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Mensagem
por Marino » Sáb Set 12, 2009 12:41 pm
Globo:
Aeronáutica adiará relatório técnico
Empresas da França, da Suécia e dos EUA têm até dia 21 para apresentar novas propostas
Jailton de Carvalho
BRASÍLIA. Com a decisão do presidente Lula de abrir negociações preferenciais com o governo francês para compra de 36 caças, o Comando da Aeronáutica deverá atrasar em pelo menos um mês a entrega do relatório técnico sobre as propostas da empresa francesa Dassault e das demais concorrentes para a venda do avião ao Brasil: a americana Boeing e a sueca Saab. Em nota divulgada ontem, a Aeronáutica informa que as três empresas têm até o próximo dia 21 para apresentar formalmente novas propostas à chamada Comissão Geral do Projeto F-X2, da FAB.
Antes do encontro de Lula com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, o plano da Aeronáutica era de apresentar o relatório, inclusive com o ranking técnico das propostas, até o fim deste mês. Mas o prazo foi prorrogado: "A expectativa da FAB é concluir o processo de análise técnica até o fim de outubro, para que as informações sejam entregues ao ministro da Defesa, que as conduzirá ao presidente da República. Ao presidente caberá fazer a análise política e estratégica e tomar a decisão final", diz o texto divulgado ontem, a pedido do comandante da Força, Juniti Saito, e do ministro da Defesa, Nelson Jobim.
A partir do relatório, Lula decidirá se mantém a preferência pela compra dos caças Rafale, da Dassault. No encontro de segunda, Sarkozy prometeu redução de preços e transferência irrestrita de tecnologia. O governo considera que a proposta dificilmente será superada, mas teve que abrir prazo para que as outras empresas também façam novas ofertas. Caso contrário, poderia comprometer a lisura do processo. A Boeing e a Saab acham que ainda têm chances.
As duas empresas prometeram refazer as ofertas originais. Ontem, em resposta a Jobim, a embaixada dos Estados Unidos avançou um pouco mais ao informar que o governo americano autorizou a transferência irrestrita de tecnologia do F-18, caça da Boeing. Os EUA permitirão até a fabricação do avião no Brasil. Os dois itens não estavam explicitados na oferta original. Executivos da Boeing viajarão dos EUA para São Paulo, terça-feira, para reafirmar que a proposta da empresa é melhor que a da Dassault.
"Nós temos a melhor proposta. Nós oferecemos tecnologia avançada, de baixo risco, suporte logístico superior e preços consideravelmente mais baixos que o Rafale. Nós também oferecemos a coprodução do Super Hornet no Brasil com transferência total de tecnologia", disse a Boeing em nota, ontem. A empresa sustenta que pode melhorar ainda mais sua oferta se a concorrência permanecer aberta.
O processo de escolha dos caças já tem 26 mil páginas. A comissão de licitação está analisando cinco itens: transferência de tecnologia, domínio do sistema de armas pelo Brasil, acordos de compensação, participação da indústria nacional na produção e absorção dos novos conhecimentos. "Os participantes do Projeto F-X2 serão avaliados por critério de pontuação, conforme os quesitos elaborados, como, por exemplo, o nível de transferência tecnológica oferecido", diz a nota da FAB. O documento será enviado a Lula.
No início da semana, surgiram rumores de que o Rafale, o preferido do governo até o momento, teria ficado em terceiro lugar no ranking técnico. Mas a Aeronáutica disse que não pode confirmar a informação até a conclusão do relatório. Na nota, a FAB defende a transferência de tecnologia como fator decisivo nos processos de compra, e cita como exemplo o acordo feito com a Itália nos anos 80 para a produção dos caças AMX: "O resultado da parceria com os italianos, além do desenvolvimento de um caça tático de ataque estratégico, empregado inclusive em combate (Kosovo), foi a capacitação da indústria brasileira. A linha de jatos 145 e 190 da Embraer decorre da tecnologia absorvida nesse período".
Caças: Lula diz que só ele decide
Apesar de FAB preparar relatório, presidente diz ainda que resolverá 'quando quiser'
Letícia Lins
Depois de ter manifestado clara preferência pelos Rafale franceses durante encontro com o presidente Nicolas Sarkozy no 7 de Setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a decisão sobre a compra dos 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) é somente dele. Lula reconheceu que a FAB tem o conhecimento técnico para fazer a avaliação entre os três modelos em oferta - o Rafale francês, o F-18 americano e o Saab Gripen sueco -, mas disse que a decisão é política e estratégica e exclusiva do presidente.
- Fico vendo a imprensa e fico, às vezes, achando engraçadas as coisas como são colocadas: quem vai escolher, se é fulano, se é beltrano. Ora: a FAB tem o conhecimento tecnológico para fazer a avaliação, ela tem e vai fazer, e preciso que faça. Agora, a decisão é política e estratégica, e essa é do presidente da República e de ninguém mais - disse , durante visita a Ipojuca, em Pernambuco.
- Por enquanto, nós estamos na fase dos palpites. Quem quiser dar palpite, que dê. Vocês podem dar palpite, outras pessoas podem dar palpite. Mas vai ter um dia em que a criança vai ter que nascer, e aí... Por enquanto, é isso que nós temos. E temos muito tempo para discutir, porque não tenho obrigação de decidir amanhã, depois de amanhã, no ano que vem. Eu decido quando eu quiser, é isso.
Durante a visita de Sarkozy ao Brasil, Lula anunciou ter aberto negociação para a compra de 36 caças Rafale da empresa francesa Dassault, embora o processo de escolha, conduzido pela FAB, ainda esteja em andamento:
- Uma coisa está clara - disse ontem Lula. - Queremos transferência de tecnologia e queremos construir esses aviões no Brasil. O presidente Sarkozy, até agora, foi o único que disse textualmente para mim que quer transferir não apenas a tecnologia para o Brasil, mas quer fazer o avião aqui, para que o Brasil tenha disponibilidade de vender para toda a América Latina. Isso é a única coisa concreta que tenho.
Sem se referir diretamente à informação do governo dos Estados Unidos de que também está disposto a transferir tecnologia dos caças para o Brasil, Lula comentou:
- Se alguém quiser ofertar, que oferte. Estamos conversando mais. Negociação é assim.
O presidente deixou clara sua preferência pelo caça francês, embora admita que as negociações não estão encerradas e vão se estender à empresa fabricante do Rafale:
- Estamos estudando tudo, porque é muito dinheiro em jogo. O Sarkozy ofereceu possibilidades. Vamos ver agora com a indústria francesa Dassault se ela está disposta a flexibilizar a proposta de Sarkozy - disse Lula.
Ele lembrou que, ao assumir a Presidência pela primeira vez, chegou a suspender as compras de caças porque, na época, o país não estava bem financeiramente:
- Suspendi a discussão porque encontrei o país em miséria absoluta e eu não podia comprar avião com o povo passando fome.
Lula inaugurou um cais no porto de Suape, participou de cerimônia no estaleiro Atlântico Sul, o maior da América Latina, e, em seguida, acionou simbolicamente o moinho da Bongi. À tarde, inaugurou duas escolas federais, uma em Ipojuca e outra, por teleconferência, em Floresta. À noite, participou de solenidade no Centro Regional de Ciências Nucleares, em Recife.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco