Emprego do Poder Aéreo
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- soultrain
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Emprego do Poder Aéreo
Boas,
Não me lembro se já exitia um tópico com este assunto, o Thor falou nisso e nem só de FX vive o DB.
Para começar, a maior e mais complexa operação aérea até hoje, um texto muito bom, talvez o melhor de um velho conhecido nosso:
http://www.sci.fi/~fta/storm-01.htm
Desert Storm Part 1
The Gulf War has demonstrated yet again the central importance of electronic warfare to the conduct of a modern air war. So overwhelming was the weight of the initial attack, that the Iraqi IADS (integrated air defence system) collapsed in hours, never to regain anything approaching a semblance of functionality.
Desert Storm Part 2
The Allied assault on Iraq saw the collapse of a formidable integrated air defence system, probably the most lethal outside the Warsaw pact. The Iraqi system had much in common with the Soviet system, including equipment, deployments, operational doctrine and diversity of types. The ease with which the Allies crippled and then demolished this system testifies to fundamental flaws in Warpac air battle doctrine, which would have had a decisive influence in any NATO-Warpac conflict. What follows is how it was done.
Desert Storm Part 3
The Allied electronic and SEAD campaign in the Gulf saw the destruction of an air defence system very similar to that of the Warpac. This was achieved by a carefully structured mix of hard kill and soft kill assets, applied to the task from a position of fully understanding the objectives and dynamics of the electronic battle.
The superb results of the campaign are directly attributable to Allied preparation and capability, and the latter we will now examine more closely.
Não me lembro se já exitia um tópico com este assunto, o Thor falou nisso e nem só de FX vive o DB.
Para começar, a maior e mais complexa operação aérea até hoje, um texto muito bom, talvez o melhor de um velho conhecido nosso:
http://www.sci.fi/~fta/storm-01.htm
Desert Storm Part 1
The Gulf War has demonstrated yet again the central importance of electronic warfare to the conduct of a modern air war. So overwhelming was the weight of the initial attack, that the Iraqi IADS (integrated air defence system) collapsed in hours, never to regain anything approaching a semblance of functionality.
Desert Storm Part 2
The Allied assault on Iraq saw the collapse of a formidable integrated air defence system, probably the most lethal outside the Warsaw pact. The Iraqi system had much in common with the Soviet system, including equipment, deployments, operational doctrine and diversity of types. The ease with which the Allies crippled and then demolished this system testifies to fundamental flaws in Warpac air battle doctrine, which would have had a decisive influence in any NATO-Warpac conflict. What follows is how it was done.
Desert Storm Part 3
The Allied electronic and SEAD campaign in the Gulf saw the destruction of an air defence system very similar to that of the Warpac. This was achieved by a carefully structured mix of hard kill and soft kill assets, applied to the task from a position of fully understanding the objectives and dynamics of the electronic battle.
The superb results of the campaign are directly attributable to Allied preparation and capability, and the latter we will now examine more closely.
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ
- soultrain
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Onde param os nossos estrategas?
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
NJ
- Thor
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Legal o tópico, mas ainda nem deu tempo de ler os artigos...
Brasil acima de tudo!!!
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Boa noite, Thor, soultrain!
Teve tópico sim, desse assunto, estratégias aéreas. Depois acabamos centralizando tudo lá no "estratégia naval", do Marino, lá no navais. Mas discute-se mais a doutrina, o conceito, estratégia, de hoje e na história.
http://www.defesabrasil.com/forum/viewt ... &start=195
Os textos daqui são muito bons, soultrain, mas são mais de emprego, a coisa tática, o armamento. Achei que ele deveria ter citado o Cel. john warden, o mentor intelectual da "tempestade no deserto".
De qualquer maneira, o assunto é vasto e interessante. O problema é que o povo gosta em geral é de hardware e supertrunfo, porque não precisa pensar...
abs a ambos!!
Teve tópico sim, desse assunto, estratégias aéreas. Depois acabamos centralizando tudo lá no "estratégia naval", do Marino, lá no navais. Mas discute-se mais a doutrina, o conceito, estratégia, de hoje e na história.
http://www.defesabrasil.com/forum/viewt ... &start=195
Os textos daqui são muito bons, soultrain, mas são mais de emprego, a coisa tática, o armamento. Achei que ele deveria ter citado o Cel. john warden, o mentor intelectual da "tempestade no deserto".
De qualquer maneira, o assunto é vasto e interessante. O problema é que o povo gosta em geral é de hardware e supertrunfo, porque não precisa pensar...
abs a ambos!!
- soultrain
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Re: Emprego do Poder Aéreo
2004/12/21
Os modernos pensadores do Poder Aéreo
Eduardo Silvestre dos Santos
A teoria do emprego estratégico do Poder Aéreo evoluiu ao longo do século XX. Pelo caminho, foi-se moldando pelas amargas lições das guerras, pelos avanços tecnológicos e pelos conceitos visionários de uns poucos. Os “profetas” (Douhet, Trenchard, Mitchell, Seversky e outros) deixaram as suas marcas bem profundas, mas foram subjugados pela obsessão da arma atómica que se instalou após a 2.ª Guerra Mundial e que “bloqueou” o pensamento sobre a utilização estratégica do Poder Aéreo apenas no “bombardeamento estratégico”, referido como sinónimo de nuclear.
Nos dias modernos, dois teóricos americanos deram contributos significativos a este processo evolutivo. O Coronel John Boyd, já falecido, e o Coronel John Warden, hoje reformado. Apesar de Boyd não ter uma teoria sua sobre o Poder Aéreo, o seu pensamento sobre a estratégia nacional e militar teve implicações importantes no seu emprego. Ao contrário, Warden desenvolveu uma teoria sobre o Poder Aéreo que se baseia primariamente na utilização estratégica da arma aérea.
Alguns estudiosos afirmam que:
- A teoria do conflito de Boyd e a teoria do ataque estratégico de Warden têm em comum o objectivo de derrotar o adversário pela “paralisia estratégica”;
- As suas divergências representam duas tradições distintas no que respeita a natureza e a finalidade de uma teoria;
- Em conjunto, as duas teorias representam uma viragem fundamental na evolução do Poder Aéreo estratégico.
O que é a “paralisia estratégica”?
Desde os “profetas” que foi exaltada a terceira dimensão que a arma aérea trouxe ao campo de batalha. A capacidade única do avião para se elevar da luta de superfície, levou muitos a especular que o Poder Aéreo podia derrotar um inimigo e as suas forças armadas paralisando o potencial de guerra na retaguarda. O pensador inglês J. F. C. Fuller[ii] postulou três esferas da guerra – física, mental e moral. Estas esferas têm a ver, respectivamente, com a destruição da força militar, da organização mental e do moral do inimigo. Fuller acrescenta que estas três esferas têm de ser utilizadas sinergeticamente, não isoladas: “a força mental não ganha uma guerra; a força moral não ganha uma guerra; a força militar não ganha uma guerra; o que ganha uma guerra é a combinação das três actuando como uma força só”[iii].
A paralisia de um adversário tem estas três dimensões. Como estratégia, acarreta a intenção de incapacitar o inimigo fisicamente e desorientá-lo mentalmente para o levar ao colapso moral. Por outras palavras, a “paralisia estratégica” tem como objectivo as capacidades físicas e mentais do inimigo para, indirectamente, derrotar a sua vontade moral. É uma opção militar com dimensões físicas, mentais e morais que pretende incapacitar, e não destruir, o inimigo. Procura o máximo efeito ou benefício político com o mínimo esforço militar necessário. No início da 1ª Guerra Mundial, já dois veteranos britânicos (Fuller e Liddell Hart) defendiam a paralisia estratégica. Fuller escrevia que “a força física de um exército está na sua organização, controlada pelo seu cérebro. Paralise-se este cérebro e o corpo para de operar”. O mesmo pensava Trenchard e Mitchell[iv].
A. John Boyd
As sementes da teoria de Boyd cresceram durante a Guerra da Coreia onde combateu como emérito piloto de caça. Infelizmente, nunca pôs em livro as suas ideias; limitou-se a expô-las em inúmeros briefings na Fighter Weapons School[v]. A teoria de Boyd advoga que as operações militares têm por objectivo criar e manter um estado de coisas altamente ameaçador para o inimigo e quebrar a sua capacidade de se adaptar a essa situação, paralisando-o e obrigando-o a aceitar uma decisão desejada. Baseando-se na análise da história militar, antiga e moderna, estudando nomeadamente Clausewitz e Sun-Tzu, Boyd identificou quatro qualidades chave para operações com sucesso: iniciativa, harmonia, variedade e rapidez. O aspecto mais conhecido da teoria de Boyd é o modo como ele representa todo o comportamento racional humano, individual ou organizacional, como um ciclo contínuo de quatro tarefas distintas: observação, orientação (criação de imagens ou esquemas mentais), decisão e acção (o ciclo OODA)[vi]. (ver fig. 1)
Boyd afirmava que, para vencer um conflito, tem de penetrar-se no ciclo OODA do adversário e permanecer lá. Para isso, tem de “apertar” o seu ciclo, isto é, completá-lo mais depressa, e alargar o do adversário através de acções rápidas e variadas, criando-lhe medo e pânico que se manifesta na perda da capacidade e da vontade de resistir (paralisia)[vii]. (ver fig. 2)
B. John Warden
Em 1986, emergiu outra figura, o Cor. John Warden. Apresentou na NDU[viii] uma tese, depois transformada em livro –The air campaign – Planning for combat -, um documento nessa altura fora do vulgar e controverso. A influência do Cor. Warden na Guerra do Golfo de 1991 é hoje indesmentível. Prestava na altura serviço no Estado-Maior da USAF no Pentágono e, em teoria, não tinha qualquer responsabilidade no planeamento da campanha ao nível do Teatro de Operações.
O Gen. Schwarzkopf, comandante-chefe do Central Command[ix] sabia que os planos de contingência para a área do Golfo eram imperfeitos e, assim, solicitou ao estado-maior da USAF apoio para desenvolver um plano aéreo para a ofensiva. A tarefa foi parar à secretária de Warden que, nalgumas semanas, elaborou um minucioso plano, onde aplicou as suas ideias.
Warden baseou – se num conjunto de suposições, das quais as principais eram:
- O comportamento humano é complexo e imprevisível;
- Os efeitos materiais da acção militar são mais previsíveis;
- A superioridade aérea é um pré-requisito para vencer;
- A ofensiva é de longe a forma mais forte de guerra aérea;
- Todas as acções devem ser dirigidas para atingir e debilitar a mente e o raciocínio do comandante inimigo.[x]
Warden cria firmemente que o Poder Aéreo tem uma capacidade intrínseca para atingir os objectivos estratégicos de um conflito com grande eficácia e custos reduzidos. As suas ideias centrais eram que o planeamento da guerra aérea é vital e, uma vez assegurada a superioridade aérea, o Poder Aéreo pode ser utilizado quer em apoio das forças de superfície, quer independentemente para alcançar efeitos decisivos. A tecnologia tornava os centros vitais vulneráveis a custos aceitáveis para o atacante. A tecnologia tornava também possível e muito desejável o uso de ataques paralelos, em vez de sequenciais.
Warden cria que o pensamento estratégico devia começar pelos princípios gerais, donde se passava para os detalhes, e não o contrário. Deu como exemplo a comparação entre um arquitecto e um pedreiro. Deve pensar-se do grande para o pequeno, de cima para baixo. Assim, deve pensar-se no inimigo como um sistema, composto por numerosos subsistemas, pois isto dá mais oportunidades de o forçar ou induzir a comportar-se como queremos com um esforço mínimo[xi]. Warden concordava com o conceito de Clausewitz de que todas as guerras têm uma finalidade política.[xii] Quando se entra em guerra com uma entidade política, devem ter-se objectivos que, para serem úteis, têm de ir muito para além de derrotar as suas forças armadas; de facto, isto pode ser precisamente o que não se quer fazer. Ao nível estratégico, alcançamos os nossos objectivos causando alterações tais a uma ou mais partes do sistema inimigo, que ele decide adoptar os nossos, sob pena de lhe ser impossível opor-se-nos. É isto a “paralisia estratégica”.[xiii]
Para que o conceito do “inimigo como sistema” possa ser compreensível, Warden utilizou um modelo, denominado “dos cinco anéis” e comparou-o a um corpo humano. (ver fig. 3)
- No centro do sistema estão os líderes, o cérebro, e devem ser eles o alvo de todas as nossas acções, directa ou indirectamente; só eles podem tomar decisões e fazer concessões.
- No segundo anel estão os órgãos essenciais (os “centros de gravidade”), normalmente as indústrias transformadoras de energia (oxigénio e alimentação), para que o sistema as possa utilizar (i.e. o sistema de produção de energia eléctrica, refinarias de petróleo, ou o sistema de comunicações). Sem estas formas de energia, o cérebro não pode funcionar e, logo, não pode dar as ordens necessárias para manter o sistema também a laborar.
- Segue-se o anel das infra-estruturas (ossos, músculos e vasos sanguíneos) que contém o sistema de transportes (caminhos de ferro, estradas, pontes, portos, aeroportos, etc.). Se o movimento se torna impossível, o sistema passa a movimentar-se mais devagar, sendo a capacidade de resistir às exigências do opositor. É certo que podem existir redundâncias e, por isso, pode ser necessário um esforço maior para causar estragos consideráveis.
- O quarto anel é a população (as células). Para além das objecções morais, é quase impossível atacar directamente a população; pode inclusivamente perder-se parte dela e sobreviver.
- O último anel contém as forças armadas (sistema imunológico que protege o corpo). As forças armadas protegem o Estado, os outros quatro anéis do sistema, de um ataque do exterior ou de degradação geral. Pode pensar-se que elas são a parte mais vital numa guerra mas, de facto, são apenas um meio para atingir um fim: proteger a sociedade.[xiv]
Intrínseca ao modelo dos 5 anéis de Warden, está a ideia de que a compreensão da estrutura de um oponente é vital no processo de construir uma estratégia aérea de coacção eficaz. Cada anel, cada parte do sistema, tem a sua própria estrutura de 5 anéis, até ao nível individual.[xv] Se ele for compreendido, o problema seguinte será como reduzir o seu nível de funcionamento ou paralisá-lo. Para isso, adoptou a “teoria do conflito” de Boyd à sua teoria de “ataque estratégico”. A melhor maneira de o fazer será através de ataques paralelos, em vez de ataques sequenciais. Se uma parte significativa da estrutura é atingida em paralelo, a destruição pode tornar-se insustentável. Actualmente, a tecnologia tornou possível atacar simultaneamente todas as vulnerabilidades estratégicas do inimigo, aproximando-se do que Clausewitz chamou de “forma ideal de guerra” (atacar tudo ao mesmo tempo).[xvi]
Em toda esta teoria, assume relevância essencial a elencagem de alvos, nomeadamente os estratégicos, o conceito, também nitidamente “clausewitziano” dos “centros de gravidade”, aqueles pontos em que o inimigo é mais vulnerável e onde um ataque tem mais probabilidades de ser decisivo.[xvii] Seleccionar os alvos a atacar é a essência da estratégia aérea. Esta selecção tem de ser baseada e actualizada com base no reconhecimento aéreo (ou espacial) e nas informações continuamente actualizadas.
C. A comparação com os clássicos
Avaliando as ideias de Boyd e de Warden e comparando-as com as dos clássicos, poder-se-á constatar que não são na realidade muito diferentes. Para lá da natural evolução dos conceitos, aquilo que se alterou substancialmente foram os meios tecnológicos para concretizar a maior parte deles. Boyd e Warden divergem na sua aproximação teórica. As suas aproximações representam duas tradições acerca da natureza e fins da teoria, personificadas por dois teóricos da guerra do século XIX: Antoine Henri Jomini e Carl von Clausewitz. Jomini acreditava que se podia reduzir a conduta da guerra a um conjunto de princípios científicos e aplicação universal. A estratégia da guerra é científica, constante e gerida por princípios sempre válidos.
“É necessário examinar a teoria da guerra para descobrir as suas verdadeiras regras”[xviii]
Em contraste, Clausewitz vê a guerra de uma perspectiva menos linear. Estratégias idênticas nem sempre produzem efeitos idênticos. A incerteza natural da guerra torna impossível de garantir que o que resultou no passado, resultará no futuro. Clausewitz procura sempre dotar o comandante com génio.[xix] Avaliando os dois teóricos da paralisia estratégica sob este prisma, pode concluir-se que o pensamento de Warden é predominantemente “jominiano” na sua índole, conteúdo e intenção, no sentido em que é prático, salienta o aspecto físico do conflito e ressalta a importância dos princípios da guerra. Ao contrário, o de Boyd é “clausewitziano”, no sentido que é filosófico, enfatiza as esferas mental e moral do conflito, e afirma a importância do génio da guerra.[xx]
D. A “guerra do Golfo”
Na “guerra do Golfo”, em 1991, o Poder Aéreo mostrou que pode ser decisivo quando aplicado correctamente. Pela primeira vez, desde a 2ª Guerra Mundial, o Poder Aéreo convencional foi utilizado estrategicamente em larga escala. Ao contrário do que tinha acontecido no Vietname, o Poder Aéreo foi empregue como um todo integrado para alcançar objectivos estratégicos que influenciaram a decisão final do conflito. Para tal, contribuiu decisivamente o uso, pela primeira vez, do “comando centralizado e a execução descentralizada” sob o comando de um aviador com a perspectiva completa do teatro de operações, o JFACC[xxi]. Deste modo, as forças da coligação ganharam completa superioridade aérea (supremacia aérea), isolaram Saddam Hussein das suas forças no terreno e destruíram alvos-chave (os “centros de gravidade”), tendo a sua eficácia contribuído em larga escala para encurtar a guerra terrestre.
Neste conflito, os aviões “furtivos” e a precisão dos armamentos demonstraram ser multiplicadores de força que permitiram operações paralelas contra múltiplos alvos. Foram executadas 2500 saídas aéreas/dia, batendo largamente todos os precedentes históricos. A “guerra do Golfo” deixou lições importantes:
- Primeiro, o Poder Aéreo é uma solução barata e fácil para os problemas de política externa. Esta ideia parte de três axiomas: o Poder Aéreo salva vidas de soldados no terreno; a tecnologia avançada das PGM’s reduz os danos colaterais, fazendo assim a guerra menos sangrenta e moralmente mais aceitável; e o medo desta tecnologia sofisticada coage um inimigo a aceitar a nossa vontade. O Poder Aéreo é uma ferramenta relevante para afirmar um discurso político.
- Segundo, ensinou a necessidade de neutralizar as redes de sistemas de mísseis antiaéreos do inimigo em funcionamento e cujas radiações foram detectadas nas horas iniciais do conflito; no Kosovo, os sérvios mantiveram-nos sem emitir e escondidos.
- Terceiro, a sedução do Poder Aéreo oferece aos políticos uma hipótese de “gratificação sem compromisso”. É visto como um remédio universal quando os meios diplomáticos estão esgotados.[xxii]
E. Os avanços tecnológicos. A RAM
A tecnologia constitui uma dimensão determinante para explicar as mudanças de doutrina no plano militar. A natureza das tecnologias influencia a natureza das estratégias, e uma inovação técnica pode aperfeiçoar ou alterar o curso das mesmas. É indubitável a existência de uma parte de determinismo tecnológico na evolução do pensamento estratégico. O avanço tecnológico nos armamentos – armamento guiado de precisão (PGM’s)[xxiii], armamento de longo alcance (BVR)[xxiv], etc. – abriu novos horizontes nos danos colaterais, na eficácia na destruição ou neutralização dos alvos e nas baixas por contacto directo com as forças opositoras, mas não nos protege do terrorismo e dos ataques suicidas.
O uso de PGM’s teve como resultado níveis extraordinariamente baixos e sem precedentes de danos colaterais. Durante a “guerra do Golfo” foram utilizados em média 10 aviões por alvo. No Afeganistão esse número foi reduzido para 2 aviões por alvo, em média. A percentagem de PGM’s utilizados, excluindo os mísseis de cruzeiro, utilizados foi de 57%, contra 7% no Golfo em 1991. Em 2003, no Iraque, esta percentagem subiu para cerca de 70%. As razões para estes avanços são principalmente a redução dos danos colaterais e o aumento do custo-eficácia de cada saída.
Uma faceta crítica desta evolução foi a capacidade de encurtar o processo “sensor – decisor – executante”. Isto foi alcançado através do uso de múltiplos sistemas, tais como os UAV’s[xxv] “Predator” e “Global Hawk”, aviões de reconhecimento de comunicações RC-135 “Rivet Joint”, aviões de reconhecimento U-2 e E-8 JSTARS[xxvi] e canais de transmissão de dados “Link 16”, sistema de transmissão de dados de banda larga, permitindo transmissão de imagens. Na “2ª guerra do Golfo” (2003), conseguiu-se uma redução drástica do espaço de tempo (atingiu os 12 minutos) entre a detecção do alvo por um qualquer sensor, a sua recepção, visualização, decisão e o ataque desse alvo por um sistema de armas, através de modernos sistemas de informações, vigilância e reconhecimento de banda muito larga.
Assistimos a mudanças espantosas na guerra moderna. O espaço em que a acção militar coordenada tem lugar aumentou significativamente, tendendo para o global, ao passo que o tempo disponível para a tomada de decisão diminuiu, empurrando cada vez mais o operador humano para perto dos limites do círculo de controlo. O Poder Aéreo e a tecnologia têm uma relação sinergética; tal é evidenciado pelo uso inovador de métodos sofisticados de ligar a longas distâncias o sensor, o decisor e o executante. O meio de ligação vital é o “software”, que existe num terreno sólido e escondido: a lógica.
Na primeira metade do séc. XX, a grande tarefa dos teóricos militares era conciliar a guerra com a inovação científica e tecnológica. No início do séc. XXI, a ciência militar tem um imenso desafio, igualmente vital para o desempenho em conflito das nações para quem ainda é importante: a militarização da lógica. Muitos crêem que a transformação que se está a dar nos aspectos da guerra é pelo menos tão profunda como a causada pela aparição da pólvora e que está de facto em marcha uma “revolução técnico-militar” e uma “revolução nos assuntos militares” (RAM). A tecnologia apontada como causa primária desta revolução é o microprocessador. Os entusiastas argumentam que o enorme impacto que os “micro-chips” já têm nos conflitos, como demonstrado na 1.ª Guerra do Golfo, no Kosovo, no Afeganistão e de novo no Iraque, é apenas um aperitivo da revolução real que ainda está para vir. Uma ideia generalizada é que esta contínua revolução tornará progressivamente os sistemas de armas tradicionais obsoletos.[xxvii]
Uma Revolução Técnico-militar ocorre quando existe uma grande e rápida melhoria no equipamento utilizado em combate e em apoio ao combate, pela combinação de várias tecnologias de modo inovador num curto espaço de tempo. Normalmente, em conjunto com a Revolução Técnica Militar, uma Revolução nos Assuntos Militares requer a alteração dos conceitos doutrinários e as mudanças organizacionais necessárias para capitalizar as novas tecnologias e doutrina e transformar fundamentalmente o carácter e a condução das operações militares.
A RAM assenta em várias dimensões tecnológicas novas:
- A letalidade do armamento é superior, devido aos progressos enormes na precisão e na furtividade, que são mais significativas que o volume e o poder de fogo;
- A localização e a pontaria melhoraram devido aos progressos na vigilância, na detecção e no acompanhamento dos movimentos no teatro de operações;
- A agilidade e a flexibilidade das forças militares aumentaram substancialmente graças à integração e à utilização em tempo real dos sistemas de informação;
- As operações militares são simultâneas e recorrem à intervenção combinada e comum das forças.[xxviii]
A campanha aérea do Kosovo foi uma demonstração impressiva de bombardeamento de precisão. As PGM’s chamaram muito a atenção mas faziam parte do arsenal americano desde o Vietname. O que sucedeu nos últimos anos foi a sua combinação com a furtividade, a noite e as capacidades de largada em todo o tempo, conjuntamente com satélites, “UAV’s”, aviões escutas e pessoal no terreno para aquisição de alvos, tudo complementado com procedimentos expeditos de aprovação de “ordens de missão” e de alvos, com um cuidado excepcional quanto a mortes desnecessárias.[xxix]
Estes processos de aquisição, transmissão, processamento e fusão dos dados do campo de batalha, e a partilha de informações de uma forma conjunta, foram fundamentais para a efectividade e a extrema rapidez nos ciclos dos processos de decisão.
A utilização de PGM’s implica também uma diminuição significativa do nível de violência da guerra. A utilização deste tipo de armamento, ao permitir atingir só aquilo que é militarmente remunerador, possibilita que a obtenção de efeitos similares seja possível com a diminuição da carga explosiva utilizada. Consequentemente, o relativo baixo nível da violência e dos danos causados, fez com que os últimos conflitos tivessem um diminuto número de baixas civis e militares. Isto trouxe óbvias implicações estratégicas e permitiu ainda a diminuição da quantidade e intensidade de eventuais crises humanitárias e, elemento não discipiendo, a redução significativa da necessidade de posterior reconstrução das infra-estruturas atacadas.
Não admira assim que, partir da 1ª guerra do Golfo, o recurso ao armamento de precisão tenha crescido de forma significativa em cada conflito. Na 1ª guerra do Golfo, apenas 7% das munições largadas foram de precisão. Nas campanhas dos Balcãs a percentagem subiu para 35%. No Afeganistão, 56% do armamento empregue foi de precisão. Finalmente, durante o último conflito no Iraque, e embora os números variem conforme a fonte, esta percentagem atingiu cerca de 70%.[xxx] A qualidade das armas utilizadas tornou-se pois mais importante do que a quantidade. Surgiu assim a característica definidora da guerra na era da informação, algo inimaginável antes de surgir a tecnologia desta era: a coordenação em tempo real de elevado número de armas de grande precisão a grandes distâncias, criando uma capacidade de combate sem precedentes.[xxxi]
F. Os princípios comprovados pela experiência
Cerca de 100 anos após ter surgido a arma aérea, e com a década de 1990’s finalmente a confirmar muitos dos vaticínios dos “profetas”, podem já apontar-se alguns princípios sobre o seu emprego que a experiência já comprovou. Philip Meilinger enunciou os 10 princípios fundamentais do emprego do Poder Aéreo para alcançar os objectivos estabelecidos:
- Quem controla o ar, normalmente controla a superfície;
- O Poder Aéreo é uma força intrinsecamente estratégica;
- O Poder Aéreo é primariamente uma arma ofensiva;
- O Poder Aéreo é elencagem de alvos, elencagem de alvos é informações, e informações é analisar os efeitos das operações aéreas;
- O Poder Aéreo produz choque físico e psicológico porque domina a quarta dimensão: tempo;
- O Poder Aéreo pode conduzir simultaneamente operações paralelas a todos os níveis da guerra;
- O armamento aéreo de precisão redefiniu o significado de “massa”;
- As características específicas do Poder Aéreo necessitam ser controladas por um aviador;
- A tecnologia e o Poder Aéreo estão relacionados integral e sinergeticamente;
- O Poder Aéreo inclui não só as capacidades militares mas também a indústria aeronáutica e a aviação comercial.[xxxii]
A partir da “guerra do Golfo”, o Poder Aéreo mostrou como pode ser decisivo quando utilizado correctamente e pode, finalmente, validar muitos dos princípios e das teorias que os “profetas” iniciais tinham idealizado. Tem ficado demonstrada a sua importância, as suas características e capacidades - a precisão, a letalidade e o poder de fogo, a operação em qualquer condição de visibilidade, a liberdade para escolher a hora e local para a sua actuação - e as consequências e condicionantes que a aleatoridade e imprevisibilidade da guerra impõem ao nível da condução política e estratégica da mesma.[xxxiii]
O desequilíbrio existente entre as expectativas iniciais dos teóricos do Poder Aéreo e as suas possibilidades reais tem vindo a diminuir significativamente. O desenvolvimento tecnológico, nomeadamente a introdução de conceitos inovadores de Comando e Controlo, e o emprego de armamento de precisão, aumentou decisivamente a flexibilidade, o poder de fogo, a capacidade de recolha e processamento de informação, e a mobilidade do poder aéreo, concedendo a este uma importância estratégica significativa. Estas capacidades, acompanhadas por uma estrutura doutrinária orientada para a sua utilização de uma forma rápida, precisa e eficiente, permitem concluir que a exploração do poder aéreo iniciou a idade da maturidade, elevando-se a um estado de desenvolvimento tal, que se constitui como verdadeiro instrumento político adequado ao fenómeno caótico e imprevisível que é a guerra.
Na realidade, a evolução exponencial daquelas capacidades fez com que a sua importância relativa, face às componentes terrestre e naval, aumentasse significativamente, facilitando grandemente a manobra e a acção daquelas. Exemplos flagrantes desta situação encontram-se na “guerra dos seis dias”, nas Falkland/Malvinas e na “guerra do Golfo”. Conflitos houve em a utilização do Poder Aéreo conseguiu, por si só, os objectivos políticos estabelecidos, como foi o caso da Bósnia e do Kosovo, em que a finalidade inicial era obrigar os oponentes a sentar-se à mesa das conversações.
As “profecias” do passado estão agora confirmadas pelo combate e são já as realidades do futuro.
Crê-se contudo que não é lícito concluir, como alguns fazem,[xxxiv] que as doutrinas de emprego do poder aéreo, nomeadamente a de Warden, tenham uma lógica de substituição ou de sobreposição das outras estratégias militares. Tal é objectivamente impossível, uma vez que este não pode ocupar nem manter o terreno. A Estratégia Aérea faz parte da Estratégia Geral Militar e é esta que, consoante os objectivos fixados, o teatro de operações e os potenciais em confronto, definirá a modalidade de acção a seguir.
“O Poder Aéreo não tem outra finalidade independente, para além do seu papel como componente do Poder Militar.”
Ronald Fogleman, General USAF
Mais do que constrangimentos tecnológicos ou doutrinários, será pois a decisão política, que dentro do contexto específico de um conflito, e face aos objectivos a atingir, determinará a forma de emprego do Poder Aéreo.
BIBLIOGRAFIA
WRAGE, Stephen D. (compilação) – “Immaculate warfare”, Praeger Publishers, Westport CT, 2003.
WARDEN, John A. – “The enemy as a system”, Airpower Journal 9, Spring 1995.
SILVESTRE DOS SANTOS, Eduardo – “O Poder Aéreo no século XXI – Considerações e tendências”, Revista “Mais Alto” n.º 343, Maio/Junho de 2003.
SILVESTRE DOS SANTOS, Eduardo – “Inovações tecnológicas e os sistemas de armas tradicionais”, Revista “Mais Alto” n.º 344, Julho/Agosto de 2003.
MEILINGER, Philip S. – “10 propositions regarding Air Power”, Air Force History and Museums Program, 1995.
MEILINGER, Philip S. (compilação) – “The paths of heaven – The evolution of airpower theory”, Air University Press, Alabama, 2001.
FIGUEIREDO, TCor. António – Lição Inaugural IAEFA 2003-2004.
METS, David R. – “The air campaign – John Warden and the classical airpower theorists”, Air University Press, Alabama, 2000.
DAVID, Charles-Philippe – “A guerra e a paz – Abordagens contemporâneas da segurança e da estratégia”, Instituto Piaget, Economia e Política, 2000.
PINTO, Pedro M. X. E. Fontes – “Giulio Douhet e John Warden. Aspectos evolutivos da teoria do Poder Aéreo”, em “Nação e Defesa” Outono/Inverno 2003, n.º 106 – 2ª Série, IDN, Lisboa, 2003.
Fadok, David S. – “The paths of heaven”, p. 357.
[ii] Citado por Fadok, obra citada, p. 359.
[iii] ibidem
[iv] Fadok, obra citada, pp 361-362.
[v] Fighter Weapons School – Unidade de treino de combate dos pilotos de caça da USAF.
[vi] Fadok, obra citada, p. 366.
[vii] Fadok, obra citada, p. 368.
[viii] NDU – National Defense University, Washington, DC.
[ix] Central Command – comando conjunto responsável pela área do Médio Oriente.
[x] Mets, “The air campaign – John Warden and the classical airpower theorists”, Air University Press, Alabama, 2000. , pp 58-59.
[xi] Warden, John A. - “The enemy as a system”, Airpower Journal, Spring 1995, p. 2.
[xii] Fadok, obra citada, p. 374.
[xiii] Warden, obra citada, p. 3.
[xiv] Warden, obra citada, pp 4-5.
[xv] Abbot, obra citada, p. 35.
[xvi] Warden, obra citada, p. 13.
[xvii] Fadok, obra citada, p. 372.
[xviii] Jomini, ªH. – “The art of war”, citado por Fadok, obra citada, p. 378.
[xix] Fadok, obra citada, p. 380.
[xx] Fadok, obra citada, pp 388-389.
[xxi] JFACC – Joint Force Air Componente Commander (Comandante da Componente Aérea da Força Conjunta)
[xxii] Cooper, Scott A. - “The immaculate warfare”, p. 5.
[xxiii] PGM – precision guided munition.
[xxiv] BVR – beyond visual range.
[xxv] UAV – unmanned air vehicle – véículo aéreo não tripulado.
[xxvi] JSTARS – Joint Surveillance and Target Attack Radar System.
[xxvii] Silvestre dos Santos, Eduardo – “Inovações tecnológicas e os sistemas de armas tradicionais”, p. 12
[xxviii] David, obra citada, pp 184-187.
[xxix] Wrage, Stephen D. – “The immaculate warfare”, pp 1-2.
[xxx] Figueiredo, António – Lição inaugural IAEFA 2003-2004.
[xxxi] Silvestre dos Santos, Eduardo – artigo citado, p. 11.
[xxxii] Meilinger, Philip S. – “10 propositions regarding Air Power”
[xxxiii] Figueiredo, António – Lição inaugural IAEFA 2003/2004.
[xxxiv] PINTO, Pedro M. X. E. Fontes – “Giulio Douhet e John Warden. Aspectos evolutivos da teoria do Poder Aéreo”, pp 155 e194.
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Os modernos pensadores do Poder Aéreo
Eduardo Silvestre dos Santos
A teoria do emprego estratégico do Poder Aéreo evoluiu ao longo do século XX. Pelo caminho, foi-se moldando pelas amargas lições das guerras, pelos avanços tecnológicos e pelos conceitos visionários de uns poucos. Os “profetas” (Douhet, Trenchard, Mitchell, Seversky e outros) deixaram as suas marcas bem profundas, mas foram subjugados pela obsessão da arma atómica que se instalou após a 2.ª Guerra Mundial e que “bloqueou” o pensamento sobre a utilização estratégica do Poder Aéreo apenas no “bombardeamento estratégico”, referido como sinónimo de nuclear.
Nos dias modernos, dois teóricos americanos deram contributos significativos a este processo evolutivo. O Coronel John Boyd, já falecido, e o Coronel John Warden, hoje reformado. Apesar de Boyd não ter uma teoria sua sobre o Poder Aéreo, o seu pensamento sobre a estratégia nacional e militar teve implicações importantes no seu emprego. Ao contrário, Warden desenvolveu uma teoria sobre o Poder Aéreo que se baseia primariamente na utilização estratégica da arma aérea.
Alguns estudiosos afirmam que:
- A teoria do conflito de Boyd e a teoria do ataque estratégico de Warden têm em comum o objectivo de derrotar o adversário pela “paralisia estratégica”;
- As suas divergências representam duas tradições distintas no que respeita a natureza e a finalidade de uma teoria;
- Em conjunto, as duas teorias representam uma viragem fundamental na evolução do Poder Aéreo estratégico.
O que é a “paralisia estratégica”?
Desde os “profetas” que foi exaltada a terceira dimensão que a arma aérea trouxe ao campo de batalha. A capacidade única do avião para se elevar da luta de superfície, levou muitos a especular que o Poder Aéreo podia derrotar um inimigo e as suas forças armadas paralisando o potencial de guerra na retaguarda. O pensador inglês J. F. C. Fuller[ii] postulou três esferas da guerra – física, mental e moral. Estas esferas têm a ver, respectivamente, com a destruição da força militar, da organização mental e do moral do inimigo. Fuller acrescenta que estas três esferas têm de ser utilizadas sinergeticamente, não isoladas: “a força mental não ganha uma guerra; a força moral não ganha uma guerra; a força militar não ganha uma guerra; o que ganha uma guerra é a combinação das três actuando como uma força só”[iii].
A paralisia de um adversário tem estas três dimensões. Como estratégia, acarreta a intenção de incapacitar o inimigo fisicamente e desorientá-lo mentalmente para o levar ao colapso moral. Por outras palavras, a “paralisia estratégica” tem como objectivo as capacidades físicas e mentais do inimigo para, indirectamente, derrotar a sua vontade moral. É uma opção militar com dimensões físicas, mentais e morais que pretende incapacitar, e não destruir, o inimigo. Procura o máximo efeito ou benefício político com o mínimo esforço militar necessário. No início da 1ª Guerra Mundial, já dois veteranos britânicos (Fuller e Liddell Hart) defendiam a paralisia estratégica. Fuller escrevia que “a força física de um exército está na sua organização, controlada pelo seu cérebro. Paralise-se este cérebro e o corpo para de operar”. O mesmo pensava Trenchard e Mitchell[iv].
A. John Boyd
As sementes da teoria de Boyd cresceram durante a Guerra da Coreia onde combateu como emérito piloto de caça. Infelizmente, nunca pôs em livro as suas ideias; limitou-se a expô-las em inúmeros briefings na Fighter Weapons School[v]. A teoria de Boyd advoga que as operações militares têm por objectivo criar e manter um estado de coisas altamente ameaçador para o inimigo e quebrar a sua capacidade de se adaptar a essa situação, paralisando-o e obrigando-o a aceitar uma decisão desejada. Baseando-se na análise da história militar, antiga e moderna, estudando nomeadamente Clausewitz e Sun-Tzu, Boyd identificou quatro qualidades chave para operações com sucesso: iniciativa, harmonia, variedade e rapidez. O aspecto mais conhecido da teoria de Boyd é o modo como ele representa todo o comportamento racional humano, individual ou organizacional, como um ciclo contínuo de quatro tarefas distintas: observação, orientação (criação de imagens ou esquemas mentais), decisão e acção (o ciclo OODA)[vi]. (ver fig. 1)
Boyd afirmava que, para vencer um conflito, tem de penetrar-se no ciclo OODA do adversário e permanecer lá. Para isso, tem de “apertar” o seu ciclo, isto é, completá-lo mais depressa, e alargar o do adversário através de acções rápidas e variadas, criando-lhe medo e pânico que se manifesta na perda da capacidade e da vontade de resistir (paralisia)[vii]. (ver fig. 2)
B. John Warden
Em 1986, emergiu outra figura, o Cor. John Warden. Apresentou na NDU[viii] uma tese, depois transformada em livro –The air campaign – Planning for combat -, um documento nessa altura fora do vulgar e controverso. A influência do Cor. Warden na Guerra do Golfo de 1991 é hoje indesmentível. Prestava na altura serviço no Estado-Maior da USAF no Pentágono e, em teoria, não tinha qualquer responsabilidade no planeamento da campanha ao nível do Teatro de Operações.
O Gen. Schwarzkopf, comandante-chefe do Central Command[ix] sabia que os planos de contingência para a área do Golfo eram imperfeitos e, assim, solicitou ao estado-maior da USAF apoio para desenvolver um plano aéreo para a ofensiva. A tarefa foi parar à secretária de Warden que, nalgumas semanas, elaborou um minucioso plano, onde aplicou as suas ideias.
Warden baseou – se num conjunto de suposições, das quais as principais eram:
- O comportamento humano é complexo e imprevisível;
- Os efeitos materiais da acção militar são mais previsíveis;
- A superioridade aérea é um pré-requisito para vencer;
- A ofensiva é de longe a forma mais forte de guerra aérea;
- Todas as acções devem ser dirigidas para atingir e debilitar a mente e o raciocínio do comandante inimigo.[x]
Warden cria firmemente que o Poder Aéreo tem uma capacidade intrínseca para atingir os objectivos estratégicos de um conflito com grande eficácia e custos reduzidos. As suas ideias centrais eram que o planeamento da guerra aérea é vital e, uma vez assegurada a superioridade aérea, o Poder Aéreo pode ser utilizado quer em apoio das forças de superfície, quer independentemente para alcançar efeitos decisivos. A tecnologia tornava os centros vitais vulneráveis a custos aceitáveis para o atacante. A tecnologia tornava também possível e muito desejável o uso de ataques paralelos, em vez de sequenciais.
Warden cria que o pensamento estratégico devia começar pelos princípios gerais, donde se passava para os detalhes, e não o contrário. Deu como exemplo a comparação entre um arquitecto e um pedreiro. Deve pensar-se do grande para o pequeno, de cima para baixo. Assim, deve pensar-se no inimigo como um sistema, composto por numerosos subsistemas, pois isto dá mais oportunidades de o forçar ou induzir a comportar-se como queremos com um esforço mínimo[xi]. Warden concordava com o conceito de Clausewitz de que todas as guerras têm uma finalidade política.[xii] Quando se entra em guerra com uma entidade política, devem ter-se objectivos que, para serem úteis, têm de ir muito para além de derrotar as suas forças armadas; de facto, isto pode ser precisamente o que não se quer fazer. Ao nível estratégico, alcançamos os nossos objectivos causando alterações tais a uma ou mais partes do sistema inimigo, que ele decide adoptar os nossos, sob pena de lhe ser impossível opor-se-nos. É isto a “paralisia estratégica”.[xiii]
Para que o conceito do “inimigo como sistema” possa ser compreensível, Warden utilizou um modelo, denominado “dos cinco anéis” e comparou-o a um corpo humano. (ver fig. 3)
- No centro do sistema estão os líderes, o cérebro, e devem ser eles o alvo de todas as nossas acções, directa ou indirectamente; só eles podem tomar decisões e fazer concessões.
- No segundo anel estão os órgãos essenciais (os “centros de gravidade”), normalmente as indústrias transformadoras de energia (oxigénio e alimentação), para que o sistema as possa utilizar (i.e. o sistema de produção de energia eléctrica, refinarias de petróleo, ou o sistema de comunicações). Sem estas formas de energia, o cérebro não pode funcionar e, logo, não pode dar as ordens necessárias para manter o sistema também a laborar.
- Segue-se o anel das infra-estruturas (ossos, músculos e vasos sanguíneos) que contém o sistema de transportes (caminhos de ferro, estradas, pontes, portos, aeroportos, etc.). Se o movimento se torna impossível, o sistema passa a movimentar-se mais devagar, sendo a capacidade de resistir às exigências do opositor. É certo que podem existir redundâncias e, por isso, pode ser necessário um esforço maior para causar estragos consideráveis.
- O quarto anel é a população (as células). Para além das objecções morais, é quase impossível atacar directamente a população; pode inclusivamente perder-se parte dela e sobreviver.
- O último anel contém as forças armadas (sistema imunológico que protege o corpo). As forças armadas protegem o Estado, os outros quatro anéis do sistema, de um ataque do exterior ou de degradação geral. Pode pensar-se que elas são a parte mais vital numa guerra mas, de facto, são apenas um meio para atingir um fim: proteger a sociedade.[xiv]
Intrínseca ao modelo dos 5 anéis de Warden, está a ideia de que a compreensão da estrutura de um oponente é vital no processo de construir uma estratégia aérea de coacção eficaz. Cada anel, cada parte do sistema, tem a sua própria estrutura de 5 anéis, até ao nível individual.[xv] Se ele for compreendido, o problema seguinte será como reduzir o seu nível de funcionamento ou paralisá-lo. Para isso, adoptou a “teoria do conflito” de Boyd à sua teoria de “ataque estratégico”. A melhor maneira de o fazer será através de ataques paralelos, em vez de ataques sequenciais. Se uma parte significativa da estrutura é atingida em paralelo, a destruição pode tornar-se insustentável. Actualmente, a tecnologia tornou possível atacar simultaneamente todas as vulnerabilidades estratégicas do inimigo, aproximando-se do que Clausewitz chamou de “forma ideal de guerra” (atacar tudo ao mesmo tempo).[xvi]
Em toda esta teoria, assume relevância essencial a elencagem de alvos, nomeadamente os estratégicos, o conceito, também nitidamente “clausewitziano” dos “centros de gravidade”, aqueles pontos em que o inimigo é mais vulnerável e onde um ataque tem mais probabilidades de ser decisivo.[xvii] Seleccionar os alvos a atacar é a essência da estratégia aérea. Esta selecção tem de ser baseada e actualizada com base no reconhecimento aéreo (ou espacial) e nas informações continuamente actualizadas.
C. A comparação com os clássicos
Avaliando as ideias de Boyd e de Warden e comparando-as com as dos clássicos, poder-se-á constatar que não são na realidade muito diferentes. Para lá da natural evolução dos conceitos, aquilo que se alterou substancialmente foram os meios tecnológicos para concretizar a maior parte deles. Boyd e Warden divergem na sua aproximação teórica. As suas aproximações representam duas tradições acerca da natureza e fins da teoria, personificadas por dois teóricos da guerra do século XIX: Antoine Henri Jomini e Carl von Clausewitz. Jomini acreditava que se podia reduzir a conduta da guerra a um conjunto de princípios científicos e aplicação universal. A estratégia da guerra é científica, constante e gerida por princípios sempre válidos.
“É necessário examinar a teoria da guerra para descobrir as suas verdadeiras regras”[xviii]
Em contraste, Clausewitz vê a guerra de uma perspectiva menos linear. Estratégias idênticas nem sempre produzem efeitos idênticos. A incerteza natural da guerra torna impossível de garantir que o que resultou no passado, resultará no futuro. Clausewitz procura sempre dotar o comandante com génio.[xix] Avaliando os dois teóricos da paralisia estratégica sob este prisma, pode concluir-se que o pensamento de Warden é predominantemente “jominiano” na sua índole, conteúdo e intenção, no sentido em que é prático, salienta o aspecto físico do conflito e ressalta a importância dos princípios da guerra. Ao contrário, o de Boyd é “clausewitziano”, no sentido que é filosófico, enfatiza as esferas mental e moral do conflito, e afirma a importância do génio da guerra.[xx]
D. A “guerra do Golfo”
Na “guerra do Golfo”, em 1991, o Poder Aéreo mostrou que pode ser decisivo quando aplicado correctamente. Pela primeira vez, desde a 2ª Guerra Mundial, o Poder Aéreo convencional foi utilizado estrategicamente em larga escala. Ao contrário do que tinha acontecido no Vietname, o Poder Aéreo foi empregue como um todo integrado para alcançar objectivos estratégicos que influenciaram a decisão final do conflito. Para tal, contribuiu decisivamente o uso, pela primeira vez, do “comando centralizado e a execução descentralizada” sob o comando de um aviador com a perspectiva completa do teatro de operações, o JFACC[xxi]. Deste modo, as forças da coligação ganharam completa superioridade aérea (supremacia aérea), isolaram Saddam Hussein das suas forças no terreno e destruíram alvos-chave (os “centros de gravidade”), tendo a sua eficácia contribuído em larga escala para encurtar a guerra terrestre.
Neste conflito, os aviões “furtivos” e a precisão dos armamentos demonstraram ser multiplicadores de força que permitiram operações paralelas contra múltiplos alvos. Foram executadas 2500 saídas aéreas/dia, batendo largamente todos os precedentes históricos. A “guerra do Golfo” deixou lições importantes:
- Primeiro, o Poder Aéreo é uma solução barata e fácil para os problemas de política externa. Esta ideia parte de três axiomas: o Poder Aéreo salva vidas de soldados no terreno; a tecnologia avançada das PGM’s reduz os danos colaterais, fazendo assim a guerra menos sangrenta e moralmente mais aceitável; e o medo desta tecnologia sofisticada coage um inimigo a aceitar a nossa vontade. O Poder Aéreo é uma ferramenta relevante para afirmar um discurso político.
- Segundo, ensinou a necessidade de neutralizar as redes de sistemas de mísseis antiaéreos do inimigo em funcionamento e cujas radiações foram detectadas nas horas iniciais do conflito; no Kosovo, os sérvios mantiveram-nos sem emitir e escondidos.
- Terceiro, a sedução do Poder Aéreo oferece aos políticos uma hipótese de “gratificação sem compromisso”. É visto como um remédio universal quando os meios diplomáticos estão esgotados.[xxii]
E. Os avanços tecnológicos. A RAM
A tecnologia constitui uma dimensão determinante para explicar as mudanças de doutrina no plano militar. A natureza das tecnologias influencia a natureza das estratégias, e uma inovação técnica pode aperfeiçoar ou alterar o curso das mesmas. É indubitável a existência de uma parte de determinismo tecnológico na evolução do pensamento estratégico. O avanço tecnológico nos armamentos – armamento guiado de precisão (PGM’s)[xxiii], armamento de longo alcance (BVR)[xxiv], etc. – abriu novos horizontes nos danos colaterais, na eficácia na destruição ou neutralização dos alvos e nas baixas por contacto directo com as forças opositoras, mas não nos protege do terrorismo e dos ataques suicidas.
O uso de PGM’s teve como resultado níveis extraordinariamente baixos e sem precedentes de danos colaterais. Durante a “guerra do Golfo” foram utilizados em média 10 aviões por alvo. No Afeganistão esse número foi reduzido para 2 aviões por alvo, em média. A percentagem de PGM’s utilizados, excluindo os mísseis de cruzeiro, utilizados foi de 57%, contra 7% no Golfo em 1991. Em 2003, no Iraque, esta percentagem subiu para cerca de 70%. As razões para estes avanços são principalmente a redução dos danos colaterais e o aumento do custo-eficácia de cada saída.
Uma faceta crítica desta evolução foi a capacidade de encurtar o processo “sensor – decisor – executante”. Isto foi alcançado através do uso de múltiplos sistemas, tais como os UAV’s[xxv] “Predator” e “Global Hawk”, aviões de reconhecimento de comunicações RC-135 “Rivet Joint”, aviões de reconhecimento U-2 e E-8 JSTARS[xxvi] e canais de transmissão de dados “Link 16”, sistema de transmissão de dados de banda larga, permitindo transmissão de imagens. Na “2ª guerra do Golfo” (2003), conseguiu-se uma redução drástica do espaço de tempo (atingiu os 12 minutos) entre a detecção do alvo por um qualquer sensor, a sua recepção, visualização, decisão e o ataque desse alvo por um sistema de armas, através de modernos sistemas de informações, vigilância e reconhecimento de banda muito larga.
Assistimos a mudanças espantosas na guerra moderna. O espaço em que a acção militar coordenada tem lugar aumentou significativamente, tendendo para o global, ao passo que o tempo disponível para a tomada de decisão diminuiu, empurrando cada vez mais o operador humano para perto dos limites do círculo de controlo. O Poder Aéreo e a tecnologia têm uma relação sinergética; tal é evidenciado pelo uso inovador de métodos sofisticados de ligar a longas distâncias o sensor, o decisor e o executante. O meio de ligação vital é o “software”, que existe num terreno sólido e escondido: a lógica.
Na primeira metade do séc. XX, a grande tarefa dos teóricos militares era conciliar a guerra com a inovação científica e tecnológica. No início do séc. XXI, a ciência militar tem um imenso desafio, igualmente vital para o desempenho em conflito das nações para quem ainda é importante: a militarização da lógica. Muitos crêem que a transformação que se está a dar nos aspectos da guerra é pelo menos tão profunda como a causada pela aparição da pólvora e que está de facto em marcha uma “revolução técnico-militar” e uma “revolução nos assuntos militares” (RAM). A tecnologia apontada como causa primária desta revolução é o microprocessador. Os entusiastas argumentam que o enorme impacto que os “micro-chips” já têm nos conflitos, como demonstrado na 1.ª Guerra do Golfo, no Kosovo, no Afeganistão e de novo no Iraque, é apenas um aperitivo da revolução real que ainda está para vir. Uma ideia generalizada é que esta contínua revolução tornará progressivamente os sistemas de armas tradicionais obsoletos.[xxvii]
Uma Revolução Técnico-militar ocorre quando existe uma grande e rápida melhoria no equipamento utilizado em combate e em apoio ao combate, pela combinação de várias tecnologias de modo inovador num curto espaço de tempo. Normalmente, em conjunto com a Revolução Técnica Militar, uma Revolução nos Assuntos Militares requer a alteração dos conceitos doutrinários e as mudanças organizacionais necessárias para capitalizar as novas tecnologias e doutrina e transformar fundamentalmente o carácter e a condução das operações militares.
A RAM assenta em várias dimensões tecnológicas novas:
- A letalidade do armamento é superior, devido aos progressos enormes na precisão e na furtividade, que são mais significativas que o volume e o poder de fogo;
- A localização e a pontaria melhoraram devido aos progressos na vigilância, na detecção e no acompanhamento dos movimentos no teatro de operações;
- A agilidade e a flexibilidade das forças militares aumentaram substancialmente graças à integração e à utilização em tempo real dos sistemas de informação;
- As operações militares são simultâneas e recorrem à intervenção combinada e comum das forças.[xxviii]
A campanha aérea do Kosovo foi uma demonstração impressiva de bombardeamento de precisão. As PGM’s chamaram muito a atenção mas faziam parte do arsenal americano desde o Vietname. O que sucedeu nos últimos anos foi a sua combinação com a furtividade, a noite e as capacidades de largada em todo o tempo, conjuntamente com satélites, “UAV’s”, aviões escutas e pessoal no terreno para aquisição de alvos, tudo complementado com procedimentos expeditos de aprovação de “ordens de missão” e de alvos, com um cuidado excepcional quanto a mortes desnecessárias.[xxix]
Estes processos de aquisição, transmissão, processamento e fusão dos dados do campo de batalha, e a partilha de informações de uma forma conjunta, foram fundamentais para a efectividade e a extrema rapidez nos ciclos dos processos de decisão.
A utilização de PGM’s implica também uma diminuição significativa do nível de violência da guerra. A utilização deste tipo de armamento, ao permitir atingir só aquilo que é militarmente remunerador, possibilita que a obtenção de efeitos similares seja possível com a diminuição da carga explosiva utilizada. Consequentemente, o relativo baixo nível da violência e dos danos causados, fez com que os últimos conflitos tivessem um diminuto número de baixas civis e militares. Isto trouxe óbvias implicações estratégicas e permitiu ainda a diminuição da quantidade e intensidade de eventuais crises humanitárias e, elemento não discipiendo, a redução significativa da necessidade de posterior reconstrução das infra-estruturas atacadas.
Não admira assim que, partir da 1ª guerra do Golfo, o recurso ao armamento de precisão tenha crescido de forma significativa em cada conflito. Na 1ª guerra do Golfo, apenas 7% das munições largadas foram de precisão. Nas campanhas dos Balcãs a percentagem subiu para 35%. No Afeganistão, 56% do armamento empregue foi de precisão. Finalmente, durante o último conflito no Iraque, e embora os números variem conforme a fonte, esta percentagem atingiu cerca de 70%.[xxx] A qualidade das armas utilizadas tornou-se pois mais importante do que a quantidade. Surgiu assim a característica definidora da guerra na era da informação, algo inimaginável antes de surgir a tecnologia desta era: a coordenação em tempo real de elevado número de armas de grande precisão a grandes distâncias, criando uma capacidade de combate sem precedentes.[xxxi]
F. Os princípios comprovados pela experiência
Cerca de 100 anos após ter surgido a arma aérea, e com a década de 1990’s finalmente a confirmar muitos dos vaticínios dos “profetas”, podem já apontar-se alguns princípios sobre o seu emprego que a experiência já comprovou. Philip Meilinger enunciou os 10 princípios fundamentais do emprego do Poder Aéreo para alcançar os objectivos estabelecidos:
- Quem controla o ar, normalmente controla a superfície;
- O Poder Aéreo é uma força intrinsecamente estratégica;
- O Poder Aéreo é primariamente uma arma ofensiva;
- O Poder Aéreo é elencagem de alvos, elencagem de alvos é informações, e informações é analisar os efeitos das operações aéreas;
- O Poder Aéreo produz choque físico e psicológico porque domina a quarta dimensão: tempo;
- O Poder Aéreo pode conduzir simultaneamente operações paralelas a todos os níveis da guerra;
- O armamento aéreo de precisão redefiniu o significado de “massa”;
- As características específicas do Poder Aéreo necessitam ser controladas por um aviador;
- A tecnologia e o Poder Aéreo estão relacionados integral e sinergeticamente;
- O Poder Aéreo inclui não só as capacidades militares mas também a indústria aeronáutica e a aviação comercial.[xxxii]
A partir da “guerra do Golfo”, o Poder Aéreo mostrou como pode ser decisivo quando utilizado correctamente e pode, finalmente, validar muitos dos princípios e das teorias que os “profetas” iniciais tinham idealizado. Tem ficado demonstrada a sua importância, as suas características e capacidades - a precisão, a letalidade e o poder de fogo, a operação em qualquer condição de visibilidade, a liberdade para escolher a hora e local para a sua actuação - e as consequências e condicionantes que a aleatoridade e imprevisibilidade da guerra impõem ao nível da condução política e estratégica da mesma.[xxxiii]
O desequilíbrio existente entre as expectativas iniciais dos teóricos do Poder Aéreo e as suas possibilidades reais tem vindo a diminuir significativamente. O desenvolvimento tecnológico, nomeadamente a introdução de conceitos inovadores de Comando e Controlo, e o emprego de armamento de precisão, aumentou decisivamente a flexibilidade, o poder de fogo, a capacidade de recolha e processamento de informação, e a mobilidade do poder aéreo, concedendo a este uma importância estratégica significativa. Estas capacidades, acompanhadas por uma estrutura doutrinária orientada para a sua utilização de uma forma rápida, precisa e eficiente, permitem concluir que a exploração do poder aéreo iniciou a idade da maturidade, elevando-se a um estado de desenvolvimento tal, que se constitui como verdadeiro instrumento político adequado ao fenómeno caótico e imprevisível que é a guerra.
Na realidade, a evolução exponencial daquelas capacidades fez com que a sua importância relativa, face às componentes terrestre e naval, aumentasse significativamente, facilitando grandemente a manobra e a acção daquelas. Exemplos flagrantes desta situação encontram-se na “guerra dos seis dias”, nas Falkland/Malvinas e na “guerra do Golfo”. Conflitos houve em a utilização do Poder Aéreo conseguiu, por si só, os objectivos políticos estabelecidos, como foi o caso da Bósnia e do Kosovo, em que a finalidade inicial era obrigar os oponentes a sentar-se à mesa das conversações.
As “profecias” do passado estão agora confirmadas pelo combate e são já as realidades do futuro.
Crê-se contudo que não é lícito concluir, como alguns fazem,[xxxiv] que as doutrinas de emprego do poder aéreo, nomeadamente a de Warden, tenham uma lógica de substituição ou de sobreposição das outras estratégias militares. Tal é objectivamente impossível, uma vez que este não pode ocupar nem manter o terreno. A Estratégia Aérea faz parte da Estratégia Geral Militar e é esta que, consoante os objectivos fixados, o teatro de operações e os potenciais em confronto, definirá a modalidade de acção a seguir.
“O Poder Aéreo não tem outra finalidade independente, para além do seu papel como componente do Poder Militar.”
Ronald Fogleman, General USAF
Mais do que constrangimentos tecnológicos ou doutrinários, será pois a decisão política, que dentro do contexto específico de um conflito, e face aos objectivos a atingir, determinará a forma de emprego do Poder Aéreo.
BIBLIOGRAFIA
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WARDEN, John A. – “The enemy as a system”, Airpower Journal 9, Spring 1995.
SILVESTRE DOS SANTOS, Eduardo – “O Poder Aéreo no século XXI – Considerações e tendências”, Revista “Mais Alto” n.º 343, Maio/Junho de 2003.
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MEILINGER, Philip S. – “10 propositions regarding Air Power”, Air Force History and Museums Program, 1995.
MEILINGER, Philip S. (compilação) – “The paths of heaven – The evolution of airpower theory”, Air University Press, Alabama, 2001.
FIGUEIREDO, TCor. António – Lição Inaugural IAEFA 2003-2004.
METS, David R. – “The air campaign – John Warden and the classical airpower theorists”, Air University Press, Alabama, 2000.
DAVID, Charles-Philippe – “A guerra e a paz – Abordagens contemporâneas da segurança e da estratégia”, Instituto Piaget, Economia e Política, 2000.
PINTO, Pedro M. X. E. Fontes – “Giulio Douhet e John Warden. Aspectos evolutivos da teoria do Poder Aéreo”, em “Nação e Defesa” Outono/Inverno 2003, n.º 106 – 2ª Série, IDN, Lisboa, 2003.
Fadok, David S. – “The paths of heaven”, p. 357.
[ii] Citado por Fadok, obra citada, p. 359.
[iii] ibidem
[iv] Fadok, obra citada, pp 361-362.
[v] Fighter Weapons School – Unidade de treino de combate dos pilotos de caça da USAF.
[vi] Fadok, obra citada, p. 366.
[vii] Fadok, obra citada, p. 368.
[viii] NDU – National Defense University, Washington, DC.
[ix] Central Command – comando conjunto responsável pela área do Médio Oriente.
[x] Mets, “The air campaign – John Warden and the classical airpower theorists”, Air University Press, Alabama, 2000. , pp 58-59.
[xi] Warden, John A. - “The enemy as a system”, Airpower Journal, Spring 1995, p. 2.
[xii] Fadok, obra citada, p. 374.
[xiii] Warden, obra citada, p. 3.
[xiv] Warden, obra citada, pp 4-5.
[xv] Abbot, obra citada, p. 35.
[xvi] Warden, obra citada, p. 13.
[xvii] Fadok, obra citada, p. 372.
[xviii] Jomini, ªH. – “The art of war”, citado por Fadok, obra citada, p. 378.
[xix] Fadok, obra citada, p. 380.
[xx] Fadok, obra citada, pp 388-389.
[xxi] JFACC – Joint Force Air Componente Commander (Comandante da Componente Aérea da Força Conjunta)
[xxii] Cooper, Scott A. - “The immaculate warfare”, p. 5.
[xxiii] PGM – precision guided munition.
[xxiv] BVR – beyond visual range.
[xxv] UAV – unmanned air vehicle – véículo aéreo não tripulado.
[xxvi] JSTARS – Joint Surveillance and Target Attack Radar System.
[xxvii] Silvestre dos Santos, Eduardo – “Inovações tecnológicas e os sistemas de armas tradicionais”, p. 12
[xxviii] David, obra citada, pp 184-187.
[xxix] Wrage, Stephen D. – “The immaculate warfare”, pp 1-2.
[xxx] Figueiredo, António – Lição inaugural IAEFA 2003-2004.
[xxxi] Silvestre dos Santos, Eduardo – artigo citado, p. 11.
[xxxii] Meilinger, Philip S. – “10 propositions regarding Air Power”
[xxxiii] Figueiredo, António – Lição inaugural IAEFA 2003/2004.
[xxxiv] PINTO, Pedro M. X. E. Fontes – “Giulio Douhet e John Warden. Aspectos evolutivos da teoria do Poder Aéreo”, pp 155 e194.
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"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Emprego eficaz do Poder Aéreo:
elemento sinérgico às operações combinadas
Tenente-Coronel Aviador Mauro Barbosa Siqueira,
Força Aérea Brasileira
Introdução
As guerras terrestres, navais e aéreas independentes desapareceram para sempre. Se algum dia nos virmos novamente envolvidos numa guerra, combateremos com todas as forças armadas num esforço único e concentrado.
À época da Guerra Fria, o Marechal-do-Ar Tedder, Chefe do Estado-Maior das Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, asseverava com perspicácia, em Air Power in War, que “a estratégia a adotar tem que integrar forças de terra, mar e ar”. (TEDDER, 1954, p. 28-29). Tedder (1954) argumentava que apesar da decisão final ser obtida pelas Forças de Superfície, ela depende do que se passa no ar. Defendia, veementemente, a colaboração aeroterrestre. Todavia, “Lord” Tedder afirmava que, sem uma situação aérea favorável, a cooperação não seria eficaz.
Em tempos hodiernos, as concepções de Tedder permanecem válidas. Cerca de cinquenta anos depois, há um poder aéreo, letal e não-letal, mais eficaz e ubíquo, operacional e tecnologicamente. Esses fatores têm majorado a dependência dos demais poderes militares em relação à conquista e à manutenção da superioridade aérea no enfrentamento de um oponente racional.
1 Educação Profissional Militar e Formação Acadêmica
Nós conhecemos certas características que o oficial de Estado-Maior deverá ter futuramente: seu pensamento deverá ser claro, vigoroso, objetivo, independente e de escala global; ele deve ter a coragem e a curiosidade intelectual para tentar novas coisas e novos métodos; precisa precaver-se contra a certeza de que aprendeu todas as respostas para a guerra futura, não aceitar o caminho fácil das respostas do passado, ao invés do caminho muito mais difícil de desencavá-las no futuro.
Desde sua criação, em 1999, posterior vigência e implementação, o Ministério da Defesa (MD) brasileiro vem aperfeiçoando a estrutura de ensino da Escola Superior de Guerra (ESG) às necessidades decorrentes da evolução do saber e às exigências de Políticas de Pessoal coerentes com a realidade da guerra moderna.
A Educação Profissional-militar ou Professional Military Education, entendida assim nas escolas militares dos Estados Unidos, é, no âmbito das forças armadas e no caso da Escola Superior de Guerra, denominada de Ensino de Pós-formação.
Compete ao Estado-Maior de Defesa (EMD), principalmente, o planejamento de emprego combinado das Forças Armadas Brasileiras; o assessoramento ao Ministro de Estado da Defesa na condução de exercícios militares e no trato de participação brasileira em operações de paz; a formulação de diretrizes para as operações de garantia da lei e da ordem e de apoio ao combate a delitos transfronteiriços e ambientais; a orientação de atividades militares para a Defesa Civil; a operação do Centro de Comando e Controle do Comando Supremo e a elaboração de sumários de situação quando assim se fizer necessário.
A capital relevância do Estado-Maior de Defesa advém, prioritariamente, da união de esforços mútuos, entre as Forças Armadas, em prol de objetivos comuns, rumo à sinergia das ações previstas para os planejamentos militares combinados, em face das hipóteses de emprego listadas na Estratégia Militar de Defesa.
Sob esse enfoque, o Ministério da Defesa, atento à conjuntura da Educação Nacional e aos ditames legais vigentes no ordenamento jurídico brasileiro, fixou objetivos em consonância com as normas e as diretrizes da legislação federal, em vigor, ao determinar a implantação de um Curso de Estado-Maior de Defesa.
Sob os auspícios da “Era da Informação” e de demandas educacionais, o Ministério da Defesa estimula o uso de novas tecnologias, prepara o Corpo Docente, adapta os conteúdos curriculares e moderniza as instalações e os equipamentos da Escola Superior de Guerra, visando ao engrandecimento do campo cognitivo do seu Corpo Discente e do eficiente preparo de recursos humanos no meio militar.
Por força de lei, as Forças Armadas Brasileiras devem estar preparadas para cumprir a destinação prevista na Carta Magna vigente no Estado Brasileiro:
As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destina-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer desses, da lei e da ordem. BRASIL, 1988, art. 142, cap. II
Os oficiais da Marinha do Brasil, da Força Aérea e do Exército Brasileiros constituem um segmento militar do corpo discente da Escola Superior de Guerra.
Portanto, a formação de estagiários, em um Curso de Estado-Maior para oficiais das três forças co-irmãs, assegura uma complexidade de conhecimentos necessários à qualificação de recursos humanos com competências condizentes para assumirem cargos requeridos nas seções de um Comando Combinado, em tempo de paz ou na guerra, e para desempenharem suas funções durante as operações combinadas e os exercícios simulados com nações aliadas e alinhadas.
A Política de Defesa Nacional (PDN), editada em 1996 e que hoje não mais se encontra vigendo, afirmava: “diante do novo quadro mundial de desafios e oportunidades, é necessário promover no Brasil o desenvolvimento de modalidades próprias, flexíveis e criativas de pensamento estratégico, aptas a atender às necessidades de defesa do País.” (BRASIL, 1996, p. 2).
Ao Ministério da Defesa incumbe, por força legal, coordenar as ações necessárias à Defesa Nacional e ao aprimoramento de competências desejadas aos integrantes das Forças Armadas, consoante as diretrizes e os objetivos estratégicos fixados, que norteiam as atividades relacionadas à Defesa Nacional no Brasil.
Portanto, as ações de planejamento no Ministério da Defesa são orientadas ao preparo e ao aperfeiçoamento profissional do contingente militar das Forças Armadas, para que se mantenham em condições de atender, permanentemente, às Hipóteses de Emprego consideradas e de cumprir a missão que lhes foi atribuída.
Ademais, formular e preparar a capacidade militar necessária à Defesa de uma nação pode decorrer de diferentes modelos estruturais em face de valores, de tradições e de percepções de seu povo. Num país continental como o Brasil, a situação se agrava exponencialmente.
A formulação da Política Militar de Defesa (PMD), documento elaborado pelo Ministério da Defesa e destinado às Forças Armadas, fundamenta-se em definições da PDN e em diagnósticos de cenários político-estratégicos atuais e futuros.
A extensão do território nacional brasileiro e a variedade de possíveis teatros de operações constituem-se em amplas e em complexas tarefas às FA. Por conseguinte, majorados níveis de criatividade e de profissionalismo se demandam dos estrategistas e dos planejadores militares no emprego da força armada.
Os objetivos militares de defesa fixados na PMD orientam as forças armadas, a fim de capacitá-las para o atendimento das demandas da Defesa Nacional.
De todos os objetivos listados, há ênfase na manutenção de forças militares estratégicas em condições de pronto emprego para ações de defesa da Pátria e dos interesses nacionais; e na interoperabilidade dos sistemas militares de todas as três Forças Armadas Brasileiras.
Diante da permanente evolução tecnológica do mundo moderno, é de fundamental importância que os planos e os programas do Ministério da Defesa sejam elaborados em consonância com as ações estratégicas estabelecidas. Essas ações visam a orientar o processo de gerenciamento do aparato da Defesa do país, em todas as suas fases e na mais alta instância decisória, e colaborar com a consecução dos objetivos firmados pela PMD e pela PDN ora sob vigência no Brasil.
No âmbito do MD, o desenvolvimento de uma Política Militar de Defesa cristaliza-se no conjunto de ações estratégicas, diretrizes, procedimentos, manuais, doutrinas e normas diversas, os quais geram reflexos nos demais níveis de decisão.
As diretrizes militares de defesa listadas na PMD são “instruções norteadoras dos estudos da configuração do Poder Militar Brasileiro”. (BRASIL, 2005a, p. 15).
Na Política Militar de Defesa, realçam, entre outras diretrizes, com veemência:
Incrementar o adestramento de operações combinadas e aprimorar as doutrinas e os planejamentos militares pertinentes; incentivar o interesse e o crescimento de núcleos de produção de conhecimentos em assuntos de defesa, sobretudo no setor acadêmico; e dar ênfase às atividades afins das Forças Armadas notadamente à capacitação dos recursos humanos. BRASIL, 2005a, p. 15-16
Em atendimento às diretrizes que se relacionam, concomitantemente, com Operações Combinadas e Educação Profissional-Militar, as ações do Ministério da Defesa têm como propósito básico o elemento humano. O homem deve ser permanentemente preparado, para que possa, num ambiente de constantes e rápidas transformações, entender a importância de suas tarefas, bem como estar qualificado a empregar, racionalmente, os meios sob sua responsabilidade. Então, onde, como e quando melhor prepará-lo? O porquê disso torna-se óbvio.
Figura 3: A Escola Superior de Guerra (ESG).
Fonte: Site da ESG na Internet. Disponível em: <http://www.esg.br/>
Em A arte de pensar, Pascal Ide afirma: “De fato, todos nascemos com uma inteligência, mas ninguém nasce com um manual de instruções para utilizá-la. Cabe à educação fornecê-lo”. (IDE, 2000, prefácio). Portanto, infere-se que conceder educação de alto nível ao Homem é legado valioso. Por analogia, esse raciocínio aplica-se, perfeitamente, também às Forças Armadas Brasileiras.
Uma das instituições à qual pertence o ser humano, ao longo de sua existência, constitui-se na escola, que acaba sendo um local adequado à troca de conhecimentos e de experiências dos convivas na caserna e dos companheiros em sala de aula. A simulação didática de um Estado-Maior combinado exemplifica isso.
Para tanto, o processo educacional da Escola Superior de Guerra objetiva conceder aos recursos humanos um consciente entendimento de que o trabalho dignifica e valoriza o homem, melhora sua qualidade de vida e promove a auto-realização profissional.
Sob essa ótica, o Ministério da Defesa do Brasil planeja, orienta, coordena e avalia cursos, pesquisas e projetos, no seu campo de ingerência, com o objetivo de administrar a execução da Política Militar de Defesa.
Por exemplo, o Ministério da Defesa brasileiro firmou convênio, em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, de fomento no âmbito do Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Defesa Nacional – PRÓ-DEFESA. Em linhas mestras, formula a premissa do mister intercâmbio com instituições de ensino civis e, ainda, com escolas militares de altos estudos no Brasil e no exterior.
O processo educacional reveste-se de caráter especial e é uma exigência perene. Porém, deve observar, entre outros aspectos de relevo, o desenvolvimento de atividades do ensino por meio da pesquisa científica e de metodologias eficazes.
Coadunando-se com essa concepção, três oficiais da Marinha do Brasil, cinco do Exército e um da Força Aérea completaram, no ano passado, o Curso de Estado-Maior de Defesa (CEMD). O Ministério da Defesa tem a responsabilidade legal e a competência normativa pelo Curso. À Escola Superior de Guerra, cabe, pelo programa letivo, gerenciar o CEMD, que, em 2007, foi ministrado em grau de excelência. Em 2008, apenas um oficial da Força Aérea concluiu o agora nomeado Curso de Estado-Maior Combinado (CEMC). O total de oficiais foi mais desigual ainda, pois havia quinze alunos interagindo durante as treze semanas de curso.
Percebe-se a disparidade numérica de oficiais-alunos entre as três forças armadas. O Comando da Aeronáutica poderia rever os processos de indicação e de voluntariado para os oficiais superiores com o Curso de Comando e Estado-Maior, de maneira que o CEMC venha a ser prestigiado com um quantitativo, quiçá similar àquele da Marinha e do Exército, de oficiais-alunos oriundos do Estado-Maior da Aeronáutica, de Forças Aéreas, de Estados-Maiores de Comandos Regionais (onde haja exercícios combinados previstos para anos subsecutivos), da ECEMAR e do Comando-Geral de Operações Aéreas. No futuro, isso poderá ser imposto pelo MD.
2 Histórico do Poder Aéreo e as Operações Combinadas
Se nós perdermos a batalha aérea, perderemos a guerra e perderemos rapidamente.
Marechal-de-Campo Viscount Bernard Law Montgomery
Recentemente, o debate acerca do poder aéreo completou um século. Durante esses pouco mais de cem anos, o cenário de guerra se modificou de modo considerável e drasticamente pela arma aérea.
Assevera Murillo Santos* que, antes de 1911, pouquíssimas pessoas enxergavam o aeroplano como um instrumento bélico propriamente dito. Percebia-se o advento do avião, no início do século XX, como um inédito engenho bélico. A arma aérea foi agregada ao demais poderes militares “quando no conflito ítalo-turco, na Líbia em novembro de 1911, nove aviões italianos, em operações bélicas, haviam despejado granadas de dois quilos sobre tropas turcas”. (SANTOS, 1989. p. 24).
* O Falecido Tenente-Brigadeiro-do-Ar Murillo Santos foi instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR) e exerceu a função de Comandante da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica (EAOAR).
No início, as forças aéreas desenvolveram-se como parte integrada aos exércitos e às marinhas. Na porção mediana desse período, os defensores do poder aéreo argumentavam a favor de uma posição separada, porém no patamar similar em importância estratégico-operacional. As concepções teóricas de precursores do poder aéreo, como o italiano Giulio Douhet e o britânico Hugh Trenchard, demonstravam a preocupação precípua com o “Domínio do Ar”.
As teses do Marechal-do-Ar da RAF revelam a importância atribuída à obtenção e à manutenção de uma situação aérea favorável. Entretanto, um ponto é importante reter e enfatizar: Trenchard foi, em 1917, o único dos pensadores da primeira geração que considerou, abertamente, a cooperação do poder aéreo com os poderes terrestre e naval. TRENCHARD, 1989, p. 51-52
No entanto, essa cooperação, segundo Trenchard (1989, p. 51), deveria ser estudada na forma e no conteúdo, sem paixões sectárias, mas com pragmatismo, ressalvando a necessidade de um comando e controle centralizado dos meios, maximizando a flexibilidade que lhes está subjacente, evitando o seu desvio para tarefas sem significado. Apesar dessa filosofia de cooperação, o Marechal britânico não deixava qualquer margem para dúvidas quando defendia que os recursos aéreos deveriam estar agrupados num ramo independente sob a alçada do Ministro da Defesa. (TRENCHARD, 1989, p. 56).
Outros advogados do poder aéreo podem, ainda, ser listados como precursores da idéia de eficácia do emprego do poder aéreo como ferramenta que concede sinergia às operações combinadas. Dois desses não eram “homens do ar”.
Aparecendo com alto grau de importância e de propriedade nessa listagem, estão as idéias de Major-General John Frederick Charles Fuller e de Basil Henry Liddell Hart, que estabeleceram, antes do alvorecer da Segunda Grande Guerra, a estrutura teórica da equipe ar-terra em conflitos blindados. A Blitzkrieg, conforme empregada pela Alemanha, deve muito às idéias desses dois estrategistas britânicos e, ao contrário, envolvia aeronaves num nível de importância idêntica ao dos carros de combate e da infantaria motorizada. Seu uso na França e na Rússia, em 1940 e 1941, dependia, substancialmente, de ataques aéreos coordenados – na realidade, a arma aérea liderava a batalha. Utilizavam-se as aeronaves, portanto, de um modo que “Billy” Mitchell e que Trenchard corroborariam, mas que Douhet e que Seversky teriam considerado ineficiente. O Major-General Mitchell era favorável ao emprego do avião em apoio às forças de superfície, contrariamente a Douhet, que o recusava liminarmente.
Após a invasão da França, foi desencadeada a Operação “Barbarossa”, na qual a Luftwaffe empregou meios aéreos. Tal missão consistia, necessariamente, na destruição do poder aéreo soviético e no apoio, numa segunda fase, às forças de superfície alemãs, visando à consecução de uma Blitzkrieg contra as forças russas.
Na campanha da Rússia, o emprego da arma aérea por parte da Luftwaffe foi afetado por vulnerabilidades internas, de certa forma, similares às que se verificaram na Batalha de Inglaterra. O bem-sucedido bombardeio da indústria soviética foi impossibilitado devido à indisponibilidade de aviões com maior raio de ação. No entanto, a seleção de alvos constituiu uma aplicação lógica da estratégia em vigor na época: destruir num curto tempo a capacidade de o inimigo fazer a guerra, desferindo ataques contra áreas de objetivos militares de interesse primordial.
Na Operação “Barbarossa”, o acento tônico foi posto na execução de missões auxiliares em detrimento de outras, nas quais os vetores aéreos poderiam ter sido explorados em toda a sua magnitude. Se inicialmente o poder aéreo foi empregado de forma eficiente, considerando os recursos disponíveis e a previsibilidade de uma operação de curta duração, a chegada precoce de um inverno rigoroso e a manutenção de uma estratégia de emprego desajustada em face dos meios envolvidos, contribuiu para um dos capítulos mais trágicos da história da guerra – a Batalha de Stalingrado.
No início da campanha da Luftwaffe na Rússia, o emprego da aviação soviética foi pouco eficaz (os pilotos russos utilizaram, até mesmo, uma tática similar à dos kamikazes japoneses). Na Batalha de Stalingrado, houve um salto qualitativo importante. Esse fato foi conseqüência da incapacidade da Luftwaffe em destruir a indústria aeronáutica russa, mas também do reforço tecnológico recebido da Grã-Bretanha, principalmente pela entrega de aviões Hurricane à Força Aérea Soviética.
Por outro lado, a aviação alemã teve os seus aeródromos avançados destruídos pelo poder aéreo soviético, que num assomo de revitalização impediu o apoio às forças terrestres alemãs por meios aéreos da Luftwaffe (monomotores e de autonomia reduzida) essenciais à manutenção de um fluxo logístico rápido e contínuo de abastecimento. A Campanha militar alemã e da Luftwaffe, na Rússia, foi a derrocada definitiva da tática (nomeada de doutrina ou de estratégia) de Blitzkrieg.
“O tradicional aliado da Rússia, o General Inverno, ajudara a deter o ímpeto da Blitzkrieg, mas era inevitável uma ofensiva de primavera”. (JONES, 1975, p. 7).
Se a campanha da Rússia constituiu um marco importante no emprego dos recursos aéreos na II Grande Guerra, pelos ensinamentos colhidos, outros acontecimentos tinham lugar, quase em simultâneo, no norte de África. Desses fatos, é possível, igualmente, absorverem-se lições identificadas, sobretudo, no âmbito de Comando e Controle (C2). A derrota na Batalha de Kasserine Pass demonstrou que, mesmo com uma relação favorável em termos de meios, é possível haver falhas. Caso esses recursos sejam desviados para objetivos secundários, por comandos subordinados, pode-se perder o combate que, em tese, teria as condições favoráveis para ser ganho. A falta de coordenação acarretou desastres, visto que dispersaram os meios em missões de apoio aéreo aproximado, em vez de se obter, em primeiro lugar, a superioridade aérea. Esse fato convenceu até mesmo os mais cépticos da imprescindibilidade de um comando centralizado.
Exemplo disso tem-se na “Operação Tocha”, que visava a obter uma plataforma de apoio à invasão da Europa pelo sul. “Se desfechou a ‘Operação Tocha’, no começo de novembro de 1942”, ano decisivo para os Aliados, pois “marcou o renascimento das esperanças de todos”. (JONES, 1975, p. 6).
Segundo Vincent Jones, a “Operação Tocha” possuía um valor estratégico, visto que “se a África do Norte pudesse ser tomada sem muitas dificuldades, o Afrika Korps de Rommel se veria entalado entre os americanos, em Marrocos e na Argélia, e os britânicos de Montgomery, no deserto líbio”. (JONES, 1975, p. 7).
A “Operação Tocha” pôs em confronto, uma vez mais, teses diferentes sobre o emprego dos meios aéreos. Por outro lado, ajudou a clarificar e a consolidar uma determinada estratégia de emprego. A realização da Conferência de Casablanca, contribuiu de forma clara e inequívoca para atingir esse desejo. Churchill e Roosevelt autorizaram o general Eisenhower a reorganizar as Forças Aliadas no Norte de África, com base em três comandos distintos: aéreo, terrestre e naval. Essa providência de caráter estrutural ajudou a resolver um problema antigo, mas simultaneamente básico e premente no desenvolvimento da guerra moderna. Tratava de questão capital: como empregar eficaz e judiciosamente o poder aéreo.
Qual seria, então, o ideal emprego da arma aérea para se obter os fins desejados, em ações independentes ou no apoio à manobra de superfície? O planejamento aéreo tornou-se, portanto, parte integrante do planejamento combinado do teatro de guerra. Trenchard (1989) dizia: “[...] real cooperação reside em estudo conjunto do problema – um estudo desapaixonado – com o objetivo de decidir quais os melhores meios para executar a tarefa e como empregá-los”.
Sob essa ótica, o general Eisenhower previu, em 1944, que os futuros conflitos armados, cujas ações militares fossem independentes, estariam com seus dias contados. Caso a Humanidade presenciasse novamente, coalizões de países unidos para planejarem ações bélicas, em uma hipotética Terceira Guerra Mundial, Eisenhower dizia que as forças armadas dessas nações antagonistas estariam trabalhando, conjuntamente, em uníssono e num esforço concentrado e sinérgico.
No milênio recém-inaugurado, o poder aéreo pode ser a derradeira peça no complexo jogo de guerra das operações combinadas e, analogamente, a ferramenta que transformaria partes desarticuladas em homogênea falange macedônica.
Com veemência, Mario Cesar Flores, Almirante-de-Esquadra (reformado) da Marinha do Brasil, afirma que “as lideranças militares” nem sempre aceitam bem a mudança se ela implicar questionamento de interesses e competências consagradas, “são propensas ao conservadorismo protetor da carreira” e acusadas de “conduzir o preparo militar pelo passado, em vez de adaptá-lo ao futuro”. (FLORES, 2002, p. 12).
Para Flores (2002), o problema é real, existe em todo o mundo e tem fundamentos político-estratégicos. O Almirante Flores cita uma frase que, provavelmente, foi cunhada pelo teórico militar Liddell Hart: “Só existe uma coisa mais difícil do que pôr na cabeça de um militar uma idéia nova: é tirar a antiga”. (FLORES 2002, p. 11). Os interesses corporativos dos militares que geram votos pesariam mais na discussão política do que as questões propriamente de defesa.
Os debates nos últimos vinte anos foram permeados pelo conceito de atuação de forças em operações combinadas e pelo Goldwater-Nichols Act, que reorganizou a Defesa, na “América”, e influenciou as operações militares de modo expressivo.
Sem essa Lei, há dúvidas de que os Estados Unidos lograssem o êxito em ambas as Guerras do Golfo. As Operações Escudo do Deserto e Tempestade no Deserto podem ser classificadas como as primeiras ações operacionais da guerra combinada moderna pelas forças armadas americanas e servem de paradigma para os demais países, que possuam a pretensão de fazê-lo com eficiência e eficácia.
Os eventos do “Onze de Setembro” validaram o conceito de ações combinadas, pois se criou um senso de urgência para “transformar” as forças armadas dos EUA, para poderem ser empregadas com maior eficácia contra os inimigos invisíveis. Então, como o poder aéreo pode contribuir, em conflitos de baixa intensidade, para o atendimento dos intentos políticos predeterminados?
Como o poder aéreo atua e pode ser empregado em conflitos assimétricos? Em 2006, Israel viu trinta e três dias de assimetria. Esse abreviado conflito armado se tratou de uma infame derrota ou foi uma “Vitória de Pirro”?
A Força Aérea Israelense bombardeou o Líbano, em julho de 2006, atingindo alvos em todo o país. Os ataques destruíram sedes do Hezbollah, depósitos de armazenamento de mísseis e de armamentos, além de linhas de comunicação e de locais de lançamento de foguetes. Mais de mil e oitocentos alvos foram atingidos nas operações aéreas de Israel no Líbano.
À época, o ministro da Defesa, Amir Peretz, admitia a probabilidade de uma ampla ofensiva terrestre. O então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, dizia que uma ação terrestre de Israel significaria uma “escalada muito séria” no conflito. Foi em vão, pois o conflito armado se tornou inevitável.
Nessa campanha militar israelense, o poder aéreo falhou em não utilizar um sistema de inteligência fidedigno, por não ter operado de modo combinado e por não ter validado um conceito de comando e controle: o “observar-orientar-decidir-agir”.
Entretanto, o mais relevante ensinamento colhido foi que as operações militares modernas exigem das forças armadas, sob a égide da interoperabilidade, a operação de modo integrado e combinado. Corrobora-se, dessa forma, todo o pensamento de Lord Tedder e de Sir Hugh Trenchard, pois os dois teóricos britânicos enfatizavam a cooperação, respectivamente, em pleno auge da Segunda Guerra Mundial, na operação nomeada de “Invasão da Normandia ou Dia D” (Overlord Operation), e no alvorecer da Royal Air Force em 1917.
A Operação Liberdade para o Iraque também validou o conceito de atuação de forças combinadas. Entretanto, a campanha militar agregou valor ao argumento de que o poder aéreo era um meio, pelo qual as forças navais e terrestres poderiam ser integradas, adquirir eficiência e atingir eficácia, que resultam em efetividade.
As teorias de Trenchard e de Lord Tedder podem ter sido comprovadas, pois o poder aéreo seria o instrumento que levaria as forças militares à sinergia almejada. Os doze princípios do poder aéreo atribuídos a Tedder traduzem essa idéia de efeito sinérgico e de eficácia da arma aérea. (WESTENHOFF, 1990).
Para o Marechal britânico, a estratégia a adotar teria que ser “geral, integrando forças de terra, mar e ar”. Segundo Tedder, “Independência, flexibilidade, concentração e mobilidade” seriam princípios, segundo Tedder, que deveriam balizar o emprego do poder aéreo, única forma de maximizar as características inerentes aos meios aéreos, tornando eficaz a sua prestação operacional. (TEDDER, 1954).
O processo de criação de teorias sobre o instrumento de poder militar — naval, terrestre ou aéreo – é análogo ao processo de conduzir um automóvel. É importante olhar pelos espelhos retrovisores, para o passado, e extrair lições úteis da história e das experiências alheias, mas é crucial olhar pelo pára-brisa, para o futuro, tentando discernir o que se poderá encontrar à frente. Nesse campo, o que parece estar adiante é a ratificação da indiscutível relevância do emprego combinado do poder militar.
O poder aéreo já tem suas tarefas combinadas a serem impendidas. Precisa definir-se em termos estratégicos, operacionais e táticos, de modo que possa operar, se mister, primeiro em prol da superioridade aérea. Secundariamente, pode interditar o poder do oponente, isolar o campo de batalha e apoiar as forças co-irmãs.
3 A Complexidade da Guerra: sinergia e interoperabilidade
É uma tendência própria dos organismos envelhecidos frear as inovações e lutar para sobreviver, invocando sempre direitos adquiridos, que se acrescem cada vez mais. Marechal-de-campo Montgomery
Desde a época do general Prussiano Carl von Clausewitz, a guerra tornou-se mais complexa. A despeito dessa complexidade ampliada e do maior “atrito na guerra” (CLAUSEWITZ, 1984, livro I-1, p. 119-121), as organizações militares mantiveram uma estrutura semelhante e a mesma mentalidade organizacional de combate. Há casos em que os nomes mudaram, mas o pensar não.
Especialistas concordam que as forças armadas não combaterão sozinhas, pois as missões para só uma força singular já não serão o habitual no combate. Ao invés disso, estabelecer-se-á um tratamento integrado, utilizando mais de uma Força. No futuro, as operações militares poderão ter mais “friction”, “chance”, “uncertainty” e esses fatores se unirão ao “fog” de Clausewitz (1984). Então, as três Forças do Brasil devem ajustar o caráter institucional e as estruturas para acolherem os novos desafios aguardados e que podem requerer integração e competência.
Segundo a Joint Vision 2020, das forças armadas dos EUA, “é mandato a interoperabilidade para qualquer força combinada, pois ela é o alicerce às operações combinadas eficazes”. A Joint Vision impõe a interoperabilidade entre “os sistemas de logística, de comunicações e de inteligência”. Entretanto, apesar de a interoperabilidade técnica “ser essencial, ela não é suficiente para garantir operações eficientes”. Deve haver, também, um “foco apropriado em elementos processuais e organizacionais”. Os tomadores de decisão precisam “entender as capacidades e as restrições uns dos outros”. Deve-se enfatizar a interoperabilidade, mormente, em áreas como “treinamento e educação, experiência e exercícios, planejamento cooperativo e ligações experimentadas”, em amplos espectros da força combinada. Pois, esses aspectos essenciais poderão suplantar “não apenas as barreiras da cultura organizacional e prioridades diferenciadas, mas ensinarão os membros das equipes combinadas a valorizar a vasta gama de capacidades das Forças à disposição deles”. (UNITED STATES OF AMERICA, 2000, p. 20-21).
De acordo com o pensamento de Sullivan (2002, p. 2), “a combinação sinérgica de operações combinadas será essencial às futuras operações militares”.
O inicial planejamento operacional da Operação Anaconda “não preconizava o emprego integrado do poder aéreo às forças especiais”. (LAMBETH, 2005, p. 164). Para Sullivan (2002, iv), os EUA concluíram, no Afeganistão em março de 2002, que, apesar das capacidades de ataque global e de engajamento preciso, “o poder aéreo foi significativamente otimizado por forças terrestres não-convencionais”.
Para Lambeth (2005, p. 342), uma das significantes inovações concernentes à integração e ao emprego de força militar combinada, advinda da guerra aérea afegã, foi a “atual sinergia entre observadores de forças especiais e o poder aéreo”.
4 Desafios Futuros: foco na integração e em mudanças
O que é necessário é um plano de integração, no qual cada Força Armada seja chamada a desempenhar o papel que lhe é próprio, partindo de um princípio de colaboração e não de competição. (Montgomery – Comandante das Forças Terrestres Aliadas na Normandia).
Protágoras (apud IDE, 2000, prefácio) dizia que “o homem é a medida de todas as coisas”. Sob esse argumento, denota-se a visão prospectiva daqueles que idealizaram, no passado, o projeto-piloto do Curso de Estado-Maior Combinado.
Em resposta às questões geradoras do empreendimento educacional concretizado pela ESG, torna-se notória a intenção do MD em fortalecer o Curso, resguardando-se o nível gerencial à Escola e o estratégico ao Ministério da Defesa.
O basilar objetivo do CEMC é fortalecer e aprimorar a capacidade operacional das forças armadas para cumprirem sua missão. A fim de atingi-lo com êxito, ações planejadas são dirigidas ao adequado preparo de seus recursos humanos para comporem um comando combinado em exercícios militares e em tempo de conflito.
A Operação Pantanal 2007 pode ter sido uma exemplar operação militar combinada coordenada pelo Ministério da Defesa. Com o objetivo de adestrar as Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) no planejamento e execução de operações, visando à interoperabilidade, foi laboratório aos oficiais de Estado-Maior.
No período de 11 a 19 de outubro de 2007, foram realizados exercícios com tropa no terreno no Estado do Mato Grosso do Sul. Na ocasião, foi dada especial ênfase no planejamento de Estados-maiores Combinados e das Forças Componentes constituídas.
Desse modo, consegue-se a necessária qualificação de homens para atender às características, necessárias e desejáveis, àqueles que devem desempenhar o papel afeto às Forças Armadas Brasileiras, o qual lhes foi atribuído pela Lei Maior em 1988.
Para as Forças Componentes, a PANTANAL 2007 teve finalidades como adestrar o Estado-Maior na execução de planejamento de Operações Combinadas; treinar o Estado-Maior e os diferentes níveis operacionais dentro da estrutura de Comando e Controle unificado, nos moldes utilizados nos mais recentes conflitos internacionais; e exercitar os diferentes estados de alerta para suporte a um Comando Combinado.
Assim se adestrando, as Forças Armadas mantêm-se atualizadas e treinadas para atuar, a qualquer momento, em qualquer ponto do Território Nacional, com a finalidade de cumprir sua destinação constitucional e o previsto em leis complementares.
Ao elemento humano, por conseguinte, cabe o cumprimento da missão atribuída. Ele deve ser constante e progressivamente preparado para, num ambiente de rápida evolução tecnológica, entender a importância do propósito de estar capacitado e habilitado a empregar racionalmente os meios sob sua responsabilidade.
Faz-se mister, também, disseminar no âmbito das Forças Armadas, o conceito da busca pelo conhecimento por iniciativa própria, estimulando os indivíduos a procurarem caminhos de desenvolvimento pessoal e profissional, vinculando-os, sempre, aos interesses do Ministério da Defesa e do Brasil.
No livro A Quinta Disciplina, Peter Senge introduz um conceito inovador ao definir os contornos da “organização que aprende”. Para ele “as pessoas são o principal meio de alavancar processos de mudança. Empreender mudanças é uma tarefa audaciosa, talvez até impossível, para as empresas, trabalhando sozinhas.” (SENGE, 2002, p. 24).
O autor norte-americano fomenta a idéia de um grupo de pessoas em organizações diversas, labutando juntas num esforço sustentado para assentar as disciplinas de aprendizagem na prática gerencial do dia-a-dia. Assim podem ser vistas, também, as Forças Armadas do Brasil ao perpetuarem a milenar instituição militar.
Portanto, o Ministério da Defesa Brasileiro deve e pode contribuir, em esforço conjunto com toda a sociedade, para o alcance dos objetivos políticos da Nação de maneira econômica, eficiente e eficaz.
Para concretizar essa empresa, se vislumbra um cenário prospectivo, no qual civis e militares interessados em estudos estratégicos poderão construir, harmoniosamente, programas e projetos no âmbito da Defesa Nacional e pensar juntos o futuro do Brasil.
Conclusão
Com raríssimas exceções, não haverá batalhas terrestres e marítimas independentes.
Dwight David Eisenhower – trigésimo-quarto Presidente dos Estados Unidos
As Forças Armadas Brasileiras utilizam estratégias militares e princípios de guerra como fundamentos para o seu emprego. Para cumprirem sua destinação constitucional e as atribuições subsidiárias que lhes são afetas, Exército, Marinha e Força Aérea incorporam, nos diversos níveis hierárquicos, novos recursos humanos.
Faz-se mister que esses homens e mulheres estejam preparados para o “sacrifício da própria vida”, sob a égide de “doutrina precisa” e com acurácia. Do contrário, esse lapso pode significar, no campo de batalha, a tênue, porém sugestiva, diferença entre “vida ou morte na profissão d’armas”. (ASH, 2001, p. 3).
Criar algo novo, mudar paradigmas e empreender esforços, como o Ministério da Defesa, há cerca de nove anos, constituiu-se em tarefa técnico-profissional e tornou-se missão com tarefa e propósito. Falhar poderia ter trazido o amargo do arrependimento. O futuro pode nos reservar um “mundo plano” (FRIEDMAN, 2007) e deveras inconstante, devido às rápidas mudanças globais, regionais e locais. Permanecer atento aos sinais e aos fatos é dever e é sábio.
Portanto, espera-se a abertura de um fórum de debates, em torno do assunto em epígrafe, e que o aperfeiçoamento do tema se faça sempre presente nos anais deste periódico de renome da Força Aérea Brasileira, no meio acadêmico e entre os oficiais de Estado-Maior das três forças armadas do país.
Faz-se mister, também, a assiduidade e a motivação de militares, de estudantes universitários e de professores civis, com diversas visões sobre o tema. O Ministério da Defesa Brasileiro ainda não completou dez anos de atividades e conta com a colaboração das esferas civis, do estamento militar e da comunidade acadêmica para angariar conhecimento e amalgamá-lo. A tônica contemporânea da “Era da Informação” enxerga o conhecimento como sinônimo de Poder.
Conclui-se que o poder aéreo pode significar, no bojo do fato consumado que são as operações combinadas, o elemento-chave que surgiu, há cerca de cem anos, para amalgamar. Citando Michael Eliot Howard (1996, p. 60), “foi do conceito de poder marítimo que se desenvolveu todo pensamento sobre poder aéreo”.
Referente ao emprego do Poder Militar, nenhuma Força Singular pode obter o sucesso, operando independentemente, em um conflito armado. A eficácia no uso dos meios bélicos implica profunda integração entre forças aéreas, terrestres e navais. Requer, também, a seleção judiciosa de objetivos e a escolha inteligente de meios materiais e humanos e de priorizações. Não obstante específicas operações militares possam ser levadas a cabo por uma Força, de forma separada, torna-se mandatório que operações possam ser executadas sob a égide de doutrina militar combinada unificada e precisa. Assim, pode-se visar à consecução dos objetivos fixados pela Política e, conseqüentemente, articulados com eficácia pela Estratégia.
Todas as operações de Força Aérea, tanto as de Defesa Aeroespacial, como as Aeroestratégicas, as Aerotáticas e as Especiais, podem ser executadas de forma combinada. No entanto, raramente são levadas a efeito de forma não isolada, com exceção do que ocorre no Comando de Defesa Aeroespacial, de forma combinada e permanente, mesmo em um cenário de paz. Essa melhor integração deve existir.
Portanto, impõe-se, aos homens de terra, mar e ar, que cheguem juntos à interoperabilidade em áreas como Logística, Comando e Controle e Inteligência. Entretanto, devem fazê-lo sem as idiossincrasias naturais de cada indivíduo, sem os adereços da cultura organizacional e sem paixões sectárias. Mas sim, combinadamente, em uníssono, com fervorosa devoção e com muito patriotismo.
REFERÊNCIAS
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Colaborador
Tenente-Coronel Mauro Barbosa Siqueira, Força Aérea Brasileira, é atualmente Adjunto da Coordenadoria de Pós-graduação da UNIFA. Participou de vários cursos acadêmicos como: Curso de Formação de Oficiais Aviadores - Academia da Força Aérea - AFA; Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica - EAOAR; International Officer School - Air University - USAF; Squadron Officer School - Air University - USAF; Curso de Comando e Estado-Maior - Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica - ECEMAR; Curso de Estado-Maior de Defesa (Combinado) - Escola Superior de Guerra e outros. Também participou de cursos operacionais como: Tática Aérea; Curso piloto de Transporte; Curso de Piloto de Reconhecimento. Possui mais de 3.500 horas de Vôo nas aeronaves: TZ-13, T-25, T-27, C-95, U-42, C-91, R-95, R-35A e C-130.
elemento sinérgico às operações combinadas
Tenente-Coronel Aviador Mauro Barbosa Siqueira,
Força Aérea Brasileira
Introdução
As guerras terrestres, navais e aéreas independentes desapareceram para sempre. Se algum dia nos virmos novamente envolvidos numa guerra, combateremos com todas as forças armadas num esforço único e concentrado.
À época da Guerra Fria, o Marechal-do-Ar Tedder, Chefe do Estado-Maior das Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, asseverava com perspicácia, em Air Power in War, que “a estratégia a adotar tem que integrar forças de terra, mar e ar”. (TEDDER, 1954, p. 28-29). Tedder (1954) argumentava que apesar da decisão final ser obtida pelas Forças de Superfície, ela depende do que se passa no ar. Defendia, veementemente, a colaboração aeroterrestre. Todavia, “Lord” Tedder afirmava que, sem uma situação aérea favorável, a cooperação não seria eficaz.
Em tempos hodiernos, as concepções de Tedder permanecem válidas. Cerca de cinquenta anos depois, há um poder aéreo, letal e não-letal, mais eficaz e ubíquo, operacional e tecnologicamente. Esses fatores têm majorado a dependência dos demais poderes militares em relação à conquista e à manutenção da superioridade aérea no enfrentamento de um oponente racional.
1 Educação Profissional Militar e Formação Acadêmica
Nós conhecemos certas características que o oficial de Estado-Maior deverá ter futuramente: seu pensamento deverá ser claro, vigoroso, objetivo, independente e de escala global; ele deve ter a coragem e a curiosidade intelectual para tentar novas coisas e novos métodos; precisa precaver-se contra a certeza de que aprendeu todas as respostas para a guerra futura, não aceitar o caminho fácil das respostas do passado, ao invés do caminho muito mais difícil de desencavá-las no futuro.
Desde sua criação, em 1999, posterior vigência e implementação, o Ministério da Defesa (MD) brasileiro vem aperfeiçoando a estrutura de ensino da Escola Superior de Guerra (ESG) às necessidades decorrentes da evolução do saber e às exigências de Políticas de Pessoal coerentes com a realidade da guerra moderna.
A Educação Profissional-militar ou Professional Military Education, entendida assim nas escolas militares dos Estados Unidos, é, no âmbito das forças armadas e no caso da Escola Superior de Guerra, denominada de Ensino de Pós-formação.
Compete ao Estado-Maior de Defesa (EMD), principalmente, o planejamento de emprego combinado das Forças Armadas Brasileiras; o assessoramento ao Ministro de Estado da Defesa na condução de exercícios militares e no trato de participação brasileira em operações de paz; a formulação de diretrizes para as operações de garantia da lei e da ordem e de apoio ao combate a delitos transfronteiriços e ambientais; a orientação de atividades militares para a Defesa Civil; a operação do Centro de Comando e Controle do Comando Supremo e a elaboração de sumários de situação quando assim se fizer necessário.
A capital relevância do Estado-Maior de Defesa advém, prioritariamente, da união de esforços mútuos, entre as Forças Armadas, em prol de objetivos comuns, rumo à sinergia das ações previstas para os planejamentos militares combinados, em face das hipóteses de emprego listadas na Estratégia Militar de Defesa.
Sob esse enfoque, o Ministério da Defesa, atento à conjuntura da Educação Nacional e aos ditames legais vigentes no ordenamento jurídico brasileiro, fixou objetivos em consonância com as normas e as diretrizes da legislação federal, em vigor, ao determinar a implantação de um Curso de Estado-Maior de Defesa.
Sob os auspícios da “Era da Informação” e de demandas educacionais, o Ministério da Defesa estimula o uso de novas tecnologias, prepara o Corpo Docente, adapta os conteúdos curriculares e moderniza as instalações e os equipamentos da Escola Superior de Guerra, visando ao engrandecimento do campo cognitivo do seu Corpo Discente e do eficiente preparo de recursos humanos no meio militar.
Por força de lei, as Forças Armadas Brasileiras devem estar preparadas para cumprir a destinação prevista na Carta Magna vigente no Estado Brasileiro:
As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destina-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer desses, da lei e da ordem. BRASIL, 1988, art. 142, cap. II
Os oficiais da Marinha do Brasil, da Força Aérea e do Exército Brasileiros constituem um segmento militar do corpo discente da Escola Superior de Guerra.
Portanto, a formação de estagiários, em um Curso de Estado-Maior para oficiais das três forças co-irmãs, assegura uma complexidade de conhecimentos necessários à qualificação de recursos humanos com competências condizentes para assumirem cargos requeridos nas seções de um Comando Combinado, em tempo de paz ou na guerra, e para desempenharem suas funções durante as operações combinadas e os exercícios simulados com nações aliadas e alinhadas.
A Política de Defesa Nacional (PDN), editada em 1996 e que hoje não mais se encontra vigendo, afirmava: “diante do novo quadro mundial de desafios e oportunidades, é necessário promover no Brasil o desenvolvimento de modalidades próprias, flexíveis e criativas de pensamento estratégico, aptas a atender às necessidades de defesa do País.” (BRASIL, 1996, p. 2).
Ao Ministério da Defesa incumbe, por força legal, coordenar as ações necessárias à Defesa Nacional e ao aprimoramento de competências desejadas aos integrantes das Forças Armadas, consoante as diretrizes e os objetivos estratégicos fixados, que norteiam as atividades relacionadas à Defesa Nacional no Brasil.
Portanto, as ações de planejamento no Ministério da Defesa são orientadas ao preparo e ao aperfeiçoamento profissional do contingente militar das Forças Armadas, para que se mantenham em condições de atender, permanentemente, às Hipóteses de Emprego consideradas e de cumprir a missão que lhes foi atribuída.
Ademais, formular e preparar a capacidade militar necessária à Defesa de uma nação pode decorrer de diferentes modelos estruturais em face de valores, de tradições e de percepções de seu povo. Num país continental como o Brasil, a situação se agrava exponencialmente.
A formulação da Política Militar de Defesa (PMD), documento elaborado pelo Ministério da Defesa e destinado às Forças Armadas, fundamenta-se em definições da PDN e em diagnósticos de cenários político-estratégicos atuais e futuros.
A extensão do território nacional brasileiro e a variedade de possíveis teatros de operações constituem-se em amplas e em complexas tarefas às FA. Por conseguinte, majorados níveis de criatividade e de profissionalismo se demandam dos estrategistas e dos planejadores militares no emprego da força armada.
Os objetivos militares de defesa fixados na PMD orientam as forças armadas, a fim de capacitá-las para o atendimento das demandas da Defesa Nacional.
De todos os objetivos listados, há ênfase na manutenção de forças militares estratégicas em condições de pronto emprego para ações de defesa da Pátria e dos interesses nacionais; e na interoperabilidade dos sistemas militares de todas as três Forças Armadas Brasileiras.
Diante da permanente evolução tecnológica do mundo moderno, é de fundamental importância que os planos e os programas do Ministério da Defesa sejam elaborados em consonância com as ações estratégicas estabelecidas. Essas ações visam a orientar o processo de gerenciamento do aparato da Defesa do país, em todas as suas fases e na mais alta instância decisória, e colaborar com a consecução dos objetivos firmados pela PMD e pela PDN ora sob vigência no Brasil.
No âmbito do MD, o desenvolvimento de uma Política Militar de Defesa cristaliza-se no conjunto de ações estratégicas, diretrizes, procedimentos, manuais, doutrinas e normas diversas, os quais geram reflexos nos demais níveis de decisão.
As diretrizes militares de defesa listadas na PMD são “instruções norteadoras dos estudos da configuração do Poder Militar Brasileiro”. (BRASIL, 2005a, p. 15).
Na Política Militar de Defesa, realçam, entre outras diretrizes, com veemência:
Incrementar o adestramento de operações combinadas e aprimorar as doutrinas e os planejamentos militares pertinentes; incentivar o interesse e o crescimento de núcleos de produção de conhecimentos em assuntos de defesa, sobretudo no setor acadêmico; e dar ênfase às atividades afins das Forças Armadas notadamente à capacitação dos recursos humanos. BRASIL, 2005a, p. 15-16
Em atendimento às diretrizes que se relacionam, concomitantemente, com Operações Combinadas e Educação Profissional-Militar, as ações do Ministério da Defesa têm como propósito básico o elemento humano. O homem deve ser permanentemente preparado, para que possa, num ambiente de constantes e rápidas transformações, entender a importância de suas tarefas, bem como estar qualificado a empregar, racionalmente, os meios sob sua responsabilidade. Então, onde, como e quando melhor prepará-lo? O porquê disso torna-se óbvio.
Figura 3: A Escola Superior de Guerra (ESG).
Fonte: Site da ESG na Internet. Disponível em: <http://www.esg.br/>
Em A arte de pensar, Pascal Ide afirma: “De fato, todos nascemos com uma inteligência, mas ninguém nasce com um manual de instruções para utilizá-la. Cabe à educação fornecê-lo”. (IDE, 2000, prefácio). Portanto, infere-se que conceder educação de alto nível ao Homem é legado valioso. Por analogia, esse raciocínio aplica-se, perfeitamente, também às Forças Armadas Brasileiras.
Uma das instituições à qual pertence o ser humano, ao longo de sua existência, constitui-se na escola, que acaba sendo um local adequado à troca de conhecimentos e de experiências dos convivas na caserna e dos companheiros em sala de aula. A simulação didática de um Estado-Maior combinado exemplifica isso.
Para tanto, o processo educacional da Escola Superior de Guerra objetiva conceder aos recursos humanos um consciente entendimento de que o trabalho dignifica e valoriza o homem, melhora sua qualidade de vida e promove a auto-realização profissional.
Sob essa ótica, o Ministério da Defesa do Brasil planeja, orienta, coordena e avalia cursos, pesquisas e projetos, no seu campo de ingerência, com o objetivo de administrar a execução da Política Militar de Defesa.
Por exemplo, o Ministério da Defesa brasileiro firmou convênio, em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, de fomento no âmbito do Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Defesa Nacional – PRÓ-DEFESA. Em linhas mestras, formula a premissa do mister intercâmbio com instituições de ensino civis e, ainda, com escolas militares de altos estudos no Brasil e no exterior.
O processo educacional reveste-se de caráter especial e é uma exigência perene. Porém, deve observar, entre outros aspectos de relevo, o desenvolvimento de atividades do ensino por meio da pesquisa científica e de metodologias eficazes.
Coadunando-se com essa concepção, três oficiais da Marinha do Brasil, cinco do Exército e um da Força Aérea completaram, no ano passado, o Curso de Estado-Maior de Defesa (CEMD). O Ministério da Defesa tem a responsabilidade legal e a competência normativa pelo Curso. À Escola Superior de Guerra, cabe, pelo programa letivo, gerenciar o CEMD, que, em 2007, foi ministrado em grau de excelência. Em 2008, apenas um oficial da Força Aérea concluiu o agora nomeado Curso de Estado-Maior Combinado (CEMC). O total de oficiais foi mais desigual ainda, pois havia quinze alunos interagindo durante as treze semanas de curso.
Percebe-se a disparidade numérica de oficiais-alunos entre as três forças armadas. O Comando da Aeronáutica poderia rever os processos de indicação e de voluntariado para os oficiais superiores com o Curso de Comando e Estado-Maior, de maneira que o CEMC venha a ser prestigiado com um quantitativo, quiçá similar àquele da Marinha e do Exército, de oficiais-alunos oriundos do Estado-Maior da Aeronáutica, de Forças Aéreas, de Estados-Maiores de Comandos Regionais (onde haja exercícios combinados previstos para anos subsecutivos), da ECEMAR e do Comando-Geral de Operações Aéreas. No futuro, isso poderá ser imposto pelo MD.
2 Histórico do Poder Aéreo e as Operações Combinadas
Se nós perdermos a batalha aérea, perderemos a guerra e perderemos rapidamente.
Marechal-de-Campo Viscount Bernard Law Montgomery
Recentemente, o debate acerca do poder aéreo completou um século. Durante esses pouco mais de cem anos, o cenário de guerra se modificou de modo considerável e drasticamente pela arma aérea.
Assevera Murillo Santos* que, antes de 1911, pouquíssimas pessoas enxergavam o aeroplano como um instrumento bélico propriamente dito. Percebia-se o advento do avião, no início do século XX, como um inédito engenho bélico. A arma aérea foi agregada ao demais poderes militares “quando no conflito ítalo-turco, na Líbia em novembro de 1911, nove aviões italianos, em operações bélicas, haviam despejado granadas de dois quilos sobre tropas turcas”. (SANTOS, 1989. p. 24).
* O Falecido Tenente-Brigadeiro-do-Ar Murillo Santos foi instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR) e exerceu a função de Comandante da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica (EAOAR).
No início, as forças aéreas desenvolveram-se como parte integrada aos exércitos e às marinhas. Na porção mediana desse período, os defensores do poder aéreo argumentavam a favor de uma posição separada, porém no patamar similar em importância estratégico-operacional. As concepções teóricas de precursores do poder aéreo, como o italiano Giulio Douhet e o britânico Hugh Trenchard, demonstravam a preocupação precípua com o “Domínio do Ar”.
As teses do Marechal-do-Ar da RAF revelam a importância atribuída à obtenção e à manutenção de uma situação aérea favorável. Entretanto, um ponto é importante reter e enfatizar: Trenchard foi, em 1917, o único dos pensadores da primeira geração que considerou, abertamente, a cooperação do poder aéreo com os poderes terrestre e naval. TRENCHARD, 1989, p. 51-52
No entanto, essa cooperação, segundo Trenchard (1989, p. 51), deveria ser estudada na forma e no conteúdo, sem paixões sectárias, mas com pragmatismo, ressalvando a necessidade de um comando e controle centralizado dos meios, maximizando a flexibilidade que lhes está subjacente, evitando o seu desvio para tarefas sem significado. Apesar dessa filosofia de cooperação, o Marechal britânico não deixava qualquer margem para dúvidas quando defendia que os recursos aéreos deveriam estar agrupados num ramo independente sob a alçada do Ministro da Defesa. (TRENCHARD, 1989, p. 56).
Outros advogados do poder aéreo podem, ainda, ser listados como precursores da idéia de eficácia do emprego do poder aéreo como ferramenta que concede sinergia às operações combinadas. Dois desses não eram “homens do ar”.
Aparecendo com alto grau de importância e de propriedade nessa listagem, estão as idéias de Major-General John Frederick Charles Fuller e de Basil Henry Liddell Hart, que estabeleceram, antes do alvorecer da Segunda Grande Guerra, a estrutura teórica da equipe ar-terra em conflitos blindados. A Blitzkrieg, conforme empregada pela Alemanha, deve muito às idéias desses dois estrategistas britânicos e, ao contrário, envolvia aeronaves num nível de importância idêntica ao dos carros de combate e da infantaria motorizada. Seu uso na França e na Rússia, em 1940 e 1941, dependia, substancialmente, de ataques aéreos coordenados – na realidade, a arma aérea liderava a batalha. Utilizavam-se as aeronaves, portanto, de um modo que “Billy” Mitchell e que Trenchard corroborariam, mas que Douhet e que Seversky teriam considerado ineficiente. O Major-General Mitchell era favorável ao emprego do avião em apoio às forças de superfície, contrariamente a Douhet, que o recusava liminarmente.
Após a invasão da França, foi desencadeada a Operação “Barbarossa”, na qual a Luftwaffe empregou meios aéreos. Tal missão consistia, necessariamente, na destruição do poder aéreo soviético e no apoio, numa segunda fase, às forças de superfície alemãs, visando à consecução de uma Blitzkrieg contra as forças russas.
Na campanha da Rússia, o emprego da arma aérea por parte da Luftwaffe foi afetado por vulnerabilidades internas, de certa forma, similares às que se verificaram na Batalha de Inglaterra. O bem-sucedido bombardeio da indústria soviética foi impossibilitado devido à indisponibilidade de aviões com maior raio de ação. No entanto, a seleção de alvos constituiu uma aplicação lógica da estratégia em vigor na época: destruir num curto tempo a capacidade de o inimigo fazer a guerra, desferindo ataques contra áreas de objetivos militares de interesse primordial.
Na Operação “Barbarossa”, o acento tônico foi posto na execução de missões auxiliares em detrimento de outras, nas quais os vetores aéreos poderiam ter sido explorados em toda a sua magnitude. Se inicialmente o poder aéreo foi empregado de forma eficiente, considerando os recursos disponíveis e a previsibilidade de uma operação de curta duração, a chegada precoce de um inverno rigoroso e a manutenção de uma estratégia de emprego desajustada em face dos meios envolvidos, contribuiu para um dos capítulos mais trágicos da história da guerra – a Batalha de Stalingrado.
No início da campanha da Luftwaffe na Rússia, o emprego da aviação soviética foi pouco eficaz (os pilotos russos utilizaram, até mesmo, uma tática similar à dos kamikazes japoneses). Na Batalha de Stalingrado, houve um salto qualitativo importante. Esse fato foi conseqüência da incapacidade da Luftwaffe em destruir a indústria aeronáutica russa, mas também do reforço tecnológico recebido da Grã-Bretanha, principalmente pela entrega de aviões Hurricane à Força Aérea Soviética.
Por outro lado, a aviação alemã teve os seus aeródromos avançados destruídos pelo poder aéreo soviético, que num assomo de revitalização impediu o apoio às forças terrestres alemãs por meios aéreos da Luftwaffe (monomotores e de autonomia reduzida) essenciais à manutenção de um fluxo logístico rápido e contínuo de abastecimento. A Campanha militar alemã e da Luftwaffe, na Rússia, foi a derrocada definitiva da tática (nomeada de doutrina ou de estratégia) de Blitzkrieg.
“O tradicional aliado da Rússia, o General Inverno, ajudara a deter o ímpeto da Blitzkrieg, mas era inevitável uma ofensiva de primavera”. (JONES, 1975, p. 7).
Se a campanha da Rússia constituiu um marco importante no emprego dos recursos aéreos na II Grande Guerra, pelos ensinamentos colhidos, outros acontecimentos tinham lugar, quase em simultâneo, no norte de África. Desses fatos, é possível, igualmente, absorverem-se lições identificadas, sobretudo, no âmbito de Comando e Controle (C2). A derrota na Batalha de Kasserine Pass demonstrou que, mesmo com uma relação favorável em termos de meios, é possível haver falhas. Caso esses recursos sejam desviados para objetivos secundários, por comandos subordinados, pode-se perder o combate que, em tese, teria as condições favoráveis para ser ganho. A falta de coordenação acarretou desastres, visto que dispersaram os meios em missões de apoio aéreo aproximado, em vez de se obter, em primeiro lugar, a superioridade aérea. Esse fato convenceu até mesmo os mais cépticos da imprescindibilidade de um comando centralizado.
Exemplo disso tem-se na “Operação Tocha”, que visava a obter uma plataforma de apoio à invasão da Europa pelo sul. “Se desfechou a ‘Operação Tocha’, no começo de novembro de 1942”, ano decisivo para os Aliados, pois “marcou o renascimento das esperanças de todos”. (JONES, 1975, p. 6).
Segundo Vincent Jones, a “Operação Tocha” possuía um valor estratégico, visto que “se a África do Norte pudesse ser tomada sem muitas dificuldades, o Afrika Korps de Rommel se veria entalado entre os americanos, em Marrocos e na Argélia, e os britânicos de Montgomery, no deserto líbio”. (JONES, 1975, p. 7).
A “Operação Tocha” pôs em confronto, uma vez mais, teses diferentes sobre o emprego dos meios aéreos. Por outro lado, ajudou a clarificar e a consolidar uma determinada estratégia de emprego. A realização da Conferência de Casablanca, contribuiu de forma clara e inequívoca para atingir esse desejo. Churchill e Roosevelt autorizaram o general Eisenhower a reorganizar as Forças Aliadas no Norte de África, com base em três comandos distintos: aéreo, terrestre e naval. Essa providência de caráter estrutural ajudou a resolver um problema antigo, mas simultaneamente básico e premente no desenvolvimento da guerra moderna. Tratava de questão capital: como empregar eficaz e judiciosamente o poder aéreo.
Qual seria, então, o ideal emprego da arma aérea para se obter os fins desejados, em ações independentes ou no apoio à manobra de superfície? O planejamento aéreo tornou-se, portanto, parte integrante do planejamento combinado do teatro de guerra. Trenchard (1989) dizia: “[...] real cooperação reside em estudo conjunto do problema – um estudo desapaixonado – com o objetivo de decidir quais os melhores meios para executar a tarefa e como empregá-los”.
Sob essa ótica, o general Eisenhower previu, em 1944, que os futuros conflitos armados, cujas ações militares fossem independentes, estariam com seus dias contados. Caso a Humanidade presenciasse novamente, coalizões de países unidos para planejarem ações bélicas, em uma hipotética Terceira Guerra Mundial, Eisenhower dizia que as forças armadas dessas nações antagonistas estariam trabalhando, conjuntamente, em uníssono e num esforço concentrado e sinérgico.
No milênio recém-inaugurado, o poder aéreo pode ser a derradeira peça no complexo jogo de guerra das operações combinadas e, analogamente, a ferramenta que transformaria partes desarticuladas em homogênea falange macedônica.
Com veemência, Mario Cesar Flores, Almirante-de-Esquadra (reformado) da Marinha do Brasil, afirma que “as lideranças militares” nem sempre aceitam bem a mudança se ela implicar questionamento de interesses e competências consagradas, “são propensas ao conservadorismo protetor da carreira” e acusadas de “conduzir o preparo militar pelo passado, em vez de adaptá-lo ao futuro”. (FLORES, 2002, p. 12).
Para Flores (2002), o problema é real, existe em todo o mundo e tem fundamentos político-estratégicos. O Almirante Flores cita uma frase que, provavelmente, foi cunhada pelo teórico militar Liddell Hart: “Só existe uma coisa mais difícil do que pôr na cabeça de um militar uma idéia nova: é tirar a antiga”. (FLORES 2002, p. 11). Os interesses corporativos dos militares que geram votos pesariam mais na discussão política do que as questões propriamente de defesa.
Os debates nos últimos vinte anos foram permeados pelo conceito de atuação de forças em operações combinadas e pelo Goldwater-Nichols Act, que reorganizou a Defesa, na “América”, e influenciou as operações militares de modo expressivo.
Sem essa Lei, há dúvidas de que os Estados Unidos lograssem o êxito em ambas as Guerras do Golfo. As Operações Escudo do Deserto e Tempestade no Deserto podem ser classificadas como as primeiras ações operacionais da guerra combinada moderna pelas forças armadas americanas e servem de paradigma para os demais países, que possuam a pretensão de fazê-lo com eficiência e eficácia.
Os eventos do “Onze de Setembro” validaram o conceito de ações combinadas, pois se criou um senso de urgência para “transformar” as forças armadas dos EUA, para poderem ser empregadas com maior eficácia contra os inimigos invisíveis. Então, como o poder aéreo pode contribuir, em conflitos de baixa intensidade, para o atendimento dos intentos políticos predeterminados?
Como o poder aéreo atua e pode ser empregado em conflitos assimétricos? Em 2006, Israel viu trinta e três dias de assimetria. Esse abreviado conflito armado se tratou de uma infame derrota ou foi uma “Vitória de Pirro”?
A Força Aérea Israelense bombardeou o Líbano, em julho de 2006, atingindo alvos em todo o país. Os ataques destruíram sedes do Hezbollah, depósitos de armazenamento de mísseis e de armamentos, além de linhas de comunicação e de locais de lançamento de foguetes. Mais de mil e oitocentos alvos foram atingidos nas operações aéreas de Israel no Líbano.
À época, o ministro da Defesa, Amir Peretz, admitia a probabilidade de uma ampla ofensiva terrestre. O então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, dizia que uma ação terrestre de Israel significaria uma “escalada muito séria” no conflito. Foi em vão, pois o conflito armado se tornou inevitável.
Nessa campanha militar israelense, o poder aéreo falhou em não utilizar um sistema de inteligência fidedigno, por não ter operado de modo combinado e por não ter validado um conceito de comando e controle: o “observar-orientar-decidir-agir”.
Entretanto, o mais relevante ensinamento colhido foi que as operações militares modernas exigem das forças armadas, sob a égide da interoperabilidade, a operação de modo integrado e combinado. Corrobora-se, dessa forma, todo o pensamento de Lord Tedder e de Sir Hugh Trenchard, pois os dois teóricos britânicos enfatizavam a cooperação, respectivamente, em pleno auge da Segunda Guerra Mundial, na operação nomeada de “Invasão da Normandia ou Dia D” (Overlord Operation), e no alvorecer da Royal Air Force em 1917.
A Operação Liberdade para o Iraque também validou o conceito de atuação de forças combinadas. Entretanto, a campanha militar agregou valor ao argumento de que o poder aéreo era um meio, pelo qual as forças navais e terrestres poderiam ser integradas, adquirir eficiência e atingir eficácia, que resultam em efetividade.
As teorias de Trenchard e de Lord Tedder podem ter sido comprovadas, pois o poder aéreo seria o instrumento que levaria as forças militares à sinergia almejada. Os doze princípios do poder aéreo atribuídos a Tedder traduzem essa idéia de efeito sinérgico e de eficácia da arma aérea. (WESTENHOFF, 1990).
Para o Marechal britânico, a estratégia a adotar teria que ser “geral, integrando forças de terra, mar e ar”. Segundo Tedder, “Independência, flexibilidade, concentração e mobilidade” seriam princípios, segundo Tedder, que deveriam balizar o emprego do poder aéreo, única forma de maximizar as características inerentes aos meios aéreos, tornando eficaz a sua prestação operacional. (TEDDER, 1954).
O processo de criação de teorias sobre o instrumento de poder militar — naval, terrestre ou aéreo – é análogo ao processo de conduzir um automóvel. É importante olhar pelos espelhos retrovisores, para o passado, e extrair lições úteis da história e das experiências alheias, mas é crucial olhar pelo pára-brisa, para o futuro, tentando discernir o que se poderá encontrar à frente. Nesse campo, o que parece estar adiante é a ratificação da indiscutível relevância do emprego combinado do poder militar.
O poder aéreo já tem suas tarefas combinadas a serem impendidas. Precisa definir-se em termos estratégicos, operacionais e táticos, de modo que possa operar, se mister, primeiro em prol da superioridade aérea. Secundariamente, pode interditar o poder do oponente, isolar o campo de batalha e apoiar as forças co-irmãs.
3 A Complexidade da Guerra: sinergia e interoperabilidade
É uma tendência própria dos organismos envelhecidos frear as inovações e lutar para sobreviver, invocando sempre direitos adquiridos, que se acrescem cada vez mais. Marechal-de-campo Montgomery
Desde a época do general Prussiano Carl von Clausewitz, a guerra tornou-se mais complexa. A despeito dessa complexidade ampliada e do maior “atrito na guerra” (CLAUSEWITZ, 1984, livro I-1, p. 119-121), as organizações militares mantiveram uma estrutura semelhante e a mesma mentalidade organizacional de combate. Há casos em que os nomes mudaram, mas o pensar não.
Especialistas concordam que as forças armadas não combaterão sozinhas, pois as missões para só uma força singular já não serão o habitual no combate. Ao invés disso, estabelecer-se-á um tratamento integrado, utilizando mais de uma Força. No futuro, as operações militares poderão ter mais “friction”, “chance”, “uncertainty” e esses fatores se unirão ao “fog” de Clausewitz (1984). Então, as três Forças do Brasil devem ajustar o caráter institucional e as estruturas para acolherem os novos desafios aguardados e que podem requerer integração e competência.
Segundo a Joint Vision 2020, das forças armadas dos EUA, “é mandato a interoperabilidade para qualquer força combinada, pois ela é o alicerce às operações combinadas eficazes”. A Joint Vision impõe a interoperabilidade entre “os sistemas de logística, de comunicações e de inteligência”. Entretanto, apesar de a interoperabilidade técnica “ser essencial, ela não é suficiente para garantir operações eficientes”. Deve haver, também, um “foco apropriado em elementos processuais e organizacionais”. Os tomadores de decisão precisam “entender as capacidades e as restrições uns dos outros”. Deve-se enfatizar a interoperabilidade, mormente, em áreas como “treinamento e educação, experiência e exercícios, planejamento cooperativo e ligações experimentadas”, em amplos espectros da força combinada. Pois, esses aspectos essenciais poderão suplantar “não apenas as barreiras da cultura organizacional e prioridades diferenciadas, mas ensinarão os membros das equipes combinadas a valorizar a vasta gama de capacidades das Forças à disposição deles”. (UNITED STATES OF AMERICA, 2000, p. 20-21).
De acordo com o pensamento de Sullivan (2002, p. 2), “a combinação sinérgica de operações combinadas será essencial às futuras operações militares”.
O inicial planejamento operacional da Operação Anaconda “não preconizava o emprego integrado do poder aéreo às forças especiais”. (LAMBETH, 2005, p. 164). Para Sullivan (2002, iv), os EUA concluíram, no Afeganistão em março de 2002, que, apesar das capacidades de ataque global e de engajamento preciso, “o poder aéreo foi significativamente otimizado por forças terrestres não-convencionais”.
Para Lambeth (2005, p. 342), uma das significantes inovações concernentes à integração e ao emprego de força militar combinada, advinda da guerra aérea afegã, foi a “atual sinergia entre observadores de forças especiais e o poder aéreo”.
4 Desafios Futuros: foco na integração e em mudanças
O que é necessário é um plano de integração, no qual cada Força Armada seja chamada a desempenhar o papel que lhe é próprio, partindo de um princípio de colaboração e não de competição. (Montgomery – Comandante das Forças Terrestres Aliadas na Normandia).
Protágoras (apud IDE, 2000, prefácio) dizia que “o homem é a medida de todas as coisas”. Sob esse argumento, denota-se a visão prospectiva daqueles que idealizaram, no passado, o projeto-piloto do Curso de Estado-Maior Combinado.
Em resposta às questões geradoras do empreendimento educacional concretizado pela ESG, torna-se notória a intenção do MD em fortalecer o Curso, resguardando-se o nível gerencial à Escola e o estratégico ao Ministério da Defesa.
O basilar objetivo do CEMC é fortalecer e aprimorar a capacidade operacional das forças armadas para cumprirem sua missão. A fim de atingi-lo com êxito, ações planejadas são dirigidas ao adequado preparo de seus recursos humanos para comporem um comando combinado em exercícios militares e em tempo de conflito.
A Operação Pantanal 2007 pode ter sido uma exemplar operação militar combinada coordenada pelo Ministério da Defesa. Com o objetivo de adestrar as Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) no planejamento e execução de operações, visando à interoperabilidade, foi laboratório aos oficiais de Estado-Maior.
No período de 11 a 19 de outubro de 2007, foram realizados exercícios com tropa no terreno no Estado do Mato Grosso do Sul. Na ocasião, foi dada especial ênfase no planejamento de Estados-maiores Combinados e das Forças Componentes constituídas.
Desse modo, consegue-se a necessária qualificação de homens para atender às características, necessárias e desejáveis, àqueles que devem desempenhar o papel afeto às Forças Armadas Brasileiras, o qual lhes foi atribuído pela Lei Maior em 1988.
Para as Forças Componentes, a PANTANAL 2007 teve finalidades como adestrar o Estado-Maior na execução de planejamento de Operações Combinadas; treinar o Estado-Maior e os diferentes níveis operacionais dentro da estrutura de Comando e Controle unificado, nos moldes utilizados nos mais recentes conflitos internacionais; e exercitar os diferentes estados de alerta para suporte a um Comando Combinado.
Assim se adestrando, as Forças Armadas mantêm-se atualizadas e treinadas para atuar, a qualquer momento, em qualquer ponto do Território Nacional, com a finalidade de cumprir sua destinação constitucional e o previsto em leis complementares.
Ao elemento humano, por conseguinte, cabe o cumprimento da missão atribuída. Ele deve ser constante e progressivamente preparado para, num ambiente de rápida evolução tecnológica, entender a importância do propósito de estar capacitado e habilitado a empregar racionalmente os meios sob sua responsabilidade.
Faz-se mister, também, disseminar no âmbito das Forças Armadas, o conceito da busca pelo conhecimento por iniciativa própria, estimulando os indivíduos a procurarem caminhos de desenvolvimento pessoal e profissional, vinculando-os, sempre, aos interesses do Ministério da Defesa e do Brasil.
No livro A Quinta Disciplina, Peter Senge introduz um conceito inovador ao definir os contornos da “organização que aprende”. Para ele “as pessoas são o principal meio de alavancar processos de mudança. Empreender mudanças é uma tarefa audaciosa, talvez até impossível, para as empresas, trabalhando sozinhas.” (SENGE, 2002, p. 24).
O autor norte-americano fomenta a idéia de um grupo de pessoas em organizações diversas, labutando juntas num esforço sustentado para assentar as disciplinas de aprendizagem na prática gerencial do dia-a-dia. Assim podem ser vistas, também, as Forças Armadas do Brasil ao perpetuarem a milenar instituição militar.
Portanto, o Ministério da Defesa Brasileiro deve e pode contribuir, em esforço conjunto com toda a sociedade, para o alcance dos objetivos políticos da Nação de maneira econômica, eficiente e eficaz.
Para concretizar essa empresa, se vislumbra um cenário prospectivo, no qual civis e militares interessados em estudos estratégicos poderão construir, harmoniosamente, programas e projetos no âmbito da Defesa Nacional e pensar juntos o futuro do Brasil.
Conclusão
Com raríssimas exceções, não haverá batalhas terrestres e marítimas independentes.
Dwight David Eisenhower – trigésimo-quarto Presidente dos Estados Unidos
As Forças Armadas Brasileiras utilizam estratégias militares e princípios de guerra como fundamentos para o seu emprego. Para cumprirem sua destinação constitucional e as atribuições subsidiárias que lhes são afetas, Exército, Marinha e Força Aérea incorporam, nos diversos níveis hierárquicos, novos recursos humanos.
Faz-se mister que esses homens e mulheres estejam preparados para o “sacrifício da própria vida”, sob a égide de “doutrina precisa” e com acurácia. Do contrário, esse lapso pode significar, no campo de batalha, a tênue, porém sugestiva, diferença entre “vida ou morte na profissão d’armas”. (ASH, 2001, p. 3).
Criar algo novo, mudar paradigmas e empreender esforços, como o Ministério da Defesa, há cerca de nove anos, constituiu-se em tarefa técnico-profissional e tornou-se missão com tarefa e propósito. Falhar poderia ter trazido o amargo do arrependimento. O futuro pode nos reservar um “mundo plano” (FRIEDMAN, 2007) e deveras inconstante, devido às rápidas mudanças globais, regionais e locais. Permanecer atento aos sinais e aos fatos é dever e é sábio.
Portanto, espera-se a abertura de um fórum de debates, em torno do assunto em epígrafe, e que o aperfeiçoamento do tema se faça sempre presente nos anais deste periódico de renome da Força Aérea Brasileira, no meio acadêmico e entre os oficiais de Estado-Maior das três forças armadas do país.
Faz-se mister, também, a assiduidade e a motivação de militares, de estudantes universitários e de professores civis, com diversas visões sobre o tema. O Ministério da Defesa Brasileiro ainda não completou dez anos de atividades e conta com a colaboração das esferas civis, do estamento militar e da comunidade acadêmica para angariar conhecimento e amalgamá-lo. A tônica contemporânea da “Era da Informação” enxerga o conhecimento como sinônimo de Poder.
Conclui-se que o poder aéreo pode significar, no bojo do fato consumado que são as operações combinadas, o elemento-chave que surgiu, há cerca de cem anos, para amalgamar. Citando Michael Eliot Howard (1996, p. 60), “foi do conceito de poder marítimo que se desenvolveu todo pensamento sobre poder aéreo”.
Referente ao emprego do Poder Militar, nenhuma Força Singular pode obter o sucesso, operando independentemente, em um conflito armado. A eficácia no uso dos meios bélicos implica profunda integração entre forças aéreas, terrestres e navais. Requer, também, a seleção judiciosa de objetivos e a escolha inteligente de meios materiais e humanos e de priorizações. Não obstante específicas operações militares possam ser levadas a cabo por uma Força, de forma separada, torna-se mandatório que operações possam ser executadas sob a égide de doutrina militar combinada unificada e precisa. Assim, pode-se visar à consecução dos objetivos fixados pela Política e, conseqüentemente, articulados com eficácia pela Estratégia.
Todas as operações de Força Aérea, tanto as de Defesa Aeroespacial, como as Aeroestratégicas, as Aerotáticas e as Especiais, podem ser executadas de forma combinada. No entanto, raramente são levadas a efeito de forma não isolada, com exceção do que ocorre no Comando de Defesa Aeroespacial, de forma combinada e permanente, mesmo em um cenário de paz. Essa melhor integração deve existir.
Portanto, impõe-se, aos homens de terra, mar e ar, que cheguem juntos à interoperabilidade em áreas como Logística, Comando e Controle e Inteligência. Entretanto, devem fazê-lo sem as idiossincrasias naturais de cada indivíduo, sem os adereços da cultura organizacional e sem paixões sectárias. Mas sim, combinadamente, em uníssono, com fervorosa devoção e com muito patriotismo.
REFERÊNCIAS
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ASH, Eric. Aeroespace Power Journal. Precision doctrine. Alabama, 2001.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1998. Brasília, 1988.
_______. Ministério da Defesa. Política Militar de Defesa. Brasília, 2005a.
______. Presidência da República. Decreto no 5.484, de 30 de junho de 2005. Aprova a Política de Defesa Nacional, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 1 julho 2005b. Disponível em: <http://www.defesa.gov.br/>. Acesso em: 9 outubro 2007.
______. Política de Defesa Nacional. Brasília, 1996.
CLAUSEWITZ, Carl von. On war. (Ed. & Trad.). Peter Paret e Michael Howard. New York: Princeton University Press, 1984.
DOUHET, Giulio. O domínio do ar. Rio de Janeiro: Belo Horizonte: Itatiaia; Rio de Janeiro: Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, 1988.
FLORES, Mario Cesar. Reflexões estratégicas: repensando a Defesa Nacional. São Paulo: É Realizações, 2002.
FRIEDMAN, Thomas L. O mundo é plano: uma breve história do Século XXI. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
HOWARD, Michael Eliot. O conceito de poder aéreo: uma avaliação histórica. Airpower Journal. Alabama, p. 59-69, 4. trim. 1996. Edição brasileira.
IDE, Pascal. A arte de pensar. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
JONES, Vincent. Operação “Tocha” a invasão da África. Rio de Janeiro: Renes, 1975.
LAMBETH, Benjamim S. Air power against terror: America´s conduct of Operation Enduring Freedom. Santa Monica: RAND, 2005.
PARET, Peter. Clausewitz and the state. Oxford: Oxford University Press - Clarendon Press, 1976.
______. (Ed.). Construtores da moderna estratégia: de Maquiavel à era nuclear. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2003.
PROENÇA JÚNIOR, Domício; DINIZ, Eugenio; RAZA, Salvador Ghelfi. Guia de estudos de estratégia. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
SANTOS, Murillo. Evolução do poder aéreo. Belo Horizonte: Itatiaia; Rio de Janeiro: Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, 1989.
SEVERSKY, Alexander de. Air power: key to survival. New York: Simon & Schuster, 1950.
______. Victory through air power. New York: Garden City Publishing Co., Inc., 1943.
SENGE, M. Peter. A quinta disciplina: arte e prática da organização de aprendizagem. São Paulo: Nova Cultural, 2002.
SULLIVAN, David. S. Transforming America’s military: integrating unconventional ground forces into combat air operations. 2002. 29 f. Paper – Naval War College, Department of Joint Maritime Operations. Newport, 2002.
TEDDER, Arthur William. Air power in war: the Lees Knowles lectures by Marshal of the Royal Air Force. London: Hodder and Stoughton – St. Paul’s House, 1954.
TRENCHARD, Hugh Montague. As três mensagens (“papers”) de Trenchard. Idéias em destaque. Rio de Janeiro: INCAER, n. 2, p. 7-56, ago. 1989.
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WESTENHOFF, Charles. Military air power: The CADRE digest of air power opinions and thoughts. Montgomery: Air University Press, 1990.
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Colaborador
Tenente-Coronel Mauro Barbosa Siqueira, Força Aérea Brasileira, é atualmente Adjunto da Coordenadoria de Pós-graduação da UNIFA. Participou de vários cursos acadêmicos como: Curso de Formação de Oficiais Aviadores - Academia da Força Aérea - AFA; Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica - EAOAR; International Officer School - Air University - USAF; Squadron Officer School - Air University - USAF; Curso de Comando e Estado-Maior - Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica - ECEMAR; Curso de Estado-Maior de Defesa (Combinado) - Escola Superior de Guerra e outros. Também participou de cursos operacionais como: Tática Aérea; Curso piloto de Transporte; Curso de Piloto de Reconhecimento. Possui mais de 3.500 horas de Vôo nas aeronaves: TZ-13, T-25, T-27, C-95, U-42, C-91, R-95, R-35A e C-130.
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Quem quiser lêr o restante deste fantástico artigo, ou outros muito interessantes:
http://www.theatlantic.com/doc/200903/air-force
The Last Ace
Cesar Rodriguez, who retired with more air-to-air kills—three—than any active-duty Air Force pilot, stands beside an F-15.
IMAGE CREDIT: STEVEN MECKLER
The Doorstep of Oblivion
OVER CESAR RODRIGUEZ’S desk hangs a macabre souvenir of his decades as a fighter pilot. It is a large framed picture, a panoramic cockpit view of open sky and desert. A small F-15 Eagle is visible in the distance, but larger and more immediate, filling the center of the shot, staring right at the viewer, is an incoming missile.
It is a startling picture, memorializing a moment of air-to-air combat from January 19, 1991, over Iraq. Air-to-air combat has become exceedingly rare. Even when it happens, modern fighter pilots are rarely close enough to actually see the person they are shooting at. This image recalls a kill registered by Rodriguez, who goes by Rico, and his wingman, Craig Underhill, known as Mole, during the Gulf War.
The F-15 in the distance is Rodriguez’s.
“The guy who is actually sitting in the cockpit staring out at this, he’s locked on to me with his radar, and that,” he said, pointing at the missile, “is about to hit him in the face.”
“So this is an artist’s rendering?”
“No,” said Rodriguez. “That’s actually the real picture.”
Image credit: Steven Meckler
A special-operations team combed the Iraqi MiG’s crash site, and this was one of the items salvaged, the last millisecond of incoming data from the doomed Iraqi pilot’s HUD, or head-up display. It was the final splash of light on his retinas, probably arriving too late for his brain to process before being vaporized with the rest of his corporeal frame. Pilots like Rodriguez don’t romanticize such exploits. These are strictly matter-of-fact men from a world where war is work, and life and death hang on a rapidly and precisely calibrated reality, an attitude captured by the flat caption mounted on the frame: THIS IS AN AIM-7 AIR-TO-AIR MISSILE SHOT FROM AN F-15 EAGLE DETONATING ON AN IRAQI MIG-29 FULCRUM DURING OPERATION DESERT STORM.
A snapshot from the doorstep of oblivion, the photo is a reminder that the game of single combat played by Rico and Mole, and by fighter pilots ever since the First World War, is the ultimate one. It may have come to resemble a video game, but it is one with no reset button, no next level. It is played for keeps.
When Rodriguez retired two years ago from the Air Force as a colonel, his three air-to-air kills (two over Iraq in 1991 and one over Kosovo) were the most of any American fighter pilot on active duty. That number may seem paltry alongside the 26 enemy planes downed by Eddie Rickenbacker in World War I, or the 40 notched by Richard Bong in World War II, or the 34 by Francis Gabreski across World War II and Korea. Rodriguez’s total was two shy of the threshold number for the honorific ace, yet his three made him the closest thing to an ace in the modern U.S. Air Force.
This says more, of course, about the nature of American air power than it does about the skills of our pilots. It’s hard to call what happens in the sky over a battlefield today “single combat.” More than ever, an air war is a group effort involving skilled professionals and technological marvels, from the ground to Earth orbit. But within the world of military aviation there remains a hierarchy of cool, and fighter jocks still own the highest rung. The word ace denotes singularity, the number one, he who stands alone at the top. Its mystique still attracts the most-ambitious young aviators, even if nowadays the greatest danger most of them face is simply flying the aircraft at supersonic speed.
American pilots haven’t shot down many enemy jets in modern times, because few nations have dared rise to the challenge of trying to fight them. The F-15, the backbone of America’s air power for more than a quarter century, may just be the most successful weapon in history. It is certainly the most successful fighter jet. In combat, its kill ratio over more than 30 years is 107 to zero. Zero. In three decades of flying, no F-15 has ever been shot down by an enemy plane—and that includes F-15s flown by air forces other than America’s. Rival fighters rarely test those odds. Many of Saddam Hussein’s MiGs fled into Iran when the U.S. attacked during the Gulf War. Of those who did fight the F-15, like the unfortunate pilot framed on Rodriguez’s wall, every last one was shot down. The lesson was remembered. When the U.S. invaded Iraq in 2003, Saddam didn’t just ground his air force, he buried it.
That complete dominance is eroding. Some foreign-built fighters can now match or best the F-15 in aerial combat, and given the changing nature of the threats our country is facing and the dizzying costs of maintaining our advantage, America is choosing to give up some of the edge we’ve long enjoyed, rather than pay the price to preserve it. The next great fighter, the F-22 Raptor, is every bit as much a marvel today as the F-15 was 25 years ago, and if we produced the F-22 in sufficient numbers we could move the goalposts out of reach again. But we are building fewer than a third of the number needed to replace the older fighters in service. After losing hope of upgrading the whole F-15 fleet, the Air Force requested 381 F-22s, the minimum number that independent analysts said it needs to retain its current edge. Congress is buying 183, and has authorized the manufacture of parts for 20 more at the front end of the production line, enough to at least keep it working until President Obama decides whether or not to continue building F-22s. Like so many presidential dilemmas, it’s a Scylla-and-Charybdis choice: a decision to save money and not build more would deliver a severe blow to a sprawling and vital U.S. industry at a time when the nation is mired in recession. And once the production line for the F-22 begins to shut down, restarting it will not be easy or cheap, even in reaction to a new threat. Each plane consists of about 1,000 parts, manufactured in 44 states, and because of the elaborate network of highly specialized subcontractors needed to fashion its unique airframe and avionics, assembling one F-22 can take as long as three years. Modern aerial wars are usually over in days, if not hours. Once those 183 to 203 new Raptors are built, they will have to do. Our end of the fight will still be borne primarily by the current fleet of aged F-15s.
When Obama unveiled his national-security team in December, he remarked that he intended “to maintain the strongest military on the planet.” That goal will continue to require the biggest bill in the world, but the portion that bought aerial dominance for so long may have become too dear. (The team’s lone holdover from the Bush administration, Defense Secretary Robert Gates, has not been an advocate for the F-22.) If Obama opts to shut down production on the aircraft, it will certainly be a defensible decision. After all, our impressive arsenals did not stop one of the most damaging attacks in our history seven years ago, mounted by men armed with box cutters. There are various ways of computing the cost of a fighter, from “unit flyaway cost,” which is the price tag as the plane rolls off the line, to “program acquisition unit cost,” which adds in the cost of the research, development, and testing. The former for the F-22 is about $178 million, and the latter about $350 million. Either way, the F-22 is the most expensive fighter ever built.
But even reasonable decisions can have harsh consequences. Without a full complement of Raptors, America’s aging fighters are more vulnerable, and hence more likely to be challenged. Complaints from the Air Force tend to be dismissed as the laments of spoiled fighter jocks denied the newest, hottest toy. But the picture on Rodriguez’s wall reminds us of the stakes for the men and women in the cockpit. Countries such as Russia, China, Iran, and North Korea will be more likely to take on the U.S. Air Force if their pilots stand a fighting chance. This could well mean more air battles, more old-style aces—and more downed American pilots.
The impact will not be felt only by aviators. Owning the sky is the first prerequisite of the way we fight wars today. Air supremacy is what enables us to send an elaborate fleet of machinery caterwauling over a targeted nation, such as Afghanistan or Iraq: the orchestrating AWACS (“Airborne Warning and Control System,” the flying surveillance-and-command center); precision bombers; attack planes, helicopters, and drones; ground support; rescue choppers; and the great flying tankers that keep them all fueled. This aerial juggernaut enables modern ground-fighting tactics that rely on the rapid movement of relatively small units, because lightly armed, fast-moving forces can quickly summon devastating air support if they encounter a heavy threat. Wounded soldiers can count on speedy evacuation and sophisticated emergency medical care. Accomplishing all this with anything like the efficiency American forces have enjoyed since the Vietnam War depends on owning the sky, which means having air-to-air hunter-killers that can shoot down enemy planes and destroy surface-to-air missile (SAM) sites before the rest of the fleet takes to the sky. Superior fighters are the linchpin of our modern war tactics. Having owned the high ground for so long, we tend to forget that it is not a birthright.
Unless the 21st century is the first in human history to somehow transcend geopolitical strife, our military will face severe tests in the coming years. The United States will be expected to take the lead in any showdown against a sophisticated air force. So it is worth examining the nature of air-to-air combat today, and the possible consequences of not building a full fleet of F-22s.
At the center of this question is that most romantic of modern warriors, the ace.
Video: "The View from the Cockpit"
Pilots at Alaska's Elmendorf Air Force Base share their views on how to maintain American air superiority.
http://link.brightcove.com/services/pla ... 0092788001
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The Last Ace
Cesar Rodriguez, who retired with more air-to-air kills—three—than any active-duty Air Force pilot, stands beside an F-15.
IMAGE CREDIT: STEVEN MECKLER
The Doorstep of Oblivion
OVER CESAR RODRIGUEZ’S desk hangs a macabre souvenir of his decades as a fighter pilot. It is a large framed picture, a panoramic cockpit view of open sky and desert. A small F-15 Eagle is visible in the distance, but larger and more immediate, filling the center of the shot, staring right at the viewer, is an incoming missile.
It is a startling picture, memorializing a moment of air-to-air combat from January 19, 1991, over Iraq. Air-to-air combat has become exceedingly rare. Even when it happens, modern fighter pilots are rarely close enough to actually see the person they are shooting at. This image recalls a kill registered by Rodriguez, who goes by Rico, and his wingman, Craig Underhill, known as Mole, during the Gulf War.
The F-15 in the distance is Rodriguez’s.
“The guy who is actually sitting in the cockpit staring out at this, he’s locked on to me with his radar, and that,” he said, pointing at the missile, “is about to hit him in the face.”
“So this is an artist’s rendering?”
“No,” said Rodriguez. “That’s actually the real picture.”
Image credit: Steven Meckler
A special-operations team combed the Iraqi MiG’s crash site, and this was one of the items salvaged, the last millisecond of incoming data from the doomed Iraqi pilot’s HUD, or head-up display. It was the final splash of light on his retinas, probably arriving too late for his brain to process before being vaporized with the rest of his corporeal frame. Pilots like Rodriguez don’t romanticize such exploits. These are strictly matter-of-fact men from a world where war is work, and life and death hang on a rapidly and precisely calibrated reality, an attitude captured by the flat caption mounted on the frame: THIS IS AN AIM-7 AIR-TO-AIR MISSILE SHOT FROM AN F-15 EAGLE DETONATING ON AN IRAQI MIG-29 FULCRUM DURING OPERATION DESERT STORM.
A snapshot from the doorstep of oblivion, the photo is a reminder that the game of single combat played by Rico and Mole, and by fighter pilots ever since the First World War, is the ultimate one. It may have come to resemble a video game, but it is one with no reset button, no next level. It is played for keeps.
When Rodriguez retired two years ago from the Air Force as a colonel, his three air-to-air kills (two over Iraq in 1991 and one over Kosovo) were the most of any American fighter pilot on active duty. That number may seem paltry alongside the 26 enemy planes downed by Eddie Rickenbacker in World War I, or the 40 notched by Richard Bong in World War II, or the 34 by Francis Gabreski across World War II and Korea. Rodriguez’s total was two shy of the threshold number for the honorific ace, yet his three made him the closest thing to an ace in the modern U.S. Air Force.
This says more, of course, about the nature of American air power than it does about the skills of our pilots. It’s hard to call what happens in the sky over a battlefield today “single combat.” More than ever, an air war is a group effort involving skilled professionals and technological marvels, from the ground to Earth orbit. But within the world of military aviation there remains a hierarchy of cool, and fighter jocks still own the highest rung. The word ace denotes singularity, the number one, he who stands alone at the top. Its mystique still attracts the most-ambitious young aviators, even if nowadays the greatest danger most of them face is simply flying the aircraft at supersonic speed.
American pilots haven’t shot down many enemy jets in modern times, because few nations have dared rise to the challenge of trying to fight them. The F-15, the backbone of America’s air power for more than a quarter century, may just be the most successful weapon in history. It is certainly the most successful fighter jet. In combat, its kill ratio over more than 30 years is 107 to zero. Zero. In three decades of flying, no F-15 has ever been shot down by an enemy plane—and that includes F-15s flown by air forces other than America’s. Rival fighters rarely test those odds. Many of Saddam Hussein’s MiGs fled into Iran when the U.S. attacked during the Gulf War. Of those who did fight the F-15, like the unfortunate pilot framed on Rodriguez’s wall, every last one was shot down. The lesson was remembered. When the U.S. invaded Iraq in 2003, Saddam didn’t just ground his air force, he buried it.
That complete dominance is eroding. Some foreign-built fighters can now match or best the F-15 in aerial combat, and given the changing nature of the threats our country is facing and the dizzying costs of maintaining our advantage, America is choosing to give up some of the edge we’ve long enjoyed, rather than pay the price to preserve it. The next great fighter, the F-22 Raptor, is every bit as much a marvel today as the F-15 was 25 years ago, and if we produced the F-22 in sufficient numbers we could move the goalposts out of reach again. But we are building fewer than a third of the number needed to replace the older fighters in service. After losing hope of upgrading the whole F-15 fleet, the Air Force requested 381 F-22s, the minimum number that independent analysts said it needs to retain its current edge. Congress is buying 183, and has authorized the manufacture of parts for 20 more at the front end of the production line, enough to at least keep it working until President Obama decides whether or not to continue building F-22s. Like so many presidential dilemmas, it’s a Scylla-and-Charybdis choice: a decision to save money and not build more would deliver a severe blow to a sprawling and vital U.S. industry at a time when the nation is mired in recession. And once the production line for the F-22 begins to shut down, restarting it will not be easy or cheap, even in reaction to a new threat. Each plane consists of about 1,000 parts, manufactured in 44 states, and because of the elaborate network of highly specialized subcontractors needed to fashion its unique airframe and avionics, assembling one F-22 can take as long as three years. Modern aerial wars are usually over in days, if not hours. Once those 183 to 203 new Raptors are built, they will have to do. Our end of the fight will still be borne primarily by the current fleet of aged F-15s.
When Obama unveiled his national-security team in December, he remarked that he intended “to maintain the strongest military on the planet.” That goal will continue to require the biggest bill in the world, but the portion that bought aerial dominance for so long may have become too dear. (The team’s lone holdover from the Bush administration, Defense Secretary Robert Gates, has not been an advocate for the F-22.) If Obama opts to shut down production on the aircraft, it will certainly be a defensible decision. After all, our impressive arsenals did not stop one of the most damaging attacks in our history seven years ago, mounted by men armed with box cutters. There are various ways of computing the cost of a fighter, from “unit flyaway cost,” which is the price tag as the plane rolls off the line, to “program acquisition unit cost,” which adds in the cost of the research, development, and testing. The former for the F-22 is about $178 million, and the latter about $350 million. Either way, the F-22 is the most expensive fighter ever built.
But even reasonable decisions can have harsh consequences. Without a full complement of Raptors, America’s aging fighters are more vulnerable, and hence more likely to be challenged. Complaints from the Air Force tend to be dismissed as the laments of spoiled fighter jocks denied the newest, hottest toy. But the picture on Rodriguez’s wall reminds us of the stakes for the men and women in the cockpit. Countries such as Russia, China, Iran, and North Korea will be more likely to take on the U.S. Air Force if their pilots stand a fighting chance. This could well mean more air battles, more old-style aces—and more downed American pilots.
The impact will not be felt only by aviators. Owning the sky is the first prerequisite of the way we fight wars today. Air supremacy is what enables us to send an elaborate fleet of machinery caterwauling over a targeted nation, such as Afghanistan or Iraq: the orchestrating AWACS (“Airborne Warning and Control System,” the flying surveillance-and-command center); precision bombers; attack planes, helicopters, and drones; ground support; rescue choppers; and the great flying tankers that keep them all fueled. This aerial juggernaut enables modern ground-fighting tactics that rely on the rapid movement of relatively small units, because lightly armed, fast-moving forces can quickly summon devastating air support if they encounter a heavy threat. Wounded soldiers can count on speedy evacuation and sophisticated emergency medical care. Accomplishing all this with anything like the efficiency American forces have enjoyed since the Vietnam War depends on owning the sky, which means having air-to-air hunter-killers that can shoot down enemy planes and destroy surface-to-air missile (SAM) sites before the rest of the fleet takes to the sky. Superior fighters are the linchpin of our modern war tactics. Having owned the high ground for so long, we tend to forget that it is not a birthright.
Unless the 21st century is the first in human history to somehow transcend geopolitical strife, our military will face severe tests in the coming years. The United States will be expected to take the lead in any showdown against a sophisticated air force. So it is worth examining the nature of air-to-air combat today, and the possible consequences of not building a full fleet of F-22s.
At the center of this question is that most romantic of modern warriors, the ace.
Video: "The View from the Cockpit"
Pilots at Alaska's Elmendorf Air Force Base share their views on how to maintain American air superiority.
http://link.brightcove.com/services/pla ... 0092788001
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Show, show, Soultrain...
Infelizmente, estive ausente por uns dias e perdi seus textos na hora . Excelente a comparação do Boyd e do Warden. Destaco uns trechos, e minhas opiniões(se é que valem, perto dos feras que os escrevem... ), dos dois primeiros textos:
.Uma Revolução Técnico-militar ocorre quando existe uma grande e rápida melhoria no equipamento utilizado em combate e em apoio ao combate, pela combinação de várias tecnologias de modo inovador num curto espaço de tempo. Normalmente, em conjunto com a Revolução Técnica Militar, uma Revolução nos Assuntos Militares requer a alteração dos conceitos doutrinários e as mudanças organizacionais necessárias para capitalizar as novas tecnologias e doutrina e transformar fundamentalmente o carácter e a condução das operações militares
Esses, tinham de colocar num quadro e olhar todos dias...Com veemência, Mario Cesar Flores, Almirante-de-Esquadra (reformado) da Marinha do Brasil, afirma que “as lideranças militares” nem sempre aceitam bem a mudança se ela implicar questionamento de interesses e competências consagradas, “são propensas ao conservadorismo protetor da carreira” e acusadas de “conduzir o preparo militar pelo passado, em vez de adaptá-lo ao futuro”. (FLORES, 2002, p. 12).
Isso o Douhet já dizia lá atrás e o povo anda esquecendo...- O Poder Aéreo inclui não só as capacidades militares mas também a indústria aeronáutica e a aviação comercial.[xxxii]
As “profecias” do passado estão agora confirmadas pelo combate e são já as realidades do futuro.
Crê-se contudo que não é lícito concluir, como alguns fazem,[xxxiv] que as doutrinas de emprego do poder aéreo, nomeadamente a de Warden, tenham uma lógica de substituição ou de sobreposição das outras estratégias militares. Tal é objectivamente impossível, uma vez que este não pode ocupar nem manter o terreno. A Estratégia Aérea faz parte da Estratégia Geral Militar e é esta que, consoante os objectivos fixados, o teatro de operações e os potenciais em confronto, definirá a modalidade de acção a seguir
É isso aí, esses textos resumem tudo...“O Poder Aéreo não tem outra finalidade independente, para além do seu papel como componente do Poder Militar.”
Ronald Fogleman, General USAF
Essa, que se o Prick estiver lendo, terá um orgasmo , mas retrata a real e crua verdade: se errarem na decisão política, o resto vai de arrasto.Mais do que constrangimentos tecnológicos ou doutrinários, será pois a decisão política, que dentro do contexto específico de um conflito, e face aos objectivos a atingir, determinará a forma de emprego do Poder Aéreo.
Isso é interessante, porque se observa desde o "universo" micro, ao macro. No pensamento macro, o espaço aéreo, tal como o espaço marítimo, são ambientes, dimensões, em contato com o terreno que o homem habita. É nele e por ele que há a guerra. Mas o não controle daqueles poderá inutilizar o terreno.Conclui-se que o poder aéreo pode significar, no bojo do fato consumado que são as operações combinadas, o elemento-chave que surgiu, há cerca de cem anos, para amalgamar. Citando Michael Eliot Howard (1996, p. 60), “foi do conceito de poder marítimo que se desenvolveu todo pensamento sobre poder aéreo”.
No micro, não é a toa que chamam pilotos de comandantes. Tal como num navio, cujo comandante trabalha mais com a cabeça, com decisões. Isso acontecia antes mais com aviões grandes, sendo os caças mais "carros de formula 1", mais força e habilidade física. A constatação que os "ases" possuíam uma maior consciencia situacional do que os demais, e o advento da informatica, diminuiu essa diferença, aliviando a carga do piloto, mas exigindo dele maior capacidade decisória, maior gerenciamento do campo de batalha.
Abs!!
Editado pela última vez por alcmartin em Qua Abr 01, 2009 8:14 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Já ia esquecendo: o gordinho Cesar Rodriguez, do último texto, apareceu no "Combates Aéreos", do History Channel, no capítulo "tempestade do Deserto".
abs!
abs!
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Re: Emprego do Poder Aéreo
rapaz... ainda estou processando tanta informação... mas desde já.. obrigado
- Thor
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Acredito que para a maioria das Forças Aéreas menos desenvolvidas, a grande preocupação é como empregar a Força Aérea num conflito.
Desde a Segunda Guerra, quando o General “Ike” Eisenhower sugeriu para Churchill a importancia da unidade de comando num TO, tornando-se o Comandante Supremo, acredito que a grande maioria dos países adotaria isso como um grande e básico Principio de Guerra, salvo raríssimas exceções.
E quem seria esse grande comandante num TO terrestre, por exemplo??
Certamente seria um General de Exército, o qual montaria seu staff com as pessoas em quem confia, com grande influência de homens de terra...
Caso a campanha aérea não seja bem planejada pelo Comandante da Força Aérea do Teatro, e este não tenha total autonomia para desenvolvimento de suas ações em apoio às necessidades do Teatro, o poder aéreo certamente seria subutilizado. Isso é altamente factível em países menos doutrinados e pudemos ver isso em vários conflitos recentes.
Será que esse Comandante confiaria na sua FAC (Força Aérea Componente) a ponto de esperar a fase inicial da Campanha Aérea antes de iniciar a interdição e o avanço das tropas terrestres?
Outra grande preocupação que vejo é como seriam empregadas as missões da ataque, após iniciados os embates e houvesse contra-ataques do inimigo. A guerra de reação, ou seja, acionar aviões a cada medida adotada pelo inimigo, seja para proteção dos exércitos ou para retalições imediatas, é uma tendência natural num conflito de pequena intensidade, principalmente dentro de nossa cultura, pois nós gostamos de improvisar e nos vangloriamos de sermos flexíveis e sempre conseguirmos o objetivo com pouco planejamento (jeitinho brasileiro),
Mas certamente a campanha aérea deve ser bem planejada e não permitir desvios "repentinos" dos objetivos pré-estabelecidos, mesmo que isso custe pesadas perdas, caso contrário, o emprego do poder aéreo novamente seria subutilizado e serviria apenas como apoio às forças de superfície.
Não sei se pude me expressar bem no que escrevi, mas isso é o início para entendermos o emprego do poder aéreo. Para fechar o ciclo, teria que escrever alguma coisa sobre estrutura de um comando conjunto do TO, seleção de alvos, faseamento da campanha aérea, ciclo OODA, ataques em pacote, etc. Mas não sei se existe interesse na galera aqui, pois não tem nada a ver com F/X, e para quem escreve é muito mais fácil reponder algum questionamento/dúvida a desenvolver uma idéia a partir do nada...
Abraços
Desde a Segunda Guerra, quando o General “Ike” Eisenhower sugeriu para Churchill a importancia da unidade de comando num TO, tornando-se o Comandante Supremo, acredito que a grande maioria dos países adotaria isso como um grande e básico Principio de Guerra, salvo raríssimas exceções.
E quem seria esse grande comandante num TO terrestre, por exemplo??
Certamente seria um General de Exército, o qual montaria seu staff com as pessoas em quem confia, com grande influência de homens de terra...
Caso a campanha aérea não seja bem planejada pelo Comandante da Força Aérea do Teatro, e este não tenha total autonomia para desenvolvimento de suas ações em apoio às necessidades do Teatro, o poder aéreo certamente seria subutilizado. Isso é altamente factível em países menos doutrinados e pudemos ver isso em vários conflitos recentes.
Será que esse Comandante confiaria na sua FAC (Força Aérea Componente) a ponto de esperar a fase inicial da Campanha Aérea antes de iniciar a interdição e o avanço das tropas terrestres?
Outra grande preocupação que vejo é como seriam empregadas as missões da ataque, após iniciados os embates e houvesse contra-ataques do inimigo. A guerra de reação, ou seja, acionar aviões a cada medida adotada pelo inimigo, seja para proteção dos exércitos ou para retalições imediatas, é uma tendência natural num conflito de pequena intensidade, principalmente dentro de nossa cultura, pois nós gostamos de improvisar e nos vangloriamos de sermos flexíveis e sempre conseguirmos o objetivo com pouco planejamento (jeitinho brasileiro),
Mas certamente a campanha aérea deve ser bem planejada e não permitir desvios "repentinos" dos objetivos pré-estabelecidos, mesmo que isso custe pesadas perdas, caso contrário, o emprego do poder aéreo novamente seria subutilizado e serviria apenas como apoio às forças de superfície.
Não sei se pude me expressar bem no que escrevi, mas isso é o início para entendermos o emprego do poder aéreo. Para fechar o ciclo, teria que escrever alguma coisa sobre estrutura de um comando conjunto do TO, seleção de alvos, faseamento da campanha aérea, ciclo OODA, ataques em pacote, etc. Mas não sei se existe interesse na galera aqui, pois não tem nada a ver com F/X, e para quem escreve é muito mais fácil reponder algum questionamento/dúvida a desenvolver uma idéia a partir do nada...
Abraços
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Olá, Thor, bom dia! Se me permite, vou aproveitar para dar um upgrade na minha cepa, em cima de ti...
O meu conhecimento, o material, de FAB é antigo... A sua citaçào do ciclo OODA, do Boyd, citado no texto do Soultrain, dá uma idéia da estratégia geral empregada. Minha pergunta: esses cursos, esses novos conhecimentos já assimilados pela FAB, em sua opinião, já permitiram um "abrasileiramento" dessas táticas e estratégias, ou a gente ainda está muito limitado pelo equipamento, ainda depende muito do que vem de fora?
abraçào e bons voos!
É verdade. Muitos líderes militares e autores consagrados citam que esse foi o caso de Hitler na Batalha da Inglaterra, que interferiu na campanha da Luftwaffe, quando uns bombardeiros ingleses bombardearam por engano (ou não... ) a populaçào civil. A ordem de retaliaçào interrompeu a sequencia de ataques a bases aéreas e a industria aeronautica inglesa, justo no momento que estas estavam próximas do colapso. A interferencia deu o "respiro" que a RAF precisava...Thor escreveu: Mas certamente a campanha aérea deve ser bem planejada e não permitir desvios "repentinos" dos objetivos pré-estabelecidos, mesmo que isso custe pesadas perdas, caso contrário, o emprego do poder aéreo novamente seria subutilizado e serviria apenas como apoio às forças de superfície.
Reencontrando, a poucos anos, meu In. de vôo lá da Leo créu (no meu ano... ), ele estava fazendo estágio em controle aéreo avançado e coordenação de pacotes, a bordo dos AWACS, lá no Golfo. Também andou "passeando" na França, onde se impressionou muito com o treinamento de voo a baixa altura.Não sei se pude me expressar bem no que escrevi, mas isso é o início para entendermos o emprego do poder aéreo. Para fechar o ciclo, teria que escrever alguma coisa sobre estrutura de um comando conjunto do TO, seleção de alvos, faseamento da campanha aérea, ciclo OODA, ataques em pacote, etc. Mas não sei se existe interesse na galera aqui, pois não tem nada a ver com F/X, e para quem escreve é muito mais fácil reponder algum questionamento/dúvida a desenvolver uma idéia a partir do nada...
Abraços
O meu conhecimento, o material, de FAB é antigo... A sua citaçào do ciclo OODA, do Boyd, citado no texto do Soultrain, dá uma idéia da estratégia geral empregada. Minha pergunta: esses cursos, esses novos conhecimentos já assimilados pela FAB, em sua opinião, já permitiram um "abrasileiramento" dessas táticas e estratégias, ou a gente ainda está muito limitado pelo equipamento, ainda depende muito do que vem de fora?
abraçào e bons voos!
- Thor
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Re: Emprego do Poder Aéreo
A FAB evoluiu uns 20 anos nos últimos 6-7 anos, em termos de doutrina. É claro que o equipamento ajuda, não há dúvidas, mas o material humano é o mais importante e não se compra isso da noite pro dia.alcmartin escreveu: Reencontrando, a poucos anos, meu In. de vôo lá da Leo créu (no meu ano... ), ele estava fazendo estágio em controle aéreo avançado e coordenação de pacotes, a bordo dos AWACS, lá no Golfo. Também andou "passeando" na França, onde se impressionou muito com o treinamento de voo a baixa altura.
O meu conhecimento, o material, de FAB é antigo... A sua citaçào do ciclo OODA, do Boyd, citado no texto do Soultrain, dá uma idéia da estratégia geral empregada. Minha pergunta: esses cursos, esses novos conhecimentos já assimilados pela FAB, em sua opinião, já permitiram um "abrasileiramento" dessas táticas e estratégias, ou a gente ainda está muito limitado pelo equipamento, ainda depende muito do que vem de fora?
abraçào e bons voos!
Muita coisa aprendemos com os franceses, que embora estejam uns 10 anos atrasados em relação aos americanos e no mesmo padrão da OTAN, foram os que proporcionaram essa abertura de conhecimentos, e claro, a nossa característica "flexibilidade", nesse caso, ajudou-nos a desenvolver e adaptar novas técnicas, e em pouco tempo e com poucos recursos.
Acho que todos pudemos verificar o grau de treinamento da FAB nos últimos 4-5 anos, a quantidade de grandes operações desenvolvidas foi surpreendente, a ponto de liderarmos grandes estruturas de coalizão (CRUZEX), o que deixou a todos impressionados com nossa capacidade de montar rede de C2 de alto nível e de grande operacionalidade (barracas e equip que podem ser montadas no meio da selva, dentro de um túnel, num hotel no centro de qualquer cidade, ou mesmo usar o que já temos instalados em tempos de paz), sem falar no desempenho demonstrado na Red Flag, mesmo com equipamento muito inferior e com a barreira da língua, nossa média nos combates ficou acima de esquadrões com F-15 e F-16.
Em termos de emprego do poder aéreo, podemos dizer que estamos com boa doutrina e capacidade de C2, porém os meios poderiam ser melhores e em maiores quantidades. Os poucos recursos, em caso de conflito, teriam que ser direcionados para minimizar a capacidade do inimigo logo no início da campanha aérea, e certamente não sobrariam muitos meios para apoio ao Exército e à Marinha, na fase inicial (superioridade aérea), com enfase nos centros de gravidades.
Uma coisa é certa, numa escalada para um conflito hipotético, é muito mais fácil comprar armas a comprar doutrina. Afinal, dificilmente uma guerra inicia-se de uma hora para outra.
Que venham:
- F/X e aumento da capacidade BVR e ataque de precisão;
- C-105 com NVG, RWR, FLARE, etc;
- KC-390;
- UH-60;
- Mi-35 e alguns armamentos;
- P-3 + harpoon;
- A-1M;
- Pods rec e jammer;
- VANT;
- Bomba GPS/INS; etc...
Abraços
Brasil acima de tudo!!!
Re: Emprego do Poder Aéreo
Eu sempre ouvi isso quando se questiona o "grande" número de oficiais generais no Brasil. Formar cérebros, estado maior e etc, leva décadas. Comprar na prateleira talvez um ano, se tanto, dependendo da grana colocada no jogo.
Muito bons os textos, ótimos mesmo. Estão todos de parabéns!
Muito bons os textos, ótimos mesmo. Estão todos de parabéns!
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Re: Emprego do Poder Aéreo
Valeu, Thor...quanto a melhora na FAB nos últimos anos, é visível até para quem está fora. Por pequenos detalhes a gente vê a diferença: de uns 4,5 anos para cá, é comum a gente ver, digo, ouvir o povo na fonia só no inglês. Coisa que não existia e certamente um preparo para missões no exterior.
abs!!
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