Irão os iranianos derrubar o governo do Irão?
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Vitor escreveu:Com todo respeito aos nossos amigos lusitanos, mas "Irão" soa hilário para meus ouvidos tupiniquins.
Irão os iranianos derrubar o governo do Irão?
A linha dura iraniana já perdeu
(Mesmo que Ahmadinejad continue presidente)
18/June/2009 · 9:30 · 74 Comentários
A melhor análise para se ler das muitas publicadas ontem é a do professor Abbas Milani, na New Republic.
O regime ainda tem a capacidade de conter os manifestantes e, talvez, de cooptar seus líderes. Mas o incrível poder de multidões pacíficas que sentem o gosto da vitória no processo de desobediência civil está lá. O número de pessoas reunidas por tecnologias que o governo não consegue controlar acabará aumentando e produzindo multidões ainda mais disciplinadas. Quando o povo desafiou as ordens de Khamenei e saiu maciçamente para a passeata, segunda-feira, a aparência de invencibilidade do regime – essencial para o controle autoritário – ruiu. Sem essa autoridade, o regime não conseguirá sobreviver. Para restabelecê-la, só o conseguirá derramando muito sangue.
Se Khamenei desejar um ataque sobre os manifestantes de grande magnitude, ele precisará lançar mão da Guarda Revolucionária. Isso não ocorrerá sem custos políticos. A Guarda foi criada por Khomeini pouco após a Revolução Islâmica para ser uma alternativa religiosa e mais leal ao exército tradicional. Aos poucos, ela se transformou em um dos principais poderes no Irã, desenvolvendo sua própria academia de preparação de oficiais, sua força aérea, serviço de inteligência. Muitos dos comandantes deram início a empresas que rapidamente dominaram a economia ao garantir contratos do governo. Hoje, um grande número de governadores, prefeitos, ministros, embaixadores e executivos das grandes estatais pertencem à Guarda.
A teoria de Milani é que se as multidões continuarem a crescer neste ritmo, a única maneira de contê-las e manter Ahmadinejad na presidência será lançar a Guarda Revolucionária sobre os manifestantes. A Guarda vem ganhando mais e mais poder nos últimos anos. Se ele precisar dela para o trabalho sujo, Khamanei pagará um custo político alto. A Guarda vai querer ainda mais poder no governo que virá e, dada sua atual situação, mais poder representa um novo tipo de ditadura: uma ditadura militar com o clero à frente no papel de fantoches.
Outra análise interessante é a de Reza Aslan, que esteve na MSNBC, tevê a cabo de notícias dos EUA, ontem. Ele lembrou o óbvio: 1979, a Revolução Islâmica, está se repetindo.
Não quer dizer que acontecerá uma revolução.
Mas Mousavi, Khatami, Kerroubi, Rafsanjani, os líderes da atual oposição são justamente as pessoas que ocupavam posições de liderança em 1979. Eles já fizeram isso antes. Hoje, quinta-feira, Mousavi não pede mais manifestações. Pede luto pelos mortos. Como ocorreu em 1979 – e, na prática, despolitiza para atrair ainda mais gente à rua, um clima mais tenso. Amanhã, sexta-feira, é o dia sagrado islâmico. E Mousavi pede um dia de orações. O homem que sábado passado estava preso porque o aiatolá Khamenei achava que conseguiria controlar tudo impondo o resultado hoje está coordenando o povo na rua com as lições aprendidas como revolucionário.
Enquanto tudo ocorre, Ahmadinejad, sem qualquer sombra de poder e apenas um cargo, continua na Rússia. Despacharam-no pra longe para que não atrapalhe.
Nate Silver segue estudando as estatísticas eleitorais do Irã. Nessa, desmonta os analistas de primeira viagem com suas teorias sobre o poder político de Ahmadinejad. Comparando os resultados das eleições em que ele venceu, quatro anos atrás, diz:
Vocês certamente já ouviram que a principal força de Mahmoud Ahmadinejad está no interior enquanto Mir Hossein Mousavi se deu melhor nas cidades do Irã. Não está claro que foi assim. Em 2005, certamente não foi o que aconteceu. Ao contrário: naquele ano, Ahmadinejad se deu melhor nas zonas urbanas. [...]
Isto quer dizer que uma de duas versões é verdadeira. Ou que a dinâmica entre campo e cidade no Irã mudou tão profundamente nos últimos quatro anos que afetou a percepção de um candidato como Ahmadinejad. Ou que a eleição foi fraudada e aqueles que fraudaram acharam mais fácil roubar os votos do campo do que os da cidade.
Enquanto isso, o povo está nas ruas. De novo. E o alto clero de Qom está silenciosamente reunido sob o comando de Akbar Rafsanjani. E Khamenei não é mais obedecido pela população.
Há um movimento crescente. Onde dará?
Alguns lembram que este tipo de movimento pode ser que nem o da Alemanha Oriental, em 1989, que culminou com mais liberdade. Outros lembram de Tiananmen, na China, no mesmo ano.
Mas não custa lembrar que, embora o governo chinês tenha em teoria ganho a disputa contra os estudantes, em 1989, essa análise é superficial. O resultado de 89 foi que a China mudou sua ditadura. Deu mais liberdades individuais, abriu o mercado, para manter o poder político. Aprendeu a conter, assim, os ânimos populares.
Esta fórmula – mais liberdades individuais em troca de manutenção do poder político – é justamente a bandeira dos reformistas representados por Mousavi.
Mesmo que Ahmadinejad continue presidente e Khamenei continue líder supremo, a linha dura do regime já perdeu. O povo já disse que não aceita seu sistema e já percebeu que o controle do regime não é mais absoluto.
DemorouVasculhando a net, encontrei em um fórum europeu uma informação de que a CIA estaria por trás dos protestos no Irã
FOXTROT escreveu:Vasculhando a net, encontrei em um fórum europeu uma informação de que a CIA estaria por trás dos protestos no Irã, Texto original em Francês: http://www.voltairenet.org/article160639.html