Meu pitaco sobre a matéria do Igor Gielow na FSP: Começo assim, gostei da essência, não vi erros grosseiros, além disso o autor foi muito cuidadoso nas palavras, mas "ousou" fazer o jogo de terceiros. Se é lobby ou não, não me interessa, problema da banda de lá, só acho que ele ouviu pessoas erradas, provavelmente pessoas que são representantes de uma das partes interessadas (o que também é ruim). No geral o artigo é bem interessante, promove o debate, erra muito menos do que vemos por aí. Assim sendo, meus cumprimentos formais ao Igor.
Vou comentar pontualmente os fragmentos do texto do Igor, citando-o.
O negócio, que pode custar entre R$ 4 bilhões e mais que o dobro disso, é um dos mais vistosos no programa de reequipamento militar do país -estimado em mais de R$ 30 bilhões a serem financiados por cerca de dez anos. Em termos comparativos, as propaladas compras do venezuelano Hugo Chávez na Rússia não passaram ainda dos R$ 8 bilhões.
Vejam, "pode" e não "vai" custar. Ele está correto e no final deste parágrafo ele aponta algo sutil, mas expressivo, o fato que nossas compras militares serão muito maiores do que a da Venezuela. Este ponto toca sutilmente na parte sensível do tema compra militar, sugere haver uma preocupação real da parte dos políticos com a questão de segurança Nacional, mas também não ouso entrar nesta seara (agora).
Se o quesito da decisão for apenas preço, o favorito de Jobim na disputa, o francês Dassault Rafale, terá problemas. Segundo a Folha apurou, a oferta francesa foi significativamente reduzida nas discussões finais, mas o avião manteve sua fama de caro -custando mais do que o dobro do que o sueco Gripen NG (da Saab).
Aqui o Igor traz uma informação interessante, que o valor do Rafale abaixo sensivelmente, até agora isso não havia sido dito na mídia aberta. A parte final é óbvia, não cabe questionamentos, ou seja, mesmo o Rafale tendo seu custo reduzido significativamente (palavras dele) ainda não foi suficiente para combater o valor do Gripen NG, que pode ser caro, mas dificilmente superior ao Rafale e F-18 (não há o que se discutir aqui sobre tal coisa). Em momento algum ele mentiu ou sugeriu lobby em favor de um dos candidatos (até esta parte).
Preços são difíceis de estabelecer na aviação militar. Tudo depende do pacote de armamentos, logística e suporte por ao menos cinco anos. A estimativa de envolvidos no processo é que o Rafale tenha saído unitariamente por algo em torno de R$ 263 milhões. O Gripen, cerca de R$ 132 milhões, e americano F-18 Super Hornet (Boeing), R$ 188 milhões.
Como são 36 aviões para entrega a partir de 2014, o custo superaria os R$ 10 bilhões no caso do Rafale. Mas não é só dinheiro que está em jogo.
Percebam o zelo nas palavras, ele começa com uma frase que alerta para o tema que vai abordar, diz claramente que não se pode acreditar "no que virá a seguir", tanto que a próxima frase começa com a palavra "estimativa". Vejam a última frase (destacada), ele mesmo toca no importante fato de que o jogo não se restringe ao valor em si, mas que o "custo" real mora ao lado da política e geo-política, mas evitou entrar (sabiamente) nesta seara, pois poderia "sugerir" politicagem e não Política de Estado, até porque houve visitas recentes nas casas dos interessados.
Contra a parceria, pesam duas coisas. Primeiro, o país se torna dependente do outro. Segundo, os franceses não têm boa fama na hora de transferir tecnologia: a experiência francesa como acionista da Embraer, no início da década, é considerada um fracasso, e a Índia reclama do processo de integração dos submarinos que comprou da França.
Aqui o Igor não foi completo, cutucou onça sem se explicar... Dizer que os franceses não têm boa fama na hora de transferir tecnologias, eu até aceito, mas o que ele fez foi desmentir o que vem sendo dito durante vários meses pelo ministro NJ. Assim sendo, ele deveria, no mínimo, apresentar referências/provas contundentes e não apenas citar o que chamou de fracasso na experiência dos mesmos com a Embraer. Disse, mas não explicou, aqui sim passou a idéia de crítica pesada, de lobby mesmo. Falar algo tão sério, desmentir um ministro de Estado e não se explicar é no mínimo leviano. Mas deixo claro, por ser ele (o Igor Gielow) que tratarei como um descuido, um tropeço, apenas isso, até porque acontece mesmo.
Contra o Gripen, pesa o fato de ele ser um avião mais leve, monomotor, e de ser um modelo inexistente -o NG é uma variante de demonstração sobre duas gerações anteriores do caça. Ter uma turbina o faz mais barato de operar, contudo, e os motores atuais são potentes o suficiente para as necessidades dos militares.
Nesta parte o autor foi fortemente influenciado por alguém, ou fez lobby de forma ingênua (usado mesmo!). Não fica bem para um não-especialista dizer o "suficiente para as necessidades dos militares". Ou ele ouviu isso de alguém ou fez o jogo da SAAB, pegou mal toda vida para quem deveria apenas levar a notícia, mas...
Mas piloto de caça gosta de avião maior e mais potente. Assim, além do também biturbina Rafale, o F-18 americano entra como produto tentador para a FAB. O preço ofertado, devido à grande escala industrial do avião (há mais de 350 voando), o tornou uma surpresa na competição. Só que pesa contra ele seu país de origem: os militares brasileiros temem o risco de vetos futuros à transferência de tecnologia e consideram o F-18 um produto fechado, do qual aprenderiam pouco.
Aqui ele começa tentando consertar o estrago anterior, quando diz que "piloto" gosta de avião maior e mais potente (outra gafe, ele não é piloto, ou ouviu de alguém de dentro da FAB ou...). E termina claramente fazendo média com os suecos, pois criticou os dois outros concorrentes, principalmente o caça americano (grande surpresa por quê? O vetor não prestava no início e agora é bom? E como falar que o F-18 é um produto fechado e não apontar as várias entrevistas dos representantes da Boeing dizendo o contrário? No mínimo deveria dizer que os representantes do caça alegam o contrário e que só entrou na short list porque fez mais do que se imaginava, mais até do que diziam fazer os russos.)
A FAB não deverá reprovar liminarmente nenhum dos competidores. Irá apresentar em seu relatório os pontos pró e contra de cada um deles e, talvez, fazer uma classificação por pontos. Mas não deverá forçar uma solução, segundo a Folha ouviu de militares e de pessoas envolvidas no processo nas últimas semanas.
Claramente especulou, até porque ele ainda não conseguiu compreender a trama do processo, se pensasse mais, se ouvisse menos as partes interessadas, concluiria rapidamente.
Rumo à aposentadoria, o comandante Juniti Saito quer pôr fim à novela que começou em 2001, quando o F-X foi lançado, para ser suspenso em 2003 e cancelado em 2005.
Vetar o Rafale, hipoteticamente, colocaria Jobim numa situação difícil e estimularia mais protelação na disputa. Se entrar em 2010, o negócio não sai no governo Lula. Isso significa que os franceses já ganharam? Não, uma vez que tudo dependerá das colocações da FAB em seu relatório.
Em momento algum o Igor disse que o Rafale seria vetado, o texto é claro, diz que se trata de uma hipótese. E termina dizendo que os franceses ainda não levaram nada (sei...rsrs) e que a decisão será da FAB (sei... rsrsrs), mas faz uma bela de uma m*erd* ao sugerir que a única forma do Rafale não vencer o FX-2 é se for vetado pelo Saito, hipótese esta descartada por ele mesmo (primeiro parágrafo na citação acima).
Abraços cordiais a todos, meus cumprimentos ao Igor!
Orestes