Submarinos negociados pelo Brasil com a França equivalem a cerca de dois anos de Bolsa Família
Publicada em 14/08/2009 às 23h43m
O Gobo
RIO - Desfeito o mistério que vinha sendo mantido pelo próprio Ministério da Defesa, desde fins do ano passado, sobre o preço que pretende pagar por quatro submarinos convencionais (diesel-elétricos) Skorpène, da estatal francesa DCNS, mais um casco que - daqui a 20 anos - viria a receber um reator nuclear desenvolvido pelo Brasil. Nota publicada no Diário Oficial da União (DO), na última quarta-feira, revela que cada embarcação custará um bilhão de euros (ou cerca de R$ 2,7 bilhões), pouco mais de duas vezes mais o valor da oferta feita anteriormente por uma empresa da Alemanha. É o que mostra reportagem de José Meirelles Passos na edição deste sábado em O GLOBO.
De acordo com a nota assinada por Alexandre Meira da Rosa, secretário-executivo da Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex), o pacote oferecido pelo presidente Nicolas Sarkozy custará 6,8 bilhões de euros - cerca de R$ 19 bilhões ou o equivalente a cerca de dois anos do programa Bolsa Família. A compra terá de ser aprovada pelo Congresso Nacional.
Daquele total, 1,8 bilhão de euros representa o custo da construção de um estaleiro e de uma base naval no litoral fluminense exigida pelo governo francês. Os restantes cinco bilhões de euros pagam as embarcações. Tratou-se de uma "operação casada" apresentada pela França: para levar os submarinos, o Brasil teria também de aceitar aquelas duas obras.
Na prática, a escolha dos Skorpène significou uma repentina mudança de rumo do governo brasileiro, uma vez que o Brasil já vinha produzindo submarinos - no Arsenal da Marinha, no Rio de Janeiro - em parceria com a empresa alemã HDW. O primeiro deles foi feito na Alemanha. Outros quatro, no Brasil.
Curiosamente, aquela mesma firma apresentara, em outubro de 2007, uma proposta mais barata que a francesa: fabricar mais cinco submarinos no Brasil, além de modernizar os cinco já existentes, por um total de 2,1 bilhões de euros, sem a necessidade de se construir um novo estaleiro.
O pacote previa que apenas 53 milhões de euros fossem utilizados para expandir o estaleiro do Arsenal de Marinha.
A escolha surpreendeu inclusive a própria Marinha, que, no seu Boletim de Ordens e Notícias, número 806, de dezembro de 2006, assinado pelo então comandante daquela força, almirante Roberto de Guimarães Carvalho, se declarava "satisfeita com o desempenho dos atuais submarinos", e com "as indiscutíveis vantagens decorrentes da manutenção de uma linha logística já existente, tanto na parte relativa ao material (construção e manutenção), como na concernente à formação do nosso pessoal".
-------------
Golpe baixo!!