IAE testa motor de propulsão líquida

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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#16 Mensagem por LeandroGCard » Qui Set 18, 2008 4:03 pm

DELTA22 escreveu:Leonardo,
você que me parece ser um grande conhecedor de todos os foguetes do IAE e suas tecnologias, você poderia me responder o que é isso?

Grato

Imagem

Só pra esclarecer: Participaram da platéia do teste do motor-foguete, o Comandante do CTA, Tenente-Brigadeiro Rolla, o Major-Brigadeiro Salamone, o Brigadeiro Venâncio, o Comandante Zapico, da Marinha, o Coronel Pimentel, do Exército e a doutora Renata Furtado, da Advocacia Geral da União (AGU), que está no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência.

Talvez, excluindo a doutora da AGU, acho que os outros devem saber o que é um buscapé e o que é o Saturno V, né não??? :mrgreen:

[]'s
Olá DELTA22,

Esta imagem que você mandou é de um pequeno motor de combustível líquido montado em um banco de testes, desta vez aparecendo como se imagina, o motor sozinho com seus tubos de alimentação e em posição vertical. Dá para perceber que também é um motor muito simples, não se vêem bombas de alimentação, ductos do sistema de refrigeração, etc... . E o ângulo inicial do divergente e sua curvatura indicam que é um motor diferente do que se vê no filme do início do tópico, cujo divergente parece ter um ângulo mais fechado e paredes retas (nos motores foguete utilizados em lançadores de verdade este último tipo é comum nos primeiro estágio, e o primeiro com maior curvatura é mais comum nos estágios superiores, por considerações de escoamento). Este motor deve ser mais um dos três citados pelo Brasileiro, todos apenas estudos acadêmicos.


Sabe, eu acho que compreendo a sua posição com relação ao progrograma espacial brasileiro, quando você busca quaisquer evidências de que ele está andando e tem algum futuro. Eu mesmo estive nesta posição por mais de 20 anos, e ainda hoje gostaria muitíssimo de poder acreditar que um dia nosso país será uma potência espacial pelo menos do calibre de uma Índia ou de um Japão em um futuro previsível. Mas o histórico do programa e as notícias mais recentes que aparecem sobre ele (pelo menos até agora) não me autorizam a ter esperanças de que isto venha a contecer. Fico muito triste com isso, acredite, mas não posso fugir da realidade.

Quando apareceram as primeiras notícias de que um grupo de engenheiros do IAE havia partido para a Rússia para estudar a propulsão líquida, eu imaginei o seguinte quadro:

- O pessoal selecionado teria estudado, antes de partir, tudo o que está disponível sobre os conceitos básicos de motores de combustível líquido, em bibliografia de acesso público. Livros como "Mechanics and Thermodinamics of Propulsion", "Fundamentals of Rocket Design" e "Rocket Propulsion Elements" estão disponíveis em bibliotecas no Brasil ou podem ser comprados na Amazon. Ninguém poderia ter saído do Brasil sem ter feito (e compreendido)todos os exercícios relativos a motores de combustível líquido do primeiro livro, e pelo menos de um dos dois outros. Assim todos já chegariam na Rússia com uma boa base sobre os conceitos científicos (termodinâmica, mecânica dos fluídos, transferência de calor, etc...) e tecnológicos (combustíveis, parâmetros básicos, sistemas de alimentação, refrigeração, etc...) sobre o assunto. Não se perderia tempo com isso lá (na verdade o pessoal já deveria estar realizando estes estudos desde que o projeto do VLS ficou pronto).

- Ainda no Brasil, uma especificação inicial de motor para aplicação prática teria sido definida (por exemplo o motor do último estágio do VLS-Beta ou o motor do VLS-Gama) em termos de impulso específico mínimo, empuxo total, conceito tecnológico, etc... .

- O pessoal teria sido dividido por áreas de atuação dentro do escopo do desenvolvimento de motores de combustível líquido: Dimensionamento da geometria, projeto de turbobombas, tubulações e válvulas, sistemas de refrigeração, etc... . Ao chegar na Rússia cada um se concentraria no estudo do subsistema pelo qual estaria responsável (na verdade deveria haver alguma redundância). Se necessário seria solicitado apoio externo (russo por exemplo) para definir estas áreas de atuação. Como tema de cada estudo seria adotado o dimensionamento dos componentes e sistemas do motor cuja especificação foi definida no ítem anterior.

- Em paralelo com o pessoal estudando na rússia seria montado no IAE o laboratório de testes de motores de combustível líquido, para motores até um porte já suficiente pelo menos para o do motor definido no segundo ítem (e se possível bem maior). O projeto deste laboratório poderia ser feito aqui ou simplesmente adquirido fora.

- Conforme cada estudo fosse completado o responsável voltaria para o Brasil e iniciaria a fase de elaboração das especificações e desenhos de produção dos componentes e sistemas dimensionados na rússia, e a busca de fornecedores para eles no Brasil.


Assim, o primeiro motor que eu esperava ver contruído e testado em nosso país já seria um motor real de maior porte e com aplicação definida, e não estes pequenos motores para estudos acadêmicos. A impressão que fico é que o pessoal foi até a Rússia para fazer apenas a primeira fase que eu citei, os estudos teóricos, e agora estão começando do zero o desenvolvimento tecnológico.

Isto pode parecer parte do processo natural de desenvolvimento da tecnologia, mas não é, é querer re-inventar a roda. De todos os países que possuem ou possuíram a capacidade de construir e lançar foquetes de combustível líquido de maior porte, somente 2 iniciaram o desenvolvimento do zero, a Alemanha (na década de 30) e a França (na década de 50). A Rússia e os EUA já partiram da reprodução das V-2 alemães (pois os estudos de Goddard nunca tiveram continuidade), e China, Japão, Índia, Coréia do Norte, Paquistão e Irã, simplesmente compraram foguetes completos prontos e começaram à partir daí (a Inglaterra também fez algum desenvolvimento próprio, mas com amplo apoio americano e no final acabaram por desistir).

Hoje, com grande parte do conhecimento básico disponível em literatura de acesso público e a chance de estudar em um dos países mais avançados da área, estar ainda na fase de motorzinhos experimentais mais simples do que os que Robert Goddard lançava na década de 30 (pois os dele já tinham sistemas de alimentação por turbobombas e refrigeração regenerativa!) me parece simplesmente absurdo!

Veja bem, eu não tenho absolutamente nenhuma dúvida de que o pessoal técnico do IAE tem (ou teria) a capacidade de realizar um programa como o que eu citei, eles são tecnicamente competentes. O problema é que eles deveriam ter sido orientados para fazer isso por alguém que tivesse uma visão mais abrangente sobre o programa de foguetes como um todo. Se esta pessoa não existe no Brasil, então o primeiro passo antes de falar em desenvolver um programa de foguetes é encontrá-la onde estiver disponível, e trazê-la para cá por qualquer preço. Quem é o nosso Von Braun, ou nosso Korolev?

Baseado em tudo o que vi até agora esta pessoa não existe, e portanto o programa espacial brasileiro não passa de um tema para estudos acadêmicos sem objetivo definido e portanto sem consistência. E corremos o sério risco de que se e quando os foguetes Cyclone começarem a decolar de Alcântara o programa simplesmente morra de inanição e desapareça, sem que ninguém sequer perceba.

Tudo isso é muito triste e acredite, eu adoraria ter evidências de que a realidade não é assim, mas até agora não vi absolutamente nenhum indício do contrário.


Um grande abraço,


Leandro G. Card




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#17 Mensagem por DELTA22 » Qui Set 18, 2008 7:12 pm

Compreendo Leandro (corrigido).

Minha pergunta com relação a imagem é realmente de curiosidade, uma vez que percebi que você tem um conhecimento apurado do assunto e não buscar evidencias que prove avanços no programa. Quiz realmente usar do seu conhecimento para enriquecer o meu. O objetivo foi cumprido, obrigado!

Outra pergunta: você usa termos tecnicos com muita propriedade. Você é Engenheiro? É que estudo engenharia, e essa impressão me ficou.

Abraço.




Editado pela última vez por DELTA22 em Qui Set 18, 2008 9:46 pm, em um total de 1 vez.
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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#18 Mensagem por cvn73 » Qui Set 18, 2008 7:32 pm

Muito interessante (Leonardo) ops, digo Leandro , sempre achei que o único "original" seria o alemão, não sabia que o francês começou do zero.

Em tempo, sou apenas um entusiasta, como o DELTA22 disse, gosto de ler seus comentários para enriquecer meus conhecientos.




Editado pela última vez por cvn73 em Sex Set 19, 2008 12:54 pm, em um total de 1 vez.
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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#19 Mensagem por LeandroGCard » Qui Set 18, 2008 9:16 pm

DELTA22 escreveu:Compreendo Leonardo.

Minha pergunta com relação a imagem é realmente de curiosidade, uma vez que percebi que você tem um conhecimento apurado do assunto e não buscar evidencias que prove avanços no programa. Quiz realmente usar do seu conhecimento para enriquecer o meu. O objetivo foi cumprido, obrigado!

Outra pergunta: você usa termos tecnicos com muita propriedade. Você é Engenheiro? É que estudo engenharia, e essa impressão me ficou.

Abraço.
Sim Delta22, você acertou, sou mesmo engenheiro mecânico com pós-graduação em análise estrutural por elementos finitos, e trabalho na área de projetos já há muitos anos.

Mas no nome você sempre erra, eu me chamo Leandro (Leonardo é o meu irmão!).

Um abraço,

Leandro G. Card




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#20 Mensagem por Brasileiro » Qui Set 18, 2008 9:19 pm

Mas no nome você sempre erra, eu me chamo Leandro (Leonardo é o meu irmão!).
Imagem

Leandro,

Como está aí no céu (ou em qualquer lugar em que esteja)????


:twisted: :twisted: :twisted: :twisted:


abraços]




----------------
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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#21 Mensagem por LeandroGCard » Qui Set 18, 2008 9:23 pm

Brasileiro escreveu:
Mas no nome você sempre erra, eu me chamo Leandro (Leonardo é o meu irmão!).
Imagem

Leandro,

Como está aí no céu (ou em qualquer lugar em que esteja)????


:twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
Eu e meu irmão deveríamos cobrar royalties destes caras! E pelo menos nossos nomes são os verdadeiros!!!

Um grande abraço,

Leandro G. Card




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#22 Mensagem por LeandroGCard » Qui Set 18, 2008 9:43 pm

cvn73 escreveu:Muito interessante Leonardo, sempre achei que o único "original" seria o alemão, não sabia que o francês começou do zero.

Em tempo, sou apenas um entusiasta, como o DELTA22 disse, gosto de ler seus comentários para enriquecer meus conhecientos.
Os franceses começaram suas pesquisas ainda no final da década de 40, quando o assunto ainda era muito sensível, e eles não tiveram como capturar nenhuma informação da Alemanha como fizeram americanos e russos, por isso começaram bem mais atrás. Eu pessoalmente aposto que eles tiveram alguma mãozinha dos EUA, mas nada muito importante.

O primeiro foguete de combustível líquido deles (pelo menos dos que eu conheço), foi o Veronique, um pequeno foguete de 1 Ton de peso e 40 KN de empuxo, lançado pela primeira vez lá por 1950. Depois veio uma série de foguetes de combustível tanto sólido quanto líquido com nomes de pedras preciosas, que culminou com o Diamant, que lançou o primeiro satélite francês em 1965.

Já o ponto de partida de americanos e russos foi a V2, de 12 toneladas no lançamento e com um motor de 725 KN de empuxo máximo, um foguete não apenas muito maior mas também muito mais complexo que o Veronique. Por isso eu considero que a França realmente começou do zero. Mas hoje isto não é mais necessário e dá para pular muitas etapas, como já mencionei.

Um abraço,

Leandro G. Card




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#23 Mensagem por DELTA22 » Qui Set 18, 2008 10:05 pm

LeandroGCard escreveu: Sim Delta22, você acertou, sou mesmo engenheiro mecânico com pós-graduação em análise estrutural por elementos finitos, e trabalho na área de projetos já há muitos anos.

Mas no nome você sempre erra, eu me chamo Leandro (Leonardo é o meu irmão!).

Um abraço,

Leandro G. Card
Leandro (agora sim acertei [003] ) me perdoe a confusão do nome, não foi intencional. Realmente nem percebi, mas já corrigi todos os meus post's. Poxa, errei em todos, me desculpe!

Os termos técnicos não me deixaram pensar diferente. Desde o princípio já havia notado... engenheiro é igual até na escrita, não importa nem a especialidade. Eu ainda sou estudante de Eng. Elétrica mas me acostumei com esse jeito de ler/escrever "engenheirêz" :mrgreen: . Ai foi fácil saber!

Mas Leandro, vou aproveitar mais um pouco de seu conhecimento se você me permite: O foguete Alemão V-2 era um motor com turbo-bomba (e demais sistemas) ou seus tanques eram pressurizados?

[]'s, Delta.




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#24 Mensagem por LeandroGCard » Qui Set 18, 2008 10:55 pm

DELTA22 escreveu: Mas Leandro, vou aproveitar mais um pouco de seu conhecimento se você me permite: O foguete Alemão V-2 era um motor com turbo-bomba (e demais sistemas) ou seus tanques eram pressurizados?

[]'s, Delta.
A V2 era um foguete completo até demais, com alimentação por turbobombas acionadas pelos produtos da decomposição de peróxido de hidrogênio, refrigeração regenerativa e por lâmina de combustível não queimado, sistema de navegação on-board, etc... . Mas como um bom projeto alemão, ele até exagerava nos cuidados, como um pesado isolamento térmico para o tanque de oxigênio líquido que em foguetes posteriores da Rússia e dos EUA se descobriu não ser necessário.

O V2 (ou A-4) foi em todos os aspectos uma grande realização técnica, principalmente nas condições em que foi desenvolvido, na Alemanha em meio à segunda guerra mundial. Na mesma época chegou a ser desenvolvido também na Alemanha um foguete menor, com cerca de 3.700 Kg de peso, que utillizava combustíveis hipergólicos injetados no motor por pressurização dos tanques. Seu nome era Wasserfall, e era um míssil anti-aéreo e não terra-terra como a V2. Mas embora os responsáveis por seu desenvolvimento tenham afirmado que ele funcionou muito bem, os alemães não chegaram a utilizá-lo em grande número, e acho que nenhum foi disparado em condições reais de combate.

Um grande abraço,

Leandro G. Card




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#25 Mensagem por Vinicius Pimenta » Qui Set 18, 2008 11:02 pm

Pô, calma aí. Como é que nós, sei lá, 70 depois não temos tecnologia pra fazer algo como isso? :cry:




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#26 Mensagem por LeandroGCard » Sex Set 19, 2008 12:29 am

Vinicius Pimenta escreveu:Pô, calma aí. Como é que nós, sei lá, 70 depois não temos tecnologia pra fazer algo como isso? :cry:
Pois é, barra, não é não?

Mas quer saber mesmo, tecnologia até temos (ou podemos desenvolver relativamente rápido), o que falta é objetividade. Falta alguém dizer: Temos que lançar um satélite em 1 ano, ou colocar uma sonda na lua em cinco, ou um homem em órbita em 10, custe o que custar! Como os militares nazistas fizeram com os cientistas alemães na SGM, ou Kennedy com os americanos na década de 60. O tamanho do objetivo pode ser definido em função do quanto realmente se está disposto a gastar, mas uma vez colocado o objetivo e o prazo não se pode desviar do caminho até completar a tarefa.

E aí o responsável tem que pressionar a equipe técnica por resultados práticos, e não deixá-los a repetir experiências antigas e escrever teses e mais teses de mestrado, doutorado e pós-doutorado em rítmo de tartaruga, enquanto não tem mais o que fazer porque nem mesmo a droga da base de lançamentos começaram a reconstruir!

É aí que está a diferença.

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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#27 Mensagem por DELTA22 » Sex Set 19, 2008 1:18 am

Pesquisando na net um pouco acabei encontrando a descrição do motor-foguete Krestel usado como segundo estágio do Foguete biestágio Falcon-1(foto abaixo) da empresa SpaceX, que segue:
O motor Krestel foi desenhado para ser um dispositivo de alta eficiência num ambiente de vácuo ou baixa pressão. Não possui uma turbo-bomba e é somente alimentado pela pressão existente no tanque.

O motor é arrefecido de forma ablativa na câmara de propulsão, e arrefecido radiativo na tubeira que é fabricada numa liga de nióbio de alta resistência. A eficiência da pressão por hélio é subtancialmente aumentada através de sistema de troca de calor em titânio na fronteira de ablação/nióbio.

O controle do vetor de força é proporcionado com atuadores eletromecânicos na cúpula do motor. O controle de rotação (e controle de atitude) é proporcionado por motores de hélio.

O segundo estágio é propulsado por um único motor Krestel. Tal estágio tem um comprimento de 4,50 metros e um diâmetro de 1,70 metros. O motor consome oxigênio líquido e querosene altamente refinado (RP-1) e tem um impulso específico de 320 s.

TESTE KRESTEL (Texto e foto: http://www.spacex.com)
Imagem
Agora, depois deste "testamento" apareceram duas perguntas:
- O que difere tecnologicamente o motor Krestel do motor testado pelo IAE ?
- Por que o motor do IAE não pode ter a mesma aplicação do Krestel, uma vez que (a não ser que eu esteja muito enganado e não tenha entendido nada que o Leandro escreveu) são semelhantes ?

Deixo claro que não estou tentando "tampar o sol com a peneira" no que diz respeito ao programa espacial, nem como dizem aqui em Minas "procurando chifre na cabeça de cavalo", é CURIOSIDADE pura e simples ! :mrgreen:

[]'s.




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#28 Mensagem por LeandroGCard » Sex Set 19, 2008 12:36 pm

DELTA22 escreveu: Agora, depois deste "testamento" apareceram duas perguntas:
- O que difere tecnologicamente o motor Krestel do motor testado pelo IAE ?
- Por que o motor do IAE não pode ter a mesma aplicação do Krestel, uma vez que (a não ser que eu esteja muito enganado e não tenha entendido nada que o Leandro escreveu) são semelhantes ?

Deixo claro que não estou tentando "tampar o sol com a peneira" no que diz respeito ao programa espacial, nem como dizem aqui em Minas "procurando chifre na cabeça de cavalo", é CURIOSIDADE pura e simples ! :mrgreen:

[]'s.
A diferença básica é que este motor Kestrel já foi desde o princípio concebido para utilização prática em um foguete real, o que inclui requisitos de operação bem mais severos. O motor que aparece na filmagem do IAE por exemplo tem um tempo de queima de 22 seg, e o Kestrel é projetado para funcionar por mais de 380 segundos! O segundo motor do IAE, que aparece na foto que você postou, não incorpora nenhum sistema de controle de alimentação no próprio motor (não se vêem válvulas nem nada parecido ligado ao motor), ao passo que no Kestrel dá para perceber uma série de dispositivos agregados ao motor, que além das válvulas para controle de fluxo devem incluir também o sistema de aquecimento do hélio utilizado na pressurização dos tanques.

Ou seja, os dois motores vistos até agora terão que evoluir bastante para chegar ao nível do Kestrel.

Mas na verdade, a grande questão não é "se os motores do CTA não podem evolui para se tornar como o Kestrel", e sim "porque eles já não são assim"? Ou mais ainda, porquê precisamos realizar todo o desenvolvimento de motores começando do zero, se a maioria dos países (e todos os que começaram depois da década de 50) simplesmente pegou logo motores bem maiores e mais completos e começou o desenvolvimento já à partir daí? Pode até ser que no passado este tipo de aquisição não estivesse disponível para nós, mas agora está (na verdade já poderíamos ter comprado um projeto da Rússia, da China ou da Índia desde a década de 90), então porque re-inventar a roda?

De qualquer forma, o terceiro projeto do IAE será de um motor mais parecido com este Kestrel, na verdade até um pouco maior, e segundo a descrição bem mais completo. Vamos aguardar o início dos testes deste motor, e aí poderemos começar a ficar animados.

Por enquanto ainda é cedo para isso.


Abraços,


Leandro G. Card




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#29 Mensagem por DELTA22 » Sex Set 19, 2008 1:02 pm

Olá Leandro

Concordo que deve haver uma evolução do projeto do IAE, disso não duvido em absoluto. Só é notório que os dois motores têm uma, digamos, raiz comum.

Quanto ao tempo de queima, penso que que haveria diferença na quantidade de combustivel de um e outro, uma vez que o motor do IAE tem "apenas" 1800mm de comprimento e 356mm de diâmetro contra 4500mm de comprimento e 1700mm de diâmetro do Krestel, pode estar ai essa diferença de tempo, não?

Os dispositivos agregados ao motor podem ser, além de valvulas e etc., também os sistemas de controle do vetor de força e controle de rotação (controle de atitude). A imagem é longe e não convém que eu fique aqui de "achismos".

Bem, não sei se é tão fácil assim conseguir "comprar" projetos de motores. Será que o IAE/CTA/AEB nunca pensaram nessa possibilidade e nunca tenham tentado essa "compra"? Difícil entender isso!

Enfim, vamos aguardar o que vem pela frente...

[]'s.




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Re: IAE testa motor de propulsão líquida

#30 Mensagem por LeandroGCard » Sex Set 19, 2008 4:03 pm

DELTA22 escreveu:Olá Leandro

Concordo que deve haver uma evolução do projeto do IAE, disso não duvido em absoluto. Só é notório que os dois motores têm uma, digamos, raiz comum.

Quanto ao tempo de queima, penso que que haveria diferença na quantidade de combustivel de um e outro, uma vez que o motor do IAE tem "apenas" 1800mm de comprimento e 356mm de diâmetro contra 4500mm de comprimento e 1700mm de diâmetro do Krestel, pode estar ai essa diferença de tempo, não?
Cuidado, os tamanhos que você menciona não são os dos motores. No caso do Kestrel é dito especificamente que estas são as dimensões do segundo estágio do foguete, e não do motor, e no caso do IAE esta deve ser a dimensão total da montagem. Como são motores de combustível líquido, a maior parte destas dimensões referem-se aos tanques de combustível e não aos motores propriamente ditos. Em foguetes de combustível sólido o tamanho dos motores e dos foguetes é praticamente o mesmo, mas para combustíveis líquidos não é assim.

Fazendo uma conta por alto verifiquei que o volume de combustível/oxidante para o motor do IAE dá em torno de 180 litros, e o do Kestrel 10.000 litros. Como os tempos de queima são respectivamente 22s e 382s (isto é especificação de projeto, depois se constroem os tanques de acordo e não o contrário), as taxas de consumo de combustível de cada motor são de 8 l/s para o motor do IAE e 26 l/s para o Kestrel. Concluindo, o motor Kestrel é cerca de 3 vezes maior que o do IAE.
DELTA22 escreveu:Os dispositivos agregados ao motor podem ser, além de válvulas e etc., também os sistemas de controle do vetor de força e controle de rotação (controle de atitude). A imagem é longe e não convém que eu fique aqui de "achismos".
É, dá para perceber que tem muita coisa agregada, mas o quê já não é possível dizer com certeza.
DELTA22 escreveu:Bem, não sei se é tão fácil assim conseguir "comprar" projetos de motores. Será que o IAE/CTA/AEB nunca pensaram nessa possibilidade e nunca tenham tentado essa "compra"? Difícil entender isso!

Enfim, vamos aguardar o que vem pela frente...

[]'s.
Aí é que está a questão que eu coloco. O objetivo do programa até agora é "desenvolver a tecnologia aero-espacial", e neste contexto comprar um projeto de motor pronto nem faz muito sentido. Já se o objetivo colocado fosse "dar ao país a capacidade de lançar satélites de X kg em Y anos", provavelmente o motor já estaria comprado há muito tempo!

É importante lembrar que no início do programa espacial brasileiro o objetivo era bem claro, criar uma base tecnológica para um dia, se necessário, desenvolver mísseis nucleares modernos. Daí a escolha do combustível sólido, bastante lógica neste contexto, e a ênfase no aspecto acadêmico, pois tecnologia para mísseis naquela época ninguém forneceria para o Brasil. O VLS era apenas uma "tema de estudo", e sua consecução permitiria confirmar que o domínio tecnológico desejado havia sido atingido.

O mundo mudou, as necessidades mudaram, a própria forma de encarar a tecnologia de foguetes mudou (hoje americanos e japoneses compram motores-foguete dos russos!), mas o objetivo do programa e do próprio VLS continua sendo o mesmo, e são os únicos que as autoridades ainda enxergam para o programa espacial brasileiro. Lançar satélites, aí é lá com o Cyclone e os ucranianos, uma coisa não tem nada a ver com a outra (por incrível que pareça!!!). Então, pelo menos até que o VLS voe, tome estudos acadêmicos. E ninguém parece ter pressa de que ele voe logo.

Entendeu o "X" da questão?

Um grande abraço,

Leandro G. Card




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