28/07/2008
A missão secreta por trás do resgate do Titanic
Jacinto Antón
Dois objetivos estavam em jogo. O de Robert Ballar era encontrar
o "Titanic". E o do vice-almirante Nils Thunman era investigar dois
submarinos nucleares afundados com suas tripulações em plena guerra
fria. Os dois homens fizeram um pacto em 1982. A dupla missão teve
sucesso. Documentos confidenciais revelados recentemente pela marinha
dos EUA mostram os resultados da missão secreta.
"Morrer em um submarino pode ser cruel, como no caso do Kursk, mas às
vezes o mar é misericordioso: as tripulações dos nossos submarinos
nucleares de ataque USS Scorpion e USS Thresher tiveram um fim
rápido". Quem fala, grave e pausadamente, do outro lado da linha,
desde sua casa em Springfield (Illinois), é o vice-almirante norte-
americano aposentado Nils Thunman, ex-chefe de Operações Navais de
Guerra Submarina do Pentágono. Ouvi-lo falando, já tarde da noite -
por causa da diferença de fuso horário - de submarinos perdidos, de
catástrofes e da experiência de viver a bordo desses sarcófagos
subaquáticos é assustador. Thunman, com uma carreira de 35 anos em
submarinos - serviu em quatro deles e comandou uma frota no Pacífico -
, é um homem que tem muitas coisas para contar. Mas sua "história de
mar favorita", conforme explicou em uma longa conversa com o El País,
começa no dia em que o explorador submarino Robert Ballard entrou em
seu escritório pedindo ajuda para encontrar o Titanic.
"Pensei que aquele jovem entusiasta não tinha nenhuma chance, que era
uma idéia louca", lembra-se Thunman, "mas disse a ele que podíamos
nos ajudar mutuamente". Assim começou uma das missões secretas mais
alucinantes que se pode imaginar, digna de um filme de aventura de
espionagem: um pacto fáustico entre Ballard e as forças navais norte-
americanas. Pelo acordo, o explorador receberia apoio e financiamento
para sua busca em troca de investigar, usando a missão do Titanic
como fachada, as tumbas no fundo do Atlântico representadas pelos
submarinos nucleares Scorpion e Thresher, máquinas predatórias
avançadas e silenciosas perdidas nos anos 60, em plena guerra fria.
"Queríamos saber exatamente por que eles haviam afundado, e estávamos
preocupados com o estado de seus reatores, se havia algum vazamento",
lembra-se o vice-almirante. "Também nos interessava saber ser alguém,
especialmente os soviéticos, havia visitado os submarinos". A
preocupação era natural. O Scorpion afundou com dois torpedos com
ogivas nucleares, uma pilhagem tentadora para os russos, o Doctor No
ou Spectra.
O acordo, que pareceu mais uma mistura extravagante entre os
filmes "Titanic" e "Caçada ao Outubro Vermelho", for firmado em 1982.
Ballard foi para o mar e usou sua avançada tecnologia - paga em boa
parte pela marinha - para estudar ambos os submarinos, descobrindo
dados valiosíssimos para o Pentágono. Só depois, em 1985, cumprida
sua parte do trato, seguiu adiante e localizou o Titanic. "Quando ele
me ligou do alto mar, numa ligação muito ruim, e disse: "O
encontramos", eu respondi: "O quê?", lembra-se o vice-almirante. "O
Titanic..., não pude acreditar".
O último mistério relacionado ao Titanic, a história de que o seu
achado está ligado a um capítulo secreto da Guerra Fria e que o
resplandecente transatlântico juntou-se no fundo do oceano com os
letais tubarões nucleares, revelou-se agora com a divulgação das
informações confidenciais sobre a operação.
"A marinha estava bastante interessada na tecnologia que havíamos
desenvolvido", explicou Ballard recentemente à CNN. "Queriam saber
por que haviam perdido os dois submarinos. Seus dados sobre o assunto
eram limitados. Não foi de fato uma busca, porque eles já sabiam o
lugar onde estavam os submarinos. Fizemos o que nos pediram,
compartilhamos nossa tecnologia, levamos nossas câmeras até os
submergíveis, realizamos um reconhecimento minucioso e então tivemos
tempo para encontrar o Titanic". Ballard estava consciente de que
fazer um pacto com os militares tinha seus riscos. "O primeiro temor
era de que eles não me financiassem; o segundo foi: 'Meu Deus, eles
me financiaram!'." Em todo caso, o meio militar não era estranho a
Ballard, que havia servido durante anos na marinha e se orgulha muito
disso.
O Thresher - nome inglês para uma espécie de tubarão com uma longa
nadadeira caudal - e o Scorpion são os dois únicos submarinos
nucleares perdidos pelos EUA e foram desenhados para caçar submarinos
soviéticos. O primeiro, um peixe metálico de 85 metros lançado ao mar
em 1960, afundou em 10 de abril de 1963 - com toda sua tripulação -:
16 oficiais e 96 homens. O Scorpion, de 76,8 metros, lançado ao mar
em 1959, com oito oficiais e 75 homens, afundou em 22 de maio de 1968
a 740 quilômetros a sudoeste das ilhas Açores.
O Thresher (numeração SSN-593) afundou enquanto realizava manobras
com o barco de resgate submarino USS Skylark, que não conseguiu
salvar ninguém, mas pelo menos testemunhou a catástrofe. Segundo as
evidências, enquanto o submarino descia em busca de sua profundidade
limite, a tubulação de água salgada arrebentou e provocou uma
inundação e um curto-circuito do sistema elétrico, o que causou um
apagão automático - scram - do reator nuclear. Sem propulsão, incapaz
de conseguir potência suficiente para ascender, com a escuridão
tomando conta de tudo - em meio ao terror inimaginável da escuridão e
da profundidade -, o Thresher desceu até o fundo. Em algum momento
entre os 400 e os 600 metros, profundidade sob a qual sua estrutura
não era mais capaz de resistir, o submarino foi esmagado pela
pressão. Desde o navio Skylark pôde-se ouvir o som espantoso dos
compartimentos do submarino cedendo, espremidos como uma lata de
refrigerante.
"Durante algum tempo, eles souberam que iriam morrer", disse Thunman
por telefone. "Mas a morte em si provavelmente não demorou mais do
que um ou dois segundos". O velho submarinista ficou em silêncio do
outro lado da linha pelo mesmo tempo. Que pareceu bem mais longo.
Em julho de 1984, Ballard submergiu seu robô Argos até o submarino, a
dois quilômetros e meio de profundidade no fundo do mar. O que
encontrou foi, como disse o programa do canal National Geographic
sobre a operação, "uma destruição total, como se alguém tivesse
pegado um brinquedo e o jogado em uma máquina trituradora". Os restos
estavam espalhados por uma extensão de dois quilômetros, conforme
caíram após a implosão. Ballard encontrou o reator e constatou que
não havia vazamento radioativo.
A exploração seguinte, do Scorpion (SSN-589), a 3.350 metros de
profundidade, foi mais excitante, porque o submarino desapareceu sem
testemunhas, levava armamento nuclear e estava envolvido em operações
muito agressivas. Especulava-se que ele havia sido atacado por um
torpedo soviético, em represália pelo abatimento do submarino russo K-
129, que afundou depois e uma suposta colisão com o USS Swordfish. A
marinha dos EUA localizou o submarino russo e a CIA enviou
clandestinamente, em 1974, um barco de exploração ao K-129, o Glomar
Explorer, para tentar recuperá-lo; investigou os restos da embarcação
e até mesmo extraiu uma parte do casco com seis marinheiros russos,
que foram sepultados num cerimonial no mar.
Ballard chegou ao Scorpion em julho de 1985 e encontrou uma cena
similar à do Thresher: o submarino estava horrorosamente esmagado e
os restos dispersos em uma longa faixa, como se fosse a cauda de um
cometa. Nesse caso, o Scorpion estava partido em dois pedaços.
Entretanto, não foram encontradas evidências de um ataque de torpedo.
Novamente, parece que o Scorpion sofreu uma implosão ao descer abaixo
de seu limite de profundidade; ou seja, arrebentou por não ser capaz
de agüentar a tremenda pressão da água. Ninguém sabe como se chegou a
essa situação. Thunman crê que isso talvez esteja relacionado com as
tensões da guerra fria e o com grande nível de estresse de que sofria
a tripulação e seu navio, mas não com uma causa externa.
Era um jogo arriscado que realizavam os submarinos da Otan e da URSS
lá embaixo. "E como! Comandei um submarino na época, um gêmeo do
Scorpion, o USS Snook. Era a Guerra Fria embaixo dos oceanos. Tempos
perigosos". Os russos praticavam a manobra Ivan Louco, como no cinema
e nos livros de Tom Clancy? "Sim, claro", ri o veterano
submarinista. "Era muito arriscado porque, de repente, com essa
manobra, eles ficavam em cima de nós e havia alto risco de colisão.
Sou amigo de Clancy e já conversamos sobre isso".
Ballard localizou o reator do Scorpion, que, segundo ele, também não
representa perigo, e assegura que os torpedos nucleares estão em um
lugar seguro no interior do navio. E os tripulantes? Nos restos do K-
129, foi fotografado o esqueleto de um marinheiro soviético com
colete salva-vidas e casaco impermeável. Thunman demorou para
responder. "Nós, submarinistas, somos como uma fraternidade, uma
confraria subaquática: não gostamos de falar disso, as famílias ainda
estão vivas e isso é muito doloroso para elas".
O antigo oficial se surpreende quando quem assina essas linhas
menciona o susto da claustrofobia, com uma voz angustiada. "Não, não
sofremos disso, há todo um treinamento para vencê-la. Eu nunca vi
nenhum claustrofóbico em um submarino". O velho marinheiro parece
sussurrar do outro lado da linha. Nessa madrugada de navios
naufragados e tripulações afogadas, não me diga que sente nostalgia,
vice-almirante. "É claro! Foi uma época grandiosa, os melhores dias
da minha vida". Thunman despede-se recordando que já teve sua base em
Rota (Espeanha) e dá uma mostra desconcertantede seu conhecimento de
espanhol: "Nunca he visto nada tan bonito como tu, señorrita. [Nunca
vi nada tão belo como tu, senhorita]".
O mais surpreendente da história do Titanic, do Thresher e do
Scorpion é que Ballard nunca teria encontrado o transatlântico,
segundo ele mesmo diz, se não fosse pelas operações prévias nos dois
submarinos nucleares. Depois de cumprir sua parte no pacto, ele tinha
apenas duas semanas para dedicar-se à sua obsessão. Era uma missão
quase impossível, dado tamanho da área a explorar. Mas Ballard teve
uma revelação: e se o Titanic tivesse se esmigalhado em partes como
aconteceu com os dois submarinos e seus restos também tivessem sido
espalhados pela correnteza em uma faixa extensa? Então ele começou a
procurar não pelo barco, mas sim pelo seu rastro, o que permitiu
abarcar áreas muito maiores de busca do que a do simples casco,
percorrendo linhas separadas entre si por 1,5 quilômetro. E acabou o
encontrando.
Tradução: Eloise De Vylder
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"O dia em que os EUA aportarem porta aviões, navios de guerra, jatos e helicópteros apache sobre o território brasileiro, aposto que muitos brasileiros vão sair correndo gritando: "me leva, junto! me leva, junto!"
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Re: TITANIC X SCORPION/THRESHER
thelmo rodrigues escreveu:28/07/2008
A missão secreta por trás do resgate do Titanic
Jacinto Antón
Dois objetivos estavam em jogo. O de Robert Ballar era encontrar
o "Titanic". E o do vice-almirante Nils Thunman era investigar dois
submarinos nucleares afundados com suas tripulações em plena guerra
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Mais uma das grandes histórias da guerra fria. Esperemos as da guerra das Malvinas, só faltam 4 anos.
Editado pela última vez por WalterGaudério em Qua Jul 30, 2008 3:45 pm, em um total de 1 vez.
Só há 2 tipos de navios: os submarinos e os alvos...
Armam-se homens com as melhores armas.
Armam-se Submarinos com os melhores homens.
Os sábios PENSAM
Os Inteligentes COPIAM
Os Idiotas PLANTAM e os
Os Imbecis FINANCIAM...
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Re: TITANIC X SCORPION/THRESHER
Walter no meio da história.
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Re: TITANIC X SCORPION/THRESHER
Walter, o escritor ?
"Em geral, as instituições políticas nascem empiricamente na Inglaterra, são sistematizadas na França, aplicadas pragmaticamente nos Estados Unidos e esculhambadas no Brasil"
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Re: TITANIC X SCORPION/THRESHER
cicloneprojekt escreveu:thelmo rodrigues escreveu:28/07/2008
A missão secreta por trás do resgate do Titanic
Jacinto Antón
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o "Titanic". E o do vice-almirante Nils Thunman era investigar dois
submarinos nucleares afundados com suas tripulações em plena guerra
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Mais uma das grandes histórias da guerra fria. Esperemos as da guerra das Malvinas, só faltam 4 anos.
Amigo Ciclo:
¿Por qué esperar cuatro años? Tu sabes algunas cosas, ¿Por qué no nos las cuenta?
La platea de Defesa Brasil te estará eternamente agradecida.-
Un fuerte abrazo.-
Las Islas Malvinas, Georgias y Sandwich del Sur, fueron, son y serán Argentinas.-