam tirando o Taleban de províncias específicas - estratégia adotada seriamente somente após esta primavera - o governo de Karzai não quer ou não consegue desenvolver instituições e fornecer segurança nessas províncias.
Sob essas circunstâncias, os militares americanos podem fazer pouco além de criar um vácuo político. Clausewitz ficaria horrorizado, como estão algumas autoridades americanas hoje. "Tenho dúvidas e reservas sobre nossa atual estratégia e nossos planos para o futuro", disse o capitão Matthew Hoh do Marine Corps recentemente. Como parte da equipe de Holbrooke, Hoh foi responsável por coordenar a reconstrução civil na perigosa província Zabul, mas deixou o cargo há pouco tempo. Sua resignação, disse ele, não é pela forma que a guerra está sendo travada atualmente, mas simplesmente porque não sabe mais "por que e com que fim" a guerra está sendo travada no Afeganistão.
Obama perdeu a coragem?
É uma notícia alarmante quando até ex-marines como Hoh, homens com experiência de combate no Iraque, não acreditam mais em sua missão porque os políticos não conseguem responder as questões. Emprestando de Clausewitz: quem estiver impondo sua vontade em Washington será crítico para o futuro do Afeganistão. O público em geral quer que a Casa Branca e o Pentágono empreguem mais tropas? O Partido Democrata, que quer cada vez menos associação com a guerra pouco popular do Afeganistão? Ou o vice-presidente, que prefere travar a guerra contra o terrorismo com sondas em vez de soldados?
É ponto para Obama o fato de ter corajosamente pedido uma avaliação da situação no Afeganistão após sete anos de presença norte-americana. Ainda assim, como escreveu Clausewitz, "coragem não é simplesmente um contrapeso ao perigo, a ser usada para neutralizar seus efeitos: é uma qualidade própria", e o governo Obama atualmente dá a impressão de ter sido abandonado pela coragem.
É importante que o comandante da nação agora dê clareza ao curso que os esforços tomarão. É óbvio que as coisas não podem progredir da mesma forma que sob o ex-presidente George W. Bush. No final da sua presidência, Bush nem tinha mais uma estratégia para o Afeganistão e, durante uma fase decisiva na missão, chegou ao ponto de transferir recursos militares do Afeganistão para a controversa guerra no Iraque.
A Otan espera que Obama tome uma decisão, que seja uma retirada ou um aumento de tropas. Até agora, ninguém sabe qual direção ele pretende tomar. Mesmo pessoas experientes em Washington encontraram um muro silêncio na Casa Branca, levando os europeus a questionarem se Washington ainda acredita nesta guerra.
A Europa espera liderança
O que os militares americanos querem está claro. O general Stanley McChrystal, comandante americano no Afeganistão, pediu 40.000 soldados a mais. Ele também não faz menção a uma vitória acelerada.
Até agora, Obama só deixou claro que não pretende retirar tropas e que não decidiu se enviará mais soldados. Mas isso parece mais preguiça do que uma declaração clara de intenção e levou à especulação em Washington que Obama pode lavar suas mãos na questão, anunciando um aumento moderado de soldados e iniciativas diplomáticas com um novo embrulho.
Contudo, isso é precisamente o que não querem os cidadãos americanos. Alguns acreditam que a guerra não faz mais sentido e favorecem uma retirada. Outros querem ver os EUA finalmente enfrentarem a questão, custe que custar.
O silêncio do Obama está em contraste com a retórica apaixonada que o levou para a Casa Branca. Ele arrisca desperdiçar a maior vantagem de seu tempo no cargo: a séria tentativa de fazer uma avaliação honesta do legado de seu predecessor. Foi também uma grande oportunidade de reestruturar a aliança atlântica. Mas por que países como Alemanha e França devem acreditar em promessas de um presidente que nem está enviando uma mensagem clara em casa, apesar de ter a maioria nas duas casas do Congresso?
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/ ... u1366.jhtm