Militares retiram presidente do poder e ocupam as ruas da capital de Honduras
colaboração para a Folha Online
Atualizado às 13h45.
Os militares tomaram as ruas da capital Tegucigalpa poucas horas depois que o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi detido pelas Forças Armadas na manhã deste domingo (28). Carros blindados e tanques saíram às ruas e aviões sobrevoam a cidade.
Zelaya confirmou ter sido levado para a Costa Rica. Também afirmou ter sido vítima de um sequestro brutal por parte de um grupo de militares de seu país e que não iria reconhecer nenhuma tentativa de nomearem um substituto após a sua detenção.
Um simpatizante do presidente, cuja identidade não foi revelada, informou à rede de televisão CNN em espanhol que se trata de um golpe de Estado e que estão manipulando o Congresso Nacional. O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, convocou para este domingo uma reunião de urgência para analisar a crise em Honduras e "defender a estabilidade democrática" nesse país.
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Soldados ocupam as ruas de Tegucigalpa, capital de Honduras; presidente foi levado à Costa Rica, informou uma fonte à CNN
A chanceler de Honduras, Patricia Rodas, pediu apoio da comunidade internacional e chamou o povo hondurenho à "resistência cívica" frente ao "sequestro" do presidente do país. As rádios hondurenhas pedem que a população fique em casa.
A UE (União Europeia) condenou o aparente golpe militar em Honduras contra Zelaya, por meio do ministro de Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel Moratinos.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também condenou o que chamou de "golpe de estado troglodita" contra seu colega de Honduras e alertou que "chegou a hora do povo" e dos movimentos sociais deste país da América Central. Chávez pediu ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, "que se pronuncie", já que, disse, "o império tem muito a ver" com o que acontece em Honduras.
O presidente foi detido por militares às 5h (8h de Brasília) deste domingo. No momento da prisão, ele estava no palácio presidencial, que permanece cercado por aproximadamente 300 soldados.
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Apoiadores do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, destroem estande de jornal da oposição, "El Heraldo", durante manifestação em Tegucigalpa; Zelaya foi detido por militares na manhã deste domingo (28).
Zelaya, esquerdista eleito em 2005, confrontou outros segmentos do governo e líderes militares sobre a questão do referendo. Ele queria apoio popular para instalação da chamada "quarta urna" nas eleições de 29 de novembro, simultaneamente presidencial, legislativa e municipal. É uma consulta sobre uma consulta: o aliado do presidente Hugo Chávez quer que os eleitores decidam se apoiam ou não a convocação de uma nova Constituinte dentro de cinco meses.
A consulta, declarada ilegal pelo Congresso, pela Promotoria e pela Justiça, sofre forte oposição das Forças Armadas, da Igreja Católica e até de parte do governista Partido Liberal. O Supremo Tribunal de Honduras considerou o referendo ilegal, e foi apoiado pelo Congresso e pela alta cúpula do Exército hondurenho. Ainda assim, Zelaya se manteve firme em sua posição.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, pediu aos organismos internacionais, aos seus colegas da América Latina e aos líderes de movimentos sociais que "condenem e repudiem o golpe de Estado militar em Honduras". Morales disse que estes não são tempos "de ditaduras" e que o que está acontecendo em Honduras é uma "aventura de um grupo de militares que atenta contra a democracia e o povo".
O presidente boliviano afirmou que as consultas e os referendos são uma forma de o governo, com a "participação do povo", aprofundar a democracia e mudar a Constituição, como ele mesmo fez na Bolívia. "[É] Uma outra forma de governar, subordinada ao povo. Os povos têm direito a escolher com seu voto, mudar políticas, mudar constituições, normas, leis, mas com a participação de povo. Isso é o referendo", disse o chefe de Estado boliviano.
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