Com a palavra, os especialistas da FABterça-feira, 12 de agosto de 2008
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OPINIÃO
Aviação de patrulha marítima
A defesa da soberania e dos interesses do Brasil no Atlântico Sul cabe não só à Marinha, mas
também à Força Aérea Brasileira, cuja capacidade de patrulhamento e vigilância do mar necessita ser
ampliada. A aviação de patrulha marítima baseada em terra é componente essencial das forças de um
Teatro de Operações marítimo.
A principal aeronave de patrulha marítima da atualidade é o quadrimotor turboélice Lockheed
Martin P-3 Orion (cuja célula é uma versão militar do Lockheed Electra II), operado pela Marinha dos
Estados Unidos e pelas Marinhas ou Forças Aéreas de diversos países. Após cinco décadas de serviço,
esta aeronave será substituída nos EUA pelo Boeing P-8A Poseidon, um birreator a jato derivado do
Boeing 737-800.
Uma aeronave de patrulha marítima de longo alcance, como o P-3 e seu sucessor, possui grande
autonomia de vôo, sendo uma plataforma de múltiplo emprego, capaz de desempenhar missões de
guerra anti-submarino, vigilância e esclarecimento marítimo, guerra eletrônica, busca e salvamento,
guerra de superfície etc.
Otimizada para operar sobre o mar, esta aeronave pode ter variantes especificamente dedicadas
a missões de inteligência, e por vezes ser empregada em missões de reconhecimento sobre áreas
terrestres. Versões especializadas do P-3 Orion são usadas pelos EUA, por exemplo, para monitorar o
narcotráfico na Amazônia e no Caribe.
Durante a 2ª Guerra Mundial, a aviação de patrulha da FAB foi responsável pelo afundamento do
submarino alemão U-199 ao sul do Rio de Janeiro, em 1943. Ao longo dos anos, em episódios como a
busca ao navio de passageiros "Santa Maria" (seqüestrado por um grupo político português no início de
1961) e a "Guerra da Lagosta" entre Brasil e França (cujo ápice ocorreu em 1963), a aviação de patrulha
também atuou em linha com os interesses nacionais.
Essencial à guerra no mar, a aviação de patrulha é também indispensável em tempo de paz,
para vigilância e proteção das águas sob jurisdição nacional. Isto é reforçado pela recente descoberta de
reservas petrolíferas a grandes profundidades, na vertente ocidental do Atlântico Sul. A extensão do Mar
Patrimonial e da Plataforma Continental brasileiros torna insuficiente o número de aeronaves desse tipo
atualmente disponível.
A FAB conta hoje com aproximadamente 20 aeronaves de esclarecimento marítimo Embraer
EMB-111 (P-95) Bandeirante-Patrulha ("Bandeirulha"), operadas por quatro esquadrões do 7º Grupo de
Aviação, sediados em Belém (3º/7º GAv), Salvador (1º/7º GAv), Rio de Janeiro (4º/7º GAv) e
Florianópolis (2º/7º GAv).
O "Bandeirulha" (uma das versões militares do bimotor turboélice EMB-110 Bandeirante) é uma
aeronave leve, de autonomia limitada e sem capacidade anti-submarino. No início de 2009, porém,
começará a ser entregue ao 1º/7º GAv, na Base Aérea de Salvador, um lote de oito P-3AM Orion,
modernizados na Espanha pela EADS CASA. O antigo equipamento de missão será substituído pelo
sistema multimissão FITS (Fleet Integrated Tactical System).
Há alguns anos, a FAB adquiriu dos EUA um total de 12 aeronaves P-3A de segunda-mão, fora
de uso há muito tempo, estocadas ao ar livre no clima desértico de Tucson, no Arizona. Três seriam
destinadas à canibalização (servindo como fonte de peças de reposição), oito a missões operacionais e
uma ao treinamento de tripulações.
A avaliação operativa destas aeronaves — cuja atuação em apoio à Esquadra será fundamental
— deverá ser realizada pela Marinha do Brasil, por meio do Centro de Análise de Sistemas Navais
(CASNAV), no Rio de Janeiro. A Marinha e a FAB serão extremamente beneficiadas por essa medida de
integração. A capacitação do CASNAV é reconhecida internacionalmente.
O número de aeronaves previsto é ainda insuficiente para atender às necessidades reais da
Força Aérea, em operações independentes ou em apoio direto à Marinha. Além disso, em poucos anos
haverá necessidade de substituir o P-95 "Bandeirulha", que entrou em serviço na década de 70 do século
passado.
Como alternativa ao P-3AM Orion, a Embraer havia oferecido à FAB o P-99, uma versão de
patrulha marítima do birreator de transporte regional EMB-145. Entretanto, sua autonomia foi
considerada inadequada para o patrulhamento de extensas áreas marítimas, em missões de duração
superior a 12 horas de vôo.
A Embraer produz uma família de birreatores comerciais, cujos modelos de maior capacidade
são o EMB-190 e o EMB-195. Ainda não houve anúncio oficial, mas provavelmente um desses dois tipos
será usado como base para o desenvolvimento de uma aeronave de patrulha marítima de longo raio de ação, capaz de substituir o P-3A/B/C Orion no mercado internacional, a um custo bem inferior ao do P-8A
Poseidon.
Possivelmente, os P-95 "Bandeirulha" da FAB poderão ser substituídos por uma aeronave mais
simples e de menor porte que os modelos mencionados anteriormente. No estágio atual, o uso de
Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT) em missões de vigilância marítima é apenas uma possibilidade
para o futuro. Tal possibilidade não passou despercebida ao Brasil.
De fato, Brasil e África do Sul estão negociando o desenvolvimento conjunto do Bateleur, um
VANT de múltiplo emprego em missões de média altitude e grande autonomia. Conceitualmente, este
poderia ser empregado para vigilância das águas jurisdicionais brasileiras, complementando as
aeronaves de patrulha de longo raio de ação.
Satélites de vigilância marítima, equipados com radar, permitem localizar navios no mar,
transmitindo informação em tempo real, diretamente às forças navais ou para centros de coleta e análise
em terra. O Brasil conta apenas com imagens obtidas por satélites comerciais, mas poderá vir a operar
seus próprios satélites militares no futuro, de forma a não depender da boa-vontade de terceiros.
Eduardo Italo Pesce
Especialista em Relações Internacionais e professor no Centro de Produção da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj).
Mário Roberto Vaz Carneiro
Engenheiro civil, consultor de indústrias nas áreas de defesa e aeronáutica, empresário e editor.
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Aviação de Patrulha Marítima
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"A guerra, a princípio, é a esperança de q a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa de q o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver q o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver q todo mundo se ferrou!"
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