22/08/2009 - 21h39
Uribe fala em ampliar acordo militar a outros países
da Folha Online
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, voltou a dizer neste sábado que o controverso acordo para permitir a presença de tropas americanas em bases militares na Colômbia pode ser ampliado para outros países. Já Nicolás Maduro, chanceler da Venezuela, país que está à frente da oposição ao acordo, disse que o governo de Hugo Chávez aproveitará a cúpula da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), na próxima semana, para pedir um "processo de reversão" do pacto Colômbia-EUA.
"Neste acordo contra o narcotráfico e o terrorismo, estamos dispostos a atuar com os Estados Unidos e com todos os países que nos acompanhem", indicou Uribe, em um discurso transmitido na rádio pública colombiana.
Bogotá já havia assinalado sua disposição para negociar acordos de cooperação militar com países como Brasil e Peru.
Em uma conferência empresarial na cidade de Medellín, na semana passada, Uribe disse que gostaria de aumentar os laços militares com o Brasil e outros países da América do Sul.
"Nós gostaríamos que o acordo com os Estados Unidos fosse projetado em todo o continente", disse Uribe na ocasião. "Nós gostaríamos de tê-lo com o Brasil [...] Não vejo esse pacto com os Estados Unidos como incompatível com ter pactos com outros países também."
A assinatura do acordo, que permite que o exército americano use bases militares em território colombiano por dez anos, provocou polêmica e será discutida na próxima semana em uma cúpula extraordinária da Unasul em Bariloche, na Argentina.
Em março, o então ministro da Defesa colombiano Juan Manuel Santos visitou Brasil e Peru para afinar os termos de eventuais acordos de cooperação com o objetivo de reforçar a segurança nas fronteiras contra narcotraficantes e terroristas.
Entre estes acordos, a Colômbia estuda a compra de aviões militares e armas do Brasil, que se transformou em um dos principais fornecedores de armamentos da Colômbia.
Mas as manifestações de resistência continuaram neste sábado.
"Esperamos que da cúpula de Bariloche surjam importantes conclusões que permitam garantir ao continente sul-americano que as bases de paz se multipliquem, e que as bases militares dos Estados Unidos iniciem um processo de reversão", disse Maduro.
Para o ministro, a declaração do presidente colombiano, defendendo uma melhora das relações com a Venezuela e o Equador corresponde a um ato de "absoluta hipocrisia", e que para que isto acontecesse a Colômbia deveria abrir mão de sua "política belicista".
O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou nesta sábado, durante visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país, que governos ou líderes que permitem a presença de militares estrangeiros na América Latina "são traidores da libertação dos povos da região".
Polêmica
A expansão da presença militar americana na Colômbia tem levantado a crítica virulenta do Equador e da Venezuela e preocupado até os governos mais moderados da América do Sul.
Se aprovado, o acordo permitirá aos EUA manter 1.400 pessoas, entre militares e civis, em bases na Colômbia, pelos próximos dez anos. Os dois aliados afirmam que o acordo não é novo, mas apenas uma extensão do acordo de combate ao narcotráfico e às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) chamado de Plano Colômbia.
O presidente da Venezuela já chegou a dizer que se sente "na mira" das bases e, no último dia 10, na cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), disse crer que a presença militar dos EUA na Colômbia "pode provocar uma guerra na América do Sul". "Cumpro com minha obrigação moral de alertar: ventos de guerra começam a soprar", disse.
O presidente da Colômbia preferiu não comparecer à reunião da Unasul no Equador --na qual o presidente equatoriano, seu desafeto, assumiu o comando da união--, preferindo fazer um giro de rápidas visitas aos chefes de Estado dos países da América do Sul para tranquilizá-los sobre o acordo militar --a Venezuela e o Equador não foram incluídos no roteiro.
Mas Uribe anunciou que participará da cúpula extraordinária Unasul prevista para o próximo dia 28 de agosto, em Bariloche, para esclarecer o acordo.
Nesta sexta-feira, Lula conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o convidou para que participasse de uma reunião da Unasul, com o objetivo de dar garantias aos sul-americanos sobre a crescente atuação militar americana na Colômbia.
Horas depois, Obama divulgou nota afirmando que quer "trabalhar em uma parceria construtiva com o Brasil", porém disse que encontraria o colega brasileiro pela próxima vez na reunião do G20 que será em Pittsburgh (EUA) nos próximos dias 24 e 25 de setembro, indicando que recusara o convite para a reunião da Unasul.
Em entrevista ao jornal boliviano "La Razón", nesta sexta, Lula disse que os líderes da América do Sul precisam encontrar respostas conjuntas e coordenadas aos desafios de segurança na região.
"Precisamos abandonar o velho hábito de esperar respostas de fora ou simplesmente fingir que os problemas não existem", afirmou o presidente brasileiro.
Assim como fizera Lula mais cedo, a ministra de Defesa argentina, Nilda Garré, disse nesta sexta-feira que EUA e Colômbia deveriam garantir que não haveria intervenções das Forças Armadas americanas na região.
A ministra classificou como "inquietantes" as informações segundo as quais "haveria aviões americanos que teriam uma autonomia de voo muito significativa, ao extremo que chegariam até a metade do território argentino", sem ter que recarregar seu combustível.
O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, general Jim Jones, afirmou há duas semanas que os aviões precisam ser capazes de realizar voos de longas distâncias somente por causa da distância entre os EUA e a Colômbia. "Não há mágica, não há segredos sob a mesa", disse.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mund ... 3510.shtml